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20/04/2020

LEITURA ESPIRITUAL

COMENTANDO OS EVANGELHOS

São Mateus

Cap. XX


1 «Com efeito, o Reino do Céu é semelhante a um proprietário que saiu ao romper da manhã, a fim de contratar trabalhadores para a sua vinha. 2 Ajustou com eles um denário por dia e enviou-os para a sua vinha. 3 Saiu depois pelas nove horas, viu outros na praça, que estavam sem trabalho, 4 e disse-lhes: ‘Ide também para a minha vinha e tereis o salário que for justo.’ 5 E eles foram. Saiu de novo por volta do meio-dia e das três da tarde, e fez o mesmo. 6 Saindo pelas cinco da tarde, encontrou ainda outros que ali estavam e disse-lhes: ‘Porque ficais aqui todo o dia sem trabalhar?’ 7 Responderam-lhe: ‘É que ninguém nos contratou.’ Ele disse-lhes: ‘Ide também para a minha vinha.’ 8 Ao entardecer, o dono da vinha disse ao capataz: ‘Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário, começando pelos últimos até aos primeiros.’ 9 Vieram os das cinco da tarde e receberam um denário cada um. 10 Vieram, por seu turno, os primeiros e julgaram que iam receber mais, mas receberam, também eles, um denário cada um. 11 Depois de o terem recebido, começaram a murmurar contra o proprietário, dizendo: 12 ‘Estes últimos só trabalharam uma hora e deste-lhes a mesma paga que a nós, que suportámos o cansaço do dia e o seu calor.’ 13 O proprietário respondeu a um deles: ‘Em nada te prejudico, meu amigo. Não foi um denário que nós ajustámos? 14 Leva, então, o que te é devido e segue o teu caminho, pois eu quero dar a este último tanto como a ti. 15 Ou não me será permitido dispor dos meus bens como eu entender? Será que tens inveja por eu ser bom?’ 16 Assim, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos. Porque muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos.» 17 Ao subir a Jerusalém, pelo caminho, chamou à parte os Doze e disse-lhes: 18 «Vamos subir a Jerusalém e o Filho do Homem vai ser entregue aos sumos sacerdotes e aos doutores da Lei, que o vão condenar à morte. 19 Hão-de entregá-lo aos pagãos, que o vão escarnecer, açoitar e crucificar. Mas Ele ressuscitará ao terceiro dia.» 20  Aproximou-se então de Jesus a mãe dos filhos de Zebedeu, com os seus filhos, e prostrou-se diante dele para lhe fazer um pedido. 21 «Que queres?» - perguntou-lhe Ele. Ela respondeu: «Ordena que estes meus dois filhos se sentem um à tua direita e o outro à tua esquerda, no teu Reino.» 22 Jesus retorquiu: «Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que Eu estou para beber?» Eles responderam: «Podemos.» 23 Jesus replicou-lhes: «Na verdade, bebereis o meu cálice; mas, o sentar-se à minha direita ou à minha esquerda não me pertence a mim concedê-lo: é para quem meu Pai o tem reservado.» 24 Ouvindo isto, os outros dez ficaram indignados com os dois irmãos. 25 Jesus chamou-os e disse-lhes: «Sabeis que os chefes das nações as governam como seus senhores, e que os grandes exercem sobre elas o seu poder. 26 Não seja assim entre vós. Pelo contrário, quem entre vós quiser fazer-se grande, seja o vosso servo; e 27 quem no meio de vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo. 28 Também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para resgatar a multidão.» 29 Quando iam a sair de Jericó, uma grande multidão seguiu Jesus. 30 Nisto, dois cegos que estavam sentados à beira da estrada, ao ouvirem dizer que Jesus ia a passar, começaram a gritar: «Senhor, Filho de David, tem misericórdia de nós!» 31 A multidão repreendia-os para os fazer calar, mas eles gritavam cada vez mais: «Senhor, Filho de David, tem misericórdia de nós!» 32 Jesus parou, chamou-os e perguntou-lhes: «Que quereis que vos faça?» 33 Responderam-lhe: «Senhor, que os nossos olhos se abram!» 34 Dominado pela compaixão, Jesus tocou-lhes nos olhos. Imediatamente recuperaram a vista e seguiram-no.

Comentários:

1-16 -
Na verdade, quando lemos este trecho da São Mateus, somos, talvez, invadidos por algum sentimento de injustiça. Quem trabalhou mais deveria receber mais! Mas não nos esqueçamos de algo muito importante: O Senhor paga aos primeiros contratados exactamente o que ajustou, o que prometeu pagar. Aos segundos não prometeu nada, mas, na Sua Sabedoria, entendeu dar-lhes uma paga igual. Actua com suprema justiça porque, de facto, aqueles segundos e terceiros contratados não tiveram oportunidade de trabalhar mais cedo porque «ninguém os contratou».
Parece-nos, talvez, que, perante situação semelhante, teríamos procedido de outra forma: pagaríamos o ajustado com os primeiros e, aos outros, daríamos um salário correspondente ás horas que efectivamente trabalharam. Teríamos sido justos? Não tenho dúvidas em afirmar que sim. Mas, de facto, a justiça divina é diferente da justiça dos homens e ainda bem. Já pensámos que se o Senhor procedesse assim, nós, de agora, que poderíamos esperar receber comparando com os milhões de milhões de homens que nos precederem?

17-28 -
'Posso beber o Teu cálice? Ah, Senhor, não sei se sou capaz! Pobre de mim que, repugnando-me tanto o meu, como vou beber o Teu? Queria tanto dizer-te, do fundo do meu coração: Posso! Só me atrevo a dizê-lo porque sei que me ajudarás e a Tua Graça não me há-de faltar'. (AMA, Reflexões)
As Mães não têm nem peso nem medida quando se trata de pedir para os seus filhos. A nossa Mãe do Céu é uma Mãe extremosa e complacente e não se cansa, nunca, de pedir por nós seus filhos, independentemente do nosso mérito que, é sempre pouco. Ela é a medianeira entre nós e o seu Filho Jesus e, como em Caná, não hesita em "forçar" a Sua Vontade para que atenda o que precisamos. Não temos vinho suficiente para os que nos procuram, não temos fé que baste para convencer os outros, não temos coragem para enfrentar as dificuldades, não temos ânimo para mudar e corrigir o que é preciso, não temos... tanta coisa que realmente precisamos para ser bons filhos, bons cristãos. Peçamos sem descanso, instemos o seu Coração Amantíssimo de Mãe para que interceda por nós. Gritemos com todas as forças do nosso ânimo: Monstra te esse matrem!

20-28 -
O que uma mãe não faz pelos seus filhos!Sem pejo de pedir o impossível, medo, até, do ridículo da petição, a mãe pede, solicita, implora o que pensa pode contribuir para o bem, a felicidade do filho. Imaginemos a nossa Mãe do Céu que, conhecendo as nossas fragilidades e carências, como não há-de interceder por nós junto do seu Filho. E, Ele, não pode resistir aos apelos da Sua  Mãe Santíssima e, não por nosso mérito, que não temos, mas pela sua intercessão, dar-nos-à o que possamos precisar.
Deste trecho de São Mateus podemos pelo menos extrair duas reflexões. A primeira é a confirmação da fé da mãe dos Apóstolos que não duvida que O Senhor pode fazer tudo quanto Se Lhe peça, mesmo que seja algo insólito que só o amor de mãe pode justificar. A segunda é a visão humana, de resto natural, que temos do Reino dos Céus. Consideramos um espaço onde os Santos estão ordenados por categorias que os aproximam, ou afastam, da Santíssima Trindade. Sabemos, porque foi Jesus Quem o disse, que os doze Apóstolos estarão em doze tronos e que, também, há muitas moradas. Mas também sabemos que não já espaço ocupado, por assim dizer, porque nem as almas nem os ressuscitados ocupam lugar porque são espírito ou gozam das propriedades de corpos gloriosos. Ou seja, a vida eterna consiste na visão beatífica da Trindade e, assim sendo, não haverá uns que "vêm menos e outros que verão mais" mas todos gozarão por igual.
Podemos ter absoluta certeza que a nossa Mãe do Céu nunca ouvirá do seu Filho uma resposta semelhante à que deu à mãe de João e Tiago. Em primeiro lugar, porque ela nunca pedirá nada que não seja absolutamente necessário para os seus filhos, os homens e, depois, mesmo que o fizesse, Cristo nunca recusaria o que fosse a Sua Santíssima Mãe. No momento decisivo, quando nos apresentarmos perante o Senhor, Ele ouvirá – seguramente – o que a Sua Mãe tiver dizer a nosso respeito, a nosso favor, evidentemente. Como, por exemplo: ‘Filho, este usou o Escapulário…’.
Não me repugna absolutamente nada o pedido feito pela Mãe dos Apóstolos! Então não devemos pedir quanto acharmos que é melhor para nós? Se, o melhor para nós, é alcançar a santidade de vida, não devemos pedir ao Senhor que nos faça santos? Não se trata de pedir de mais ou pedir de menos, trata-se de pedir com a certeza que, o Senhor ouve os nossos pedidos e endireitará o que estiver enviesado e – sempre – nos dará o que fizer falta. Mais! Dar-nos-à com a abundância e magnanimidade que o Seu Coração misericordioso sempre dá aos que O invocam com Fé e Confiança

32-34 –
«Que quereis que vos faça?» Fica-se como que “estarrecido” com esta pergunta do Senhor! Ele, que sabe tudo, conhece o que precisamos, o que pode faltar-nos, quer que Lhe digamos – claramente e sem rodeios – o que desejamos, com a certeza, que Ele, sabe muito melhor que nós o que nos convém. Quando pedirmos o que seja, pois, devemos acrescentar: ‘Se for da Tua Vontade, Senhor!’.
Não temos, os homens, outro remédio senão pedir já que, por nós mesmos não podemos nada, bem o sabemos e, cada um, tem as suas próprias experiências que o confirmam. O ”nosso poder” não tem expressão nem valor, mas, como diz São Paulo: “posso tudo em Cristo que me conforta”, ou, como São Josemaria: “É verdade: pelo teu prestígio económico és um zero..., pelo teu prestígio social, outro zero..., e outro pelas tuas virtudes, e outro pelo teu talento... Mas, à esquerda desses zeros, está Cristo... E que cifra incomensurável isso dá!(Caminho, 473). Com este “panorama”, esta evidência, a nossa petição torna-se confiada e cheia de esperança. Atentemos bem que é o Próprio Jesus Cristo Quem nos urge: «Pedi, e ser-vos-á dado; procurai, e encontrareis; batei, e hão-de abrir-vos. Pois, quem pede, recebe; e quem procura, encontra; e ao que bate, hão-de abrir.» (São Mateus, VII, 7-8). Ele que É o Caminho, a Verdade e a Vida, nunca nos negará o Seu auxílio e, se acaso, não nos dá o que pedimos, é porque na Sua Sabedoria e Justiça infinitas, sabe o que muito melhor nos convém em cada circunstância.




(AMA, 2018)

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