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07/01/2018

Tratado da vida de Cristo 186

Os sacramentos em geral 

Questão 60: Dos Sacramentos


Na primeira questão discutem-se oito artigos:

Art. 1 — Se o sacramento é genericamente um sinal.
Art. 2 — Se todo sinal de uma coisa sagrada é sacramento.
Art. 3 — Se o sacramento não é sinal senão de uma só coisa.
Art. 4 — Se um sacramento é sempre uma realidade sensível.
Art. 5 — Se os sacramentos implicam coisas determinadas.
Art. 6 — Se para significar os sacramentos são necessárias palavras.
Art. 7 — Se os sacramentos exigem palavras determinadas.
Art. 8 — Se é lícito fazer algum acréscimo às palavras nas quais consiste a forma dos sacramentos.

Art. 1 — Se o sacramento é genericamente um sinal.

O primeiro discute-se assim. — Parece que o sacramento não é genericamente um sinal.

1. Pois a palavra sacramento vem de sacrar, como medicamento de medicar. Ora, essa noção implica antes a ideia de causa que a de sinal. Logo, o sacramento é genericamente antes uma causa que um sinal.

2. Demais. — Sacramento significa alguma coisa de oculto, segundo a Escritura: É bom conservar escondido o sacramento do rei. E o Apóstolo diz: Qual seja a comunicação do sacramento escondido desde os séculos em Deus. Ora, o escondido é contrário à ideia de sinal, pois, como diz Agostinho, sinal é aquilo que sugere ao nosso pensamento uma realidade diferente da apreendida pelos sentidos. Logo, parece que o sacramento não é genericamente um sinal.

3. Demais. — Às vezes o juramento é chamado sacramento. Assim, diz um Decretal: As crianças, ainda sem o uso da razão, não sejam compelidas a jurar; e a que uma vez tiver perguntado, nem seja depois disso testemunha, nem se achegue ao sacramento, isto é, ao juramen­to. Ora, o juramento não inclui nenhuma ideia de sinal. Logo, parece que o sacramento não é genericamente um sinal.

Mas, em contrário, Agostinho diz: O sacrifício visível é o sacramento, isto é, o sinal sacro do sacrifício invisível.

Todas as coisas ordenadas a uma terceira, embora de modos diversos, podem receber dessa a sua denominação. Assim, da sua saúde tira o apelativo de são não somente o animal, sujeito da saúde, mas também — a medicina, sã enquanto efectiva da saúde; a dieta, enquanto conservadora dela, e a urina, enquanto significativa da mesma. Do mesmo modo, podemos chamar sacramento ao que tem em si uma santidade oculta, e então sacramento é o mesmo que segredo sacro; ou ao que se ordena de certo modo a essa santidade como causa, ou o sinal ou segundo outra relação qualquer. E neste sentido o sacramento é considerado genericamente como um sinal.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — A medicina comporta-se como causa eficiente da saúde; donde vem que tudo o que dela tira a sua denominação implica dependência de um agente primeiro; e por isso o medicamento supõe de certo modo uma causalidade. Mas a santidade, onde haure o sacramento o seu apelativo, não implica um sentido de causa eficiente, mas antes, o de causa formal ou final. Donde, não é necessário que o sacramento suponha sempre a causalidade.

RESPOSTA À SEGUNDA. — A objecção colhe, sendo sacramento o mesmo que sacro segredo. Assim, chamamos secreto não só o que é de Deus, mas também dizemos que é sacro e sacramento o que respeita a um rei. Porque os antigos denominavam santo ou sacramento tudo o que não era lícito violar; tais os muros da cidade e as pessoas constituídas em dignidade. Por isso aqueles segredos, divinos ou humanos, que a ninguém é lícito violar, publicando-os, chamam-se sacros ou sacramentos.

RESPOSTAS À TERCEIRA. — Também o juramento tem de certo modo relação com as coisas sagradas, enquanto é uma espécie de contestação feita mediante algo de sagrado. Por isso dizemos que o juramento é um sacramento não no mesmo sentido em que agora nos referimos aos sacramentos. Pois, não é a denominação de sacramento tomada equivocamente, mas em sentido analógico, isto é, segundo a diversidade de relação com um termo determinado, isto é, a causa sagrada.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


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