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19/02/2018

Leitura espiritual

RESUMOS DA FÉ CRISTÃ

TEMA 9 A Encarnação

É a demonstração, por excelência do Amor de Deus para com os homens, pois a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade - Deus - torna-se participante da natureza humana em unidade de pessoa.


1. A obra da Encarnação

A assunção da natureza humana de Cristo pela Pessoa do Verbo é obra das três Pessoas divinas.
A Encarnação de Deus é a Encarnação do Filho, não do Pai, nem do Espírito Santo.
Não obstante, a Encarnação foi obra de toda a Trindade.
Por isso, na Sagrada Escritura, por vezes, atribui-se a Deus Pai [i], ou ao próprio Filho [ii], ou ao Espírito Santo [iii].
Sublinha-se, assim, que a obra da Encarnação foi um único acto, comum às três Pessoas divinas.
Santo Agostinho explicava que «o facto de que Maria concebesse e desse à luz é obra da Trindade, já que as obras da Trindade são inseparáveis» [iv].

Trata-se, com efeito, de uma acção divina ad extra, cujos efeitos estão fora de Deus, nas criaturas, pois são obra comum das três Pessoas divinas, já que uno e único é o Ser divino, que é o próprio poder infinito de Deus [v].

A Encarnação do Verbo não afecta a liberdade divina, pois Deus podia ter decidido que o Verbo não encarnasse, ou que encarnasse outra Pessoa divina.
No entanto, dizer que Deus é infinitamente livre não significa que as suas decisões sejam arbitrárias, nem negar que o amor seja a razão do seu agir.
Por isso, os teólogos costumam procurar as razões de conveniência que se possam vislumbrar nas diversas decisões divinas, tal como se manifestam na actual economia da salvação.
Procuram apenas pôr em evidência a maravilhosa sabedoria e coerência que existe em toda a obra divina, não uma eventual necessidade em Deus.

2. A Virgem Maria, Mãe de Deus

A Virgem Maria foi predestinada para ser Mãe de Deus, desde toda a eternidade, com a Encarnação do Verbo:
«no mistério de Cristo, Maria está presente já “antes da criação do mundo” como aquela que o Pai ‘elegeu’ como Mãe do Seu Filho na Encarnação, e juntamente com o Pai a elegeu o Filho, confiando-a eternamente ao Espírito de santidade» [vi].

A eleição divina respeita a liberdade de Santa Maria, pois «o Pai das misericórdias quis que a aceitação, por parte da que Ele predestinara para Mãe, precedesse a Encarnação, para que, assim, como uma mulher contribuiu para a morte, também outra mulher contribuísse para a vida [vii]» [viii]

Por isso, desde muito cedo, os Padres da Igreja viram em Maria a Nova Eva.
«Para vir a ser Mãe do Salvador, Maria foi “adornada por Deus com dons dignos de uma tão grande missão” [ix]» [x].

O Arcanjo Gabriel, no momento da Anunciação, saúda-a como «cheia de graça» [xi].
Antes do Verbo encarnar, Maria era já, pela sua correspondência aos dons divinos, cheia de graça.
A graça recebida por Maria fá-la grata a Deus e prepara-a para ser a Mãe virginal do Salvador.
Totalmente possuída pela graça de Deus, pôde dar o seu livre assentimento ao anúncio da sua vocação [xii].

Assim, «dando o seu consentimento à palavra de Deus, Maria tornou-se Mãe de Jesus.
E aceitando de todo o coração, sem que nenhum pecado a retivesse, a vontade divina da salvação, entregou-se totalmente à pessoa e à obra do seu Filho para servir, na dependência d’Ele e com Ele, pela graça de Deus, o Mistério da Redenção [xiii]» [xiv].

Os Padres da tradição oriental chamam à Mãe de Deus «a Toda Santa», «celebram-na como “imune de toda a mancha de pecado, visto que o próprio Espírito Santo a modelou e fez dela uma nova criatura” [xv].

Pela graça de Deus Maria manteve-se pura de todo o pecado pessoal ao longo de toda a vida» [xvi].

Maria foi redimida desde a sua concepção: «é o que professa o dogma da Imaculada Conceição, proclamado em 1854 pelo Papa Pio IX: “…por uma graça e favor singular de Deus omnipotente e em previsão dos méritos de Jesus Cristo Salvador do género humano, a bem-aventurada Virgem Maria foi preservada intacta de toda a mancha do pecado original no primeiro instante da sua Conceição” [xvii]» [xviii].

A Imaculada Conceição manifesta o amor gratuito de Deus, pois foi iniciativa divina e não mérito de Maria, mas de Cristo.
Com efeito, «este resplendor de uma “santidade de todo singular” com que foi “enriquecida desde o primeiro instante da sua Conceição” [xix], vem-lhe totalmente de Cristo: foi “redimida da maneira mais sublime em atenção aos méritos do seu Filho” [xx]» [xxi].
Santa Maria é Mãe de Deus: «com efeito, Aquele que Ela concebeu como homem por obra do Espírito Santo, e que se tornou verdadeiramente seu Filho segundo a carne, não é outro senão o Filho eterno do Pai, a segunda pessoa da Santíssima Trindade.

A Igreja confessa que Maria é verdadeiramente Mãe de Deus [xxii]» [xxiii].

Certamente não gerou a divindade, mas o corpo humano do Verbo, a que se uniu imediatamente a sua alma racional, criada por Deus como todas as outras, dando assim origem à natureza humana que nesse mesmo instante foi assumida pelo Verbo.

Maria foi sempre Virgem. Desde muito cedo, a Igreja confessa no Credo e celebra na sua liturgia «Maria como a (…) “sempre-virgem” [xxiv]» [xxv].

Esta fé da Igreja reflecte-se na antiquíssima fórmula: «Virgem antes do parto, no parto e depois do parto».

Desde as primeiras formulações da fé, «a Igreja confessou que Jesus foi concebido unicamente pelo poder do Espírito Santo no seio da Virgem Maria, afirmando igualmente o aspecto corporal desse acontecimento: Jesus foi concebido “absque semine ex Spiritu Sancto[xxvi], isto é, por obra do Espírito Santo, sem sémen [de homem]» [xxvii].

Maria foi também virgem no parto, pois «deu-o à luz sem detrimento da sua virgindade, como sem perder a sua virgindade tinha concebido (…); Jesus Cristo nasceu de um seio virginal com um nascimento admirável» [xxviii].

Com efeito, «o nascimento de Cristo “longe de diminuir, antes consagrou a integridade virginal” da Sua mãe [xxix]» [xxx].

Maria permaneceu perpetuamente virgem depois do parto.
Os Padres da Igreja, nas explicações dos Evangelhos e nas respostas às diversas objecções, afirmaram sempre esta realidade, que manifesta a sua total disponibilidade e a entrega absoluta ao desígnio salvífico de Deus.
São Basílio resumia-o quando escreveu que «os que amam Cristo não admitem escutar que a Mãe de Deus tivesse deixado de ser virgem nalgum momento» [xxxi].

Maria foi elevada ao Céu.

«A Virgem Imaculada, preservada imune de toda a mancha da culpa original, terminado o curso da vida terrena, foi elevada ao céu em corpo e alma e exaltada pelo Senhor como Rainha, para assim se conformar mais plenamente com o seu Filho, Senhor de senhores e vencedor do pecado e da morte» [xxxii].

A Assunção da Santíssima Virgem é uma singular participação na ressurreição do seu Filho e uma antecipação da ressurreição dos outros cristãos [xxxiii].

A realeza de Maria fundamenta-se na sua maternidade divina e na sua associação à obra da Redenção [xxxiv].

Em 1 de Novembro de 1954, Pio XII instituiu a festa de Santa Maria Rainha [xxxv].

(cont)

José Antonio Riestra

Notas





[i] Hb 10, 5; Gl 4, 4
[ii] Fl 2, 7
[iii] Lc 1, 35; Mt 1, 20
[iv] Santo Agostinho, De Trinitate, 2, 5, 9; cf. Concílio Lateranense IV: DS 801.
[v] cf. Catecismo, 258
[vi] João Paulo II, Enc. Redemptoris Mater, 25-III-1987, 8; cf. Pio IX, Bula Ineffabilis Deus ; Pio XII, Bula Munificentissimus Deus, AAS 42 (1950) 9768; Paulo VI, Ex. Ap. Marialis Cultus, 25; CIC, 488.
[vii] LG 56; cf. 61
[viii] Catecismo, 488).
[ix] LG 56
[x] Catecismo, 490
[xi] Lc 1, 28
[xii] cf. Catecismo, 490
[xiii] cf. LG 56
[xiv] Catecismo, 494
[xv] LG 56
[xvi] Catecismo, 493
[xvii] DS 2803
[xviii] Catecismo, 491
[xix] LG 56
[xx] LG 53
[xxi] Catecismo, 492
[xxii] cf. DS 252
[xxiii] Catecismo, 495
[xxiv] cf. LG 52
[xxv] Catecismo, 499; cf. Catecismo, 496-507
[xxvi] cc. Latrão, ano 649; DS 503
[xxvii] Catecismo, 496
[xxviii] São Leão Magno, Ep. Lectis Dilectionis tuae, DS 291-294.
[xxix] LG 57
[xxx] Catecismo, 499
[xxxi] São Basílio, In Christi Generationem, 5.
[xxxii] Concílio Vaticano II, Const. Lumen Gentium, 59; cf. a proclamação do dogma da Assunção da Bem-aventurada Virgem Maria pelo Papa Pio XII em 1950: DS 3903.
[xxxiii] cf. Catecismo, 966
[xxxiv] Cf. Pio XII, Enc. Ad Coeli Reginam, 11-X-1954: AAS 46 (1954) 625-640.
[xxxv] Cf. AAS 46 (1954) 662-666.

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