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08/02/2018

Leitura espiritual

RESUMOS DA FÉ CRISTÃ

TEMA 4 A natureza de Deus e a Sua actuação

Diante da Palavra de Deus que se revela só pode haver lugar à adoração e ao agradecimento; o homem cai de joelhos diante de um Deus que sendo transcendente é meu íntimo.  

2. Como é Deus?

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A unidade leva a reconhecer Deus como o único verdadeiro.
Mais ainda, Ele é a Verdade e a medida e fonte de tudo o que é verdadeiro [i]; e isto porque justamente Ele é o Ser.

Por vezes, tem-se medo desta identificação, porque parece que, dizendo que a verdade é una, se torna impossível todo o diálogo.
Por isso, é tão necessário considerar que Deus não é verdadeiro no sentido humano do termo, que é sempre parcial.
Mas que n’Ele a Verdade se identifica com o Ser, com o Bem e com a Beleza.
Não se trata de uma verdade meramente lógica e formal, mas de uma verdade que se identifica com o Amor que é Comunicação, em sentido pleno: efusão criativa, exclusivo e universal ao mesmo tempo, vida íntima divina partilhada e participada pelo homem.
Não estamos a falar da verdade das fórmulas ou das ideias, que são sempre insuficientes, mas da verdade do real que, no caso de Deus, coincide com o Amor.
Além disso, dizer que Deus é a Verdade quer dizer que a Verdade é o Amor.
Isto não mete nenhum medo e não limita a liberdade.
De modo que, a imutabilidade de Deus e a Sua unicidade coincidem com a sua Verdade, enquanto que é a verdade de um Amor que não pode passar.
Assim se vê que, para entender o sentido propriamente cristão dos atributos divinos, é necessário unir a afirmação de omnipotência com a de bondade e misericórdia.
Só quando se entendeu que Deus é omnipotente e eterno, a pessoa se pode abrir à esmagadora verdade de que este mesmo Deus é Amor, vontade de Bem, fonte de toda a Beleza e de todo o dom [ii].

Por isso os dados oferecidos pela reflexão filosófica são essenciais embora, de algum modo, insuficientes.
Seguindo este percurso a partir das características que se percebem como primeiras até às que se podem compreender apenas mediante o encontro pessoal com Deus que se revela, chega-se a entrever como estes atributos são expressos com termos distintos apenas na nossa linguagem, enquanto que na realidade de Deus coincidem e se identificam.

O Uno é o Verdadeiro e o Verdadeiro identifica-se com o Bem e com o Amor.

Com outra imagem, pode dizer-se que a nossa razão limitada actua um pouco como um prisma que decompõe a luz nas diferentes cores, cada uma das quais é um atributo de Deus; mas que em Deus coincidem com o Seu próprio Ser, que é Vida e fonte de toda vida.

3. Como conhecemos a Deus?

Pelo que foi dito, podemos conhecer como é Deus a partir das Suas obras: só o encontro com o Deus que cria e que salva o homem pode revelar-nos que o Único é simultaneamente o Amor e a origem de todo o Bem.
Assim Deus é reconhecido não só como intelecto – Logos segundo os gregos – que outorga racionalidade ao mundo – ao ponto de que alguns o terem confundido com o mundo, como acontecia na filosofia grega e como volta a suceder com algumas filosofias modernas – mas que também é reconhecido como vontade pessoal que cria e que ama.
Trata-se, assim, de um Deus vivo; mais ainda, de um Deus que é a própria Vida.
Assim, enquanto Ser vivo dotado de vontade, vida e liberdade, na Sua infinita perfeição, Deus permanece sempre incompreensível; ou seja, irreduzível a conceitos humanos.
A partir do que existe, do movimento, das perfeições, etc. pode-se chegar a demonstrar a existência de um Ser supremo fonte desse movimento, das perfeições, etc.

Mas, para conhecer o Deus pessoal que é Amor, é preciso procurá-Lo na Sua actuação na história a favor dos homens e, por isso, faz falta a Revelação.
Olhando para o Seu actuar salvífico descobre-se o Seu Ser, do mesmo modo que, pouco a pouco, se conhece uma pessoa através do convívio com ela.
Neste sentido, conhecer Deus consiste sempre e só em reconhecê-Lo, porque Ele é infinitamente superior a nós.
Todo o conhecimento sobre Ele procede d’Ele e é um dom Seu, fruto do Seu abrir-Se, da Sua iniciativa.
Então, a atitude para nos aproximarmos deste conhecimento deve ser de profunda humildade.
Nenhuma inteligência finita pode abarcar Aquele que é Infinito, nenhuma potência pode sujeitar o Omnipotente.
Só podemos conhecê-Lo através do que Ele nos dá, quer dizer, através da participação que temos nos Seus bens, fundamentada nos Seus actos de amor com cada um.
Por isso, o nosso conhecimento d’Ele é sempre analógico: quando afirmamos algo d’Ele, simultaneamente temos que negar que essa perfeição se dê n’Ele de acordo com as limitações que vemos no criado.
A tradição fala de uma tripla via: de afirmação, de negação e de eminência, em que o último movimento da razão consiste em afirmar a perfeição de Deus muito para além do que o homem pode pensar e que é origem de todas as realizações dessa perfeição que se vêm no mundo.
Por exemplo, é fácil reconhecer que Deus é grande, mas mais difícil é aperceber-se de que Ele é também pequeno, porque na criação o grande e o pequeno contrapõem-se.
No entanto, se pensarmos que ser pequeno pode ser uma perfeição, como se vê no fenómeno da nanotecnologia, então Deus tem que ser também fonte dessa perfeição e, n’Ele, essa perfeição deve identificar-se com a grandeza.
Por isso, temos que negar que é pequeno (ou grande) no sentido limitado que se lhes dá no mundo criado, para purificar essa atribuição passando à eminência.

Um aspecto especialmente relevante é a virtude da humildade, que os gregos não consideravam virtude.
Por ser uma perfeição, a virtude da humildade não só é possuída por Deus, mas Deus identifica-Se com ela.
Chegamos assim à surpreendente conclusão de que Deus é a Humildade; de tal modo que, só se pode conhecê-Lo numa atitude de humildade, que não é outra coisa senão a participação no dom de Si mesmo. Tudo isso implica que se pode conhecer o Deus cristão mediante os sacramentos e através da oração na Igreja, que torna presente a Sua acção salvífica para os homens de todos os tempos.

Giulio Maspero

Bibliografia básica 

Catecismo da Igreja Católica, 199-231; 268-274. Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, 36-43; 50. Leituras recomendadas São Josemaria, Homilia «Humildade», em Amigos de Deus, 104-109. J. Ratzinger, El Dios de los cristianos. Meditaciones, Ed. Sígueme, Salamanca 2005.

Notas




[i] cf. Compêndio, 41
[ii] «Deus revela-Se a Israel como Aquele que tem um amor mais forte do que o pai ou a mãe pelos seus filhos ou o esposo pela sua esposa. Ele, em Si mesmo, “é amor” (1 Jo 4, 8.16), que se dá completa e gratuitamente, “que tanto amou o mundo que lhe deu o seu próprio Filho unigénito, para que o mundo seja salvo por seu intermédio” (Jo 3, 16-17). Enviando o seu Filho e o Espírito Santo, Deus revela que Ele próprio é eterna permuta de amor» (Compêndio, 42).

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