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08/02/2019

Leitura espiritual


«PROVAS»
MAS TODAVIA SÃO VÁLIDAS?

Pergunta:

Permita-me uma pequena pausa. Não discuto, obviamente, sobre a validade filosófica, teorética, de quanto acaba de expor; mas, esta forma de argumentar tem todavia um significado concreto para o homem de hoje? Faz sentido que se pergunte sobre Deus, a Sua existência, a Sua essência?

Resposta:

Diria que hoje mais que nunca, seguramente, mais que em outras épocas, inclusive recentes. A mentalidade positivista, que se desenvolveu com muita força entre os séculos IX e XX, hoje vai, em certo sentido, em retirada. O homem contemporâneo está redescobrindo o sacrum, ainda que nem sempre saiba chamá-lo pelo seu nome.

O positivismo não foi somente uma filosofia, nem unicamente uma metodologia; foi uma dessas escolas da suspeita que a época moderna viu florescer e prosperar. O homem é realmente capaz de conhecer algo mais do que os seus olhos vêem e os seus ouvidos ouvem? Existe uma outra ciência além do saber rigorosamente empírico? A capacidade da razão humana está totalmente submetida aos sentidos, e interiormente dirigida pelas leis da matemática, que demonstraram ser particularmente úteis para ordenar os fenómenos de forma racional, além de para orientar os s processos do progresso técnico?
Se se entra na óptica positivista, conceitos como por exemplo Deus ou alma são simplesmente carentes de sentido. Nada corresponde a esses conceitos no âmbito da experiência sensorial.

Esta óptica, pelo menos nalguns campos, +é a que está actualmente em retirada. Pode constatar-se isto inclusivamente comparando entre si as primeiras e as sucessivas obras de Ludwig Wittgenstein, o filósofo austríaco da primeira metade do século XX

Por outro lado, ninguém se surpreende pelo facto de que o conhecimento humano seja, inicialmente, um conhecimento sensorial. Nenhum clássico da filosofia, nem Platão nem Aristóteles, o punha em dúvida.
O homem reconhece-se a si mesmo como um ser ético, capaz de actuar segundo os critérios do bem e do mal., e não somente segundo a utilidade e o prazer. Reconhece-se também a si mesmo como um ser religioso, capaz de colocar-se em contacto com Deus. 

A oração é, em certo sentido, a primeira prova desta realidade.

Para o pensamento contemporâneo é muito importante a filosofia da religião. Somos testemunhas de um retorno significativo à metafísica (filosofia do ser) através de uma antropologia integral. Não se pode pensar adequadamente sobre o homem sem fazer referência, constitutiva para ele, a Deus. E o que São Tomás defendia como actus essendi com a linguagem da filosofia da existência, a filosofia da religião expressa-o com as categorias da experiência antropológica.

Para esta experiência contribuíram muito os filósofos do diálogo, como Martin Buber. E encontramo-nos já muito perto de São Tomás, mas o caminho passa tanto através do ser e da existência como através das pessoas e da sua relação mútua, através do “eu” e o “tu”. 

Esta é uma dimensão fundamental da existência do homem, que é sempre uma coexistência.

Onde aprenderam isto os filósofos do diálogo?

Aprenderam-no em primeiro lugar da experiência da Bíblia

A vida humana inteira é um “coexistir” na dimensão quotidiana - “tu” e “eu” – e também na dimensão absoluta e definitiva: “eu” e “TU”».

A tradição bíblica gira em torno deste TU, que em primeiro lugar é o Deus de Abraão, Isaac e Jacob, e o Deus dos Padres, e depois o Deus de Jesus Cristo e dos Apóstolos, o Deus da nossa fé.

A nossa fé é profundamente antropológica, está enraizada constitutivamente na coexistência, na comunidade do povo de Deus, e na comunhão com esse eterno TU.

Uma coexistência assim é essencial para a nossa tradição judaico-cristã e provem da iniciativa do próprio Deus.

Está na linha da Criação, de que é o seu prolongamento, e ao mesmo tempo é – como ensina São Paulo - «a terna eleição do homem no Verbo que é o Filho» [i]




(Cfr entrevista de Vittorio Messori a São João Paulo II, CRUZANDO EL UMBRAL DE LA ESPERANZA, Outubro de 1994)

(Tradução do castelhano por AMA)



[i] Cfr Ef. 1,4

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