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Pequena agenda do cristão

Sexta-Feira


(Coisas muito simples, curtas, objectivas)




Propósito:

Contenção; alguma privação; ser humilde.


Senhor: Ajuda-me a ser contido, a privar-me de algo por pouco que seja, a ser humilde. Sou formado por este barro duro e seco que é o meu carácter, mas não Te importes, Senhor, não Te importes com este barro que não vale nada. Parte-o, esfrangalha-o nas Tuas mãos amorosas e, estou certo, daí sairá algo que se possa - que Tu possas - aproveitar. Não dês importância à minha prosápia, à minha vaidade, ao meu desejo incontido de protagonismo e evidência. Não sei nada, não posso nada, não tenho nada, não valho nada, não sou absolutamente nada.

Lembrar-me:
Filiação divina.

Ser Teu filho Senhor! De tal modo desejo que esta realidade tome posse de mim, que me entrego totalmente nas Tuas mãos amorosas de Pai misericordioso, e embora não saiba bem para que me queres, para que queres como filho a alguém como eu, entrego-me confiante que me conheces profundamente, com todos os meus defeitos e pequenas virtudes e é assim, e não de outro modo, que me queres ao pé de Ti. Não me afastes, Senhor. Eu sei que Tu não me afastarás nunca. Peço-Te que não permitas que alguma vez, nem por breves instantes, seja eu a afastar-me de Ti.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?





Temas para reflectir e meditar

Formação humana e cristã – 51 

Parece-me que na génese dos problemas da humanidade - alguns de dimensões espantosas - está a falta de amor ou, pelo menos, o amor mal ordenado.

Não me refiro só ao amor no matrimónio cujo "falhanço" traz consigo todo um cortejo de dificuldades e anomalias, mal-estar e sofrimento, mas ao amor comum, normal, entre as pessoas.

E – atenção – fala-se nada menos que do Segundo Mandamento da Lei de Deus!
Sabemos muito bem que não é possível amar a Deus sem amar os outros, nem os outros sem amar a Deus.

Compreendemos muito bem porque Deus dá tanta importância ao amor, aliás importância prioritária: Sendo Ele próprio O AMOR que outra coisa Lhe poderá interessar?

(AMA, reflexões)

Doutrina – 450

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA
Compêndio


PRIMEIRA SECÇÃO
A ECONOMIA SACRAMENTAL


CAPÍTULO PRIMEIRO

O MISTÉRIO PASCAL NOS SACRAMENTOS DA IGREJA

Pergunta:

229. Porque é que os sacramentos são eficazes?


Resposta:

Os sacramentos são eficazes ex opere operato («pelo próprio facto de a acção sacramental ser realizada»), porque é Cristo que neles age e comunica a graça que significam, independentemente da santidade pessoal do ministro, ainda que os frutos dos sacramentos dependam também das disposições de quem os recebe.

Evangelho e comentário


Tempo comum

Evangelho Set 14

Exaltação da Santa Cruz

Evangelho: Jo 3, 13-17

13 Pois ninguém subiu ao Céu a não ser aquele que desceu do Céu, o Filho do Homem. 14 Assim como Moisés ergueu a serpente no deserto, assim também é necessário que o Filho do Homem seja erguido ao alto, 15 a fim de que todo o que nele crê tenha a vida eterna. 16 Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito, a fim de que todo o que nele crê não se perca, mas tenha a vida eterna. 17 De facto, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele.

Comentário:

Já o dissemos, mas, repetimos: Cristo e a Cruz são inseparáveis.

Parece que alguns arquitectos ou decoradores de Igrejas ignoram esta afirmação e, então, vemos imagens de Cristo pendendo de uma parede ou uma Cruz simples, sem o Crucificado.

Não pode ser e NUNC COEPI chama a tenção para este assunto.

Junto do altar onde se celebra a Santa Missa, - seja de lado, em cima do próprio altar ou atrás deste – tem de existir um Crucifixo bem visível por toda a assembleia.

(AMA, comentário sobre Jo 3, 13-17, 13.09.2017)




A transfiguração do Senhor


O Céu. "Nem olho algum viu, nem ouvido algum ouviu, nem passaram pelo pensamento do homem as coisas que Deus preparou para aqueles que O amam". Não te incitam à luta estas revelações do Apóstolo? (Caminho, 751)

E transfigurou-Se diante deles. E o Seu rosto ficou refulgente como o Sol e as Suas vestes tornaram-se brancas como a neve (Mt 17, 2).
Jesus: ver-Te, falar contigo! Permanecer assim, contemplando-Te; abismado na imensidade da Tua formosura, e nunca, mais deixar de Te contemplar! Ó Cristo, quem Te pudesse ver! Quem Te visse, para ficar ferido de amor por Ti!
E eis que da nuvem uma voz dizia: Este é o meu Filho dilecto em quem pus toda a minha complacência: ouvi-O (Mt 17, 5).
Senhor nosso, aqui nos tens, dispostos a escutar tudo o que nos quiseres dizer. Fala-nos; estamos atentos à Tua voz. Que as Tuas palavras, caindo na nossa alma, inflamem a nossa vontade, para que se lance fervorosamente a obedecer-Te!

Vultum tuum, Domine, requiram (S 26,8) – buscarei, Senhor, o Teu rosto. Encanta-me cerrar os olhos, e considerar que chegará o momento – quando Deus quiser – em que poderei vê-lo, não como num espelho, e sob imagens obscuras…, mas face a face (1 Cor 13, 12). Sim, o meu coração está sedento do Deus, do Deus vivo; quando irei e verei a face de Deus? (S 41, 3). (Santo Rosário. 4. º Mistério luminoso)

Leitura espiritual


São Josemaria Escrivá


Cristo que passa   

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Luta incessante

A guerra do cristão é incessante, porque na vida interior dá-se um perpétuo começar e recomeçar, que impede que, com orgulho, nos pensemos já perfeitos.
É inevitável que haja muitas dificuldades no nosso caminho; se não encontrássemos obstáculos, não seríamos criaturas de carne e osso. Havemos de ter sempre paixões que nos puxem para baixo e sempre precisaremos de nos defender desses delírios mais ou menos veementes.

Sentir no corpo e na alma o aguilhão do orgulho, da sensualidade, da inveja, da preguiça, do desejo de subjugar os outros, não deveria ser uma descoberta.
É um mal antigo, sistematicamente confirmado pela nossa experiência pessoal.
É o ponto de partida e o ambiente habitual para ganhar a nossa corrida para a casa do Pai, neste desporto tão íntimo.
Por isso ensina S. Paulo: quanto a mim corro, não como à aventura; combato, não como quem açouta o ar; mas castigo o meu corpo, e reduzo-o à escravidão, para que não suceda que, tendo pregado aos outros, eu mesmo venha a ser réprobo.

Para começar ou sustentar esta contenda, o cristão não deve esperar manifestações exteriores ou sentimentos favoráveis.
A vida interior não é uma questão de sentimentos, mas de graça divina e de vontade, de amor.
Todos os discípulos foram capazes de seguir Cristo no seu dia de triunfo em Jerusalém, mas quase todos O abandonaram à hora do opróbrio da Cruz.

Para amar de verdade é preciso ser forte, leal, com o coração firmemente engastado na fé, na esperança e na caridade.
Só as pessoas levianas mudam caprichosamente o objecto dos seus amores, que não são amores, mas compensações egoístas.
Quando há amor, há integridade: capacidade de entrega, de sacrifício, de renúncia.
E no meio da entrega, do sacrifício e da renúncia, juntamente com o suplício da contradição, a felicidade e a alegria, uma alegria que nada nem ninguém nos poderá tirar.

Neste torneio de amor não devem entristecer-nos as quedas, nem sequer as quedas graves, se recorremos a Deus no Sacramento da Penitência, com dor e com um bom propósito.
O cristão não é um maníaco coleccionador de folhas imaculadas de bons serviços.
Jesus Cristo Nosso Senhor comove-se tanto com a inocência e a fidelidade de João como, depois da queda de Pedro, se enternece com o seu arrependimento.
Jesus compreende a nossa debilidade e atrai-nos a Si como em plano inclinado, desejando que saibamos insistir no esforço de subir cada dia um pouco.
Procura-nos, da mesma forma que procurou os discípulos de Emaús, ou seja, saindo-lhes ao encontro; como procurou Tomé e lhe mostrou e lhe fez tocar com os seus dedos as chagas abertas nas mãos e no peito. Jesus Cristo sempre está à espera que voltemos para Ele, precisamente porque conhece a nossa fraqueza.

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A luta interior

Suporta os trabalhos como um bom soldado de Cristo, diz-nos S. Paulo.
A vida do cristão é milícia, guerra, formosíssima guerra de paz, que em nada coincide com as empresas bélicas humanas, porque estas se inspiram na divisão e, muitas vezes, nos ódios, enquanto a guerra dos filhos de Deus contra o seu próprio egoísmo, se baseia na unidade e no amor.
Porque, embora vivendo na carne, não militamos segundo a carne. Porque as armas com que combatemos não são carnais, mas fortaleza de Deus para destruir fortalezas, desbaratando com elas os projectos humanos e toda a altivez que se levantam contra a ciência de Deus.
É a escaramuça sem tréguas contra o orgulho, contra a prepotência que nos dispõe a fazer o mal, contra os juízos cheios de soberba.

Neste Domingo de Ramos, quando Nosso Senhor começa a semana decisiva para a nossa salvação, deixemo-nos de considerações superficiais e vamos ao que é central, ao que verdadeiramente é importante.
Pensai no seguinte: aquilo que devemos pretender é ir para o Céu.
Se não, nada vale a pena.
Para ir para o Céu é indispensável a fidelidade à doutrina de Cristo. Para ser fiel é indispensável porfiar com constância no nosso combate contra os obstáculos que se opõem à nossa eterna felicidade.

Sei que, imediatamente depois de falar em combater, nos surge pela frente a nossa debilidade e prevemos as quedas, os erros.
Deus conta com isso.
É inevitável que, ao caminharmos, levantemos pó. Somos criaturas e estamos repletos de defeitos.
Eu diria até que tem de os haver sempre, pois são a sombra que faz com que se destaquem mais, por contraste, na nossa alma, a graça de Deus e o esforço por correspondermos ao favor divino.
E esse claro-escuro tornar-nos-á humanos, humildes, compreensivos, generosos.

Não nos enganemos: na nossa vida, se contamos com brio e com vitórias, devemos também contar com quedas e derrotas.
Essa foi sempre a peregrinação terrena do cristão, incluindo a daqueles que veneramos nos altares.
Recordais-vos de Pedro, de Agostinho, de Francisco?
Nunca me agradaram as biografias dos santos em que, com ingenuidade, mas também com falta de doutrina, nos apresentam as façanhas desses homens, como se estivessem confirmados na graça desde o seio materno.
Não.
As verdadeiras biografias dos heróis cristãos são como as nossas vidas: lutavam e ganhavam, lutavam e perdiam.
E então, contritos, voltavam à luta.

Não nos cause estranheza o facto de sermos derrotados com relativa frequência, habitualmente ou até talvez sempre, em matérias de pouca importância, que nos ferem como se tivessem muita.
Se há amor de Deus, se há humildade, se há perseverança e tenacidade na nossa milícia, essas derrotas não terão demasiada importância, porque virão as vitórias a seu tempo, que serão glórias aos olhos de Deus.
Não existem os fracassos, se agimos com rectidão de intenção e queremos cumprir a vontade de Deus, contando sempre com a sua graça e com o nosso nada.

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Mas ronda à nossa volta um potente inimigo, que se opõe ao nosso desejo de encarnar dum modo acabado a doutrina de Cristo: o orgulho que cresce quando não procuramos descobrir, depois dos fracassos e das derrotas, a mão benfeitora e misericordiosa do Senhor. Então a alma enche-se de penumbra - de triste obscuridade - crendo-se perdida.
E a imaginação inventa obstáculos que não são reais, que desapareceriam se os encarássemos com um pouco de humildade.
Com o orgulho e a imaginação, a alma mete-se por vezes em tortuosos calvários; mas nesses calvários não está Cristo, porque onde está o Senhor goza-se de paz e de alegria, mesmo que a alma esteja em carne viva e rodeada de trevas.

Outro inimigo hipócrita da nossa santificarão: pensar que esta batalha interior tem de dirigir-se contra obstáculos extraordinários, contra dragões que respiram fogo.
É outra manifestação de orgulho.
Queremos lutar, mas estrondosamente, com clamores de trombetas e tremular de estandartes.

Temos de nos convencer de que o maior inimigo da pedra não é o picão ou o machado, nem o golpe de qualquer outro instrumento, por mais contundente que seja: é essa água miúda, que se mete, gota a gota, entre as gretas da fraga, até arruinar a sua estrutura.
O perigo mais forte para o cristão é desprezar a luta nessas escaramuças, que penetram pouco a pouco na alma, até a tornarem branda, quebradiça, indiferente e insensível às vozes de Deus.

Oiçamos o Senhor, que nos diz: quem é fiel no pouco, também é fiel no muito; e quem é injusto no pouco também é injusto no muito.
Isto é o mesmo que recordar-nos: luta a cada instante nesses pormenores aparentemente pequenos, mas grandes aos meus olhos; vive com pontualidade o cumprimento do dever; sorri a quem precise, mesmo que tu tenhas a alma dorida; dedica, sem regateares, o tempo necessário à oração; acode a ajudar quem te procura; pratica a justiça, ampliando-a com a graça da caridade.

São estas e outras semelhantes as moções que cada dia sentiremos dentro de nós, como um aviso silencioso que nos leva a treinar-nos neste desporto sobrenatural de nos vencermos a nós mesmos.
Que a luz de Deus nos ilumine, para compreendermos as suas advertências; que nos ajude a lutar, que esteja ao nosso lado na vitória; que não nos abandone na hora da queda, porque assim nos encontraremos sempre em condições de nos levantarmos e de continuarmos a combater.

Não podemos parar.
O Senhor pede-nos uma luta cada vez mais rápida, cada vez mais profunda, cada vez mais ampla.
Somos obrigados a superar-nos, porque nesta competição a única meta é a chegada à glória do Céu.
E se não chegássemos ao Céu, nada teria valido a pena.

(cont)