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14/02/2018

Cinzas



In: O que é a verdade

Marinha Grande, 14 de Fevereiro de 2018
Joaquim Mexia Alves 

Os filhos de Deus têm de ser contemplativos

Nunca compartilharei a opinião – ainda que a respeite – dos que separam a oração da vida activa, como se fossem incompatíveis. Os filhos de Deus têm de ser contemplativos: pessoas que, no meio do fragor da multidão, sabem encontrar o silêncio da alma em colóquio permanente com Nosso Senhor: e olhá-lo como se olha um Pai, como se olha um Amigo, a quem se quer com loucura. (Forja, 738)

Não duvideis, meus filhos: qualquer forma de evasão das honestas realidades diárias é, para vós, homens e mulheres do mundo, coisa oposta à vontade de Deus.

Pelo contrário, deveis compreender agora – com uma nova clareza – que Deus vos chama a servi-Lo em e a partir das ocupações civis, materiais, seculares da vida humana: Deus espera-nos todos os dias no laboratório, no bloco operatório, no quartel, na cátedra universitária, na fábrica, na oficina, no campo, no lar e em todo o imenso panorama do trabalho. Ficai a saber: escondido nas situações mais comuns há um quê de santo, de divino, que toca a cada um de vós descobrir.

Eu costumava dizer àqueles universitários e àqueles operários que vinham ter comigo por volta de 1930 que tinham que saber materializar a vida espiritual. Queria afastá-los assim da tentação, tão frequente então como agora, de viver uma vida dupla: a vida interior, a vida de relação com Deus, por um lado; e por outro, diferente e separada, a vida familiar, profissional e social, cheia de pequenas realidades terrenas.

Não, meus filhos! Não pode haver uma vida dupla; se queremos ser cristãos, não podemos ser esquizofrénicos. Há uma única vida, feita de carne e espírito, e essa é que tem de ser – na alma e no corpo – santa e cheia de Deus, deste Deus invisível que encontramos nas coisas mais visíveis e materiais.


Não há outro caminho, meus filhos: ou sabemos encontrar Nosso Senhor na nossa vida corrente ou nunca O encontraremos Por isso posso dizer-vos que a nossa época precisa de restituir à matéria e às situações que parecem mais vulgares o seu sentido nobre e original, colocá-las ao serviço do Reino de Deus, espiritualizá-las, fazendo delas o meio e a ocasião do nosso encontro permanente com Jesus Cristo. (Temas Actuais do Cristianismo, n. 114)

Temas para meditar e reflectir

Quando se quer verdadeiramente


Querer algo verdadeiramente, é ir além do desejo.

Desejar é algo subjectivo e, ao contrário, querer é objectivo e concreto.

Quando se quer pode-se – costuma dizer-se – e faz-se o necessário para se conseguir o que se pretende.

Por isso – querer – é, tem de ser, algo reflectido, pesado e devidamente avaliado.

A principal questão a pôr previamente será:

O que quero está de acordo com o que Deus quer?

Se sim… então convém-me;

Se não… não interessa.



(ama, reflexões, 14.12.2016)

Evangelho e comentário

Tempo de Cinzas

Quarta Feira de Cinzas

Evangelho: Mt 6, 1-6. 16-18

1 «Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para vos tornardes notados por eles; de outro modo, não tereis nenhuma recompensa do vosso Pai que está no Céu. 2 Quando, pois, deres esmola, não permitas que toquem trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, a fim de serem louvados pelos homens. Em verdade vos digo: Já receberam a sua recompensa. 3  Quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua direita, 4 a fim de que a tua esmola permaneça em segredo; e teu Pai, que vê o oculto, há-de premiar-te.» 5 «Quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar de pé nas sinagogas e nos cantos das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa. 6 Tu, porém, quando orares, entra no quarto mais secreto e, fechada a porta, reza em segredo a teu Pai, pois Ele, que vê o oculto, há-de recompensar-te.
16 «E, quando jejuardes, não mostreis um ar sombrio, como os hipócritas, que desfiguram o rosto para que os outros vejam que eles jejuam. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa. 17 Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, 18 para que o teu jejum não seja conhecido dos homens, mas apenas do teu Pai que está presente no oculto; e o teu Pai, que vê no oculto, há-de recompensar-te.»

Comentários:

Este tema abordado por Jesus Cristo é de enorme importância como regra de conduta para todos os cristãos.

As nossas boas obras devem ter como primeiro objectivo agradar a Deus, mas, têm de ser exemplo para os outros.

A naturalidade e contenção com que as praticamos deverão, por isso mesmo, estar em evidência de tal forma que outros sejam levados a imitar-nos.


(AMA, comentário sobre Mt 6, 1-6 16-18, 21.06.2017)

Leitura espiritual

RESUMOS DA FÉ CRISTÃ


TEMA 7 A elevação sobrenatural e o pecado original

Ao criar o homem, Deus constituiu-o num estado de santidade e de justiça; além disso, deu-lhe a possibilidade de participar na Sua vida divina, com o bom uso da sua liberdade.  

1. A elevação sobrenatural

Ao criar o homem, Deus constituiu-o num estado de santidade e de justiça, oferecendo-lhe a graça de uma autêntica participação na vida divina [i].
Assim interpretaram a Tradição e o Magistério ao longo dos séculos a descrição do Paraíso contida no Génesis.
Este estado denomina-se teologicamente elevação sobrenatural, pois indica um dom gratuito, inalcançável somente com as forças naturais, não exigido, embora congruente, com a criação do homem à imagem e semelhança de Deus.
Para a recta compreensão deste ponto há que ter em conta alguns aspectos:
a) Não convém separar a criação da elevação à ordem sobrenatural. A criação não é “neutra” a respeito da comunhão com Deus, mas está orientada para ela. A Igreja sempre ensinou que o fim do homem é sobrenatural [ii], pois fomos «eleitos em Cristo antes da criação do mundo para sermos santos» [iii].
Quer dizer, nunca existiu um estado de “natureza pura”, pois Deus desde o princípio oferece ao homem a Sua aliança de amor.

b) Embora o facto do fim do homem ser a amizade com Deus, a Revelação ensina-nos que, no princípio da história, o homem se rebelou e recusou a comunhão com o seu Criador: é o pecado original, também chamado queda, precisamente porque antes tinha sido elevado à proximidade divina.
Não obstante, ao perder a amizade com Deus, o homem não fica reduzido ao nada, mas continua a ser homem, criatura.

c) Isto ensina-nos que, embora não convenha conceber o desígnio divino em compartimentos estanques (como se Deus criasse primeiro um homem “completo” e depois “a seguir” o elevasse), hão-de distinguir-se, dentro do único projecto divino, diversas ordens [iv].

Baseada no facto de que o homem com o pecado perdeu alguns dons, mas conservou outros, a tradição cristã distinguiu a ordem sobrenatural (a chamada à amizade divina, cujos dons se perdem com o pecado) da ordem natural (o que Deus concedeu ao homem ao criá-lo e que permanece também, apesar do seu pecado).
Não são duas ordens justapostas ou independentes, pois de facto o natural está, desde o princípio, enxertado e orientado para o sobrenatural; e o sobrenatural aperfeiçoa o natural sem o anular.
Ao mesmo tempo distinguem-se, pois a história da salvação mostra que a gratuidade do dom divino da graça e da redenção é distinta da gratuidade do dom divino da criação, sendo aquela uma manifestação imensamente superior da misericórdia e do amor de Deus [v].

d) É difícil descrever o estado de inocência perdida de Adão e Eva [vi], sobre o qual há poucas afirmações no Génesis [vii].
Por isso, a tradição costuma caracterizar tal estado indirectamente, inferindo, a partir das consequências do pecado narrado em Gn 3, os dons de que gozavam os nossos primeiros pais, que deviam transmitir aos seus descendentes.
Assim, afirma-se que receberam os dons naturais, que correspondem à sua condição normal de criaturas e formam o seu ser criatural.
Receberam também os dons sobrenaturais, quer dizer, a graça santificante, a divinização que essa graça comporta e a chamada última à visão de Deus.
Com estes, a tradição cristã reconhece a existência no Paraíso dos “dons preternaturais”, ou seja, dons que não eram exigidos pela natureza humana, mas congruentes com ela, a aperfeiçoavam na linha natural, e constituíam, afinal, uma manifestação da graça.

Tais dons eram a imortalidade, a isenção de dor (impassibilidade) e o domínio da concupiscência (integridade) [viii], [ix].

2. O pecado original

Com o relato da transgressão humana do mandato divino de não comer do fruto da árvore proibida, por instigação da serpente [x], a Sagrada Escritura ensina que no início da história os nossos primeiros pais se rebelaram contra Deus desobedecendo-Lhe, sucumbindo à tentação de quererem ser como deuses.
Como consequência, receberam o castigo divino, perdendo grande parte dos dons que lhes tinham sido concedidos [xi] e foram expulsos do paraíso [xii].

Isto foi interpretado pela tradição cristã como a perda dos dons sobrenaturais e preternaturais, bem como um dano na própria natureza humana, se bem que não ficasse essencialmente corrompida.
Fruto da desobediência, de se preferirem antes si próprios em vez de Deus, o homem perde a graça [xiii] e também a harmonia com a criação e consigo mesmo: o sofrimento e a morte fazem a sua entrada na história [xiv].

O primeiro pecado teve o carácter de uma tentação aceite, pois por detrás da desobediência humana está a voz da serpente, que representa Satanás, o anjo caído.
A Revelação fala de um pecado anterior, seu e de outros anjos, os quais – tendo sido criados bons – recusaram irrevogavelmente Deus.
Após o pecado humano, a criação e a história ficam sob o influxo maléfico do «pai da mentira e homicida desde o princípio» [xv].
Embora o seu poder não seja infinito, mas muito inferior ao divino, causa realmente danos muito graves em cada pessoa e na sociedade, e o facto da permissão divina da actividade diabólica não deixa de constituir um mistério [xvi].
O relato contém também a promessa divina dum Redentor [xvii].
A Redenção ilumina assim o alcance e a gravidade da queda humana, mostrando a maravilha do amor de um Deus que não abandona a sua criatura, mas que vem ao seu encontro com a obra salvadora de Jesus.
«É preciso conhecer Cristo como fonte da graça para conhecer Adão como fonte do pecado» [xviii].
«”O mistério da iniquidade” [xix] só se esclarece à luz do “Mistério da piedade” [xx]» [xxi].

A Igreja entendeu sempre este episódio como um facto histórico – mesmo que nos tenha sido transmitido em linguagem certamente simbólica [xxii] –, que foi denominado tradicionalmente (a partir de Santo Agostinho) como “pecado original”, por ter ocorrido nas origens.

O pecado não é “originário” – mesmo que “originante” dos pecados pessoais realizados na história –, mas entrou no mundo como fruto do mau uso da liberdade exercida pelas criaturas (primeiro os anjos, depois o homem).

O mal moral não pertence, pois, à estrutura humana, não provém nem da natureza social do homem, nem da sua materialidade, nem, obviamente, sequer de Deus, ou de um destino inamovível.

O realismo cristão põe o homem diante da sua própria responsabilidade: pode fazer o mal como fruto da sua liberdade, e o responsável por isso não é outro, mas ele próprio [xxiii].
 Ao longo da história, a Igreja formulou o dogma do pecado original em contraste com o optimismo exagerado e o pessimismo existencial [xxiv].

Face a Pelágio, que afirmava que o homem pode realizar o bem usando apenas as suas forças naturais, e que a graça é uma mera ajuda externa, minimizando, assim, quer o alcance do pecado de Adão, quer a redenção de Cristo – reduzidos a um mero mau ou bom exemplo, respectivamente –, o Concilio de Cartago (418), seguindo Santo Agostinho, ensinou a prioridade absoluta da graça, pois o homem depois do pecado ficou debilitado [xxv].

Contra Lutero, que defendia que depois do pecado o homem está essencialmente corrompido na sua natureza, que a sua liberdade fica anulada e que em tudo o que faz há pecado, o Concílio de Trento (1546) afirmou a relevância ontológica do baptismo, que apaga o pecado original; embora permaneçam as suas sequelas – entre elas, a concupiscência, que não se há-de identificar, como fazia Lutero, com o próprio pecado – o homem é livre nos seus actos e pode merecer com obras boas, apoiadas pela graça [xxvi].

Santiago Sanz

Bibliografia básica:

Catecismo da Igreja Católica, 374-421. Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, 72-78. João Paulo II, Creo en Dios Padre. Catequesis sobre el Credo (I), Palabra, Madrid 1996, 219 seg. DS, n. 222-231; 370-395; 1510-1516; 4313. Leituras recomendadas João Paulo II, Memória e Identidad e, Bertrand Editora, Lisboa 2005. Bento XVI, Homilia, 8-XII-2005. Joseph Ratzinger, Creación y pecado, Eunsa, Pamplona 1992.

Notas:






[i] cf. Catecismo, 374, 375
[ii] cf. DS 3005
[iii] Ef 1,4).
[iv] O Concílio de Trento não diz que o homem foi criado na graça, mas constituído, precisamente para evitar a confusão de natureza e graça (cf. DS 1511).
[v] Precisamente por isto se aventou a hipótese teológica da “natureza pura”, para sublinhar a ulterior gratuidade do dom da graça a respeito da criação. Não porque tal estado se tenha verificado historicamente, mas porque em teoria podia ter-se dado, embora de facto assim não seja. Esta doutrina foi estabelecida contra Bayo, uma das suas teses condenadas dizia: «a integridade da primeira criação não foi exaltação indevida da natureza humana, mas a sua condição natural» (DS 1926).
[vi] Esta dificuldade aumenta actualmente devido à influência de uma visão de tipo evolucionista da totalidade do ser humano. Numa visão desse tipo, a realidade evolui sempre de menos para mais, enquanto que a Revelação nos ensina que houve no começo da história uma queda de um estado superior para outro inferior. Isto não quer dizer que não tenha existido um processo de “hominização”, que há que distinguir da “humanização”.
[vii] cf. Gn 1,26-31; 2,7-8.15-25
[viii] cf. Catecismo, 376
[ix] Sobre a imortalidade, que se há-de entender com Santo Agostinho como um não poder morrer (non posse mori), mas um poder não morrer (posse non mori ), é lícito interpretá-la como uma situação na qual o trânsito para um estado definitivo não fosse experimentado com o dramatismo próprio da morte que o homem padece depois do pecado. O sofrimento é sinal e antecipação da morte e por isso a imortalidade trazia com ela, de alguma maneira, a ausência de dor. Isto implicava, também, um estado de integridade no qual o homem dominava sem dificuldade as suas paixões. Tradicionalmente, costuma acrescentar-se um quarto dom, o da ciência, proporcionada ao estado em que se encontravam.
[x] Gn 3,1-13
[xi] vv. 16-19
[xii] v. 23
[xiii] cf. Catecismo, 398399
[xiv] cf. Catecismo, 399-400
[xv] Jo 8,44
[xvi] cf. Catecismo, 391-395
[xvii] Gn 3,15
[xviii] Catecismo, 388
[xix] 2 Ts 2,7
[xx] 1 Tm 3,16
[xxi] Catecismo, 385
[xxii] cf. Catecismo, 390
[xxiii] cf. Catecismo, 387
[xxiv] cf. Catecismo, 406
[xxv] cf. DS 223.227; cf. também o Concilio II de Orange, no ano 529: DS 371-372
[xxvi] cf. DS 1511-1515

Pequena agenda do cristão

Quarta-Feira



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)






Propósito:

Simplicidade e modéstia.


Senhor, ajuda-me a ser simples, a despir-me da minha “importância”, a ser contido no meu comportamento e nos meus desejos, deixando-me de quimeras e sonhos de grandeza e proeminência.


Lembrar-me:
Do meu Anjo da Guarda.


Senhor, ajuda-me a lembrar-me do meu Anjo da Guarda, que eu não despreze companhia tão excelente. Ele está sempre a meu lado, vela por mim, alegra-se com as minhas alegrias e entristece-se com as minhas faltas.

Anjo da minha Guarda, perdoa-me a falta de correspondência ao teu interesse e protecção, a tua disponibilidade permanente. Perdoa-me ser tão mesquinho na retribuição de tantos favores recebidos.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?