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17/07/2018

Leitura Espiritual



Amigos de Deus

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Responsáveis perante Deus

Deus fez o homem desde o princípio e deixou-o nas mãos do seu livre arbítrio (Ecli 15, 14).
Isto não sucederia se não tivesse capacidade de fazer uma escolha livre.
Somos responsáveis perante Deus por todas as acções que realizamos livremente.
Não há anonimatos; o homem encontra-se perante o seu Senhor e está na sua vontade decidir-se a viver como amigo ou como inimigo. Assim começa o caminho da luta interior, que é empresa para toda a vida, porque enquanto dura a nossa passagem pela terra ninguém alcança a plenitude da sua liberdade.

Além disso, a nossa fé cristã leva-nos a garantir a todos um clima de liberdade, começando por afastar qualquer tipo de enganosas coacções na apresentação da fé.
Se somos arrastados para Cristo, cremos sem querer; então usa-se a violência, não a liberdade.
Sem querer podemos entrar na Igreja; sem querer podemos aproximar-nos do altar; podemos, sem querer, receber o Sacramento.
Mas só pode crer aquele que o quer.
E é evidente que, tendo chegado à idade da razão, se requer a liberdade pessoal para entrar na Igreja e para corresponder aos contínuos chamamentos que Nosso Senhor nos dirige.

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Talvez não seja capaz de dizer qual é a principal virtude humana.
Depende muito do ponto de vista de que se parta.
Além disso, a questão torna-se ociosa, porque não se trata de praticar uma ou várias virtudes.
É preciso lutar por adquiri-las e praticá-las todas.
Cada uma de per si entrelaça-se com as outras e, assim, o esforço por sermos sinceros, por exemplo, torna-nos justos, alegres, prudentes, serenos.

Nem sequer me conseguem convencer essas formas de pensar que distinguem as virtudes pessoais das virtudes sociais.
Não há virtude alguma que fomente o egoísmo; cada uma redunda necessariamente no bem da nossa alma e das almas dos que nos rodeiam.
Porque todos somos homens e todos filhos de Deus, não podemos conceber a nossa vida como a trabalhosa preparação de um brilhante curriculum, de uma vistosa carreira.
Todos temos de sentir-nos solidários e, na ordem da graça, estamos unidos pelos laços sobrenaturais da Comunhão dos Santos.

Precisamos, ao mesmo tempo, de considerar que a decisão e a responsabilidade residem na liberdade pessoal de cada um e, por isso, as virtudes são também radicalmente pessoais, da pessoa.
No entanto, nessa batalha de amor ninguém luta sozinho - ninguém é um verso solto, costumo repetir -: de certo modo, ou nos ajudamos ou nos prejudicamos.
Todos somos elos de uma mesma cadeia.

Pede agora comigo a Deus Nosso Senhor, que essa cadeia, nos prenda ao seu Coração, até chegar o dia de O contemplar face a face, no Céu, para sempre.

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Fortaleza, Serenidade, Paciência, Magnanimidade

Vamos considerar algumas destas virtudes humanas.
Enquanto eu falar, cada um pela sua parte, dialogue com Nosso Senhor: peça-lhe que nos ajude a todos, que nos estimule a aprofundar hoje no mistério da sua Encarnação, para que também nós, na nossa carne, saibamos ser entre os homens testemunhos vivos de Quem veio para nos salvar.

O caminho do cristão, o de qualquer homem, não é fácil.
Certo é que em determinadas épocas parece que tudo se cumpre segundo as nossas previsões; mas isto habitualmente dura pouco.

Viver é defrontar dificuldades, sentir no coração alegrias e pesares; e é nesta forja que o homem pode adquirir a fortaleza, a paciência, a magnanimidade e a serenidade.

É forte quem persevera no cumprimento do que entende dever fazer, segundo a sua consciência; quem não mede o valor de uma tarefa exclusivamente pelos benefícios que recebe, mas pelo serviço que presta aos outros.
O homem forte às vezes sofre, mas resiste; talvez chore, mas traga as lágrimas.
Quando a contradição aumenta, não se curva.
Recordemo-nos do exemplo que nos narra o livro dos Macabeus: daquele ancião, Eleazar, que prefere morrer a violar a lei de Deus. Morrendo valorosamente, mostrar-me-ei digno da minha velhice e deixarei aos jovens um exemplo de fortaleza, se sofrer com ânimo pronto e constante uma honrosa morte em defesa de leis tão veneráveis e tão santas.

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Quem sabe ser forte não se deixa invadir pela pressa de conquistar logo o fruto da sua virtude; é paciente.
A fortaleza leva-nos realmente a saborear a virtude humana e divina da paciência.

Mediante a vossa paciência, possuireis as vossas almas (Lc XXI, 19).

A posse da alma exprime-se na paciência, que, na verdade, é raiz e custódia de todas as virtudes.
Nós possuímos a alma com a paciência, porque, aprendendo a dominar-nos a nós mesmos, começamos a possuir aquilo que somos.
E é esta paciência que nos leva também a ser compreensivos com os outros, persuadidos de que as almas, como o bom vinho, melhoram com o tempo.

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Fortes e pacientes: serenos.
Mas não com a serenidade daquele que compra a tranquilidade pessoal à custa de se desinteressar dos seus irmãos ou da grande tarefa, que corresponde a todos, de difundir ilimitadamente o bem por todo o mundo.
Serenos, porque há sempre perdão, porque tudo tem remédio, menos a morte, e, para os filhos de Deus, a morte é vida.
Serenos, ainda que seja só para poder actuar com inteligência: quem conserva a calma está em condições de reflectir, de estudar os prós e os contras de cada problema, de examinar judiciosamente os resultados das acções previstas.
E depois, sossegadamente, pode intervir com decisão.

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Estamos a enumerar com rapidez algumas virtudes humanas.
Sei que, na vossa oração ao Senhor, aflorarão muitas outras.
Eu gostaria de me demorar agora uns momentos numa qualidade maravilhosa: a magnanimidade.

Magnanimidade: ânimo grande, alma grande onde cabem muitos.
É a força que nos dispõe a sairmos de nós próprios, a fim de nos prepararmos para empreender obras valiosas, em benefício de todos.
No homem magnânimo não tem lugar a mesquinhez; não entra a medida estreita, o cálculo egoísta ou a deslealdade interesseira.
O magnânimo dedica sem reservas as suas forças ao que vale a pena; por isso é capaz de se entregar a si próprio.
Não se conforma apenas com dar: dá-se.
E então consegue compreender a maior prova de magnanimidade: dar-se a Deus.

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Laboriosidade, diligência

Há duas virtudes humanas - a laboriosidade e a diligência - que se confundem numa só: no empenho em tirar partido dos talentos que cada um de nós recebeu de Deus.
São virtudes, porque induzem a acabar bem as coisas.
O trabalho - prego isto desde 1928 - não é uma maldição, nem um castigo do pecado.
O Génesis fala dessa realidade antes de Adão se ter revoltado contra Deus.
Nos planos de Nosso Senhor, o homem teria sempre de trabalhar, cooperando assim na imensa tarefa da criação.

Quem é laborioso aproveita o tempo, que não é apenas ouro, é glória de Deus!
Faz o que deve e está no que faz, não por rotina nem para ocupar as horas, mas como fruto de uma reflexão atenta e ponderada. Por isso é diligente.
O uso normal desta palavra - diligente - evoca-nos a sua origem latina.
Diligente vem do verbo diligo, que significa amar, apreciar, escolher algo depois de uma atenção esmerada e cuidadosa.
Não é diligente quem se precipita, mas quem trabalha com amor, primorosamente.

Nosso Senhor, perfeito homem, escolheu um trabalho manual que realizou delicada e amorosamente durante quase todo o tempo que permaneceu na terra.
Exercitou a sua ocupação de artesão entre os outros habitantes da sua aldeia, e aquele trabalho humano e divino demonstrou-nos claramente que a actividade habitual não é um pormenor de pouca importância, mas é o fulcro da nossa santificação, oportunidade contínua de nos encontrarmos com Deus e de louvá-lo e glorificá-lo com o trabalho da nossa inteligência ou das nossas mãos.

(cont)


Doutrina – 441


CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA
Compêndio


PRIMEIRA PARTE: A PROFISSÃO DA FÉ
SEGUNDA SECÇÃO: A PROFISSÃO DA FÉ CRISTÃ
CAPÍTULO TERCEIRO


«CREIO NA VIDA ETERNA»


PRIMEIRA SECÇÃO
A ECONOMIA SACRAMENTAL

Pergunto:

220. Em que consiste a economia sacramental?

Respondo:

A economia sacramental consiste na comunicação (ou «dispensação») dos frutos da redenção de Cristo mediante a celebração dos sacramentos da Igreja, principalmente da Eucaristia, «até que Ele venha» (1 Cor 11,26).

Evangelho e comentário


Tempo comum


Evangelho: Mt 11, 20-24

20 Jesus começou então a censurar as cidades onde tinha realizado a maior parte dos seus milagres, por não se terem convertido: 21 «Ai de ti, Corozaim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se os milagres realizados entre vós, tivessem sido feitos em Tiro e em Sídon, de há muito se teriam convertido, vestindo-se de saco e com cinza. 22 Aliás, digo-vos Eu: No dia do juízo, haverá mais tolerância para Tiro e Sídon do que para vós. 23 E tu, Cafarnaúm, julgas que serás exaltada até ao céu? Serás precipitada no abismo. Porque, se os milagres que em ti se realizaram tivessem sido feitos em Sodoma, ela ainda hoje existiria. 24 Aliás, digo-vos Eu: No dia do juízo, haverá mais tolerância para os de Sodoma do que para ti.»

Comentário:

Por vezes pode parecer-nos que Jesus Cristo tem um discurso algo “duro” e pronunciador de desgraças e cataclismos.

Sim, também estes “elementos” fazem parte do discurso de Jesus porque, a Sua Missão principal – diria – é conduzir os homens ao arrependimento absolutamente necessário para obterem o perdão pelas suas faltas e, com esse perdão, conquistarem a Vida Eterna.

Portanto, do que realmente se trata, é que o Senhor que só diz a verdade “doa a quem doer” e, a verdade que é por vezes difícil de aceitar, não pode ser escondida ou “camuflada” com belas palavras.

Nunca – absolutamente – ninguém poderá dizer:

‘Se eu tivesse sabido a tempo…’

(AMA, comentário sobre Mt 11, 20-24, 18.07.2017)


Temas para reflectir e meditar


Formação humana e cristã - 4

O Plano de vida do cristão deve prever tempos fixos para acções específicas como são, por exemplo, os tempos dedicados à oração.
Não ceder à tentação de deixar para mais tarde, um momento que consideremos ideal.
Corremos o risco de esse tal momento não surgir, ou, ser tarde de mais.
Pela experiência que vamos adquirindo sabemos que todos os dias acontecem imprevistos que vêm, de alguma forma, alterar o nosso Horário/Calendário.
Por isso mesmo se enfatiza a necessidade de este ser flexível e nunca ficar preocupado se forem necessárias adaptações.

Faz-se o que tem de ser feito e quando tem de ser.

(AMA, reflexões)

Se alguém não luta...


A alegria é um bem cristão, que possuímos enquanto lutarmos, porque é consequência da paz. A paz é fruto de ter vencido a guerra, e a vida do homem sobre a terra, lemos na Escritura Santa, é luta. (Forja, 105)

A tradição da Igreja sempre se referiu aos cristãos como milites Christi, soldados de Cristo; soldados que dão serenidade aos outros enquanto combatem continuamente contra as suas próprias más inclinações. Às vezes, por falta de sentido sobrenatural, por uma descrença prática, não querem compreender de forma alguma como milícia a vida na Terra. Insinuam maliciosamente que, se nos consideramos milites Christi, há o perigo de utilizarmos a fé para fins temporais de violência, de sedições. Esse modo de pensar é um triste e pouco lógico simplismo, que costuma andar unido ao comodismo e à cobardia.

Nada há de mais estranho à fé católica do que o fanatismo. Este conduz a estranhas confusões, com os mais diversos matizes, entre o que é profano e o que é espiritual. Tal perigo não existe, se a luta se entende como Cristo no-la ensinou, isto é, como guerra de cada um consigo mesmo, como esforço sempre renovado por amar mais a Deus, por desterrar o egoísmo, por servir todos os homens. Renunciar a esta contenda, seja com que desculpa for, é declarar-se de antemão derrotado, aniquilado, sem fé, com a alma caída e dissipada em complacências mesquinhas.

Para o cristão, o combate espiritual diante de Deus e de todos os irmãos na fé é uma necessidade, uma consequência da sua condição. Por isso, se alguém não luta, está a trair Jesus Cristo e todo o Corpo Místico, que é a Igreja. (Cristo que passa, 74)

Tratado das virtudes


Questão 65: Da conexão das virtudes.

Art. 4 — Se a fé e a esperança podem, às vezes, existir sem a caridade.

O quarto discute-se assim. — Parece que a fé e a esperança nunca existem sem a caridade.

1. — Pois sendo virtudes teologais, são mais dignas do que as virtudes morais, mesmo as infusas. Ora, estas não podem existir sem a caridade. Logo, nem a fé e a esperança.

2. Demais. — Só crê quem quer, diz S. Agostinho [2]. Ora, a caridade existe na vontade, da qual é, a perfeição, como já dissemos [3]. Logo, a fé não pode existir sem a caridade.

3. Demais. — Como diz Agostinho, a esperança não pode existir sem o amor [4]. Ora é a este, como caridade, que ele se refere. Logo, a esperança não pede existir sem a caridade.

Mas, em contrário, a propósito de Mateus 1, 2 a Glosa diz que a fé gera a esperança e esta, a caridade. Ora, o gerador é anterior ao gerado e pode existir sem este. Logo, a fé pode existir sem a esperança e esta, sem a caridade.


SOLUÇÃO. — A fé e a esperança, assim como as virtudes morais, podem ser consideradas à dupla luz: como de certo modo incoativas, e como virtudes perfeitas na sua essência. Pois, ordenando-se a virtude à prática das boas obras, é perfeita e conducente a obras perfeitamente boas. E para isto não só boas devem elas ser, mas também, bem feitas; do contrário não haverá bem perfeito se, por bem, se entende o que é feito, embora não o seja bem; e portanto, também o hábito, princípio do que obramos, não realizará perfeitamente a noção de virtude. Assim, quem pratica a justiça por certo que faz bem; mas a sua obra não será o de uma virtude perfeita, se não o praticar bem, i. é, segundo a eleição recta, que se inspira na prudência. Logo, sem esta a justiça não pode ser virtude perfeita.

Assim, pois, a fé e a esperança podem, certamente, existir de algum modo sem a caridade, mas, sem esta, não podem realizar a noção perfeita da virtude. Pois, como a fé tem por objecto crer em Deus, e como crer é assentir na opinião de outrem, por vontade própria, o acto da fé não será perfeito, se a vontade não quiser do modo devido. Ora, só influenciada pela caridade, que aperfeiçoa a vontade, pode esta querer do modo devido; porquanto, todo movimento recto dela procede do amor, no dizer de Agostinho [5]. Donde, a fé pode, certamente, existir sem a caridade, mas não como virtude perfeita; assim como a temperança ou a fortaleza não podem existir sem a prudência. E o mesmo se deve dizer da esperança, cujo acto consiste em ter em expectativa a futura beatitude dada por Deus. Esse acto será perfeito se se fundar nos méritos que já temos, o que não pode ser sem a caridade. Mas, se essa expectativa se fundar nos méritos que ainda não temos, mas que nos propomos adquirir no futuro, o acto será imperfeito, e pode existir sem a caridade. E portanto, a fé e a esperança podem existir sem a caridade, mas, sem esta, propriamente falando, as virtudes não existem; porque, a virtude, por essência, exige não somente que obremos de acordo com ela, mas ainda, que obremos rectamente, como se disse [6].

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. 
— As virtudes morais dependem da prudência; ora, a prudência infusa, sem a caridade, não pode realizar a essência da prudência, por lhe faltar a relação devida com o primeiro princípio, que é o último fim. Ao passo que a fé e a esperança, por essência, não dependem da prudência nem da caridade; e, portanto, podem existir sem esta, embora então não sejam virtudes, como já se disse.

RESPOSTA À SEGUNDA. 
— A objecção colhe quanto à fé, que realiza perfeitamente a essência da virtude.

RESPOSTA À TERCEIRA. 
— Agostinho refere-se, no lugar aduzido, à esperança pela qual temos em expectativa a futura beatitude, fundada nos méritos que já possuímos; o que não pode ser sem a caridade.

(Revisão da versão portuguesa por AMA)



[1] (IIª. lIae, q. 23, a. 7, ad 1 ; III Sent., dist .. XXIII, q. 3, a. 1, qª 2; dist. XXVI, q. 2. a. 3, qª 2; I Cor., cap. XIII lect. 1).
[2] III q. 7, a. 3, 4.
[3] Q. 62, a. 4.
[4] VIII Ethic. (lect. II).
[5] XIV De civitate Dei (cap. IX).
[6] II Ethic. (lect. VI).

Pequena agenda do cristão


TeRÇa-Feira


(Coisas muito simples, curtas, objectivas)




Propósito:

Aplicação no trabalho.

Senhor, ajuda-me a fazer o que devo, quando devo, empenhando-me em fazê-lo bem feito para to poder oferecer.

Lembrar-me:
Os que estão sem trabalho.

Senhor, lembra-te de tantos e tantas que procuram trabalho e não o encontram, provê às suas necessidades, dá-lhes esperança e confiança.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?