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20/12/2019

THALITA KUM 44


THALITA KUM 44 

(Cfr. Lc 8, 49-56)


Às vezes – quantas vezes! – parece que estamos sozinhos no mundo.
Rodeados de pessoas, no afã da vida diária, no corre-corre de todos os dias, mesmo assim, estamos sozinhos.
Sentimo-nos “individuais” como se, no mundo, não existisse mais ninguém senão nós. Rezamos e, a oração sai insípida, árida. Sentimo-nos desconfortáveis, achamos que “não vale a pena” e… deixamo-nos ir. Logo entra o desânimo, o descoroçoamento e, a tempo, a tristeza.

«Clamei bem alto e não me ouvias! No denso nevoeiro da doença, mergulhado num mar povoado de estranhos seres, sem saber se estava acordado ou adormecido, sem ter a noção onde começava e acabava o meu corpo: a cabeça... os pés... as mãos...; “aparafusado” numa cama que fazia parte de mim... os calcanhares...? (como é possível doerem tanto, os calcanhares?!...), clamei por Ti e não me ouvias! E, eu, mergulhava outra vez naquele oceano de perdição e voltava à superfície e de novo me perdia. Havia uma espécie de estratificação dos pensamentos, tinha tudo ordenado, muito bem organizado na minha cabeça: azuis, encarnados, verdes... dois azuis, três verdes... não... agora é um verde e depois... três ou quatro doutra cor qualquer. (decidi que as cores não eram importantes)[i]. Nada fazia sentido, estava vivo...?; morto...?; moribundo...? calado...?; aos gritos...? e o ar? Sim o ar: era solene, composto, digno ou, pelo contrário tinha a boca retorcida num esgar, os olhos vítreos esbugalhados, o gesto descontrolado?

 Ne timeas!’ Ouvi-te, finalmente!

Percebi, então, só então, que estava tão preocupado com a minha doença, o meu sofrimento, que ficara incapacitado para Te ouvir...
Tranquilo, fui repetindo até adormecer: Ofereço..., ofereço..., ofereço!
Faça-se, cumpra-se a Tua Justíssima e Amabilíssima Vontade sobre todas as coisas. Ámen. Ámen.»

(AMA, reflexões sobre o Evangelho, 2006)



[i] Sinestesia

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