Páginas

22/04/2020

LEITURA ESPIRITUAL

COMENTANDO OS EVANGELHOS

São Mateus

Cap. XXII


1 Tendo Jesus recomeçado a falar em parábolas, disse-lhes: 2 «O Reino do Céu é comparável a um rei que preparou um banquete nupcial para o seu filho. 3 Mandou os servos chamar os convidados para as bodas, mas eles não quiseram comparecer. 4 De novo mandou outros servos, ordenando-lhes: ‘Dizei aos convidados: O meu banquete está pronto; abateram-se os meus bois e as minhas reses gordas; tudo está preparado. Vinde às bodas.’ 5 Mas eles, sem se importarem, foram um para o seu campo, outro para o seu negócio. 6 Os restantes, apoderando-se dos servos, maltrataram-nos e mataram-nos. 7 O rei ficou irado e enviou as suas tropas, que exterminaram aqueles assassinos e incendiaram a sua cidade. 8 Disse, depois, aos servos: ‘O banquete das núpcias está pronto, mas os convidados não eram dignos. 9 Ide, pois, às saídas dos caminhos e convidai para as bodas todos quantos encontrardes.’ 10 Os servos, saindo pelos caminhos, reuniram todos aqueles que encontraram, maus e bons, e a sala do banquete encheu-se de convidados. 11 Quando o rei entrou para ver os convidados, viu um homem que não trazia o traje nupcial. 12 E disse-lhe: ‘Amigo, como entraste aqui sem o traje nupcial?’ Mas ele emudeceu. 13 O rei disse, então, aos servos: ‘Amarrai-lhe os pés e as mãos e lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes.’ 14 Porque muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos.» 15 Então, os fariseus reuniram-se para combinar como o haviam de surpreender nas suas próprias palavras. 16 Enviaram-lhe os seus discípulos, acompanhados dos partidários de Herodes, a dizer-lhe: «Mestre, sabemos que és sincero e que ensinas o caminho de Deus segundo a verdade, sem te deixares influenciar por ninguém, pois não olhas à condição das pessoas. 17 Diz-nos, portanto, o teu parecer: É lícito ou não pagar o imposto a César?» 18 Mas Jesus, conhecendo-lhes a malícia, retorquiu: «Porque me tentais, hipócritas? 19 Mostrai-me a moeda do imposto.» Eles apresentaram-lhe um denário. 20 Perguntou: «De quem é esta imagem e esta inscrição?» 21 «De César» - responderam. Disse-lhes então: «Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.» 22 Quando isto ouviram, ficaram maravilhados e, deixando-o, retiraram-se. 23 Nesse mesmo dia, os saduceus, que não acreditam na ressurreição, foram ter com Ele e interrogaram-no. 24 «Mestre, Moisés disse: Se algum homem morrer sem filhos, o seu irmão casará com a viúva, para suscitar descendência ao irmão. 25 Ora, entre nós havia sete irmãos. O primeiro casou e morreu sem descendência, deixando a mulher a seu irmão; 26 sucedeu o mesmo ao segundo, depois ao terceiro, e assim até ao sétimo. 27 Depois de todos eles, morreu a mulher. 28 Então, na ressurreição, de qual dos sete será ela mulher, visto que o foi de todos?» 29 Jesus respondeu-lhes: «Estais enganados, porque desconheceis as Escrituras e o poder de Deus. 30 Na ressurreição, nem os homens terão mulheres nem as mulheres, maridos; mas serão como anjos no Céu. 31 E, quanto à ressurreição dos mortos, não lestes o que Deus disse: 32 Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob? Não dos mortos, mas dos vivos é que Ele é Deus!» 33 E a multidão, ouvindo-o, maravilhava-se com a sua doutrina. 34 Constando-lhes que Jesus reduzira os saduceus ao silêncio, os fariseus reuniram-se em grupo. 35 E um deles, que era legista, perguntou-lhe para o embaraçar: 36 «Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?» 37 Jesus disse-lhe: Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente. 38 Este é o maior e o primeiro mandamento. 39 O segundo é semelhante: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. 40 Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas.» 41 Estando os fariseus reunidos, Jesus interrogou-os: 42 «Que pensais vós do Messias? De quem é filho?» Responderam-lhe: «De David.» 43 Disse-lhes Ele: «Como é, então, que David, sob a influência do Espírito, lhe chama Senhor, dizendo: 44 Disse o Senhor ao meu Senhor: ‘Senta-te à minha direita, até que Eu ponha os teus inimigos por estrado de teus pés’? 45 Ora, se David lhe chama Senhor, como é seu filho?» 46 E ninguém soube responder-lhe palavra. A partir de então, ninguém mais se atreveu a interrogá-lo.

Comentários:

1-10 -
Numa alegoria que se compreende perfeitamente, Deus começou por   convidar o Seu povo, escolhido segundo a promessa feita a Abraão. Mas, o convite divino ou não foi aceite ou foi ignorado. O Senhor, então, o que faz? Convida todos, absolutamente todos, estende o convite a toda a humanidade porque nos quer a todos à Sua volta… sempre. O banquete está sempre pronto e as portas franqueadas. Só temor que aceitar e entrar para usufruir dessa festa extraordinária que o nosso Senhor nosso Deus nos tem preparada.

1-14 -
O convite que o Senhor faz a participar nas bodas é universal. Ninguém é excluído todos têm lugar. À disposição de qualquer um estão abundantes meios para uma preparação condigna com a honra, a magnitude da festa eucarística.
A frase com que São Mateus termina este seu texto, dá-nos que pensar! Que queria Jesus dizer com tal? De facto, muitos recebem a vocação para seguir Cristo mais de perto e, muitos, correspondem tentando santificar a sua vida que outra coisa não é que fazer, em tudo, a Justíssima e Amabilíssima Vontade de Deus. Mas, desses, só uma ínfima parte é escolhida para O seguir de muito mais perto, colocando-se ao Seu serviço, entregando-lhe toda a sua vida. Estes ‘escolhidos’ são as pedras onde Cristo assenta a Sua Igreja, os guias do Seu rebanho, os que têm o poder de «atar e desatar» os vínculos que unem os homens ao Criador, e, sobretudo, os que na Santa Missa perpetuam a Sua presença real e substancial em Corpo, Alma e Divindade ao consagrarem o pão e o vinho tal como Ele, pela primeira vez na Última Ceia, o fez.
Talvez que estes sejam os pecados que mais magoam o Coração de Jesus, Ele que se deixou ficar humildissimamente sob as espécies do pão tratado de forma tão soez e desprezível.        Tenhamos consciência destas gravíssimas faltas e desagravemos o Senhor na Eucaristia e, simultaneamente, peçamos por todos esses que não sabem - ou não querem saber - da reverência, amor e profundo respeito devidos à Santíssima Eucaristia.  Não permitas, Senhor, que, tendo correspondido com prontidão ao Teu convite, me apresente sem o traje da dignidade que Te é devida. “lava-me, Senhor da minha iniquidade e purifica-me do meu pecado” (Ordinário da Missa). Chamado na encruzilhada dos caminhos da minha vida, não permitas que, com a pressa e urgência em comparecer, me esqueça de que não sou digno de tal convite. Que me prepare com o traje que pões à minha disposição para que compareça como devo. Então, revestido da Tua Graça, poderei participar com a alegria e gozo extraordinários que concedes aos convivas do Teu banquete divino.
Bem sabemos que não somos dignos mas não podemos deixar de corresponder ao Teu convite. A honra de sermos convidados mais se avoluma quando contemplamos a grandiosidade do Teu banquete com a nossa miséria! Como poderíamos, então, recusar?
Talvez que muitos cristãos piedosos e "rezadores" se esqueçam frequentemente de desagravar a santíssima Eucaristia por tantas comunhões mal feitas e, até sacrílegas. Pessoas que comungam o Verdadeiro Corpo do Senhor de uma forma leve, distraída, mecânica, rotineira. Outros que se atrevem a receber Jesus nas suas almas sem estarem devidamente preparados. Numa primeira reacção podemos admirar-nos com o excessivo rigor do Rei: parece aceitável que um qualquer "apanhado" numa encruzilhada não vestisse o traje nupcial.
Se recorrermos à história ficaremos a saber que era costume no Oriente daquele tempo, que nas bodas, às quais podiam assistir simples "passantes" além das tinas com água para se lavarem vestes e calçado para usarem se fosse preciso. Este "convidado" além de, obviamente não estar preparado para as bodas, desprezou esses meios que tinha à disposição não se purificando nem vestindo apropriadamente. É sempre conveniente estar preparado, já que não sabemos nem o dia nem a hora mas nunca, sob que pretexto for participar no banquete eucarístico sem estar devidamente preparado.
A Igreja, como Mãe que é, põe à disposição dos seus filhos os meios necessários para tal. Não deixemos de os utilizar.
        Vejo-me tal como sou: nada, absolutamente. E tenho esta percepção da grandeza que me está reservada dentro de momentos: Receber o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade do Rei e Senhor do Universo. Eu, António, este pobre homem com pés de barro e vontade frágil, estou aqui na expectativa do momento sublime em que Te receberei meu Deus e Senhor. Tenho o meu coração palpitando de alegria, confiança e amor. Alegria por ser convidado, confiança em que saberei esforçar-me por merecer o convite e amor sem limites pela caridade que me fazes. Aqui me tens, tal como sou e não como gostaria e deveria ser. Não sou digno, não sou digno, não sou digno! Sei porém, que a uma palavra Tua a minha dignidade de filho e irmão me dará o direito a receber-te tal como Tu mesmo quiseste que fosse. Aqui me tens, Senhor. Convidaste-me e eu vim.


15-21 -
Evidentemente que o problema está no critério pessoal: o que é devido a César e o que se deve a Deus. Parece ser fácil: a César deve-se exclusivamente o que lhe pertence por direito; a Deus deve-se absolutamente tudo, porque é o Dono e Senhor de todas as coisas.
Este talvez seja um dos maiores problemas do homem: ter bem claro o que é de César e o que é de Deus! Para tal é indispensável um são critério e agir de acordo sempre e em qualquer circunstância já que a ‘propriedade’ não muda e nem o ‘seu dono’ abdica dela.
Até ao fim dos tempos, em todas as línguas, há-de repetir-se esta frase de Jesus. Resposta lapidar que encerra em si mesma toda uma lição de comportamento, de norma de conduta, de critério e de justiça. Os Doutores da Lei afastaram-se porque nada mais havia a dizer, a acrescentar e, nós, ficamos porque queremos absorver bem as palavras do Mestre. São palavras que constituem por si sós, todo um programa de vida. Pensemos bem nelas, detenhamo-nos um pouco e demo-nos conta da profundidade e do alcance que na verdade têm.
Tentar "enganar" Deus é trabalho escusado porque Ele, ouvindo o que dizemos sabe a intenção que nos conduz. Por isto se percebe bem que não Lhe interessam as palavras por mais belas ou aliciantes que possam ser mas sim o que verdadeiramente sentimos quando as pronunciamos. A oração atabalhoada, feita à pressa para "cumprir uma obrigação" vale nada ao passo que um breve pensamento, jaculatória ou invocação que nos sai da alma encontra "eco" no Seu Coração Amantíssimo. Como se dissesse: "este meu filho lembrou-se de Mim!" E, Ele, nem um simples copo de água oferecido com recta intenção deixa sem recompensa.

34-40 -
O nosso amor a Deus não é um “favor” que Lhe fazemos mas uma obrigação. Ele amou-nos primeiro mesmo antes da criação do mundo e ama-nos sempre mesmo quando não correspondemos. Se “amor com amor se paga” ficaremos sempre muito aquém de cumprir essa obrigação. À Mãe do Amor Formoso, Santa Maria, peçamos que nos ensine a amar mais e melhor o seu Divino Filho.
O amor a Deus tem a ver com o Dom da Piedade. O Espírito Santo inspira na nossa alma, no nosso coração essa necessidade, esse desejo de retribuir ao Senhor um pouco do amor que nos tem.
Que é imenso! Pois é, deu a própria vida por nós! Que não conseguiremos retribuir totalmente! Pois não, mas, se nos empenharmos a sério Ele, na Sua Bondade Infinita, ficará tão agradecido que nos pagará com juros altíssimos e desproporcionados.
        Peço-te, Senhor, que recebas o meu amor como se fosse o único amor que tens na terra. Assim não notarás como é pequeno, miserável... Serei feliz porque mesmo sabendo o pouco que é, como to dou todo...fico disponível para me 'encher' do Teu...
Dizias-me: será que amo a Deus deveras, com todo o meu coração, com todas as minhas capacidades e potências? Não me ficarei por um "amor conveniente", isto é, calculado, pesado e medido com um rigor que não ponho nas minhas outras afeições? Mas eu não quero amar assim! Desejo que seja um amor completo, total, sem reservas nem calculismos. Amor livre, sadio, sem eufemismos. Amor de irmão e amor de filho. É este o amor que Te quero entregar, meu Senhor e meu Deus. Disseste tudo, não tive de acrescentar nada.
Como é que se deve amar a Deus? Em vez de responder, faço também uma pergunta? Quem é o Criador e Senhor de todas as coisas? Quem é que, desde o princípio dos tempos nos conhece, a cada um pelo nosso nome? Quem nos deu uma alma com umas virtudes, capacidades e potências que usamos para a nossa felicidade? Quem respeita de modo absoluto a nossa liberdade? Quem está sempre pronto para nos receber mesmo quando nos afastamos?
Quem nos ama com tal dimensão e magnitude que para recuperarmos a liberdade perdida ofereceu a Sua própria vida no Sacrifício da Cruz? Quando respondermos a estas perguntas saberemos como deve ser o nosso amor a Deus.
As palavras de Cristo – neste trecho do Evangelho – são a essência da Lei de Deus. Não há lugar a qualquer dúvida ou interpretação: Amar a Deus e amar próximo, sãos dois mandamentos “base” da Lei de Deus. Até porque, um não é possível sem o outro, como se compreende. Como poderia conceber-se que alguém se declarasse como “amante” de Deus tendo a mais pequena reserva – que seja – por outro ser humano qualquer?




Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.