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03/02/2018

Leitura espiritual

RESUMOS DA FÉ CRISTÃ


TEMA 2. A revelação

3. A Revelação como história da salvação culminada em Cristo

Como diálogo entre Deus e os homens, através do qual Ele os convida a participar na sua vida pessoal, a Revelação manifesta-se, desde o início, com um carácter de “aliança” que dá origem a uma “história da salvação”.
«Decidindo abrir o caminho da salvação sobrenatural, manifestou-se a Si mesmo, desde o princípio, aos nossos primeiros pais.
Depois da sua queda, com a promessa de redenção, deu-lhes a esperança da salvação, e cuidou continuamente do género humano, para dar a vida eterna a todos aqueles que, perseverando na prática das boas obras, procuram a salvação.
No devido tempo chamou Abraão, para fazer dele pai dum grande povo, povo que, depois dos patriarcas, ele instruiu, por meio de Moisés e dos profetas, para que o reconhecessem como único Deus vivo e verdadeiro, pai providente e juiz justo, e para que esperassem o Salvador prometido; assim preparou Deus através dos tempos o caminho ao Evangelho» [i].

Iniciada já com a criação dos nossos primeiros pais e a elevação à vida da graça, que lhes permitia participar da intimidade divina e depois prefigurada no pacto cósmico com Noé, a aliança de Deus com o homem revela-se de modo explícito com Abraão e depois, de maneira particular, com Moisés, a quem Deus entrega as Tábuas da Aliança.
Quer a numerosa descendência prometida a Abraão, na qual seriam abençoadas todas as nações da terra, quer a lei entregue a Moisés, com os sacrifícios e o sacerdócio que acompanham o culto divino, são preparações e figura da nova e eterna aliança selada em Jesus Cristo, Filho de Deus, realizada e revelada na Sua Encarnação e no Seu sacrifício pascal.

A aliança em Cristo redime do pecado dos primeiros pais, que quebraram com a sua desobediência a primeira oferta de aliança por parte de Deus criador.
A história da salvação manifesta-se como uma grandiosa pedagogia divina que aponta para Cristo.
Os profetas, cuja função era recordar a aliança e as suas exigências morais, falam especialmente d’Ele, o Messias prometido.
Eles anunciam a economia de uma nova aliança, espiritual e eterna, escrita nos corações; será Cristo quem a revelará com as Bem-aventuranças e os ensinamentos do Evangelho, promulgando o mandamento da caridade, realização e cumprimento de toda a Lei.

Jesus Cristo é, simultaneamente, mediador e plenitude da Revelação; Ele é o Revelador, a Revelação e o conteúdo da mesma, enquanto Verbo de Deus feito carne:
«Deus, tendo falado outrora muitas vezes e de muitos modos aos nossos pais pelos profetas, nestes dias que são os últimos, falou-nos por meio de Seu Filho, a Quem constituiu herdeiro de tudo, por Quem criou o mundo» [ii].

Deus, no Seu Verbo, disse tudo e de modo concludente:
«A economia cristã, portanto, como aliança nova e definitiva, nunca cessará e não há que esperar já nenhuma revelação pública antes da gloriosa manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo» [iii], [iv].

De modo particular, a realização e plenitude da Revelação divina manifestam-se no mistério pascal de Jesus Cristo, ou seja, na Sua paixão, morte e ressurreição, como Palavra definitiva na qual Deus manifestou a totalidade do Seu amor de condescendência e renovou o mundo.
Somente em Jesus Cristo, Deus revela o homem a si próprio e fá-lo compreender o grau da sua dignidade e altíssima vocação [v].

A fé enquanto virtude é a resposta do homem à revelação divina, uma adesão pessoal a Deus em Cristo, motivada pelas Suas palavras e pelas obras que Ele realiza.

A credibilidade da revelação apoia-se sobretudo na credibilidade da pessoa de Jesus Cristo, em toda a Sua vida.

A Sua posição de mediador, plenitude e fundamento da credibilidade da Revelação, diferenciam a pessoa de Jesus Cristo de qualquer outro fundador de uma religião que não solicita dos seus seguidores que tenham fé nele, nem pretende ser a plenitude e realização do que Deus quer revelar, mas que somente se propõe como mediador para fazer com que os homens conheçam tal revelação.

4. A transmissão da Revelação divina

A Revelação divina está contida nas Sagradas Escrituras e na Tradição, que constituem um único depósito onde se guarda a palavra de Deus [vi].

São interdependentes entre si:
a Tradição transmite e interpreta a Escritura e esta, por sua vez, verifica e confirma quanto se vive na Tradição [vii], [viii].

A Tradição, fundada na pregação apostólica, testemunha e transmite de modo vivo e dinâmico quanto a Escritura recolheu através de um texto fixado.

«Esta Tradição apostólica progride na Igreja sob a assistência do Espírito Santo.

Com efeito, progride a percepção tanto das coisas como das palavras transmitidas, quer mercê da contemplação e estudo dos crentes, que as meditam no seu coração, quer mercê da íntima inteligência que experimentam das coisas espirituais, quer mercê da pregação daqueles que, com a sucessão do episcopado, receberam o carisma da verdade» [ix].

Os ensinamentos do Magistério da Igreja e dos Padres da Igreja, a oração da Liturgia, o sentir comum dos fiéis que vivem em graça de Deus, e também realidades quotidianas como a educação na fé transmitida pelos pais aos filhos ou o apostolado cristão, contribuem para a transmissão da Revelação divina.

De facto, o que foi recebido pelos apóstolos e transmitido aos seus sucessores, os Bispos, compreende «tudo o necessário para que o Povo de Deus viva santamente e aumente a sua fé e desta forma a Igreja, na sua doutrina, na sua vida e no seu culto perpetue e transmite a todas as gerações tudo o que ela é, tudo o que crê» [x].

A grande Tradição apostólica deve distinguir-se das diversas tradições, teológicas, litúrgicas, disciplinares, etc. cujo valor pode ser limitado e, inclusive, provisório, [xi].

A realidade conjunta da Revelação divina, como verdade e como vida, implica que o objecto da transmissão não seja somente um ensinamento, mas também um estilo de vida: doutrina e exemplo são inseparáveis.
O que se transmite é, efectivamente, uma experiência viva, a do encontro com Cristo ressuscitado e o que este evento significou e continua a significar para a vida de cada um.

Por este motivo, ao falar da transmissão da Revelação, a Igreja fala de fides et mores, fé e costumes, doutrina e conduta.


José Manuel Martín (Ed), Gabinete de informação do Opus Dei, 2016





[i] Concílio Vaticano II, Const. Dei Verbum, 3.
[ii] Hb 1,1-2
[iii] Concílio Vaticano II, Const. Dei Verbum, 4.
[iv] cf. Catecismo, 65-66
[v] Cf. Concílio Vaticano II, Const. Gaudium et Spes, 22.
[vi] «Permiti-me esta insistência maçadora, as verdades de fé e de moral não se determinam por maioria de votos: compõem o depósito – depositum fidei – entregue por Cristo a todos os fiéis e confiado, na sua exposição e ensino autorizado, ao Magistério da Igreja», São Josemaria, Homilia “O fim sobrenatural da Igreja”, em Amar a Igreja, 15.
[vii] Cf. Concílio Vaticano II , Const. Dei Verbum, 9.
[viii] cf. Catecismo, 80-82
[ix] Concílio Vaticano II, Const. Dei Verbum, 8.
[x] Ibidem. Cf. Concílio de Trento, Decr. Sacrosancta, 8-IV-1546, DS 1501.
[xi] cf. Catecismo, 83

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