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14/01/2020

THALITA KUM 70


THALITA KUM 70

(Cfr. Lc 8, 49-56)


Destes dois homens de Emaús, só sabemos que eram discípulos de Cristo.
Quem sabe, talvez fossem dos setenta e dois enviados pelo Mestre em pregação pela Palestina; é possível que tivessem feito milagres, coisas extraordinárias, as suas palavras e os seus actos teriam convertido muitos e, no entanto, tudo isso agora era posto em causa.

A gente pasma com a "qualidade" dos homens que o Mestre escolheu para Seus discípulos, qualidade no sentido da fidelidade, da constância.

Ainda guardamos na memória a veemência das negações de Pedro na noite de Quinta-feira.
Este, que foi a primeira coluna da Igreja, os outros todos que se constituíram em pedras angulares de todo o edifício da cristandade, uns e outros que negaram, duvidaram e fugiram, converteram-se em faróis brilhantes que iluminaram o mundo pagão e hostil daquele tempo, com uma luz divina que brilha ainda hoje.

Mas, para além de iluminar, como dizia, modificaram realmente as pessoas, as sociedades, os costumes o sentido da vida e da morte do ser humano.
Não obstante tantos defeitos, ignorância, cobardia, medo e dúvidas, decidiram pôr de lado tudo isso e, cheios de confiança, aceitar plenamente o mandato explícito do Mestre:

«Ide, pois, doutrinai todas as gentes[1]

Isto leva-nos a pensar um pouco nas desculpas, ou justificações que, ao longo da vida, vamos encontrando para a nossa resistência ao trabalho apostólico, a nossa pouca vontade em envolver-nos "nessas coisas" (como dizemos por vezes):
Porque não sabemos o que dizer; porque primeiro temos de nos "converter" a nós mesmos e só depois convertermos os outros; porque somos fracos; porque não sabemos; porque...; porque...;

Outras vezes não aceitamos um convite para uma actividade em que se nos falará das coisas de Deus aduzindo razões:

É mais uma; porque já vamos a tantas;
porque não temos tempo;
porque não simpatizo com a pessoa;
porque também lá vai fulano de quem eu não gosto;
porque..., enfim... tantas razões que, sabemos bem no fundo, não são razão nenhuma.

O que nos custa admitir é que não desejamos incómodos, desassossegos, estamos bem assim, fazemos o que podemos, cumprimos os nossos deveres, o resto... o resto é para os padres e pronto!
A verdade é que não somos nem melhores nem piores que aqueles homens que Jesus escolheu, e que, como a eles, também a nós o Mestre nos manda: «Ide... a todas as gentes» [2]


(AMA, reflexões sobre o Evangelho, 2006)



[1] Mt 28, 19
[2] Cfr. Mt 28, 19

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