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25/12/2019

THALITA KUM 50


THALITA KUM 50 

(Cfr. Lc 8, 49-56


Jesus Cristo deu-nos numerosos exemplos do que é não ter medo.
Por exemplo, quando pegou num azorrague expulsou os vendilhões do templo, não teve medo de ser mal interpretado, nem então nem nos séculos futuros, e poder ser considerado um arruaceiro intransigente e fanático. Fez o que achou que deveria ser feito, exactamente para nos ensinar o que, em situações semelhantes de adulteração e profanação do sagrado – e tantas há nos nossos dias – devemos fazer.

As Suas atitudes eram tão desassombradas que Lhe perguntavam: «Com que autoridade fazes estas coisas» E, Jesus, não ficou “mal”, bem pelo contrário.

A Sua resposta é a adequada às pessoas preconceituosas que o interrogam: «Também Eu vos farei uma pergunta; respondei-me e dir-vos-ei, então, com que autoridade faço estas coisas: O baptismo de João era do Céu, ou dos homens? Respondei-me[1]

Estão bem gravadas no nosso espírito duas cenas que o Evangelho nos relata e que ilustram bem o medo-cobarde que se apodera de nós em situações de extrema tensão.

Quando Pilatos pergunta a Jesus o que é a verdade, o Evangelho diz que, sem esperar pela resposta, voltando as costas se retirou. [2]

Na história da humanidade, ficará para sempre registada esta atitude do Pretor romano. Não quer ouvir a resposta de Jesus. Intimamente sabe que, se a ouvisse, completa e esclarecedora, como não podia deixar de ser, vinda do Salvador, ela transformaria por completo a sua atitude perante o que se estava a passar no seu tribunal e, efectivamente, o que desejava era acabar rapidamente com um processo que, intrigando-o sobremaneira, não sabia como resolver. Em suma, não quis saber com clareza os fundamentos da justiça que lhe competia administrar.

Quando a servente do Sumo-Sacerdote interpela Pedro sobre Jesus, ele responde como sabemos. E invadido por um autêntico pavor de ser conotado, de alguma forma, com o Mestre que, ainda poucas horas antes, afirmara querer defender com a espada, se fosse preciso. [3]

Nestas duas atitudes, o medo é, claramente, cobardia e, ambas têm consequências graves.

Se Pilatos tivesse ouvido a resposta de Jesus, provavelmente a sua decisão ter-se-ia alterado e o desfecho da tragédia da Paixão do Senhor poderia ter sido outro.

Se Pedro assumisse que conhecia Cristo e que pertencia ao círculo restrito dos Doze escolhidos, talvez sofresse alguns dissabores, embora os que acusavam Jesus, obcecados como estavam nos seus propósitos de O levarem à morte, talvez nem prestassem atenção a tal.

As duas atitudes são semelhantes, mas não se equivalem.
Pilatos é um homem esclarecido, culto, entendido em leis, habituado a mandar, a tomar decisões; Pedro é um simples pescador, sem grandes letras e atordoado com os últimos acontecimentos.
A intervenção de Pilatos na história da salvação humana acaba aqui, com esta imagem negativa e contrária a toda a ética; a de Pedro, não, arrepende-se amargamente, obtém o perdão de Jesus, é confirmado por Ele como Seu sucessor directo à frente da Sua Igreja e, mais tarde, numa atitude de suprema humildade e arrependimento, quer que Marcos deixe lavrado com pormenores, este triste episódio.

O primeiro, segundo consta, morre em desgraça, o segundo, merece o supremo prémio do martírio.

Como o medo, a cobardia, podem ter consequências tão diferentes!

(AMA, reflexões sobre o Evangelho, 2006)



[1] Cfr. Mc 11, 27-33.
[2] Cfr. Jo 18, 18.
[3] Cfr. Mc 14, 66-72.

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