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13/02/2018

Leitura espiritual

RESUMOS DA FÉ CRISTÃ

TEMA 6 A Criação

2. A realidade criada

2.3. O homem

A pessoa humana goza de peculiar posição na obra criadora de Deus, ao participar, ao mesmo tempo, da realidade material e espiritual.
A Escritura só nos diz que Deus o criou «à Sua imagem e semelhança» [i].
Foi posto por Deus à cabeça da realidade visível e goza de uma dignidade especial, pois «de todas as criaturas visíveis, só o homem é capaz de conhecer e amar o seu Criador; é a única criatura sobre a terra que Deus quis por si mesma; só ele é chamado a partilhar, pelo conhecimento e pelo amor, a vida de Deus.
Com este fim foi criado e tal é a razão fundamental da sua dignidade» [ii].

Homem e mulher, na sua diversidade e complementaridade, queridas por Deus, gozam da mesma dignidade de pessoas [iii].
Em ambos, se dá a união substancial de corpo e alma, sendo esta a forma do corpo. Por ser espiritual, a alma humana é criada de modo imediato por Deus – e não “produzida” pelos pais, nem sequer é preexistente – e é imortal [iv].

Os dois pontos, espiritualidade e imortalidade, podem ser demonstrados filosoficamente.
Portanto, é um reducionismo afirmar que o homem procede exclusivamente da evolução biológica (evolucionismo absoluto).
Na realidade, há saltos ontológicos que não podem explicar-se apenas com a evolução.
A consciência moral e a liberdade do homem, por exemplo, manifestam a sua superioridade sobre o mundo material e são a amostra da sua especial dignidade.
A verdade da criação ajuda a superar quer a negação da liberdade – determinismo – quer o extremo contrário de uma exaltação indevida da mesma: a liberdade humana é criada, não absoluta e existe na mútua dependência com a verdade e o bem.

O sonho de uma liberdade como puro poder e arbitrariedade corresponde a uma imagem deformada, não só do homem, mas, também, de Deus.

Mediante a sua actividade e o seu trabalho, o homem participa do poder criador de Deus [v].

Além disso, a sua inteligência e vontade são uma participação, uma chispa, da sabedoria e amor divinos.
Enquanto o resto do mundo visível é um mero vestígio da Trindade, o ser humano constitui uma autêntica imagem, imago Trinitatis.

3. Algumas consequências práticas da verdade sobre a criação

A radicalidade da acção criadora e salvadora de Deus exige do homem uma resposta que tenha esse mesmo carácter de totalidade: “amarás o Senhor teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças” [vi].

É nesta correspondência que se encontra a verdadeira felicidade, o único que preenche plenamente a sua liberdade.
Ao mesmo tempo, a universalidade da acção divina tem um sentido intensivo e extensivo: Deus cria e salva todo o homem e todos os homens.

Corresponder à chamada de Deus, a amá-Lo com todo o nosso ser está intrinsecamente unido a levar o Seu amor a todo o mundo [vii].

O conhecimento e admiração do poder, sabedoria e amor divinos conduz o homem a uma atitude de reverência, adoração e humildade, a viver na presença de Deus sabendo-se filho seu.
Ao mesmo tempo, a fé na providência leva o cristão a uma atitude de confiança filial em Deus em todas as circunstâncias: com agradecimento diante dos bens recebidos e com simples abandono frente ao que possa parecer mau, pois Deus retira dos males bens maiores.

Consciente de que tudo foi criado para a glória de Deus, o cristão procura conduzir-se em todas as suas acções procurando o fim verdadeiro que enche a sua vida de felicidade: a glória de Deus, não a própria vanglória.

Esforça-se por rectificar a intenção nas suas acções, de modo que possa dizer-se que o único fim da sua vida é este:
Deo omnis gloria! [viii]

Deus quis pôr o homem à frente da Sua criação outorgando-lhe o domínio sobre o mundo, de maneira que a aperfeiçoe com o seu trabalho.
A actividade humana pode ser, portanto, considerada como uma participação na obra criadora divina.
A grandeza e beleza das criaturas suscita nas pessoas admiração e desperta nelas a questão sobre a origem e o destino do mundo e do homem, fazendo-se entrever a realidade do seu Criador.
O cristão, no seu diálogo com os não crentes, pode suscitar estas questões para que as inteligências e os corações se abram à luz do Criador.
Da mesma forma, no seu diálogo com os crentes das diversas religiões, o cristão encontra na verdade da criação um excelente ponto de partida, pois trata-se de uma verdade em parte partilhada e que constitui a base para a afirmação de alguns valores morais fundamentais da pessoa.

Santiago Sanz

Bibliografia básica:
Catecismo da Igreja Católica, 279-374. Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, 51-72. DS, n. 125, 150, 800, 806, 1333, 3000-3007, 3021-3026, 4319, 4336, 4341. Concílio Vaticano II, Gaudium et Spes, 10-18, 19-21, 36-39. João Paulo II, Creo en Dios Padre. Catequesis sobre el Credo (I), Palabra, Madrid 1996, 181-218. Leituras recomendadas Santo Agostinho, Confissões, livro XII. São Tomás de Aquino, Summa Theologiae, I, qq. 44-46. São Josemaria, Homilia «Amar o mundo apaixonadamente» em Temas Actuais do Cristianismo, 113-123. Joseph Ratzinger, Creación y pecado, Eunsa, Pamplona 1992. João Paulo II, Memória e Identidade, Bertrand Editora, Lisboa 2005.
Notas:




[i] Gn 1, 26
[ii] Catecismo, 356; cf. ibidem, 17011703
[iii] cf. Catecismo, 357, 369, 372
[iv] cf. Catecismo, 366
[v] cf. São Josemaria, Amigos de Deus, 57.
[vi] Dt 6, 5; cf. Mt 22, 37; Mc 12, 30; Lc 10, 27).
[vii] Que o apostolado é superabundância da vida interior (cf. São Josemaria, Caminho, 961), manifesta-se como a correlação da dinâmica ad intra – ad extra do actuar divino, quer dizer, da intensidade do ser, da sabedoria e do amor trinitário que transborda para as suas criaturas.
[viii] cf. São Josemaria, Caminho, 780; Sulco, 647; Forja, 611, 639, 1051

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