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21/02/2020

Evangelho e comentário


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São Pedro Damião – Doutor da Igreja

Evangelho: Mc 8, 34 – 9, 1

34 Chamando a si a multidão, juntamente com os discípulos, disse-lhes: «Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.
1 Disse-lhes também: «Em verdade vos digo que alguns dos aqui presentes não experimentarão a morte sem terem visto o Reino de Deus chegar em todo o seu poder.»

Comentário:

A Sagrada Liturgia propõe-nos hoje – festa de São Pedro Damião, Doutor da Igreja – dois pequenos trechos do Evangelho escrito por São Marcos, precisamente dos capítulos 8 e 9.

Julgo que o melhor comentário será esta carta do Santo Doutor:

«Caríssimo, pediste-me que te escrevesse palavras de consolação, a fim de reconfortar o teu ânimo amargurado por tantos golpes dolorosos.
Mas se a tua prudência e sensatez não estão adormecidas, a consolação já chegou, porque as próprias palavras mostram sem sombra de dúvida que Deus te está instruindo como a um filho para alcançares a herança.
Assim o indicam claramente aquelas palavras: Filho, se queres servir a Deus, permanece na justiça e no temor, e prepara a tua alma para a provação.
Onde existe o temor e a justiça, a prova de qualquer adversidade não é tormento de escravos, mas antes correcção paterna.
Porque até o bem-aventurado Job, quando diz no meio dos flagelos da infelicidade: Quem dera que Deus me esmagasse, que estendesse a sua mão e pusesse fim à minha vida, logo acrescenta: Terei a minha consolação, porque me atormenta com dores e não me poupa.
Para os eleitos de Deus, o castigo divino é consolação, porque, através das dores momentâneas que suportam, progridem a grandes passos na firme esperança de alcançar a glória da felicidade eterna.
É para isso que o martelo bate no ouro: para que o ourives possa extrair a escória; é para isso que se usa a lima: para que a veia do vibrante metal brilhe com mais fulgor. É no forno que se experimenta o vaso do oleiro, é na tribulação que se experimentam os homens justos. Porque também diz São Tiago: Considerai como motivo de grande alegria, irmãos, as diversas provações por que tendes passado.
É a bom título que se devem alegrar aqueles que neste mundo suportam a tribulação temporária pelos seus pecados, mas têm guardada para si no Céu uma recompensa eterna pelas boas obras que praticaram.
Portanto, caríssimo e dulcíssimo irmão, enquanto te atingem os golpes da desgraça, enquanto és castigado pelos açoites da correcção divina, não te deixes vencer pelo desalento, não te queixes nem murmures, não te deixes amargurar pela tristeza nem impacientar pela fraqueza de ânimo; mas conserva sempre a serenidade no teu rosto, a alegria no teu coração, a acção de graças na tua boca.
São certamente dignos de todo o louvor os desígnios de Deus, que atinge nesta vida os seus para os poupar aos flagelos eternos; abate para elevar, fere para curar, humilha para exaltar.
Portanto, caríssimo, robustece o teu espírito na paciência com estes e outros testemunhos das Escrituras divinas, e espera confiadamente a alegria que vem depois da tristeza.
Que a esperança daquela alegria te reanime e a caridade te inflame, de tal modo que o teu espírito, santamente inebriado, esqueça os sofrimentos exteriores e anseie com entusiasmo pelo que interiormente contempla.»

(Das Cartas de São Pedro Damião, (Liv. 8, 6: PL 144, 473-476) (Sec. XI)



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