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21/01/2019

Leitura espiritual


O Papa um escândalo e um mistério

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O senhor afirma justamente que o Papa é um mistério.
Afirma, com razão, que ele é sinal de contradição, que ele é uma provocação.
O ancião Simeão disse do próprio Cristo que «seria sinal de contradição» [i]

Além disso o senhor sustém que face a uma verdade assim – ou seja, face ao Papa – há que escolher; e para muitos essa escolha não é fácil.
Acaso foi fácil para o próprio Pedro?
Foi-o para qualquer um dos seus sucessores?
É fácil para o Papa actual?

Escolher comporta uma iniciativa do homem. Todavia Cristo disse: «Não to revelaram nem a carne nem o sangue, mas sim o Meu Pai». [ii]

Esta escolha, portanto, não é somente uma iniciativa do homem, é também uma acção de Deus, que actua no homem, que revela. E em virtude dessa acção de Deus, o homem pode repetir: «Tu és Cristo, o Filho de Deus vivo» [iii] e depois pode recitar todo o Credo, que é intimamente harmónico, conforme a profunda lógica da revelação.

O homem também pode aplicar a si mesmo e aos outros, as consequências que derivam da lógica da fé, penetradas pelo esplendor da verdade; pode fazer tudo isso, apesar de saber que, por causa disso, se converterá em «sinal de contradição».

O que resta a um homem assim?
Somente as palavras que Jesus dirigiu aos Apóstolos: «Se me perseguiram a Mim, perseguirão também a vós; se observaram a Minha palavra, observarão também a vossa». [iv]

Portanto: «Não tenhais medo!» Não tenhais medo do mistério de Deus; não tenhais medo do Seu Amor; e não tenhais medo da debilidade do homem nem da sua grandeza»
O homem não deixa de ser grande nem sequer na sua debilidade.
Não tenhais medo se ser testemunhas da dignidade de toda a pessoa humana, desde o momento da concepção até à hora da morte.

E a propósito dos nomes, acrescento: o Papa também é chamado Vigário de Cristo. Este título deve ser considerado no contexto total do Evangelho.
Antes de subir ao Céu Jesus disse aos Seus Apóstolos:
«Eu estarei convosco todos os dias até ao final do mundo» [v]
Ele, ainda que invisível, está pois presente pessoalmente na Sua Igreja. E está em cada cristão, em virtude do Baptismo e dos outros Sacramentos.
Por isso, já no tempo dos santos Padres, era costume afirmar: Christianus alter Christus («o cristão é outro Cristo»), querendo com isso ressaltar a dignidade do baptizado e a sua vocação, em Cristo, a santidade.

Cristo, além do mais, cumpre uma presença especial em cada sacerdote, o qual, quando celebra a Eucaristia ou administra os Sacramentos, o faz in persona Christi.

(…)

Assim, pois, para em alguma medida dissipar os seus temores, ditados todavia por uma profunda fé, aconselhar-lhe-ia a leitura de Santo Agostinho, que costumava repetir: Vobis sum episcopus, vobíscum christianus («Para vós sou o bispo, convosco sou um cristão» [vi]

Se se considera isto adequadamente, significa muito mais christianus que no episcopus, ainda que se trate do Bispo de Roma.


(Cfr entrevista de Vittorio Messori a São João Paulo II, CRUZANDO EL UMBRAL DE LA ESPERANZA, Outubro de 1994)

 (Tradução do castelhano por AMA)



[i] Cfr. Lc 2, 34
[ii] Mt 16, 17
[iii] Mt 16, 16
[iv] Jo 15, 20
[v] Mt 28,20
[vi] Serm 340, 1: PL38, 1483

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