Ama
e pratica a caridade, sem limites e sem discriminações, porque é a virtude que
caracteriza os discípulos do Mestre. Contudo essa caridade não pode levar-te –
deixaria de ser virtude – a amortecer a fé, a tirar as arestas que a definem, a
dulcificá-la até convertê-la, como alguns pretendem, em algo amorfo, que não
tem a força e o poder de Deus. (Forja, 456)
O
Senhor tomou a iniciativa, vindo ao nosso encontro. Deu-nos o exemplo para nos
pormos com Ele ao serviço dos outros, para – gosto de repetir – pormos
generosamente o nosso coração a servir de alcatifa, de modo que os outros
caminhem suavemente e a sua luta resulte para eles mais amável. Devemos
comportar-nos assim, porque somos filhos do mesmo Pai, que não hesitou em
entregar-nos o seu Filho muito amado.
Não
somos nós que construímos a caridade; é ela que nos invade com a graça de Deus:
porque Ele nos amou primeiro. Convém que nos empapemos bem desta verdade
formosíssima: se podemos amar a Deus é porque fomos amados por Deus. Tu e eu
estamos em condições de derramar carinho sobre os que nos rodeiam, porque nascemos
para a fé pelo amor do Pai. Pedi com ousadia ao Senhor este tesouro, esta
virtude sobrenatural da caridade, para a exercitardes até ao último pormenor.
Nós,
os cristãos, não temos sabido muitas vezes corresponder a esse dom; algumas
vezes temo-lo rebaixado como se se limitasse a uma esmola dada sem alma,
friamente; outras vezes temo-lo reduzido a uma atitude de beneficência mais ou
menos convencional. Exprimia bem esta aberração a queixa resignada de uma
doente: Aqui, tratam-me com caridade, mas a minha mãe cuidava de mim com
carinho. O amor que nasce do Coração de Cristo não pode dar lugar a este tipo
de distinções. (Amigos de Deus, nn. 228–229)