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18/07/2019

Leitura espiritual


"Christus vivit": Exortação Apostólica aos Jovens


Capítulo V

PERCURSOS DE JUVENTUDE

Jovens comprometidos

168. É verdade que às vezes, perante um mundo cheio de tanta violência e egoísmo, os jovens podem correr o risco de se fechar em pequenos grupos, privando-se assim dos desafios da vida em sociedade, dum mundo vasto, estimulante e necessitado.
Têm a sensação de viver o amor fraterno, mas o seu grupo talvez se tenha tornado um simples prolongamento do próprio eu.
Isto agrava-se, se a vocação do leigo for concebida unicamente como um serviço interno da Igreja (leitores, acólitos, catequistas, etc.), esquecendo-se que a vocação laical é, antes de mais nada, a caridade na família, a caridade social e caridade política: é um compromisso concreto nascido da fé para a construção duma sociedade nova, é viver no meio do mundo e da sociedade para evangelizar as suas diversas instâncias, fazer crescer a paz, a convivência, a justiça, os direitos humanos, a misericórdia, e assim estender o Reino de Deus no mundo.

169. Proponho aos jovens irem mais além dos grupos de amigos e construírem a amizade social: «buscar o bem comum chama-se amizade social.

A inimizade social destrói.
E uma família destrói-se pela inimizade.
Um país destrói-se pela inimizade.
O mundo destrói-se pela inimizade.
E a inimizade maior é a guerra.
E hoje vemos que o mundo está-se destruindo pela guerra.
Porque são incapazes de se sentar e falar (…).
Sede capazes de criar a amizade social»


[1].

Não é fácil; sempre é preciso renunciar a qualquer coisa, é preciso negociar, mas, se o fizermos pensando no bem de todos, podemos fazer a experiência maravilhosa de deixar de lado as diferenças para lutar juntos por um objectivo comum.
Quando se consegue encontrar pontos coincidentes no meio de tantas divergências e, com esforço artesanal e por vezes fatigante, lançar pontes, construir uma paz que seja boa para todos, isso é o milagre da cultura do encontro que os jovens podem ousar viver com paixão.

170. O Sínodo reconheceu que, «embora sob forma diferente relativamente às gerações passadas, o compromisso social é um traço característico dos jovens de hoje.
Ao lado de alguns indiferentes, há muitos outros disponíveis para se comprometerem em iniciativas de voluntariado, cidadania activa e solidariedade social, o que é preciso acompanhar e encorajar para fazer surgir os talentos, as competências e a criatividade dos jovens e estimular a assunção de responsabilidades por parte deles.
O empenho social e o contacto directo com os pobres continuam a ser uma oportunidade fundamental para descobrir ou aprofundar a fé e para discernir a própria vocação.
(…) Assinalou-se também a disponibilidade de se empenharem no campo político para a construção do bem comum»[2].

171. Graças a Deus, hoje, os grupos de jovens nas paróquias, escolas, movimentos ou grupos universitários costumam ir fazer companhia a idosos e enfermos, visitar bairros pobres, ou sair juntos para ajudar os mendigos nas chamadas «noites da caridade».
Com frequência, reconhecem que, em tais actividades, o que recebem é mais do que aquilo que dão, porque se aprende e amadurece muito quando se tem a coragem de entrar em contacto com o sofrimento dos outros.
Além disso, nos pobres, há uma sabedoria escondida, e eles, com palavras simples, podem ajudar-nos a descobrir valores que não vemos.

172. Outros jovens participam em programas sociais que visam construir casas para os sem-abrigo, bonificar áreas contaminadas, ou recolher ajudas para os mais necessitados.
Seria bom que esta energia comunitária fosse aplicada não só em acções esporádicas, mas de forma estável, com objectivos claros e uma boa organização que ajude a realizar uma actividade mais contínua e eficiente.
Os universitários podem unir-se de forma interdisciplinar para aplicar os seus conhecimentos na resolução de problemas sociais e, nesta tarefa, podem trabalhar lado a lado com jovens de outras Igrejas e de outras religiões.

173. Como no milagre de Jesus, os pães e os peixes dos jovens podem multiplicar-se (cf. Jo 6, 4-13).
Como na parábola, as pequenas sementes dos jovens tornam-se árvores e frutos de colheita (cf. Mt 13, 23.31-32).
Tudo isto se realiza a partir da fonte viva da Eucaristia, na qual o nosso pão e o nosso vinho se transformam para nos dar a Vida eterna.
Aos jovens, está confiada uma tarefa imensa e difícil.
Com fé no Ressuscitado, poderão enfrentá-la com criatividade e esperança, colocando-se sempre na posição de serviço, como os servos das bodas de Caná, colaboradores inesperados do primeiro sinal de Jesus, só por terem seguido a recomendação de sua Mãe:

«Fazei o que Ele vos disser» (Jo 2, 5).

Misericórdia, criatividade e esperança fazem crescer a vida.

174. Quero encorajar-te a assumir este compromisso, porque sei que «o teu coração, coração jovem, quer construir um mundo melhor.

Acompanho as notícias do mundo e vejo que muitos jovens, em tantas partes do mundo, saíram para as ruas para expressar o desejo de uma civilização mais justa e fraterna.
Os jovens nas ruas; são jovens que querem ser protagonistas da mudança.
Por favor, não deixeis para outros o ser protagonista da mudança! Vós sois aqueles que detêm o futuro!
Através de vós, entra o futuro no mundo.
Também a vós, eu peço para serdes protagonistas desta mudança.
Continuai a vencer a apatia, dando uma resposta cristã às inquietações sociais e políticas que estão surgindo em várias partes do mundo.
Peço-vos para serdes construtores do futuro, trabalhai por um mundo melhor.

Queridos jovens, por favor, não “olheis da sacada” a vida, entrai nela. Jesus não ficou na sacada, mergulhou…
Não olheis da sacada a vida, mergulhai nela, como fez Jesus»[3].


Mas sobretudo, de uma forma ou de outra, lutai pelo bem comum, sede servidores dos pobres, sede protagonistas da revolução da caridade e do serviço, capazes de resistir às patologias do individualismo consumista e superficial.

Missionários corajosos

175. Enamorados por Cristo, os jovens são chamados a dar testemunho do Evangelho em toda parte, com a sua própria vida.
Santo Alberto Hurtado dizia que «ser apóstolo não significa usar um distintivo na lapela do casaco; não significa falar da verdade, mas vivê-la, encarnar-se nela, transformar-se em Cristo.
Ser apóstolo não é levar uma tocha na mão, possuir a luz, mas ser a luz. (...)
O Evangelho (...), mais do que uma lição, é um exemplo.
A mensagem transformada em vida vivida»[4].

176. O valor do testemunho não significa que se deve manter em silêncio a palavra.
Por que é que não havemos de falar de Jesus, contar aos outros que Ele nos dá a força de viver, que é bom conversar com Ele, que nos faz bem meditar as suas palavras?

Jovens, não deixeis que o mundo vos arraste para compartilhar apenas as coisas negativas ou superficiais.
Sede capazes de ir contracorrente, compartilhar Jesus, comunicar a fé que Ele vos deu.
Possais vós sentir no coração o mesmo impulso irresistível que movia São Paulo, fazendo-o exclamar: «Ai de mim, se eu não evangelizar(1 Cor 9, 16).

177. «Para onde Jesus nos manda?
Não há fronteiras, não há limites: envia-nos a todas as pessoas.
O Evangelho é para todos, e não apenas para alguns.
Não é apenas para aqueles que parecem a nossos olhos mais próximos, mais abertos, mais acolhedores.
É para todas as pessoas.
Não tenhais medo de ir e levar Cristo a todos os ambientes, até às periferias existenciais, incluindo quem parece mais distante, mais indiferente.
O Senhor procura a todos, quer que todos sintam o calor da sua misericórdia e do seu amor»[5].

E convida-nos a levar, sem medo, o anúncio missionário aos locais onde nos encontrarmos e às pessoas com quem convivermos: no bairro, no estudo, no desporto, nas saídas com os amigos, no voluntariado ou no emprego, é sempre bom e oportuno partilhar a alegria do Evangelho.
É assim que o Senhor Se vai aproximando de todos; e pensou em vós, jovens, como seus instrumentos para irradiar luz e esperança, porque quer contar com a vossa coragem, frescor e entusiasmo.

178. Não se pode esperar que a missão seja fácil e cómoda.
Alguns jovens preferiram dar a própria vida a refrear o seu impulso missionário.
Os bispos da Coreia escreveram: «Esperamos poder ser grãos de trigo e instrumentos para a salvação da humanidade, seguindo o exemplo dos mártires.
Apesar da nossa fé ser tão pequena como um grão de mostarda, Deus fá-la-á crescer e utilizá-la-á como instrumento para a sua obra de salvação»[6].

Amigos, não espereis pelo dia de amanhã para colaborar na transformação do mundo com a vossa energia, audácia e criatividade.
A vossa vida não é «entretanto»; vós sois o agora de Deus, que vos quer fecundos[7].
Porque «é dando que se recebe»[8], e a melhor maneira de preparar um bom futuro é viver bem o presente, com dedicação e generosidade.


Franciscus

Revisão da versão portuguesa por AMA



Notas



[1] Francisco, Saudação aos jovens do Centro Cultural Padre Félix Varela (Cuba – Havana 20 de Setembro de 2015): L’Osservatore Romano (ed. portuguesa de 24/IX/2015), 10.
[2] DF 46.
[3] Francisco, Discurso na Vigília da XXVIII Jornada Mundial da Juventude (Rio de Janeiro 27 de Julho de 2013): AAS 105 (2013), 663.
[4] Vós sois a luz do mundo, Discurso no Monte São Cristóvão (Chile 1940) in: https://www.padrealbertohurtado.cl/escritos-2/.
[5] Francisco, Homilia na Eucaristia da XXVIII Jornada Mundial da Juventude (Rio de Janeiro 28 de Julho de 2013): AAS 105 (2013), 665.
[6] Conferência Episcopal Católica da Coreia, Carta Pastoral por ocasião do 150º aniversário do Martírio durante a perseguição Byeong-in (30 de Março de 2016).
[7] Cf. Francisco, Homilia na Eucaristia da XXXIV Jornada Mundial da Juventude (Panamá 27 de Janeiro de 2019): L’Osservatore Romano (ed. portuguesa de 05/II/2019), 10.
[8] Oração « Senhor, fazei de mim um instrumento da vossa paz», inspirada em São Francisco de Assis.

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