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11/03/2018

Tratado da vida de Cristo 194

Os sacramentos em geral

Questão 61: Da necessidade dos Sacramentos.

Art. 2 — Se antes do pecado os sacramentos eram necessários ao homem.

O segundo discute-se assim. — Parece que antes do pecado os sacramentos eram necessários ao homem.

1. — Pois, como se disse, os sacramentos são necessários para o homem alcançar a graça. Ora, mesmo no estado de inocência o homem precisava da graça, como se estabeleceu na Primeira Parte. Logo, também nesse estado lhe eram necessários os sacramentos.

2. Demais. — Os sacramentos são necessários ao homem em virtude da condição da natureza humana como se disse. Ora, a natureza do homem é a mesma tanto antes como depois do pecado. Logo, parece que também antes do pecado precisava dos sacramentos.

3. Demais. — O matrimónio é um sacramento, segundo o Apóstolo: este sacramento é grande, mas eu digo em Cristo e na Igreja. Ora, o matrimónio foi instituído antes do pecado, como o refere a Escritura. Logo, os sacramentos eram necessários ao homem antes do pecado.

Mas, em contrário; o remédio não é necessário senão ao doente, segundo o Evangelho: Os sãos não têm necessidade de médico. Ora, os sacramentos são uns remédios espirituais aplicados contra os males causados pelo pecado. Logo, não eram necessários antes do pecado.

No estado de inocência, antes do pecado, os sacramentos não eram necessários. E a razão disso podemos descobri-la na rectidão desse estado, em que o inferior, longe de reger o superior, era governado por este; assim como a razão estava sujeita a Deus, assim lhe estavam sujeitas a ela as potências inferiores da alma; e à alma, o corpo. Ora, iria contra essa ordem se a alma se aperfeiçoasse, quer quanto à ciência, quer quanto à graça, por algum meio material, como é o caso nos sacramentos. Donde, no estado de inocência o homem não precisava de sacramentos, considerados estes não só como ordenados a serem remédio contra o pecado, mas ainda enquanto ordenados à perfeição da alma.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — O homem, no estado de inocência, precisava da graça; não, porém, que a conseguisse por quaisquer sinais sensíveis, mas espiritual e indivisivelmente.

RESPOSTA À SEGUNDA. — A natureza do homem é a mesma tanto antes como depois do pecado; mas o estado da natureza não é o mesmo. Pois, após o pecado, a alma, ainda na sua parte superior, precisa apoiar-se nos seres materiais, para conseguir a sua perfeição; o que não era necessário ao homem no seu estado primeiro.

RESPOSTA À TERCEIRA. — O matrimónio foi instituído no estado de inocência, não como sacramento, mas como função da natureza. Mas, por consequência, significava algo que havia de dar-se relativamente a Cristo e à Igreja; como foi o caso de tudo o que precedeu a Cristo e o figurava.


Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.



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