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16/04/2020

LEITURA ESPIRITUAL

COMENTANDO OS EVANGELHOS

São Mateus

Cap. XVI


1 Foram ter com Ele os fariseus e os saduceus e, para O tenta­rem, pediram-Lhe que lhes mostrasse algum prodígio do céu. 2 Ele, porém, respondeu-lhes: «Vós, quando vai chegando a noite, di­zeis: “Haverá tempo sereno, porque o céu está vermelho”. 3 E de ma­nhã: “Hoje haverá tempestade, porque o céu mostra um avermelhado sombrio”. 4 Sabeis, pois, distinguir o aspecto do céu e não podeis co­nhecer os sinais dos tempos? Esta geração perversa e adúltera pede um prodígio, mas não lhe será dado outro prodígio, senão o prodígio do profeta Jonas». E, deixando-os, retirou-Se. 5 Os Seus discípulos, tendo passado à outra margem do lago, tinham-se esquecido de levar pão. 6 Jesus disse-lhes: «Olhai e acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus». 7 Mas eles discorriam entre si, dizendo: «É que não trouxemos pão». 8 Conhecendo Jesus isto, disse: «Homens de pouca fé, porque estais a discorrer entre vós por não terdes trazido pão? 9 Ainda não compreendeis nem vos lembrais dos cinco pães para os cinco mil homens, e quantos cestos recolhestes? 10 Nem dos sete pães para qua­tro mil homens, e quantos cestos recolhestes? 11 Porque não compre­endeis que não foi a respeito do pão que eu vos disse: “Acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus”?». 12 Então compreenderam que não havia dito que se guardassem do fermento dos pães, mas da doutrina dos fariseus e dos saduceus. 13 Tendo chegado à região de Cesareia de Filipe, Jesus interrogou os Seus discípulos, dizendo: «Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?». 14 Eles responde­ram: «Uns dizem que é João Baptista, outros que é Elias, outros que é Jeremias ou algum dos profetas». 15 Jesus disse-lhes: «E vós quem di­zeis que Eu sou?». 16 Respondendo Simão Pedro, disse: «Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo». 17 Respondendo Jesus, disse-lhe: «Bem-aventu­rado és, Simão filho de João, porque não foi a carne e o sangue que to revelaram, mas Meu Pai que está nos céus. 18 E Eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. 19 Eu te darei as chaves do Reino dos Céus; e tudo o que ligares sobre a terra, será ligado também nos céus, e tudo o que desatares sobre a terra, será desatado também nos céus». 20 Depois ordenou aos Seus discípulos que não dissessem a nin­guém que Ele era o Cristo. 21 Desde então começou Jesus a manifestar a Seus discípulos que devia ir a Jerusalém e padecer muitas coisas dos anciãos, dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas, ser morto, e ressuscitar ao terceiro dia. 22 Tomando-O Pedro à parte, começou a repreendê-l'O, dizendo: «Deus tal não permita, Senhor; não Te sucederá isto». 23 Ele, voltando-Se para Pedro, disse-lhe: «Retira-te de Mim, Satanás! Tu serves-Me de escândalo, porque não tens a sabedoria das coisas de Deus, mas dos homens». 24 Então, Jesus disse aos Seus discípulos: «Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. 25 Porque quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; e quem perder a sua vida por amor de Mim, acha-la-á. 26 Pois, que aproveitará a um homem ganhar todo o mundo, se vier a perder a sua alma? Ou que dará um homem em troca da sua alma? 27 Porque o Filho do Homem há-de vir na glória de Seu Pai com os Seus anjos, e então dará a cada um segundo as suas obras. 28 Em verdade vos digo que, entre aqueles que estão aqui presentes, há alguns que não morrerão antes que vejam vir o Filho do Homem com o Seu reino».

Comentários:

9-15 –

Quem se dedica ao apostolado – que deve ser tarefa de todo o cristão – terá de contar com a incredulidade e as dúvidas daqueles que o escutam e não terá outro remédio que pedir insistentemente ao Senhor que o ajude a ser convincente no que transmite. Mas, e além disso, deve preparar muito bem o que vai dizer e como vai dizer, tentando saber de antemão se a quem se dirige tem um são critério e um coração bem-disposto. Jesus Cristo teve de enfrentar constantemente pessoas de vistas estreitas e repletas de preconceitos e, no entanto, repetia uma e outra vez as mesmas verdades ilustrando-as de forma sempre nova e sempre velha, isto é, sem retirar a essência do que ensinava. Porquê? Porque todas as Suas palavras eram a própria essência da verdade. Não desanimemos pois, a verdade acaba sempre por vencer!
Não se pode acreditar no que não se conhece. Chegamos à conclusão, por este trecho de S. Marcos, que os onze não conheciam Jesus. Em mais de uma ocasião é o próprio Jesus que afirma que não conhecem o Pai porque não conhecem o Filho. E nós, cristãos de hoje bem informados e bem formados, conhecemos, de facto, Jesus? Preocupa-nos conhecê-lo cada vez melhor, mais intimamente? Lemos o Evangelho diariamente? Com pausa e atenção metendo-nos nas cenas "como um personagem mais", como aconselhava São Josemaria?

13-19 -
Eu, como Pedro, creio firmemente que Tu és Deus, meu Salvador e Redentor, que amo com todas as veras do meu coração, que sigo com incondicional entrega até ao momento que queiras chamar-me definitivamente para junto de Ti. Como anseio por esse momento, Senhor! Vultum Tuum requiram, Domine!
Jesus Cristo quer confirmar os Seus Apóstolos na Fé na Sua Divindade. Que tenham absolutamente claro e seguro que Ele é o Filho Unigénito de Deus, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, que veio ao mundo para redimir a humanidade inteira e instaurar o Reino de Deus. Para nós, cristãos, esta é uma verdade de Fé e assim o afirmamos no Credo.
As Chaves do Reino de Deus! Nem mais nem menos! O Senhor entrega a Pedro, um simples Pescador da Galileia, um poder extraordinário sem comparação com qualquer outro. Poder que se mantém desde então nas mãos da cabeça visível da Igreja, o Papa. É obrigação dos cristãos apoiar com orações e carinho o Vigário de Cristo ajudando-o a carregar tão enorme responsabilidade. Dominus conservat eum et vivificat eum et beatum faciat eum in terra et non tradat eum in animam inimicorum eius. [i]
A pergunta de Jesus pode parecer desnecessária e, de facto, é porque, Ele sabe muito bem, com detalhado pormenor, o que diz d'Ele. A intenção é clara: quer suscitar a resposta de Pedro que, assim, assume, desde logo, a responsabilidade de responder por todos os discípulos. Cristo aproveita esta atitude de Pedro e confirma-o como chefe da Igreja que irá fundar. E não só como chefe mas, como detentor de um poder que é unicamente de Deus: ligar e desligar, ou seja, aceitar os pedidos de perdão dos homens pelos pecados cometidos, reatando as relações deste com Deus. Este poder, claramente dado a Pedro, que será depois transmitido por este aos seus sucessores, é extensivo aos Bispos da Igreja Católica que o repartem pelos presbíteros sob o seu múnus. A grande questão dos Escribas que por várias vezes afirmam que, só Deus tem poder para perdoar os pecados, tem, assim, uma resposta mais completa ainda porque, na verdade, Deus pode fazer o que quiser com os Seus poderes – que são absolutos – inclusive, como neste caso, autorizar outros para os usarem em Seu Nome. É, efectivamente o que faz o Sacerdote ao declarar ao penitente: "Eu te absolvo dos teus pecados, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo" não em meu nome, mas em nome daqueLe de Quem me vem este poder. Quando se ouve – com alguma frequência, infelizmente – eu confesso-me a Deus, essa pessoa está a dizer uma verdade absoluta, embora a sua intenção seja outra.
Como é que Pedro sabe que Jesus é o Filho de Deus? Foi o próprio Deus quem lho revelou, disse Jesus. Também a nós acontece o mesmo, conhecemos as verdades essenciais sobre Deus porque Ele mesmo no-las revela. Queremos saber mais e mais profundamente? Peçamos mais e com maior confiança! Não há outra forma: ou Deus satisfaz os nossos pedidos feitos com são critério e boa intenção e nos revela o que nos convém saber, ou não os aceitando, porque não convêm ou vão mal endereçados, nos deixará na ignorância que merecemos.
Quem dizemos nós que é Jesus Cristo? A pergunta não é descabida, tentemos responder: Jesus, alguns dirão, é Aquele a Quem recorro sempre que preciso e faço-o com toda a confiança; Para mim, dirá outro, é o Salvador, O que veio propositadamente para nos salvar a todos; Já eu acho que Cristo é o verdadeiro Filho de Deus...etc., etc. Todas as respostas estarão, em princípio, certas mas, quantas referem a Cruz? Não se pode separar Cristo da Cruz porque foi nela que, Ele, cumprindo a vontade do Pai, nos redimiu e salvou definitivamente abrindo-nos as portas da Vida Eterna. Jesus Cristo não é o Deus particular, individual que muitos desejam ter ao serviço das suas necessidades do momento. Embora Se humilhe fazendo-se igual a nós em tudo, menos no pecado, Ele é de todos, a Sua Morte na Cruz foi por toda a humanidade passada, presente e futura.

13-20 -
Queremos – temos esse secreto desejo – de ser como Pedro, ter a sua frontalidade e singeleza, simples e categórica, com dúvidas convertidas em certezas inabaláveis. Realmente o que desejamos é que, como Pedro, o Senhor confie em nós!
A humanidade inteira deve a Pedro e aos outros seus companheiros, saber Quem É Jesus e, sabendo-o, ter a oportunidade através dos Evangelhos, de chegar a conhecê-Lo intimamente. Conhecer Jesus Cristo é conhecer Deus Uno e Trino, Criador e Senhor de toda a criação. Sem estes homens, simples, um pouco rudes, cheios de defeitos e debilidades mas, sentindo um amor incomensurável pelo Mestre, por Quem a maior parte deu a própria vida, não teríamos essa ventura. E devemos, todos, estar-lhes muito gratos e, como são pessoas comuns como nós, imitá-los em tudo mas, sobretudo, nesse Amor com A grande por Nosso Senhor Jesus Cristo.
Fica absolutamente claro que só podemos conhecer Deus pela Fé. E… o que é a Fé? Podemos responder simplesmente que se trata de uma Virtude Teologal que só o próprio Deus pode incutir em nós. É que, de facto, não merecemos ter Fé, porque, por nós mesmos, nada podemos fazer já que não conhecemos Deus e, evidentemente, não se pode amar o que não se conhece. Assim, a primeira coisa a fazer é pedir veementemente ao Senhor que nos conceda essa virtude, fundamental para que O possamos amar e, mais, nunca nos darmos "por satisfeitos" com a fé que temos porque, se não a cultivarmos e incessantemente a pedirmos, até a que temos podemos perder. Os cristãos têm Fé, foi-lhes como que “doada” no Baptismo. Sem qualquer mérito da nossa parte, ao tornar-nos Seus filhos, o Criador entregou-nos como que o ADN dessa Virtude. A nós, cabe-nos, agradecendo tão grande dom, não deixarmos que ela definhe ou enfraqueça. Por isso mesmo, alimentando-nos da Eucaristia, havemos de a manter bem viva e actuante.
Este trecho do Evangelho de São Mateus leva-nos, quase que inevitavelmente, a considerar a Confissão Sacramental. É um tema, infelizmente para muitos, controverso que, sem qualquer fundamentação séria, consideram não ser necessária a Confissão Sacramental para obter o perdão de Deus. Mas… estão profundamente errados, bastando para fundamentar esta afirmação, ler atentamente o que Jesus Cristo diz a este respeito; claramente dá a Pedro e aos seus sucessores, os Bispos, o poder, que só Ele tem, de perdoar os pecados. E como o poderão fazer se o pecador não revelar, directa e claramente, as suas faltas?
E eu? Sim, eu? Quem digo eu que Tu és? Sei-o, no meu coração, na minha alma, que Tu, És O Filho de Deus, O meu Salvador e O Redentor do mundo. Sei, desde pequenino, tudo isso, só que, por vezes – tantas vezes! – actuo como se não o soubesse. Levado pelos respeitos humanos, pelos preconceitos, pela falta de coragem, desvio muitas vezes a “conversa”, esquivo-me ao tema, digo para mim mesmo que “não é nem o tempo nem o lugar certos”. E, Tu, Senhor, que nunca me esqueces nem me negas como Teu filho! Tão triste deves ficar! Ajuda-me a retribuir o Teu grande amor por mim com o meu pequeno amor por Ti. Pequeno, porque sou pouca coisa, mas grande, porque é todo o que tenho.

13-23 -
De uma forma absolutamente clara que não deixa qualquer margem para dúvidas, o Senhor dá a Pedro e nele aos seus sucessores, os poderes que até então eram exclusivos de Deus: Perdoar os pecados. Pedro fica assim, constituído como um representante de Cristo na terra a quem, portanto, é devido respeito e acatamento das instruções que dele vêm.
A sabedoria das coisas de Deus e a sabedoria dos homens! A verdadeira Sabedoria é um Dom do Espírito Santo, logo é ela que deve estar na base de toda a sabedoria humana. De que serve saber muitas coisas – ser um “sábio” – se se ignora este Dom? É ele que dá a luz, o enfoque de quanto precisamos saber e, sobretudo, acompanhado do Dom de Entendimento, compreender aquilo que sabemos.

15-18 -
                Detendo-me um pouco nesta frase: «Eis os milagres que acompanharam os que crerem» fico a pensar na Força da Fé na Palavra de Deus. Jesus, de facto, diz que aqueles que acreditarem serão dados poderes extraordinários. Porquê? Parece-me que Jesus quer garantir aos primeiros crentes auxílios especiais para ultrapassarem as dificuldades que, sabe, irão enfrentar. Na verdade, as perseguições e ataques de toda a ordem contra os fieis seguidores da Palavra, irão surgir logo no início da Igreja nascente.


15-20 -
Que felicidade teres partido para o Céu!, não me canso de pensar. Indo ficaste connosco, comigo, para sempre. Na presença viva e real na Sagrada Eucaristia, que é o meu alimento, a minha força, o manancial onde bebo a água da vida eterna. Tenho-Te aqui como nenhum dos Teus Apóstolos Te teve; eles tinham a Tua companhia, gozavam da Tua presença, ouviam as Tuas palavras, viam os Teus gestos, eu, pelo contrário, tenho isso tudo, ouço-Te no meu coração quando me falas, sinto as inspirações que constantemente sopras no meu entendimento e, finalmente, recebo-Te todo inteiro, em Corpo, Alma e Divindade tal como estás no Céu para onde subisTe!

21-27 -
Ajuda-me, Senhor, a olhar para os outros com o Teu olhar divino e não com o meu modo de ver tão humano e rasteiro. Só assim poderei descobrir neles a Tua imagem e amá-los como a mim mesmo.

21-28 -
Parece estranho que O Senhor tenha dito que «quem pretender salvar a sua vida acabará por perdê-la»! Como se pode entender tal coisa! É preciso compreender que Jesus fala do apego à vida sobre tudo o resto como o único bem que realmente possa interessar ao homem. Na verdade não deve ser assim; a vida, a nossa vida, pertence a Deus que no-la deu e a pode fazer cessar quando bem entenda. Ou seja por nós, nada podemos fazer para a prolongar um segundo que seja. Devemos, isso sim, preservar a vida como um bem concedido por Deus para que dela tiremos o melhor partido e a façamos frutificar em obras e serviço. O apego desmesurado à saúde e bem-estar pessoal é contrário à missão que temos de levar a cabo: viver como Deus quer que vivamos, com a consciência que somos Suas criaturas e que teremos de Lhe dar contas do uso que demos a essa mesma vida.
A gente sente pena de Pedro! Coitado... Ainda há pouco o Senhor o bendisse e exaltou a sua resposta sobre quem Ele era e, agora... umas palavras duras, agrestes... Claro que, e em primeiro lugar, não sabemos o tom, a inflexão de voz de Jesus ao pronunciá-las e, depois, o sentido que agora damos difere, seguramente do de então. Seja como for, Pedro "não tem tempo para ficar auto-satisfeito", percebe, sabe que tem muito ainda a aprender. O facto é que, nos derradeiros momentos foi capaz de negar conhecer Jesus! Mas é a Pedra firme sobre a qual assenta a Igreja porque, a fortaleza e a capacidade, não está no homem que é um mero instrumento mas sim em Cristo que Se serve dele como Lhe apraz.

23-33 -
Parecem – e de facto são – duras as palavras que Jesus Cristo dirige a Pedro! Excessivas? Não! O Senhor quer deixar bem vincadas no espírito do Apóstolo duas coisas: A primeira é que ninguém, seja qual for o seu estatuto, pode corrigir – ou sequer tentar – o Senhor; A segunda para chamar Pedro à realidade simples e crua da sua condição humana e a impossibilidade, por si próprio, de compreender as coisas de Deus.
Como nos emociona a figura de Pedro! Podemos, cada um de nós, rever-nos neste homem são, um pouco impulsivo, generoso, disponível, amigo íntimo de Jesus, que não esconde os seus sentimentos e, sobretudo, que não impede – talvez antes o tenha sugerido – que as suas fraquezas sejam expostas nos textos evangélicos, algo que revela um surpreendente e cativante aspecto do seu carácter: a humildade pessoal. Ele é de facto o chefe dos Apóstolos porque Jesus Cristo assim o quis mas, nunca lemos em nenhum lugar que alguma vez se tenha vangloriado ou, sequer, feito valer o seu “estatuto”. Ao contrário, tendo guardado bem fundo no seu coração todas as palavras, conselhos e directivas do seu Mestre e Senhor, não esqueceu esta tão importante: que, o próprio Senhor, não veio para ser servido mas para servir.
O escândalo da sabedoria dos homens quando se opõe – o que é frequente – à sabedoria de Deus! Como evitar isto, nós que julgamos saber tanto sobre tantas coisas?
A resposta é simples: Doutrina! Claro! Doutrina, catequese, estudar, rever, meditar a Palavra de Deus. Que já sabemos o suficiente? Não, não sabemos nada e, muito menos o suficiente para nos salvarmos e para conduzir outros à salvação. Não esqueçamos que São João deixou escrito, para que constasse para sempre, que Jesus disse e fez muitíssimo mais coisas que aquelas que os quatro Evangelhos relatam e que, em todo o mundo não caberiam os livros que seria preciso escrever para as relatar. Com os olhos da alma leremos o Evangelho e descobriremos, sempre coisas novas. Com o nosso olhar humano apenas (re)leremos pela enésima vez o que já sabemos, talvez, de cor. Há que ter este conhecimento da nossa limitação natural e tentar obter uma dimensão sobrenatural, a única forma de compreender as coisas divinas.

24-28 -

Perder a vida para ganhar a vida! Que estranha forma de explicar em que consiste a salvação! Aparentemente, falta algo nesta “sentença” de Cristo que melhor nos faça entender o que propõe. Mas, de facto, o que de algum modo foi incompreensível para as pessoas da Sua época, inclusive os discípulos, é, hoje em dia, perfeitamente entendível para os cristãos. Deve-se ao Espírito Santo e ao Seu Dom de Entendimento esse entender e compreender o alcance e significado das palavras do Senhor. Assim, ficamos cientes que a vida, a verdadeira Vida, é a vida em Cristo, com Cristo e por Cristo. A vida de um cristão autêntico parece ser algo de pesado, angustiante, de luta contínua. Pode parecer a alguns que assim é mas, estão enganados. A cruz é comum a todos os homens que, uns mais outros menos, têm de suportá-la e conviver com ela. Faz parte integrante da condição humana. Mas, o cristão autêntico, tem-na como um sinal indelével da sua pertença a Cristo que nos redimiu – a todos – numa Cruz. E vive a sua vida – a sua cruz – com a alegria que as pequenas vitórias diárias proporcionam e, convenhamos, não há maior alegria que vencer!
Perder a vida para ganhá-la? Que estranha forma de encarar a nossa santa religião! A vida, a nossa vida, é o bem mais precioso que possuímos e por isso mesmo somos levados num primeiro impulso, a rejeitar esta sentença de Jesus Cristo. Mas, e aí está a verdade, a vida não é nossa, pertence a Deus que no-la deu e mantém até Ele próprio querer. Não somos mais que usufrutuários desse bem. Esta é que é a verdade! Sendo assim, como de facto é, amar a vida só faz sentido amando a Deus e só se pode amar a Deus sobre todas as coisas, logo, mais que a própria vida.
A cruz talvez seja o símbolo mais usado e visto no mundo. A Cruz de Cristo é o instrumento de Redenção da humanidade e, por isso mesmo, deve ser usado com reverência e autêntico amor. Ela é, também, a “nossa cruz” porque nela estavam as faltas, os pecados de todos os homens de todos os tempos. Comparar a nossa cruz pessoal, essa cruz que todos carregamos ao longo da vida, por pesada que seja, é algo de bom e meritório porque, sabemo-lo muito bem por experiência própria, sozinhos dificilmente a suportamos.
Ah a cruz! A cruz de cada dia que é de cada um, pesada, leve, mas... cruz, é, quase sempre, feita por nós. Como dizia São Filipe de Néri "os homens são frequentemente os carpinteiros das suas próprias cruzes". O que tem O Senhor a ver com a nossa cruz? Tem muito a ver porque Ele próprio carregou com ela ou, pelo menos com a parte mais pesada, mais penosa de transportar. A Cruz que levou às costas para o monte Calvário tinha o peso de todos os nossos pecados, faltas, omissões e desvarios de todos os homens e de todos os tempos. A nossa cruz do dia-a-dia tem só o peso das faltas que acrescentamos pela nossa fragilidade; são muitas as faltas… o peso é maior, são poucas e sem grande relevo… é mais levadeira. A nossa cruz e a Cruz da Redenção têm em comum que para serem levadas precisam do Senhor, dos Seus ombros fortes, da Sua ajuda preciosa. Sozinhos não a moveremos um milímetro!



(AMA, 2018)




[i] Deus o conserve e vivifique e o faça santo na terra e não o deixe sucumbir ao ânimo dos seus inimimigos

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