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27/02/2020

THALITA KUM 114


THALITA KUM 114 

(Cfr. Lc 8, 49-56)


Tomando as palavras do profeta Zacarias, São João diz:

Olharão para Aquele que trespassaram”. [1]

Lá se manifesta a plenitude do amor: o Pai, que dá o próprio Filho, e este, que obedece à vontade do Pai, em mútua doação amorosa, derramada sobre a humanidade: o dom do Espírito Santo.

O Coração não é apenas um símbolo; é epifania da infinita misericórdia de Deus, gesto profético que se cumpre, irrompendo na realidade humana. Esse Coração foi despedaçado, para colocar tudo o que possuía à nossa disposição. Dele brotou a nossa Salvação. Temos que olhar para Ele. O amor verdadeiro - essa sede que não conseguimos estancar, a não ser ao contacto do próprio Coração de Cristo - foi, certamente, a experiência que viveram os mártires e os grandes santos: morreram de amor, num martírio de amor, como tanto o desejava Santa Teresinha de Lisieux.

Lembro-me, ainda hoje, do sermão que o Arcebispo de Aparecida, D. Geraldo Morais Penido, fez quando a minha mãe foi sepultada. Ele convidou-me a olhar para aquele corpo sofrido da Mãezinha, que chegara à idade de 90 anos, apesar de décadas de sofrimento, devido, particularmente, a um cancro. E disse-me: ‘Olhe para a sua mãe e veja o Coração de Cristo, pois este é o único gesto que irá consolá-lo’. Tenho procurado honrar esse Coração, através da doação da minha vida, e reconheço que somente o faço pelas graças especiais de que tenho sido cumulado. Vendo em minha mãe o Cristo crucificado, compreendi que seu sofrimento se transformara em abertura, em fonte inesgotável de felicidade eterna.

No Coração de Cristo, e a Ele associado o Coração Imaculado de Maria, revela-se o mistério de toda a obra da Salvação [2]: A Eucaristia e os demais Sacramentos, o Sacerdócio e a própria Igreja nascem desse gesto de doação do seu supremo amor. [3]

As palavras do profeta Isaías, «tirareis água com alegria das fontes da salvação» [4], que dão início à encíclica com a qual Pio XII recordava o primeiro centenário da extensão a toda a Igreja da festa do Sagrado Coração de Jesus, não perderam nada do seu significado hoje, cinquenta anos depois.
Ao promover o culto ao Coração de Jesus, a encíclica «Haurietis aquas» exortava aos crentes a abrir-se ao mistério de Deus e de seu amor, deixando-se transformar por ele. Cinquenta anos depois, continua em pé a tarefa sempre actual dos cristãos de continuar aprofundando em sua relação com o Coração de Jesus para reavivar em si mesmos a fé no amor salvífico de Deus, acolhendo-o cada vez melhor em sua própria vida.

O Lado Trespassado do Redentor é o manancial ao qual nos convida a acudir a encíclica «Haurietis aquas»: devemos recorrer a este manancial para alcançar o verdadeiro conhecimento de Jesus Cristo e experimentar mais profundamente o Seu amor. Deste modo, poderemos compreender melhor o que significa conhecer em Jesus Cristo o Amor de Deus, experimentá-Lo, mantendo o olhar N’ele, até viver completamente da experiência do Seu Amor, para poder testemunhá-lo depois aos outros.
De facto, retomando uma expressão de meu venerado predecessor, João Paulo II, «junto ao Coração de Cristo, o coração humano aprende a conhecer o autêntico e único sentido da vida e do seu próprio destino, a compreender o valor de uma vida autenticamente cristã, a permanecer afastado de certas perversões do coração, a unir o amor filial a Deus ao amor ao próximo.
Deste modo – e esta é a verdadeira reparação exigida pelo Coração do Salvador – sobre as ruínas acumuladas pelo ódio e a violência poderá edificar-se a civilização do Coração de Cristo» [5]


(AMA, reflexões).





[1] Jo 19,37 e Zc 12,10
[2] Cfr. Cl 1,26
[3] Cardeal Eusébio Oscar Scheid, Arcebispo do Rio de Janeiro, 20.06.2006
[4] Is 12, 3
[5] «Insegnamenti», vol. IX/2, 1986, p. 843.

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