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27/04/2020

LEITURA ESPIRITUAL

COMENTANDO OS EVANGELHOS

São Mateus

Cap. XXVII


1 Ao romper da manhã, todos os príncipes dos sacerdotes e anciãos do povo tiveram conselho contra Jesus, para O entregarem à morte. 2 Em seguida, manietado, levaram-n'O e entregaram-n'O ao governador Pôncio Pilatos. 3 Então Judas, o traidor, vendo que Jesus fora condenado, tocado pelo remorso, tornou a levar as trinta moedas de prata aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos, 4 dizendo: «Pequei, entregando sangue inocente». Mas eles disseram: «Que nos importa? Isso é contigo!». 5 Então, tendo atirado as moedas de prata para o templo, retirou-se e foi-se enforcar. 6 Os príncipes dos sacerdotes, tomando as moedas de prata, disseram: «Não é lícito deitá-las na arca das esmolas, porque são preço de sangue». 7 E, tendo consultado entre si, compraram com elas o Campo do Oleiro para sepultura dos estrangeiros. 8 Por esta razão aquele campo foi chamado até ao dia de hoje “campo de sangue”. 9 Então se cumpriu o que foi anunciado pelo profeta Jeremias: “Tomaram as trinta moedas de prata, custo d'Aquele cujo preço foi avaliado pelos filhos de Israel, 10 e deram-nas pelo Campo do Oleiro, como o Senhor me ordenou”. 11 Jesus foi apresentado diante do governador, que O interrogou, dizendo: «És Tu o Rei dos Judeus?». Jesus respondeu-lhe: «Tu o dizes». 12 Mas, sendo acusado pelos príncipes dos sacerdotes e pelos anciãos, nada respondeu. 13 Então Pilatos disse-Lhe: «Não ouves de quantas coisas Te acusam?». 14 E não lhe respondeu a palavra alguma, de modo que o governador ficou muito admirado. 15 O governador costumava, por ocasião da festa da Páscoa, soltar aquele preso que o povo quisesse. 16 Naquela ocasião tinha ele um preso famoso, que se chamava Barrabás. 17 Estando eles reunidos, perguntou-lhes Pilatos: «Qual quereis vós que eu vos solte? Barrabás ou Jesus, que se chama Cristo?». 18 Porque sabia que O tinham entregado por inveja. 19 Enquanto ele estava sentado no tribunal, sua mulher mandou-lhe dizer: «Não te metas com esse justo, porque fui hoje muito atormentada em sonhos por causa d'Ele». 20 Mas os príncipes dos sacerdotes e os anciãos persuadiram o povo a que pedisse Barrabás e que fizesse morrer Jesus. 21 O governador, tomando a palavra, disse-lhes: «Qual dos dois quereis que vos solte?». Eles responderam: «Barrabás!». 22 Pilatos disse-lhes: «Que farei então de Jesus, que se chama Cristo?». 23 Disseram todos: «Seja crucificado!». O governador disse-lhes: «Mas que mal fez Ele?». Eles, porém, gritavam mais alto: «Seja crucificado!». 24 Pilatos, vendo que nada conseguia, mas que cada vez o tumulto era maior, tomando água, lavou as mãos diante do povo, dizendo: «Eu sou inocente do sangue deste justo; a vós pertence toda a responsabilidade!». 25 Todo o povo respondeu: «O Seu sangue caia sobre nós e sobre os nossos filhos». 26 Então soltou-lhes Barrabás. Quanto a Jesus, depois de O ter mandado flagelar, entregou-O para ser crucificado. 27 Então os soldados do governador, conduzindo Jesus ao Pretório, juntaram em volta d'Ele toda a coorte. 28 Depois de O terem despido, lançaram sobre Ele um manto escarlate. 29 Em seguida, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-Lha na cabeça, e na mão direita uma cana. E, dobrando o joelho diante d'Ele, O escarneciam, dizendo: «Salve, ó rei dos Judeus!». 30 Cuspindo-Lhe, tomavam a cana e batiam-Lhe com ela na cabeça. 31 Depois que O escarneceram, tiraram-Lhe o manto, revestiram-n'O com os Seus vestidos e levaram-n'O para O crucificar. 32 Ao saírem, encontraram um homem de Cirene, chamado Simão, ao qual obrigaram a levar a cruz de Jesus. 33 Tendo chegado ao lugar chamado Gólgota, isto é, “lugar da Caveira”,34 d eram-Lhe a beber vinho misturado com fel. Tendo-o provado, não quis beber. 35 Depois que O crucificaram, repartiram entre si os Seus vestidos, lançando sortes. 36 E, sentados, O guardavam. 37 Puseram por cima da Sua cabeça uma inscrição indicando a causa da Sua condenação: «Este é Jesus, o Rei dos Judeus». 38 Ao mesmo tempo foram crucificados com Ele dois ladrões: um à direita e outro à esquerda. 39  Os que passavam, movendo as suas cabeças, ultrajavam-n'O, 40 dizendo: «Ó Tu, que destróis o templo e o reedificas em três dias, salva-Te a Ti mesmo. Se és Filho de Deus, desce da cruz!». 41 Igualmente, também os príncipes dos sacerdotes com os escribas e os anciãos, insultando-O, diziam: 42 «Ele salvou outros e a Si mesmo não se pode salvar. Se é rei de Israel, desça agora da cruz e acreditaremos n'Ele. 43 Confiou em Deus: Se Deus O ama, que O livre agora; porque Ele disse: “Eu sou o Filho do Deus”». 44 Do mesmo modo O insultavam os ladrões que estavam crucificados com Ele. 45 Desde a hora sexta até à hora nona, houve trevas sobre toda a terra. 46 Perto da hora nona, exclamou Jesus com voz forte: «Eli, Eli, lemá sabachtani?», isto é: «Meu Deus, Meu Deus, porque Me abandonaste?». 47 Ao ouvir isto, alguns dos que ali estavam, diziam: «Ele chama por Elias». 48 Imediatamente, um deles, a correr, tomou uma esponja, ensopou-a em vinagre, pô-la sobre uma cana, e dava-Lhe de beber. 49 Porém, os outros diziam: «Deixa; vejamos se Elias vem livrá-l'O». 50 Jesus, soltando de novo um alto grito, expirou. 51 E eis que o véu do templo se rasgou em duas partes, de alto a baixo, a terra tremeu, as rochas fenderam-se, 52 as sepulturas abriram-se, e muitos corpos de santos, que tinham adormecido, ressuscitaram, 53 e saindo das sepulturas depois da ressurreição de Jesus, foram à cidade santa e apareceram a muitos. 54 O centurião e os que com ele estavam de guarda a Jesus, vendo o terramoto e as coisas que aconteciam, tiveram grande medo, e diziam: «Na verdade Este era Filho de Deus!». 55 Estavam também ali, olhando de longe, muitas mulheres, que tinham seguido Jesus servindo-O desde a Galileia. 56 Entre elas estava Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu. 57 Ao cair da tarde, veio um homem rico de Arimateia, chamado José, que era também discípulo de Jesus. 58 Foi ter com Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. Pilatos mandou então que lhe fosse dado o corpo. 59 José, tomando o corpo, envolveu-O num lençol limpo, 60 e depositou-O no seu sepulcro novo, que tinha mandado abrir numa rocha. Depois rolou uma grande pedra para diante da boca do sepulcro, e retirou-se. 61 Maria Madalena e a outra Maria estavam lá, sentadas diante do sepulcro. 62 No outro dia, que é o seguinte à Preparação, os príncipes dos sacerdotes e os fariseus foram juntos ter com Pilatos, 63 e disseram-lhe: «Senhor, lembramo-nos que aquele impostor, quando ainda vivia, disse: “Depois de três dias ressuscitarei”. 64 Ordena, pois, que seja guardado o sepulcro até ao terceiro dia, para que não venham os discípulos, O roubem, e digam ao povo: “Ressuscitou dos mortos”. E assim, o último embuste seria pior do que o primeiro». 65 Pilatos respondeu-lhes: «Tendes guardas; ide, guardai-O como entenderdes». 66 Foram, e tomaram bem conta do sepulcro, selando a pedra e pondo lá guardas.

Comentários:

4-8 –

O “ganho” da traição é “maldito”! Os Chefes do Povo sabem-no bem e, por isso mesmo, não lhe querem tocar e “arranjam” uma aplicação para o mesmo. Mas, quem será mais passível de reprovação: o traidor ou quem encomenda e paga a traição? Como não sou nem juiz nem pretendo sê-lo, limito-me a discorrer que, tão indignos são um como outro. O corruptor, no entanto, talvez tenha mais responsabilidade porque é ele quem incita e remunera a traição. O corrupto é, quase sempre, um espírito fraco e perturbado, o corruptor, bem ao contrário, tem a consciência plena do que faz e não olha a meios para conseguir o que pretende. Desde sempre houve corruptos e corruptores mas, o que é verdade, é que, aqueles, não existiriam sem os segundos. Pode, pois, colocar-se a questão: quem tem maior culpa?

11-54 –
A Liturgia escolhe para o Domingo de Ramos a leitura da Paixão do Senhor. Pode parecer estranha esta escolha, num dia em que o principal acontecimento na vida terrena de Cristo é a Sua entrada triunfal em Jerusalém. Mas, de facto, ela tem importância porque, de certo modo, vem como prelúdio do acontecimento maior da História da Salvação: a Paixão e Morte do Senhor. A Escritura cumpre-se em todos os seus passos e Jesus Cristo aceita esse triunfo momentâneo como prelúdio do Triunfo Final: a Sua Ressurreição.

57-61 –
José de Arimateia ficará para sempre ligado à história da Salvação Humana. A sua conversa a sós, com Jesus Cristo – e podemos inferir que, por mais de uma vez - deve ter sido de tal forma profunda e decisiva que, do cuidado, que a prudência aconselhava, de sigilo e discrição, passa a actuar ás claras e com determinação. Vai a Pilatos pedir para sepultar o Corpo do Salvador. Onde estavam os seguidores do Mestre? Os que tinham sido curados por Ele, os que comeram do pão e dos peixes que tão magnanimamente lhes proporcionou, os milhares que tinham ouvido as Suas Palavras, acreditado na Sua Doutrina, “confessado” a sua fé n’Ele? Sim… onde estavam? Como que atingidos por um cataclismo, soçobraram, fugiram, esconderam-se. Não fosse este Homem – com “H grande” - e, talvez o Corpo do Senhor tivesse ficado insepulto ou atirado para uma qualquer vala comum. Das obras de misericórdia mais elementares, sepultar os defuntos, é, talvez, uma das que revelam um espírito compassivo e solidário. Compassivo para com os defuntos, solidário para todos os outros – familiares ou amigos – que, por qualquer motivo, se eximem desse dever, talvez, preferindo, chorar e lamentar o que “partiu”, do que honrar com um derradeiro gesto, a sua memória. Fazer - cumprir – a Misericórdia não pode compaginar-se nem com as circunstâncias nem com o tempo. Ou se é misericordioso – SEMPRE – ou não! Mal de nós, que desgraçados seríamos, se Deus Nosso Senhor não fosse – SEMPRE – infinitamente misericordioso para connosco, Seus filhos! E, Jesus Cristo, foi muito claro: «sede misercordiosos como O vosso Pai do Céu é misericordioso».


(AMA, 2018)


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