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26/03/2020

Leitura espiritual

Pensamentos para a vida diária

Felicidade 3

Capítulo III
Felicidade

A felicidade não consiste na abundância de coisas que o homem possua, nem tampouco na satisfação dos desejos humanos – por exemplo, prazer num momento e publicidade noutro.
A felicidade é, principalmente, condicionada a duas coisas: um objectivo certo na vida e o autodomínio do egocentrismo e do egoísmo.

O alvo da vida deve satisfazer os mais altos cumes da personalidade, principalmente o desejo de viver e a ânsia da verdade e a procura do amor.
A satisfação de viver não está dependente de mais três dias de vida, mas sim da imortalidade que não tem fim.

A verdade conquista-se, não com saber uma ciência apenas, com exclusão de outras, ou numa só arte ignorando as restantes.

O espírito só logra descanso quando está senhor de todo o conhecimento da verdade completa, não sob uma forma abstracta, mas sim personificada n’Aquele que diz: «Eu Sou a Verdade» [1].

Finalmente, a vontade satisfaz-se, não com um amor que pode esmorecer ou está sujeito a fases, como a Lua, mas sim com o amor que é um êxtase contínuo, sem intervalos de ódio ou de saciedade.

Esta vida perfeita, esta verdade perfeita e este perfeito amor é Deus – Pai, Filho e Espírito Santo.

A segunda condição da felicidade é o autodomínio do egocentrismo e do egoísmo que impede o caminho por onde tem de se atingir aquele último e final propósito.
O inferno é o seu “eu” afirmado no tempo, no isolamento e na eternidade, sempre em conflito com outros “eus”, que negam constantemente o nosso “eu”.
O inferno é composto por seres completamente egocentristas.
Os que convivem com semelhantes indivíduos conhecem antecipadamente o sabor do inferno.

O egoísmo tem de ser eliminado, pois que, enquanto subsistir, não acolhe nem Deus nem o próximo.

Só depois de ter feito o vácuo na ampola de vidro, é que ela proporciona o meio próprio para os “raios x” penetrarem através dos músculos e do cérebro, em-bora não os vejamos.
Enquanto eu” e o egoísmo persistirem, a quererem assegurar - à custa alheia - o nosso bem estar e prazer, seremos torturados pela felicidade interior.
O “eu” arde nas chamas do inferno e é essa a sensação que os egocentristas já sentem vagamente em vida, no tormento que lhes rói a consciência.

Precisamente porque é difícil expulsar o orgulho, a luxúria, a gula e a ambição é que só muito lentamente se consegue neste mundo a conquista da felicidade.
Não há planícies na vida espiritual.
Não basta dar alguns passos em ladeiras íngremes para alcançar prontamente a terra do contentamento.
A paz interior não se consegue com um só golpe: para lograr alcançá-la temos de andar passo a passo.
Apenas chegaremos, quando muito, a uma breve clareira, pois logo surgem à nossa frente espinhos e silvados, prontos a rasgar, a dilacerar a nossa carne, além de que subsiste sempre o perigo de escorregarmos de vez em quando, recuando assim alguns passos.

Deus Nosso Senhor disse: «Toma contigo a tua cruz de todos os dias» [2].

A luta pela liberdade é ainda condicionada a uma luta incansável connosco próprios: não é fácil deitar lado a lado o leão e o cordeiro.
O cão de caça tem de lutar para agarrar solidamente a fera que existe em nós. Embora seja difícil a prossecução da felicidade divina, ela proporciona uma má paz e uma alegria que o egocentrista não pode compreender.
Cada provação, cada batalha dão uma nova força que se traduz em abundantes graças celestiais.
Quanto mais orifícios se fizerem no balão do egocentrismo, tantas mais aberturas ficarão patentes para dar entrada aos influxos da luz e do amor.
Os nossos recursos individuais não devem ser poupados na tarefa de toramos, dia-a-dia, as nossas cruzes.

Há quem pergunte a si próprio de onde vêm para alguns a força e a paciência, porque nem sequer suspeitam que existem almas que as graças do Céu alimentam com abundância.

Todos pretendem ser felizes, e a razão pela qual muitos não o são consiste em que o procuram ser a seu exclusivo gosto e sem terem de pagar o justo preço.

Por mais paradoxal que isso pareça, a felicidade principia onde acaba o egoísmo.
saudações na praça pública»[3].


Fulton J. Sheen, Thoughts for dayly living, (tradução por AMA)


[1] Jo 14, 6
[2] Lc 9, 22
[3] Ibid

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