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01/03/2018

Dispostos a uma nova rectificação

Os teus parentes, os teus colegas, os teus amigos, vão notando a diferença, e reparam que a tua mudança não é uma mudança passageira; que já não és o mesmo. Não te preocupes. Para a frente! Cumpre o "vivit vero in me Christus" – agora é Cristo quem vive em ti! (Sulco, 424)


Qui habitat in adiutorio Altissimi in protectione Dei coeli commorabitur – Habitar sob a protecção de Deus, viver com Deus: eis a arriscada segurança do cristão. É necessário convencermo-nos de que Deus nos ouve, de que está sempre solícito por nós, e assim se encherá de paz o nosso coração. Mas viver com Deus é indubitavelmente correr um risco, porque o Senhor não Se contenta compartilhando; quer tudo. E aproximar-se d'Ele um pouco mais significa estar disposto a uma nova rectificação, a escutar mais atentamente as suas inspirações, os santos desejos que faz brotar na nossa alma, e a pô-los em prática.

Desde a nossa primeira decisão consciente de viver integralmente a doutrina de Cristo, é certo que avançámos muito pelo caminho da fidelidade à sua Palavra. Mas não é verdade que restam ainda tantas coisas por fazer? Não é verdade que resta, sobretudo, tanta soberba? É precisa, sem dúvida, uma outra mudança, uma lealdade maior, uma humildade mais profunda, de modo, que, diminuindo o nosso egoísmo, cresça em nós Cristo, pois illum oportet crescere, me autem minui, é preciso que Ele cresça e que eu diminua.


Não é possível deixar-se ficar imóvel. É necessário avançar para a meta que S. Paulo apontava: não sou eu quem vive; é Cristo que vive em mim. A ambição é alta e nobilíssima: a identificação com Cristo, a santidade. Mas não há outro caminho, se se deseja ser coerente com a vida divina que, pelo Baptismo, Deus fez nascer nas nossas almas. O avanço é o progresso na santidade; o retrocesso é negar-se ao desenvolvimento normal da vida cristã. Porque o fogo do amor de Deus precisa de ser alimentado, de aumentar todos os dias arreigando-se na alma; e o fogo mantém-se vivo queimando novas coisas. Por isso, se não aumenta, está a caminho de se extinguir. (Cristo que Passa, 58)

Temas para meditar e reflectir

Quaresma

A nossa oração durante a Quaresma vai dirigida ao despertar da consciência, a sensibilizá-la à voz de Deus.


Não endureçais o coração, diz o salmista.


Com efeito, a morte da consciência, a sua indiferença nem relação ao bem e ao mal, os seus desvios são uma grande ameaça para o homem.

Indirectamente são também uma ameaça para a sociedade porque, em última instância, da consciência humana depende o nível de moralidade da sociedade.



(SÃO JOÃO PAULO II, Angelus, 1981.03.15)





Evangelho e comentário

Tempo de Quaresma

Evangelho: Lc 16, 19-31

19 «Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho fino e fazia todos os dias esplêndidos banquetes. 20 Um pobre, chamado Lázaro, jazia ao seu portão, coberto de chagas. 21 Bem desejava ele saciar-se com o que caía da mesa do rico; mas eram os cães que vinham lamber-lhe as chagas. 22 Ora, o pobre morreu e foi levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado. 23 Na morada dos mortos, achando-se em tormentos, ergueu os olhos e viu, de longe, Abraão e também Lázaro no seu seio. 24 Então, ergueu a voz e disse: ‘Pai Abraão, tem misericórdia de mim e envia Lázaro para molhar em água a ponta de um dedo e refrescar-me a língua, porque estou atormentado nestas chamas.’ 25 Abraão respondeu-lhe: ‘Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em vida, enquanto Lázaro recebeu somente males. Agora, ele é consolado, enquanto tu és atormentado. 26 Além disso, entre nós e vós há um grande abismo, de modo que, se alguém pretendesse passar daqui para junto de vós, não poderia fazê-lo, nem tão-pouco vir daí para junto de nós.’ 27 O rico insistiu: ‘Peço-te, pai Abraão, que envies Lázaro à casa do meu pai, pois tenho cinco irmãos; 28 que os previna, a fim de que não venham também para este lugar de tormento.’ 29 Disse-lhe Abraão: ‘Têm Moisés e os Profetas; que os oiçam!’ 30 Replicou-lhe ele: ‘Não, pai Abraão; se algum dos mortos for ter com eles, hão-de arrepender-se.’ 31 Abraão respondeu-lhe: ‘Se não dão ouvidos a Moisés e aos Profetas, tão-pouco se deixarão convencer, se alguém ressuscitar dentre os mortos.’»

Comentário:

 Aí está o fosso entre o Paraíso e o Inferno impossível de transpor por toda a eternidade!


A exclamação aplica-se porque é tão séria e grave esta constatação que não admite distracções dos vivos – enquanto têm tempo – para corrigir o rumo da sua vida. E não valem a pena lamentações, tudo é definitivo.


Convém, portanto, ter bem presente esta realidade: existe castigo eterno como, de facto, existe ventura eterna e, uma ou outra, só dependem de nós e do nosso comportamento enquanto vivos.

(AMA, comentário sobre Lc 16, 19-31, Cascais, 26.09.2010)

Leitura espiritual

Jesus Cristo o Santo de Deus
CAPÍTULO V

O SUBLIME CONHECIMENTO DE CRISTO

3.   «A fé termina nas coisas»
…/2

Devemos passar da atenção à essência da pessoa, para a atenção à existência da pessoa de Cristo.
Eis como um filósofo contemporâneo descreveu aquilo que produz a descoberta improvisada da existência das coisas:
«Eu estava – escreve ele – num jardim público. As raízes do castanheiro aprofundavam-se na terra, mesmo debaixo do meu assento. Não me lembrava já que eram raízes.
As palavras tinham desaparecido e, com elas, o significado das coisas, os modos do seu uso, os ténues sinais de distinção que os homens gravaram sobre a sua superfície.
Estava sentado, um pouco curvado, com a cabeça inclinada para o chão, sozinho diante daquela massa enorme, nodosa e tão feia que me causava medo. E depois aquele lampejo de iluminação. Fiquei sem respiração.
Nunca, até então, eu tinha pressentido o significa “existir”, afinal era como os outros, como aqueles que passeavam na praia do mar, vestidos de festa.
Também eu dizia como eles:
«O mar é verde; aquele ponto branco acolá é uma gaivota»; mas eu não sentia que isso existia, que a gaivota era uma gaivota existente»; habitualmente a existência esconde-se.
Mas ela está aqui, junto de nós, não se podem dizer duas palavras sem falar dela e, afinal, não a apalpamos.
Quando eu julgava que pensava nela, evidentemente não pensava em nada, tinha a cabeça vazia, ou tinha na cabeça somente uma palavra, apalavra “existir”…E depois, de repente, eis que estava ali, límpida coo o dia: a existência tinha-se improvisadamente revelado» [i]

Para se conhecer Cristo em pessoa, Ele mesmo, “em carne e osso”, é preciso passar por uma experiência semelhante.
Temos que nos aperceber que Ele existe.
Isto, de facto, não é possível somente em relação às raízes de um castanheiro, ou seja, com qualquer coisa que se vê e se apalpa, mas, pela fé, também com as coisas que não se vêm e com o próprio Deus.
Foi assim que numa noite o crente B. Pascal descobriu o Deus vivo de Abraão e O recordou, com breves e inflamadas frases de exclamação:
«Deus de Abraão, Deus de Isaac, Deus de Jacob, não dos filósofos e dos eruditos.
Ele não Se encontra senão através do Evangelho.
Certeza. Sentimento. Alegria. Paz.
Esquecimento do mundo e de tudo, excepto de Deus» [ii]

Naquela noite, Deus tinha-Se tornado para ele “realidade activa”.
Uma pessoa “que respira”, como lhe chama P. Claudel.

4.   O Nome e o Coração de Jesus            

Como é possível fazer uma experiência deste tipo?

Depois de, durante muito tempo e com todos os métodos, ter procurado atingir o ser das coisas e de lhes arrancar, por assim dizer, o seu mistério, uma corrente de filosofia existencial teve que se render e reconhecer (aproximando-se assim sem o saber do conceito cristão de graça) que a única maneira, para que tal possa acontecer, é que o próprio ser se revele e venha por sua iniciativa, ao encontro do homem.
E o lugar onde isto pode acontecer é na linguagem, que é uma espécie de “casa do ser”.
Ora, isto é verdade certamente, se, por “ser”, entendemos dizer o Ser (Deus, ou Cristo ressuscitado) e por “linguagem” entendemos dizer a palavra ou o kerigma.
Cristo ressuscitado em pessoa revela-Se-nos e nós podemos encontrá-Lo pessoalmente na Sua palavra.
Esta é verdadeiramente a Sua “casa”, cuja porta é aberta pelo Espírito Santo aos que a ela batem.

No Apocalipse, Ele vai ao encontro da Igreja, dizendo:
«Eu sou o Primeiro e o Último e o que vive. Eu estive morto, mas agora estou vivo» [iii] .
Ressoam também agora, depois que morreu e ressuscitou, aquelas palavras de Cristo:
«Eu Sou!»
Quando Deus Se a presentou a Moisés com estas palavras, o seu significado parece ter sido: «Eu estou», ou seja, existo para vós; não sou mais um dos muitos deuses ou ídolos que têm boca, mas não falam, que têm olhos, mas não vêm. Eu existo verdadeiramente.
Jesus Cristo diz o mesmo agora.

Pudéssemos nós aperceber-nos disto e fazer esta experiência como afez S. Paulo:
«Quem és Tu, Senhor? Eu sou Jesus»!
Então a nossa fé mudaria e tornar-se-ia contagiosa.
Descalçaríamos as sandálias, como fez Moisés naquele dia, e diríamos como Job:
«Eu conhecia-te por ter ouvido falar de Ti, mas agora os meus olhos vêm-Te» [iv].
Também nós ficaríamos sem respiração!

Tudo isto é possível
Não se trata de exaltação mística já que se fundamenta sobre um dado objectivo que é a promessa de Cristo:
«Ainda um pouco – dizia Jesus aos discípulos na Última Ceia – e o mundo não Me verá mais. Vós, porém, ver-me-eis, porque Eu vivo e vós vivereis» [v].
Depois da Sua ressurreição e ascensão ao Céu – porque é a este tempo que Jesus Se refere – os discípulos verão Jesus com uma visão nova, espiritual e interior, mediante a fé, mas de tal modo real que Jesus pôde dizer simplesmente:
«Vós ver-Me-eis».
E a explicação de tudo isto é que Ele «vive».


(cont)
rainiero cantalamessa, Pregador da Casa Pontifícia.





[i] J. P. Sartre, A náusea
[ii] B. Pascal, «Memorial», in Pensamentos, Apêndice
[iii] Ap1,18
[iv] Job 42,5
[v] Jo14,19

Pequena agenda do cristão

Quinta-Feira



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)



Propósito:
Participar na Santa Missa.


Senhor, vendo-me tal como sou, nada, absolutamente, tenho esta percepção da grandeza que me está reservada dentro de momentos: Receber o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade do Rei e Senhor do Universo.
O meu coração palpita de alegria, confiança e amor. Alegria por ser convidado, confiança em que saberei esforçar-me por merecer o convite e amor sem limites pela caridade que me fazes. Aqui me tens, tal como sou e não como gostaria e deveria ser.
Não sou digno, não sou digno, não sou digno! Sei porém, que a uma palavra Tua a minha dignidade de filho e irmão me dará o direito a receber-te tal como Tu mesmo quiseste que fosse. Aqui me tens, Senhor. Convidaste-me e eu vim.


Lembrar-me:
Comunhões espirituais.


Senhor, eu quisera receber-vos com aquela pureza, humildade e devoção com que Vos recebeu Vossa Santíssima Mãe, com o espírito e fervor dos Santos.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?