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03/06/2018

Tratado da vida de Cristo 205

Os sacramentos em geral

Questão 63: Do efeito principal dos Sacramentos, que é a graça.

Art. 1 — Se só Deus, ou também o ministro contribui interiormente para o efeito do sacramento.

O primeiro discute-se assim. — Parece que não só Deus, mas também, o ministro contribui para o efeito do sacramento.

1. — Pois, o efeito interior do sacramento é purificar-nos do pecado e iluminar-nos pela graça. Ora, aos ministros da Igreja compete purificar, iluminar e aperfeiçoar, como está claro em Dionísio. Logo, parece que não só Deus, mas também os ministros da Igreja contribuem para o efeito do sacramento.

2. Demais. — Ao conferir os sacramentos se propõem certos sufrágios de orações. Ora, às orações dos justos Deus as ouve melhor do que as de quaisquer outros, segundo o do Evangelho: Se alguém dá culto a Deus e faz a sua vontade, a este escuta Deus. Logo, parece que alcança maior efeito do sacramento aquele que o recebe de um bom ministro. Assim, pois, também o ministro obra para o efeito interior do sacramento e não só Deus.

3. Demais. — Mais digno é um homem que um ser inanimado. Ora, o ser inanimado contribui de certo modo para o efeito interior, pois, a água toca o corpo e purifica o coração, no dizer de Agostinho. Logo, o homem contribui de certo modo para o efeito do sacramento e não só Deus.

Mas, em contrário, o Apóstolo: Deus é quem justifica. Sendo, pois, a justificação o efeito in­terior de todos os sacramentos, parece que só Deus causa o efeito interior do sacramento.

De dois modos pode ser causado um efeito - a modo de agente principal e a modo de instrumento. - Ora, do primeiro modo só Deus causa o efeito interior do sacramento.

Quer porque só Deus penetra na alma, no que recebe o efeito do sacramento, e não pode nenhum agente obrar imediatamente onde não está. Quer também porque a graça, efeito interior do sacramento, vem só de Deus, como disse­mos na Segunda Parte. E ainda o carácter, efeito interior de certos sacramentos, é uma virtude instrumental, que dimana do principio agente que é Deus. Mas, do segundo modo, o homem pode contribuir para o efeito interior do sacramento, enquanto age como ministro. Pois, o mesmo que se dá com o ministro se dá com o instrumento: o acto de um e de outro é de origem extrínseca, mas produz um efeito interno em virtude do agente principal que é Deus.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — A purificação, enquanto atribuída aos ministros da Igreja, não se refere à do pecado. Mas, dizemos que os diáconos purificam, ou porque expulsam os imundos da sociedade dos fiéis, ou com sacras admoestações os dispõem à recepção dos sacramentos. Semelhantemente também se diz dos sacerdotes, que iluminam o povo fiel, não por certo infundindo a graça, mas comunicando os sacramentos da graça, como está claro no mesmo lugar de Dionísio.

RESPOSTA À. SEGUNDA. - As orações ditas ao se conferirem os sacramentos são feitas a Deus, não em nome de uma pessoa particular, mas em nome de toda a Igreja, cujas preces são ouvidas por Deus, segundo o diz o Evangelho: Se dois de vós se unirem entre si sobre a terra, seja qual for a causa que eles pedirem, meu Pai que está no céu lh'a fará. Ora, nada impede a oração de um varão justo em algo contribuir para isso. ­Mas aquele que é realmente o efeito do sacramento não é impetrado por oração da Igreja ou do ministro, mas resulta do mérito da paixão de Cristo, cuja virtude opera nos sacramentos, como se disse. Por isso o efeito do sacramento não se torna melhor por ser melhor o ministro. Mas, junto com esse efeito, pode ser impetrada uma graça àquele que recebe o sacramento, pela devoção do ministro; mas essa não é obra do ministro, que pede a Deus a conceda.

RESPOSTA À TERCEIRA. — As coisas inanimadas não contribuem para o efeito interior, senão instrumentalmente, como se disse. E semelhantemente, os homens não contribuem para o efei­to dos sacramentos senão a modo de ministério, como dissemos.


Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.