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06/04/2020

LEITURA ESPIRITUAL

COMENTANDO OS EVANGELHOS

São Mateus
Cap VI
1 «Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para vos tornardes notados por eles; de outro modo, não tereis nenhuma recompensa do vosso Pai que está no Céu. 2 Quando, pois, deres esmola, não permitas que toquem trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, a fim de serem louvados pelos homens. Em verdade vos digo: Já receberam a sua recompensa. 3  Quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua direita, 4 a fim de que a tua esmola permaneça em segredo; e teu Pai, que vê o oculto, há-de premiar-te.» 5 «Quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar de pé nas sinagogas e nos cantos das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa. 6 Tu, porém, quando orares, entra no quarto mais secreto e, fechada a porta, reza em segredo a teu Pai, pois Ele, que vê o oculto, há-de recompensar-te. 7 Nas vossas orações, não sejais como os gentios, que usam de vãs repetições, porque pensam que, por muito falarem, serão atendidos. 8 Não façais como eles, porque o vosso Pai celeste sabe do que necessitais antes de vós lho pedirdes.» 9 «Rezai, pois, assim: ‘Pai nosso, que estás no Céu, santificado seja o teu nome, 10 venha o teu Reino; faça-se a tua vontade, como no Céu, assim também na terra. 11 Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia; 12 perdoa as nossas ofensas, como nós perdoámos a quem nos tem ofendido; 13 e não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do Mal.’ 14 Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai celeste vos perdoará a vós. 15 Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai vos não perdoará as vossas.» 16 «E, quando jejuardes, não mostreis um ar sombrio, como os hipócritas, que desfiguram o rosto para que os outros vejam que eles jejuam. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa. 17 Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, 18 para que o teu jejum não seja conhecido dos homens, mas apenas do teu Pai que está presente no oculto; e o teu Pai, que vê no oculto, há-de recompensar-te.» 1 9«Não acumuleis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem os corroem e os ladrões arrombam os muros, a fim de os roubar. 20 Acumulai tesouros no Céu, onde a traça e a ferrugem não corroem e onde os ladrões não arrombam nem furtam. 21 Pois, onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração. 22 A lâmpada do corpo são os olhos; se os teus olhos estiverem sãos, todo o teu corpo andará iluminado. 23 Se, porém, os teus olhos estiverem doentes, todo o teu corpo andará em trevas. Portanto, se a luz que há em ti são trevas, quão grandes serão essas trevas! 24 Ninguém pode servir a dois senhores: ou não gostará de um deles e estimará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro.» 25 «Por isso vos digo: Não vos inquieteis quanto à vossa vida, com o que haveis de comer ou beber, nem quanto ao vosso corpo, com o que haveis de vestir. Porventura não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestido? 26 Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam nem recolhem em celeiros; e o vosso Pai celeste alimenta-as. Não valeis vós mais do que elas? 27 Qual de vós, por mais que se preocupe, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida? 28 Porque vos preocupais com o vestuário? Olhai como crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam! 29 Pois Eu vos digo: Nem Salomão, em toda a sua magnificência, se vestiu como qualquer deles. 30 Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã será lançada ao fogo, como não fará muito mais por vós, homens de pouca fé? 31 Não vos preocupeis, dizendo: ‘Que comeremos, que beberemos, ou que vestiremos?’ 32 Os pagãos, esses sim, afadigam-se com tais coisas; porém, o vosso Pai celeste bem sabe que tendes necessidade de tudo isso. 33 Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais se vos dará por acréscimo. 34 Não vos preocupeis, portanto, com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã já terá as suas preocupações. Basta a cada dia o seu problema.»

Comentário:

1-6. 6,18 –

     Na sequência do discurso anterior - ser sal da terra e luz do mundo - Jesus vem, de certo modo completar o que disse.

Não há, nem podia haver, nenhuma contradição, tão só uma vigorosa chamada de atenção para o são critério e rectidão de intenção dos nossos actos.

Ser visto pelos outros como exemplo a seguir é muito diferente que desejar ser visto pelos outros para ser admirado e louvado.
  
     Nunca será demais lembramos que e o que fazemos tem como que dois “espectadores.
Os homens: nossos iguais, e Deus Nosso Senhor e Criador.

Sendo assim, a aquém pretendemos agradar com os nossos actos?
Quem procuramos que nos aceite o que fazemos como algo válido e com recta intenção?

Parece que a resposta é simples: o “expectador que nos interessa é Deus Nosso Senhor porque só dele virá o prémio que pode servir para a nossa salvação.

Dos homens, pode mos, talvez, esperar admiração, mas isso… de que nos servirá?

      A recta intenção.
A quem podem interessar as boas obras que fazemos?
Em primeiro lugar, a Deus Nosso Senhor que, de facto, não espera outra coisa de nós para nos dar o justo prémio.
E, depois, aos outros para que lhes sirvam de exemplo.

Qual será a nossa escolha?

Na verdade, devemos escolher as duas porque se precisamos de agradar a Deus também é nosso dever dar bom exemplo.

O que interessa é a intenção: obter um prémio divino ou uma consolação terrena?

     Pensemos bem e com honestidade e talvez concluamos que muitas coisas que temos e outras que gostaríamos de ter são absolutamente dispensáveis.

Todo este trecho do Evangelho tem   no seu começo a verdadeira lição que o Senhor pretendia dar aos seus discípulos a todos nós: 
     Este tema abordado por Jesus Cristo é de enorme importância como regra de conduta para todos os cristãos.
As nossas boas obras devem ter como primeiro objectivo agradar a Deus, mas, têm de ser exemplo para os outros.

A naturalidade e contenção com que as praticamos deverão, por isso mesmo, estar em evidência de tal forma que outros sejam levados a imitar-nos.


7-15 –
     Humanamente não é possível comentar este trecho do Evangelho porque é uma oração divina!

Analisada em detalhe durante séculos por gentes de todas as idades e graus de cultura todos chegam à mesma conclusão:

O Pai-Nosso é uma oração completa e total.

Contém tudo, absolutamente, o que precisamos dizer ao nosso Pai do Céu.

Descreve tudo, absolutamente, o que Ele deseja que façamos.
  
     Todas as orações  que possamos fazer, por mais belas, cheias de significado ou piedosas, ficarão aquém do Pai-Nosso ensinado directamente por Jesus Cristo.


Contém tudo quanto devemos dizer quando nos dirigimos a Deus.



Louvor, petição, promessa, compromisso.



Sendo Universal, é eminentemente pessoal porque se trata da conversa de um filho com o seu Pai.


     Milhões de páginas escritas por eminentes pensadores, glosas e comentários sobre o “Pai Nosso” têm sido objecto da nossa admiração ao longo dos tempos.

Não admira, trata-se de uma oração divina ensinada pelo próprio Jesus Cristo e a única coisa que temos de fazer é ter bem presente que foi Ele mesmo que nos disse: «Rezai, pois, assim».

Todas as orações por belas e maravilhosas que possam ser não têm uma pálida semelhança com o “Pai Nosso”.

As nossas orações, fruto da nossa Fé e da nossa Piedade, são humanas e, sem dúvida, agradáveis a Deus.

O “Pai Nosso” é, - digamos -  como que o “remate” final que consubstancia em si mesmo quanto precisamos pedir, invocar, dizer.

Seja esta oração divina a oração cristã por excelência e estaremos, seguramente, no caminho certo para chegar ao íntimo de Deus Nosso Senhor.

      Perdão e Amor, Amar e Perdoar!

O Senhor insiste repetidamente nestes dois "suportes" da vida do cristão.

E, de facto, o Perdão e o Amor andam a par.

Cristo nosso Irmão e Exemplo não fez outra coisa neste mundo: amou a todos a todos perdoou.

     Não se pode rezar esta oração – o Pai-Nosso - sem ter bem consciência de que são palavras divinas as que pronunciamos.

Por isso mesmo todo o respeito e atenção devem estar presentes sem o que não será nem autêntica nem eficaz, mas mero papaguear que o Senhor não terá em conta.

     Por vezes não alcançamos que nós, os cristãos, dispomos de uma oração ensinada pelo próprio Jesus Cristo.
Se nos detivéssemos - por breves momentos que fosse - a pensar nisto, com que intensidade rezaríamos!

Uma oração que o próprio Deus e Senhor ensinou deve ser, com toda a certeza, aquela que Lhe é mais agradável e irá mais "directamente" ao Seu Coração de Pai Amantíssimo.

Pensemos, sobretudo, que Ele nos ensinou a dizer «PAI NOSSO» e não «meu Pai», o que, quer dizer que sempre que o rezamos estamos unidos a todos os homens Seus filhos.

19-23 –
     O que é meu!

Constantemente nos ocorre esta consideração e não só quanto aos bens que possuímos, os que gostaríamos de ter, mas a conta em que nos temos, os nossos predicados, inteligência, cultura, sabedoria.

Temos muitas coisas ou, melhor, julgamos ter e ambicionando sempre por mais.

Ter não significa possuir - no verdadeiro detido do termo - mas tão só que nos foi dada a possibilidade de usufruir de algo durante algum tempo que será, no máximo, o que durar a nossa vida terrena.

Depois nada teremos porque não precisaremos absolutamente de nada.

     Quantos pecados têm a sua “origem” no olhar.

Lembremos um dos mais conhecidos de todos os tempos, o pecado de David.


As consequências de ter detido o seu olhar numa cena íntima e reservada foram terríveis, desde o assassínio congeminado de Urias, até a própria morte do seu filho e herdeiro.


Olhar, ver, são bem diferentes de mirar.


Aqueles podem ser naturais e como que automáticos, este, é sempre um acto declarado, voluntário e, por isso, mesmo, responsável.

      No cofre do nosso coração guardamos o nosso maior Tesouro:

A nossa Fé!

Guardemo-la com avareza autêntica, mais, esforcemo-nos por aumentá-lo até não caber mais e termos reservas suficientes para toda a nossa vida.

     Ter, ter, ter!
A vida de muitos - inclusive cristãos - parece resumir-a esse objectivo.
Somos capazes de enormes esforços e até sacrifícios para o conseguir.

Lembro-me da homilia que um sacerdote inglês pronunciou numa Missa de Domingo em Malta em 2016.
O título era: o que eu quero e o que eu preciso.
Foi uma homilia notável porque despertou questões que raramente nos ocorrem que poderiam resumir-se assim:

‘Preciso realmente disto que quero ou é apenas um capricho?’

     O que o Senhor pretende com este discurso é fundamentalmente transmitir-nos dois princípios basilares de toda Vida  Cristã:


Primeiro ter ordenadas as prioridades, saber se o que queremos é de facto o que necessitamos, depois ter confiança ilimitada na providência divina.


Uma vez postos os meios que dispomos, confiar que o Senhor providenciará o que faltar.

24-34 -
     O Senhor continua a insistir no desprendimento pessoal e na confiança na providência divina.

O pão nosso de cada dia não é o que pedimos na oração por excelência?

Mas vai mais longe garantindo que o nosso Pai celeste sabe muito bem o que necessitamos e não deixará de providenciar.

A cada dia a sua preocupação, não vivamos obcecados pelo futuro que não sabemos se haverá, façamos antes o que devemos fazer e quando devemos.


53-56
     Não é a primeira vez que um Evangelista refere cenas como esta. Deveria ser algo impressionante naqueles tempos tão recuados em que as doenças e defeitos físicos alastravam por toda a parte, ver como as pessoas acorriam cheias de esperança e confiança ao encontro de Jesus.

Alguns até referem que bastava a Sua sombra para ficarem curados.

E, hoje em dia? Não assistimos a essas multidões que acorrem em busca de cura - para os males físicos e espirituais - a tantos lugares em que, por uma graça especial de Deus elas ocorrem com tanta frequência como por exemplo: Fátima ou Lourdes?

Porque, de facto, o médico divino nunca deixa de atender quem O procura.


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