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Pequena agenda do cristão

Quinta-Feira



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)



Propósito:
Participar na Santa Missa.


Senhor, vendo-me tal como sou, nada, absolutamente, tenho esta percepção da grandeza que me está reservada dentro de momentos: Receber o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade do Rei e Senhor do Universo.
O meu coração palpita de alegria, confiança e amor. Alegria por ser convidado, confiança em que saberei esforçar-me por merecer o convite e amor sem limites pela caridade que me fazes. Aqui me tens, tal como sou e não como gostaria e deveria ser.
Não sou digno, não sou digno, não sou digno! Sei porém, que a uma palavra Tua a minha dignidade de filho e irmão me dará o direito a receber-te tal como Tu mesmo quiseste que fosse. Aqui me tens, Senhor. Convidaste-me e eu vim.


Lembrar-me:
Comunhões espirituais.


Senhor, eu quisera receber-vos com aquela pureza, humildade e devoção com que Vos recebeu Vossa Santíssima Mãe, com o espírito e fervor dos Santos.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?






Temas para reflectir e meditar


Ser como criança - 2

Na agitação que rodeia as nossas vidas, um sentimento de alguma "inveja" por aqueles e aquelas que escolhem a viver uma vida recolhida num convento muitas vezes nos faz pensar e ansiar por um tempo mesmo que breve de recolhimento e sossego para ouvir melhor, por assim dizer, o que o Espírito Santo sussurra ao nosso coração.
Sabemos muito bem que muitas coisas importantes dependem deste escutar com vontade de aprender ou desejo de seguir seguir essas inspirações.
É muito difícil escutar sem silêncio interior e, este, também se torna difícil no meio da agitação da vida diária.

Penso o que seria o céu sem silêncio!

De facto acho que a contemplação da Face de Deus deve ser de tal forma intensa, esmagadora que impedirá a articulação de qualquer palavra ou ruído.
Talvez pudéssemos como que "ensaiar" essa postura silenciosa já aqui na terra.
E muito precisamos desse exercício porque muitas vezes a nossa ânsia de falar é tal que saltando de um assunto para outro quase sem interrupção nos vamos envolvendo numa verborreia maçadora que ninguém quer escutar.

Talvez que tal seja fruto ou consequência de quem não tendo com quem falar se habituou a falar consigo próprio assumindo-se como comunicador e ouvinte.
Este fenómeno talvez seja mais frequente que se possa pensar.
Mal? Não vejo nenhum bem ao contrário servirá para pelo menos ter a mente ocupada.

Se houver honestidade intelectual - que considero absolutamente indispensável - pode alcançar-se um nível de raciocínio bastante elevado.
Talvez que resolvemos escrever alguns dos pontos que abordámos ou conclusões a tenhamos chegado.

Ficaremos assim com matéria para o exame de que falamos.

AMA, reflexões, 26.05.2018

Evangelho e comentário


Tempo comum

Evangelho: Lc 5, 1-11

1 Encontrando-se junto do lago de Genesaré, e comprimindo-se à volta dele a multidão para escutar a palavra de Deus, 2 Jesus viu dois barcos que se encontravam junto do lago. Os pescadores tinham descido deles e lavavam as redes. 3 Entrou num dos barcos, que era de Simão, pediu-lhe que se afastasse um pouco da terra e, sentando-se, dali se pôs a ensinar a multidão. 4 Quando acabou de falar, disse a Simão: «Faz-te ao largo; e vós, lançai as redes para a pesca.» 5 Simão respondeu: «Mestre, trabalhámos durante toda a noite e nada apanhámos; mas, porque Tu o dizes, lançarei as redes.» 6 Assim fizeram e apanharam uma grande quantidade de peixe. As redes estavam a romper-se, 7 e eles fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco, para que os viessem ajudar. Vieram e encheram os dois barcos, a ponto de se irem afundando. 8 Ao ver isto, Simão caiu aos pés de Jesus, dizendo: «Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador.» 9 Ele e todos os que com ele estavam encheram-se de espanto por causa da pesca que tinham feito; o mesmo acontecera 10 a Tiago e a João, filhos de Zebedeu e companheiros de Simão. Jesus disse a Simão: «Não tenhas receio; de futuro, serás pescador de homens.» 11 E, depois de terem reconduzido os barcos para terra, deixaram tudo e seguiram Jesus.

Comentário:

Pescar requer, entre outras, qualidades de paciência e perseverança.

Não são a mesma coisa.

Enquanto a primeira se pode traduzir na aceitação de resultados adversos, a segunda implica um esforço contínuo na obtenção desses mesmos resultados.

Assim no apostolado pessoal que rarissimamente produz frutos imediatos.

Eles aparecerão quando o Senhor, em nome de Quem actuamos, assim achar oportuno.

(AMA, comentário sobre Lc 5, 1-11, 07.09.2017)




O mundo, lugar de encontro com Deus


Necessitas de formação, porque tens de ter um profundo sentido de responsabilidade, que promova e anime a actuação dos católicos na vida pública, com o respeito devido à liberdade de cada um, e recordando a todos que têm de ser coerentes com a sua fé. (Forja, 712)

Um homem sabedor de que o mundo - e não só o templo - é o lugar do seu encontro com Cristo, ama esse mundo, procura adquirir uma boa preparação intelectual e profissional, vai formando - com plena liberdade - os seus próprios critérios sobre os problemas do meio em que vive; e toma, como consequência, as suas próprias decisões que, por serem decisões de um cristão, procedem também de uma reflexão pessoal que tenta humildemente captar a vontade de Deus nesses aspectos, pequenos e grandes, da vida.

Mas esse cristão não se lembra nunca de pensar ou de dizer que desce do templo ao mundo para representar a Igreja, e que as suas soluções são as soluções católicas daqueles problemas. Isso não pode ser, meus filhos! Isso seria clericalismo, catolicismo oficial, ou como quiserdes chamar-lhe. De qualquer modo, seria violentar a natureza das coisas. Tendes de difundir por toda a parte uma verdadeira mentalidade laical, que há-de levar os cristãos a três consequências: a serem suficientemente honrados para arcarem com a sua responsabilidade pessoal; a serem suficientemente cristãos para respeitarem os seus irmãos na fé que proponham - em matérias discutíveis - soluções diversas das suas; e a serem suficientemente católicos para não se servirem da Igreja, nossa Mãe, misturando-a com partidarismos humanos. (...).

Interpretai, portanto, as minhas palavras como o que são: um chamamento a exercerdes - diariamente!, não apenas em situações de emergência - os vossos direitos; e a cumprirdes nobremente as vossas obrigações como cidadãos - na vida política, na vida económica, na vida universitária, na vida profissional -, assumindo com coragem todas as consequências das vossas decisões, arcando com a independência pessoal que vos corresponde. E essa mentalidade laical cristã permitir-vos-á fugir de toda a intolerância, de todo o fanatismo. Di-lo-ei de um modo positivo: far-vos-á conviver em paz com todos os vossos concidadãos e fomentar também a convivência nos diversos sectores da vida social. (Temas Actuais do Cristianismo, 117-118).

Leitura espiritual


São Josemaria Escrivá

Cristo que passa 

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A fé, o amor e a esperança de José

A justiça não consiste na mera submissão a uma regra; a rectidão deve nascer de dentro, deve ser profunda, vital, porque o justo vive da fé.
Viver da fé: estas palavras que foram, mais tarde, tema frequente de meditação para o apóstolo S. Paulo, vêem-se realizadas superabundantemente em S. José.
O seu cumprimento da vontade de Deus não é rotineiro nem formalista, mas espontâneo e profundo.
A lei que todo o judeu praticante vivia não foi para ele um simples código nem uma fria recompilação de preceitos, mas expressão da vontade de Deus vivo.
Por isso, soube reconhecer a voz do Senhor quando esta se lhe manifestou inesperada e surpreendente.

A história do Santo Patriarca foi uma vida simples, mas não uma vida fácil.
Depois de momentos angustiosos, sabe que o Filho de Maria foi concebido por obra do Espírito Santo.
E esse Menino, Filho de Deus, descendente de David segundo a carne, nasce numa gruta.
Os anjos celebram o seu nascimento e personalidades de terras longínquas vêm adorá-Lo, mas o rei da Judeia deseja a sua morte e é necessário fugir.
O Filho de Deus é um menino aparentemente indefeso que terá de viver no Egipto.
42
          
S. Mateus, ao narrar estas cenas no seu Evangelho, põe constantemente em destaque a fidelidade de José, que cumpre sem vacilações os mandatos de Deus, embora por vezes o sentido desses mandatos lhe possa parecer obscuro ou se lhe oculte a sua conexão com o resto dos planos divinos.

Em muitas ocasiões os Padres da Igreja e os autores espirituais fazem ressaltar a firmeza da fé de José.
Referindo-se às palavras do Anjo que lhe ordena que fuja de Herodes e se refugie no Egipto, Crisóstomo comenta: Ao ouvir isto, S. José não se escandalizou nem disse: isto parece um enigma.
Ainda há pouco Tu me davas a conhecer que Ele salvaria o seu povo e agora não é sequer capaz de salvar-se a si próprio e somos nós que temos necessidade de fugir, de empreender uma viagem e fazer uma grande deslocação; isto é contrário à tua promessa.
José não discorre deste modo, porque é um varão fiel.
Também não pergunta pela data de regresso, apesar do Anjo a ter deixado indeterminada, posto que lhe tinha dito: fica lá - no Egipto - até que eu te avise.
Nem por isso levanta dificuldades, mas obedece e crê e suporta todas as provas alegremente.

A fé de José não vacila, a sua obediência é sempre estrita e rápida. Para compreender melhor esta lição que aqui nos dá o Santo Patriarca, é bom que consideremos que a sua fé é activa e que a sua obediência não se parece com a obediência de quem se deixa arrastar pelos acontecimentos.
Porque a fé cristã é o que há de mais oposto ao conformismo ou à falta de actividade e de energia interiores.

José abandonou-se sem reservas nas mãos de Deus, mas nunca deixou de reflectir sobre os acontecimentos, e assim recebeu do Senhor a inteligência das obras de Deus, que é a verdadeira sabedoria.

Deste modo, aprendeu a pouco e pouco que os planos sobrenaturais têm uma coerência divina, que às vezes está em contradição com os planos humanos.

Nas diversas circunstâncias da sua vida, o Patriarca não renuncia a pensar, nem se alheia da sua responsabilidade.
Pelo contrário: põe toda a sua experiência humana ao serviço da fé. Quando volta do Egipto, ouvindo que Arquelau reinava na Judeia em vez de seu pai Herodes, temeu ir para lá.
Aprendeu a mover-se dentro dos planos divinos e, como confirmação de que Deus quer o que ele pressentia, recebe a indicação de se retirar para a Galileia.

Assim foi a fé de S. José: plena, confiante, íntegra, manifestando-se numa entrega real à vontade de Deus, numa obediência inteligente. E, com a Fé, a Caridade, o Amor.
A sua fé funde-se com o amor: com o amor de Deus, que estava a cumprir as promessas feitas a Abraão, a Jacob, a Moisés; com o carinho de esposo para com Maria e com o carinho de pai para com Jesus. Fé e amor da esperança da grande missão que Deus, servindo-se também dele - um carpinteiro da Galileia - estava a começar no mundo: a redenção dos homens.

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Fé, amor, esperança: estes são os eixos em torno dos quais gira a vida de S. José e toda a vida cristã.

A entrega de S. José aparece-nos tecida pelo entrecruzamento de um Amor fiel, de uma Fé amorosa e de uma Esperança confiante.
A sua festa é, por isso, uma boa altura para renovarmos a entrega à vocação de cristãos, concedida pelo Senhor a cada um de nós.

Quando se deseja sinceramente viver da Fé, do Amor e da Esperança, a renovação da entrega não consiste em retomar uma coisa que tinha entrado em desuso.
Quando há Fé, Amor e Esperança, renovar-se - apesar dos nossos erros pessoais, das quedas, das debilidades - é manter-se nas mãos de Deus: confirmar um caminho de fidelidade.
Renovar a entrega é renovar, repito, a fidelidade àquilo que o Senhor quer de nós: amar com obras.

0 amor tem necessariamente as suas manifestações características. Às vezes fala-se do amor como se fosse uma procura de satisfação pessoal ou um mero recurso para completarmos egoisticamente a nossa personalidade.
E não é assim; amor verdadeiro é sair de si mesmo, entregar-se.
O amor traz consigo a alegria, mas é uma alegria que tem as suas raízes em forma de cruz.
Enquanto estivermos na terra e não tivermos chegado à plenitude da vida futura, não pode haver amor verdadeiro sem a experiência do sacrifício, da dor.
Uma dor de que se gosta, amável, fonte de íntimo gozo, mas dor real, porque significa vencer o nosso egoísmo e tomar o amor como regra de todas e cada uma das nossas acções.

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As obras do Amor são sempre grandes, ainda que se trate, aparentemente, de coisas pequenas.
Deus aproximou-se dos homens, pobres criaturas, e disse-nos que nos ama: Deliciae mea esse cum filiis hominum, a minha delícia é estar entre os filhos dos homens.
O Senhor mostra-nos que tudo tem importância: as acções que, com olhos humanos, consideramos grandes; aquelas outras que, pelo contrário, qualificamos de pouca categoria...
Nada se perde.
Nenhum homem é desprezado por Deus.
Todos, seguindo cada um a sua vocação - no seu lar, na sua profissão ou no seu ofício, no cumprimento das obrigações que correspondem ao seu estado, nos seus deveres de cidadão, no exercício dos seus direitos - todos estão chamados a participar no Reino dos Céus.

É isto o que nos ensina a vida de José, simples, normal e vulgar, feita de anos de trabalho sempre igual, de dias humanamente monótonos, que se sucedem uns aos outros.
Muitas vezes o tenho pensado ao meditar sobre a figura de S. José, e esta é uma das razões que faz com que sinta por ele uma devoção especial.

Quando no seu discurso de encerramento da primeira sessão do Concílio Vaticano II, no passado dia 8 de Dezembro, o Santo Padre João XXIII anunciou que no cânon da Missa se mencionaria o nome de S. José, uma altíssima personalidade eclesiástica telefonou-me imediatamente para me dizer: Rallegramenti! Felicidades!
Ao ouvir a notícia pensei logo em si, na alegria que lhe tinha dado. E assim era, porque na assembleia conciliar, que representa a Igreja inteira reunida no Espírito Santo, se proclamava o valor divino da vida de S. José, o valor de uma vida simples de trabalho face a Deus e em total cumprimento da vontade divina.

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Santificar o trabalho, santificar-se no trabalho, santificar com o trabalho

Descrevendo o espírito da associação a que dediquei a minha vida, o Opus Dei, tenho dito que se apoia, como em seu gonzo, no trabalho ordinário, no trabalho profissional exercido no meio do mundo.
A vocação divina dá-nos uma missão, convida-nos a participar na tarefa única da Igreja, para sermos assim testemunho de Cristo perante os nossos iguais, os homens, e para levarmos todas as coisas a Deus.

A vocação acende uma luz que nos faz reconhecer o sentido da nossa existência.
É convencermo-nos, com o resplendor da fé, do porquê da nossa realidade terrena.
Toda a nossa vida, a presente, a passada e a que há-de vir, cobra um novo relevo, uma profundidade de que antes não suspeitávamos. Todos os factos e acontecimentos passam a ocupar o seu posto: entendemos aonde nos quer levar o Senhor e sentimo-nos entusiasmados e envolvidos por esse encargo que se nos confia.

Deus tira-nos das trevas da nossa ignorância, do nosso caminho incerto entre os acontecimentos da história e chama-nos com voz forte, como um dia o fez com Pedro e André: Venite post me, et faciam vos fieri piscatores hominum. - Segui-me e eu vos farei pescadores de homens - qualquer que seja o lugar que ocupemos no mundo.

Quem vive da fé pode encontrar a dificuldade e a luta, a dor e até a amargura, mas nunca o desânimo nem a angústia, porque sabe que a sua vida serve, sabe para que veio a esta terra.
Ego sum lux mundi - exclamou Cristo - qui sequitur me non ambulate in tenebris, sed habebit lumen vitae.
Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não caminha às escuras, mas possuirá a luz da vida.

Para merecer essa luz de Deus é preciso amar, ter a humildade de reconhecer a necessidade de sermos salvos e dizer com Pedro: Senhor a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna. E nós acreditamos e sabemos, que Tu és Cristo, Filho de Deus.
Se realmente procedermos assim, se deixarmos entrar no nosso coração o chamamento de Deus, também poderemos repetir com verdade que não caminhamos nas trevas, pois, por cima das nossas misérias e dos nossos defeitos pessoais, brilha a luz de Deus, como o Sol brilha por cima da tempestade.

(continua)