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26/01/2019

Leitura espiritual


Os livres laços da Fidelidade

Há quem pense que ser fiel significa perder a liberdade, talvez porque confunda liberdade com independência.

Depender de alguma coisa ou de alguém – como o filho depende de sua mãe, ou a respiração do oxigénio, ou o peixe da água – não pode ser considerado como uma limitação da liberdade, mas antes como sua condição essencial.

Não se chega à existência se não se é concebido e dado à luz; morreríamos de asfixia se nos faltasse o ar, como o peixe que é tirado da água: são dependências que, em vez de nos escravizarem, nos dão a liberdade de viver.

Talvez se pudesse identificar liberdade e independência no reino animal, que só goza da chamada liberdade física.
Mas, no caso do homem, trata-se de uma liberdade racional, que se reveste de um carácter moral.
É algo de interior, caracterizado pela capacidade de orientar a própria existência para o bem e de poder escolher os melhores recursos em função do fim.
Por isso, apenas os seres dotados de inteligência podem chamar-se livres no seu pleno sentido.
E somente um ser livre está em condições de comprometer o seu tempo, os seus talentos, os seus bens, o seu amor e até a sua vida, quando encontra para isso uma razão proporcionada.

A fidelidade exige limites indestrutíveis, relações insubornáveis.

Há quem tema qualquer compromisso, seja de que natureza for, como se fosse um atentado à sua liberdade.

Não se percebe que o homem – como as árvores – para elevar-se tem impedimentos rumo às alturas, tem de mergulhar as suas raízes na terra, ser abraçado por ela e permanecer sujeito, vinculado!

Sim, vinculado.

Se a árvore pretendesse “libertar-se” da terra apenas encontraria a sua própria destruição.

Quando a liberdade não cria vínculos, em breve se converte em grilhão de morte.

Não podemos existir sem estar submetidos a umas normas.

Para não sermos expelidos para o espaço vazio, necessitamos da lei da gravidade; para que a ave possa remontar-se às alturas e o avião manter-se em pleno voo, carecem da resistência do ar; para que as estrelas subsistam, devem subordinar-se às suas órbitas.
E para que a sociedade possa permanecer como tal, deve ser fiel a umas leis morais, a umas normas éticas: quem pretendesse desprezá-las, como fossem coacção substituiria a liberdade pela libertinagem.

Se queremos a verdadeira liberdade, procuremo-la na fidelidade.

Se queremos a expressão de nós mesmos, a nossa espiritualidade, a nossa autonomia interior, a nossa paz, somente a fidelidade nos poderá dar esses bens.

A virtude da fidelidade lança raízes exclusivamente em homens livres.

Um escravo não pode chamar-se fiel, a não ser que resolva assumir interiormente – com liberdade pessoal- a sua servidão.

Somente as pessoas livres – que o sejam de verdade por saberem responsabilizar-se voluntariamente pelos seus compromissos – podem receber sem mentira o enaltecedor e belíssimo nome de fiéis.

(Cfr FIDELIDADE, de Javier Abad Gómez, 1989)

(Revisão da versão portuguesa por AMA)



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