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28/02/2020

THALITA KUM 115


THALITA KUM 115 

(Cfr. Lc 8, 49-56)


Conhecer o amor de Deus em Jesus Cristo

Na encíclica «Deus caritas est» citei a afirmação da primeira carta de São João: «Nós conhecemos o amor que Deus nos tem e cremos nele» para sublinhar que na origem da vida cristã está o encontro com uma Pessoa [1]. Dado que Deus se manifestou da maneira mais profunda através da encarnação de Seu Filho, fazendo-se «visível» n’Ele; na relação com Cristo, podemos reconhecer quem é verdadeiramente Deus. [2] Mais ainda, dado que o Amor de Deus encontrou a sua expressão mais profunda na entrega que Cristo fez da Sua vida por nós na Cruz, ao contemplar o Seu sofrimento e morte podemos reconhecer de maneira cada vez mais clara o amor sem limites de Deus por nós: «Tanto amou Deus ao mundo, que lhe deu Seu Filho único, para que todo o que crer nele não pereça, mas que tenha vida eterna». ([3])
Por outro lado, esse mistério do amor de Deus por nós não constitui só o conteúdo do culto e da devoção ao Coração de Jesus: é, ao mesmo tempo, o conteúdo de toda verdadeira espiritualidade e devoção cristãs. Portanto, é importante sublinhar que o fundamento dessa devoção é tão antigo como o próprio cristianismo. De facto, só se pode ser cristão dirigindo o olhar à Cruz de nosso Redentor, «a quem trespassaram». [4]
A encíclica «Haurietis aquas» lembra que a ferida do lado e as dos pregos foram para numeráveis almas os sinais de um amor que transformou cada vez mais incisivamente sua vida ([5]). Reconhecer o amor de Deus no Crucificado converteu-se para elas numa experiência interior que as levou a confessar, junto a Tomé: «Meu Senhor e meu Deus!» [6], permitindo-lhes alcançar uma fé mais profunda no acolhimento sem reservas do amor de Deus. [7]

Experimentar o amor de Deus dirigindo o olhar ao Coração de Jesus Cristo

O significado mais profundo desse culto ao Amor de Deus só se manifesta quando se considera mais atentamente sua contribuição não só ao conhecimento, mas também, e sobretudo, à experiência pessoal desse amor na entrega confiada a seu serviço [8]. Obviamente, experiência e conhecimento não podem separar-se: um faz referência ao outro. Também é necessário sublinhar que um autêntico conhecimento do Amor de Deus só é possível no contexto de uma atitude de oração humilde e de disponibilidade generosa. Partindo dessa atitude interior, o olhar posto no Lado Trespassado da lança transforma-se em silenciosa adoração. O olhar no Lado Trespassado do Senhor, do qual saem «sangue e água» [9], ajuda-nos a reconhecer a multidão de dons de graça que daí procedem [10] e abre-nos a todas as demais formas de devoção cristã que estão compreendidas no culto ao Coração de Jesus.

A fé, compreendida como fruto do Amor de Deus experimentado, é uma graça, um dom de Deus. Mas o homem poderá experimentar a fé como uma graça só na medida em que a aceita dentro de si como um dom, e procura vivê-lo. O culto do Amor de Deus, ao qual convidava aos fiéis a encíclica «Haurietis aquas» [11], deve ajudar-nos a recordar incessantemente que Ele carregou com este sofrimento voluntariamente «por nós», «por mim». Quando praticamos este culto, não só reconhecemos com gratidão o Amor de Deus, mas continuamos abrindo-nos a esse Amor, de maneira que a nossa vida vai ficando cada vez mais modelada por ele. Deus, que derramou o Seu Amor «Nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» [12], convida-nos incansavelmente a acolher o Seu Amor.
O convite a entregar-se totalmente ao amor salvífico de Cristo [13] tem como primeiro objectivo a relação com Deus. Por esse motivo, esse culto totalmente orientado ao Amor de Deus que Se sacrifica por nós tem uma importância insubstituível para a nossa fé e para a nossa vida no amor.


(AMA, reflexões).






[1] Cfr. n. 1
[2] Cfr. encíclica «Haurietis aquas», 29,41; encíclica «Deus caritas est», 12-15
[3] Jo 3, 16
[4] Jo 19, 37; Cfr. Zacarias 12, 10
[5] Cfr. número 52
[6] Jo 20, 28
[7] Cfr. encíclica «Haurietis aquas», 49
[8] Cfr. encíclica «Haurietis aquas», 62
[9] Cfr. Gv 19, 34
[10] Cfr. encíclica «Haurietis aquas», 34-41
[11] Cfr. ibidem, 72
[12] Cfr. Romanos 5, 5
[13] Cfr. ibidem, n. 4

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