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04/10/2019

Leitura espiritual


CARTA ENCÍCLICA
AUGUSTISSIMAE VIRGINIS MARIAE
DE SUA SANTIDADE
PAPA LEÃO XIII
4 –

A Confraria do Rosário

8. Depois, conforme já dissemos, como as orações públicas têm uma excelência e uma eficácia maiores do que as privadas, por isto a Confraria do Rosário também foi chamada pelos escritores eclesiásticos "milícia orante, alistada pelo Patriarca Domingos, sob as insígnias da divina Mãe"; isto é, daquela que a Sagrada Escritura e os fastos da Igreja saúdam como vencedora do demónio e de todas as heresias.

E isto porque o Rosário mariano liga com um vínculo comum todos aqueles que podem associar-se a ela, fazendo-os, como que irmãos e co-milicianos.

E assim eles formam uma fortíssima falange, inteiramente armada e pronta a repelir os assaltos dos inimigos, quer internos, quer externos.
Por isto, os membros desta pia associação podem com razão aplicar a si mesmos aquelas palavras de S. Cipriano:

"Nós temos uma oração pública e comum, e, quando oramos, não oramos por um simples indivíduo, mas pelo povo todo, porque, quantos somos, formamos uma coisa só" [1].

9. Aliás, a história da Igreja atesta a força e a eficácia destas orações, recordando-nos a derrota das forças turcas na batalha naval de Lepanto, e as esplêndidas vitórias alcançadas no século passado sobre os mesmos Turcos em Temesvar, na Hungria, e perto da ilha de Corfu.

Do primeiro facto permanece como monumento perene a festa de Nossa Senhora das Vitórias, instituída por Gregório XIII, e depois consagrada e estendida à Igreja universal por Clemente XI, sob o nome de festa do Rosário.

Justificação do Rosário

10. Pelo facto, pois, de estar esta milícia orante "alistada sob a bandeira da divina Mãe", ela adquire uma nova força e se ilustra de nova alegria, como sobretudo demonstra, na recitação do Rosário, a frequente repetição da saudação angélica depois da oração dominical.

Esta prática, longe de ser incompatível com a dignidade de Deus - como se insinuasse que nós devemos confiar mais em Maria Santíssima do que no próprio Deus - tem, ao contrário, uma particularíssima eficácia para O comover e no-lo tornar propício.

Com efeito, a fé católica ensina-nos que nós devemos orar não só a Deus, mas também aos Santos [i], embora de maneira diferente:

A Deus, como fonte de todos os bens; aos Santos, como intercessores.
"De dois modos pode-se dirigir a alguém um pedido, diz S. Tomás: com a convicção de que ele possa atendê-lo ou com a persuasão de que ele possa impetrar aquilo que se pede.

Do primeiro modo só oramos a Deus, porque todas as nossas preces devem ser dirigidas à consecução da graça e da glória, que só Deus pode dar, como é dito no Salmo 83, 12: "A graça e a glória dá-a o Senhor".

Da segunda maneira apresentamos o mesmo pedido aos santos Anjos e aos homens; não para que, por meio deles, Deus venha a conhecer os nossos pedidos, mas para que, pela intercessão deles e pelos seus méritos, as nossas preces sejam atendidas.

E por isto, no capítulo VIII, 4 do Apocalipse se diz que o fumo dos aromas, pelas orações dos Santos, subiu da mão do Anjo à presença de Deus" [2].

Ora, entre todos os Santos que habitam as mansões bem-aventuradas, quem poderá competir com a augusta Mãe de Deus em impetrar a graça?

Quem poderá com maior clareza ver no Verbo eterno de Deus as nossas angústias e as nossas necessidades?

A quem foi concedido maior poder em comover a Deus?

Quem como ela tem entranhas de maternal piedade?

É este precisamente o motivo pelo qual nós não oramos aos Santos do Céu do mesmo modo como oramos a Deus; "porquanto à SS. Trindade pedimos que tenha piedade de nós, ao passo que a todos os outros Santos pedimos que roguem por nós" [3].

Em vez disto, a oração que dirigimos a Maria tem algo de comum com o culto que se presta a Deus; tanto que a Igreja a invoca com esta expressão, que se costuma endereçar a Deus: "Tem piedade dos pecadores".

Portanto, os confrades do santo Rosário fazem muito bem em entrelaçar tantas saudações e tantas preces a Maria, como outras tantas coroas de rosas.

Com efeito, diante de Deus Maria é "tão grande e vale tanto que, a quem quer graças e a ela não recorre, o seu desejo quer voar sem asas".


[1] S. Cipriano, De Oratione Dominica
[2] S. Thomas de Aquino, II-II q. 83, a. 4
[3] S. Th., II-II q. 83, a. 4


[i] Concilum Tridentinum Sessio 25

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