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31/12/2018

Leitura espiritual


O HOMEM BOM 





O TESOURO VERDADEIRO





Com as reflexões anteriores, procuramos desenhar um quadro da bondade actuante.
Agora, olhando com perspectiva essa pintura, é necessário concluir que, dentre os traços do quadro, talvez esteja faltando ressaltar o principal.
A razão é simples.
Todas as cores que se juntam para compor a luz da bondade apontam para uma única finalidade, várias vezes recordada ao longo destas páginas: fazer o bem.
Por isso, o que é realmente decisivo é ter uma ideia clara sobre o verdadeiro conceito de bem.
De nada adiantaria empenharmo-nos generosamente em fazer o bem aos outros, se, no final das contas, terminássemos por descobrir que, pretendendo ajudá-los, involuntariamente lhes fizemos mal ou, o que vem a dar na mesma, lhes proporcionamos bens fictícios e omitimos o bem real.
Daí a grande importância de não perdermos nunca de vista qual é o verdadeiro bem do homem, o único bem, sem o qual nenhum dos outros merece esse nome.
A resposta a essa pergunta sobre o bem já foi dada por Cristo:
Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder a sua alma? Ou que poderá dar o homem em troca da sua alma? (Mt 16, 26).
Estas palavras brilham como um lampejo no meio da escuridão.
Nenhum “bem” vale a pena se a alma estiver privada da Vida da graça de Deus.
Com efeito, sem a graça divina, uma alma está morta e, então, as melhores qualidades e “bens” de que possa dispor não passam de flores vistosas enfeitando um cadáver.
Estando ausente a vida, “de que aproveitam” as flores?
Deveriam pensar mais nisto, todos os que amam, todos aqueles que, por terem a fé cristã, são capazes de compreender a perspectiva de Cristo.
Sim, deveríamos entender que “querer bem” outra coisa não é que “querer o bem” do próximo, e que não há bem algum quando falta Deus.
“A quem tem Deus – dizia Santa Teresa de Ávila – nada lhe falta”.
A quem não o tem, podemos acrescentar, nada lhe aproveita.
É excelente, sem dúvida, o empenho dos pais em que os filhos tenham saúde, cultura, bem-estar, capacitação profissional que lhes permita enfrentar com segurança o futuro.
Mas é um empenho muito mais excelente e vital – por ser decisivo, questão de vida ou morte – esforçarem-se com a sua oração, o seu exemplo e uma orientação prudente e contínua, para que os filhos conheçam as verdades da fé cristã – a doutrina salvadora de Cristo – e aprendam a praticá-las.
Podem ter a certeza de que as virtudes cristãs de um filho vão fazer-lhe, ao longo do dia, um bem infinitamente maior do que todos os diplomas ou contas bancárias que lhes possam proporcionar.
Mil vezes mais vale a fé do que a saúde, a união com Deus do que o sucesso.
Só as virtudes cristãs são os tesouros verdadeiros de que Cristo falava (Mt 6, 19-20).
E só esses tesouros proporcionam àqueles que amamos a “realização” – o bem e a plenitude –, quer nesta terra, quer na eternidade.
Sem esta convicção, todos os ideais de bondade se dissolvem como um sonho ilusório.
Sempre deveria ecoar em nossos ouvidos, como um roteiro de bondade, o segredo que Cristo confidenciou a Marta:
Tu te inquietas e te perturbas por muitas coisas; no entanto, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada (Lc 10, 41-42).
A “melhor parte” é estarmos junto de Cristo, atentos às suas palavras, fazendo da Vontade de Deus a luz e o norte da vida.
Aí está o verdadeiro bem do homem.

* * *
Começávamos estas páginas constatando que uma das impressões mais gratas e indeléveis da vida é ter conhecido um homem bom.
Ao encerrá-las com estes últimos pensamentos, talvez seja o momento de tomarmos consciência de que esse homem bom, deveríamos sê-lo cada um de nós.
Afinal, foi para isso que Deus nos pôs no mundo, e a nós nos cabe – com a sua ajuda – trabalhar por consegui-lo.
Não duvidemos de que, quando o curso desta nossa vida terrena se encerrar, uma das nossas maiores alegrias será olhar para trás e ver que a nossa passagem pelo mundo não foi inútil.
Valerá a pena termos vivido se, nessa hora definitiva, pudermos dizer que, pela misericórdia divina e apesar das nossas misérias, tivemos a graça de ser um reflexo da bondade de Deus nos corações dos homens.

FIM


[i] Francisco Faus é licenciado em Direito pela Universidade de Barcelona e Doutor em Direito Canónico pela Universidade de São Tomás de Aquino de Roma. Ordenado sacerdote em 1955, reside em São Paulo, onde exerce uma intensa atividade de atenção espiritual entre estudantes universitários e profissionais. Autor de diversas obras literárias, algumas delas premiadas, já publicou na coleção Temas Cristãos, entre outros, os títulos O valor das dificuldades, O homem bom, Lágrimas de Cristo, lágrimas dos homens, Maria, a mãe de Jesus, A voz da consciência e A paz na família.


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