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18/02/2018

Tratado da vida de Cristo 191

Os sacramentos em geral 

Questão 60: Dos Sacramentos

Art. 7 — Se os sacramentos exigem palavras determinadas.

O sétimo discute-se assim. — Parece que os sacramentos não exigem palavras determinadas.

1. — Pois, como diz o Filósofo as palavras não são as mesmas para todos. Ora, a salvação que alcançamos por meio dos sacramentos, é a mesma para todos. Logo, os sacramentos não exigem palavras determinadas.

2. Demais. — Os sacramentos implicam a palavra, cuja principal função dela é ser significativa, como se disse. Ora, diversas palavras podem significar a mesma coisa. Logo, os sacramentos não exigem palavras determinadas.

3. Demais. — A corrupção de um ser muda-lhe a espécie. Ora, ALGUNS proferem corruptamente as palavras, mas nem por isso se crê que fica impedido o efeito dos sacramentos; do contrário os iletrados e os gagos, que conferissem os sacramentos, frequentemente introduziram defeitos neles. Logo, parece que os sacramentos não requerem palavras determinadas.

Mas, em contrário, o Senhor proferiu palavras determinadas na consagração do sacramento da Eucaristia, dizendo: Este é o meu corpo. Semelhantemente, também mandou aos discípu­los batizarem sob uma determinada forma de palavras, conforme está no Evangelho: Ide e ensinai a todas as gentes, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

Como dissemos, nos sacramentos as palavras desempenham o papel de forma, e as coisas sensíveis o de matéria. Ora, em todos os seres compostos de matéria e forma, o princípio da determinação procede da forma, que é de certo modo o fim e o termo da matéria. Por isso, um ser, na sua essência, implica mais principalmente uma forma determinada, que uma determinada matéria; pois, a matéria determinada é necessário seja proporcionada a uma determinada forma. Ora como os sacramentos requerem determinadas coisas sensíveis, que neles desempenham o papel de matéria, com muito maior razão exigem uma determinada forma de palavras.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. Como diz Agostinho, a palavra opera nos sacramentos, não por serem proferidas, isto é, não pelo som exterior da voz, mas por serem cridas, isto é, pelo sentido delas, apreendido pela fé. Ora, esse sentido é o mesmo para todos, embora as palavras não tenham o mesmo som. Donde, o sacramento se perfaz, uma vez existente o referido sentido das palavras, qualquer que seja a língua.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Embora em qualquer língua palavras diversas possam significar a mesma coisa, sempre, contudo. uma dessas palavras é a que mais principal e comumente usam os que falam a língua, para significar tal coisa. E essa deve ser a palavra empregada na significação do sacramento. Assim como também dentre as coisas sensíveis tornamos aquela, para a significação do sacramento, cujo uso é mais comum, para exprimir o acto pelo qual é significado o efeito do sacramento. Tal a água, de que os homens usam mais comumente para lavar o corpo, o que significa a ablução espiritual; por isso foi à água escolhida como a matéria do batismo.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Quem profere corruptas as palavras sacramentais, se por indústria o fizer, não intenciona fazer o que faz a Igreja e, portanto não consuma o sacramento. ­ Se o fizer, porém por erro ou lapso da língua e for a corruptela tanta que prive totalmente de sentido a locução, não perfaz o sacramento. E isto, sobretudo se dá quando a corruptela está no princípio da dicção; tal o caso de quem em vez de dizer — em nome do Pai, dissesse — em nome da mãe. – Se, porém, a referida corruptela não privar totalmente de sentido a locução, então perfaz-se o sacramento. O que, sobretudo acontece quando a corruptela vem no fim; por exemplo: se alguém dissesse pátrias et filias. Pois, embora essas palavras assim proferidas nada signifiquem quando empregadas, concede-se, porém que sejam significativas pela acomodação do uso. Por isso, embora seja mudado o som sensível, permanece. contudo, o mesmo sentido. ­ Isso porém que fica dito, sobre a diferença da corruptela no princípio ou no fim da dicção, se funda em que, para nós, o variar da dicção no princípio muda o sentido, ao passo que a variação final não o muda, no mais das vezes. Mas entre os gregos o sentido varia, mesmo no princípio da dicção, em declinação das palavras. ­ Mas sobretudo devemos atender à grandeza da corruptela relativamente a dicção. Pois, tanto no fim como no principio pode ela ser tão pequena que não tire o sentido às palavras; e tão grande que o tire. Um desses defeitos, porém, mais facilmente resulta da corrupção no princípio e o outro, na do fim.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.



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