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24/12/2018

Leitura espiritual


O HOMEM BOM


AS FONTES DA BONDADE

BONDADE E AMOR

ABRIR-SE AOS OUTROS


Ninguém é bom, ninguém é bondoso para si mesmo. A bondade dirige-se sempre aos outros: somos bons para alguém. Homem bom é aquele que está, de modo habitual e permanente, amorosamente aberto aos outros. Precisamente porque é bom – e, por isso, quer “fazer o bem” –, vive voltado para o próximo, dá-lhe valor e concede-lhe prioridade nos seus interesses.
A bondade é sempre calor de coração, que envolve os seres humanos com uma doçura cheia de força. Vamos dedicar as próximas páginas a considerar mais de perto a bondade no seu influxo benfazejo.

Para o homem bom, os outros não são nunca estranhos. Não os enxerga nunca como inimigos que ameaçam o recinto fechado do seu egoísmo, provocando interferências e criando incómodos.
Nenhuma pessoa é alheia ao mundo do seu “eu”. Os outros, sejam eles quem forem, tenham os defeitos que tiverem, fazem parte do seu universo de afectos e interesses.
Por isso não o aborrecem nem o surpreendem, pois tem o coração mais inclinado a amar do que a amar-se a si mesmo.
É próprio do egoísmo ver o próximo com uma ponta de reserva: o “outro” é, para o egoísta, um possível “inimigo” de que tem que defender-se ou, pelo menos, precaver-se. O egoísta tem o coração inteiramente ocupado pelo “eu”, denso e pesado como o chumbo.
Admitir “outros” dentro de si significa ter de aceitar uma sobrecarga. Daí que esteja sempre com receio de que lhe perturbem os esquemas, de que lhe roubem o tempo, de que lhe tirem a tranquilidade, de que lhe exijam renúncias; e sofre por ter que aturar defeitos aborrecidos e limitações cansativas.
O egoísta é mal-humorado e impaciente.
Incapaz de dar, só sabe receber.
Bem expressiva é, a este respeito, a alegoria do mata-borrão e da fonte.
Os egoístas assemelham-se ao mata-borrão: só sabem absorver, dos outros, o que favorece os seus interesses, o que lhes traz vantagens ou lhes causa agrado.
Acontece, porém, que essa absorção egoísta, em vez de enriquecê-los, os destrói.
O mata-borrão ensopado fica inservível, desmancha-se todo, e o seu destino final é a lata do lixo.
Outros homens, pelo contrário, podem ser comparados a uma fonte. O manancial dá-se incansavelmente, ignorando o que seja reter ou sugar.
O esbanjamento generoso das suas águas não só não o empobrece, como o transforma num foco contínuo de fecundidade.
À sua volta, a terra árida transforma-se num jardim e as plantas ressequidas experimentam um estremecer de vida.
Para a fonte, viver é fazer viver.
Pois bem, o coração do homem bom, tal como a fonte, vive a criar vida e frutos em todos os que o cercam.
Não pensa que lhe tiram o que é seu – a sua paz, a sua tranquilidade, o seu tempo, as suas energias –, porque o seu amor só sabe dizer, como o pai do filho pródigo:
Tudo o que é meu é teu (Lc 15, 31).
Tudo o que é dele está aberto aos outros, e é mais “dele” quanto mais é participado pelos outros.

Francisco Faus [i]


[i] Francisco Faus é licenciado em Direito pela Universidade de Barcelona e Doutor em Direito Canónico pela Universidade de São Tomás de Aquino de Roma. Ordenado sacerdote em 1955, reside em São Paulo, onde exerce uma intensa atividade de atenção espiritual entre estudantes universitários e profissionais. Autor de diversas obras literárias, algumas delas premiadas, já publicou na coleção Temas Cristãos, entre outros, os títulos O valor das dificuldades, O homem bom, Lágrimas de Cristo, lágrimas dos homens, Maria, a mãe de Jesus, A voz da consciência e A paz na família.


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