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12/06/2019

Leitura espiritual


CARTA ENCÍCLICA

HAURIETIS AQUAS

DO SUMO PONTÍFICE PAPA PIO XII
AOS VENERÁVEIS IRMÃOS PATRIARCAS, PRIMAZES,
ARCEBISPOS E BISPOS E OUTROS ORDINÁRIOS DO LUGAR
EM PAZ E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA

SOBRE O CULTO DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS



III

PARTICIPAÇÃO ACTIVA E PROFUNDA QUE TEVE
O SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS NA MISSÃO SALVADORA
DO REDENTOR


6) O culto ao coração sacratíssimo de Jesus é o culto da pessoa do Verbo encarnado


42. Nada, portanto, proíbe que adoremos o Coração Sacratíssimo de Jesus Cristo, enquanto é participante, símbolo natural e sumamente expressivo daquele amor inexaurível em que ainda hoje o divino Redentor arde para com os homens.

Mesmo quando já não está submetido às perturbações desta vida mortal, ainda então ele vive, palpita, e está unido de modo indissolúvel com a pessoa do Verbo divino, e, nela e por ela, com a sua divina vontade.
Superabundando o coração do Cristo de amor divino e humano, e sendo imensamente rico com os tesouros de todas as graças que o nosso Redentor adquiriu com sua vida, seus padecimentos e sua morte, ele é, sem dúvida, uma fonte perene daquela caridade que o seu Espírito infunde em todos os membros do seu corpo místico.

43. Assim, pois, o Coração do nosso Salvador reflecte de certo modo a imagem da divina pessoa do Verbo, e, igualmente, das Suas duas naturezas: humana e divina; e nele podemos considerar não só um símbolo, mas também como que um compêndio de todo o mistério da nossa redenção.

Quando adoramos o Coração de Jesus Cristo, nele e por ele adoramos tanto o amor incriado do Verbo divino como Seu amor humano e os seus demais afectos e virtudes, já que um e outro amor moveu o nosso Redentor a imolar-se por nós e por toda a Igreja, sua esposa, segundo a sentença do Apóstolo:

"Cristo amou a sua Igreja e sacrificou-se por ela para santificá-la, lavando-a no baptismo de água com a palavra de vida, a fim de fazê-la comparecer perante si cheia de glória, sem mancha, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e imaculada"

[1].

44. Assim como amou a Igreja, Cristo continua amando-a intensamente, com aquele tríplice amor de que falamos[2]; e esse amor é que o impele a fazer-se nosso advogado para nos obter do Pai graça e misericórdia, "estando sempre vivo para interceder por nós"[3].

As preces que brotam do seu inesgotável amor, dirigidas ao Pai, não sofrem interrupção alguma.

Como nos dias da sua carne"[4], também agora, que está triunfante no céu, Ele suplica o Pai com não menor eficácia; e aquele que "amou tanto o mundo que deu seu Filho unigénito, afim de que todos os que nele crêem não pereçam, mas vivam vida eterna"[5].

Ele mostra o Seu coração vivo e como ferido e inflamado de um amor mais ardente do que quando, já exânime, o feriu a lança do soldado romano: "Por isto foi ferido (o teu coração), para que pela ferida visível víssemos a ferida invisível do amor".[6]

45. Por conseguinte, não pode haver dúvida alguma de que, ante as súplicas de tão grande advogado, e feitas com tão veemente amor, o Pai celestial, "que não perdoou seu próprio filho, mas o entregou por todos nós"[7], por meio dele derramará incessantemente sobre todos os homens a abundância das suas graças divinas.


PIO PP. XII.


(Revisão da versão portuguesa por AMA)

Notas:



[1] Ef 5, 25-27
[2] cf. 1 Jo 2,1
[3] Hb 7, 25
[4] Hb 5,7
[5] Jo 3,16
[6] S. Boaventura, Opusc. X: Vitis mystica, c. III, n. 5: Opera Omnia, Ad Claras Aquas (Quaracchi), 1898, t. VIII, p. 164; cf, s. Tomás, Summa theol., III, q. 54, a. 4; ed. Leon., t. XI,1903, p. 513.
[7] Rm 8, 32

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