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27/01/2018

Leitura espiritual

CAPÍTULO V

O SUBLIME CONHECIMENTO DE CRISTO


1.       O encontro pessoal com Cristo.

…/2

E eis como, de um encontro pessoal, nascem de repente outros encontros pessoais; e quem conheceu Jesus dá-O a conhecer aos outros.
Eis, em suma, como se transmite a boa nova.
Um daqueles dois novos discípulos era João e o outro era André, André foi logo dizer a seu irmão Simão:
«’Encontrámos O Messias’ e levou-o a Jesus. E Jesus, fixando mele o olhar disse-lhe: ‘Tu és Simão, filho de João; serás chamado Cefas, que quer dizer Pedra’» [i].
Foi deste modo que nasceu para a fé o próprio chefe dois Apóstolos: através do testemunho de alguém.
No dia seguinte sucede o mesmo.
Jesus diz a Filipe: Segue-me!
Filipe encontrou Natanael e diz-lhe: «Encontrei Jesus, Aquele de quem falou Moisés» e, às objecções de Natanael, responde Filipe repetindo as palavras de Jesus:
«Vem ver» [ii].

O cristianismo – como já muitas vezes foi dito e com razão – não é primordialmente uma doutrina, mas sim uma Pessoa, Jesus Cristo; consequentemente, o anúncio desta Pessoa e a relação com Ela é a coisa mais importante, o começo de toda a verdadeira evangelização e apropria condição da sua possibilidade.
Inverter esta ordem e colocar as doutrinas e os preceitos do Evangelho antes da descoberta de Jesus, seria como colocar num comboio, aas carruagens na frente da locomotiva que as deve puxar.
A pessoa de Jesus é Quem desbrava o caminho do coração para a aceitação de todo o resto.
Quem tomou conhecimento uma vez com Jesus vivo, já não tem necessidade de ser puxado; é Ele mesmo que arde de desejo de conhecer o Seu pensamento, a Sua vontade, a Sua Palavra.
Não é pela autoridade da Igreja que se aceita Jesus, mas é pela autoridade de Jesus que se aceita e se ama a Igreja.
A primeira coisa então que a Igreja deve fazer não é apresentar-se a si mesma aos homens, mas sim, apresentar Jesus Cristo.

A este respeito, existe um sério problema pastoral.
Tem-se vindo a verificar, proveniente dos mais variados quadrantes, o preocupante êxodo de numerosos fieis católicos para outras confissões cristãs, geralmente protestantes.
Se se quiser examinar mais de perto este fenómeno, nota-se que, em geral, esses fieis são atraídos por uma pregação mais simples e imediata, a qual faz o seu aliciamento sobre a aceitação de Jesus como Senhor e Salvador das suas vidas.
Normalmente não se trata das maiores denominações protestantes, mas sim de pequenas Igrejas de renovação e outras vezes também de grupos ou seitas que fazem o seu aliciamento com “a segunda conversão”.
O fascínio da desta pregação sobre as pessoas é notável, e não se pode dizer que se trata de um fascínio superficial e efémero, porque muitas vezes muda mesmo a vida das pessoas.

As Igrejas que possuem grande tradição dogmática e teológica e um grande aparato legislativo encontram-se por vezes em situação desvantajosa devido à sua própria riqueza e complexidade de doutrina, quando têm que enfrentar uma sociedade que, em grande parte, perdeu a própria fé cristã e que necessita, por isso, de recomeçar de novo, isto é, pela redescoberta de Jesus Cristo.
É como se faltasse ainda um instrumento adequado para esta nova situação, que se está a passar em diversos países cristãos.
Pelo nosso passado estamos mais preparados para sermos pastores do que para sermos pescadores de homens, estamos mais preparados para apascentar as pessoas que permaneceram fieis à Igreja, do que trazer para o rebanho mais pessoas ou de “repescar” as que se afastaram.
Isto de monstra a necessidade urgente que temos de uma evangelização que, embora sendo católica, isto é, aberta a toda a plenitude da verdade e da vida cristã, deve também ser simples e essencial; isso obtém-se fazendo de Jesus Cristo o ponto inicial e fulcral de todas as coisas, o pondo do qual sempre se parte e para o qual se regressa sempre.

Esta insistência de um encontro pessoal com Jesus Cristo, não é um sinal de subjectivismo ou de sentimentalismo, mas sim a tradução, no plano espiritual e pastoral, de um dogma central da nossa fé:
Que Jesus Cristo «é uma pessoa».
Nesta meditação gostaria de demonstrar como é que o dogma que proclama Cristo «ume Pessoa» não é só um enunciado metafisico que já não interessa a ninguém, ou então que interessa só a alguns teólogos, mas que, pelo contrário, é o próprio fundamento do anúncio cristão e o segredo da sua força.
DE facto, o único modo para se conhecer uma pessoa é o de entrer numa relação viva com ela.

A Igreja, nos Concílios, resumiu o essencial da sua fé em Jesus Cristo em três afirmações:
Jesus Cristo é verdadeiro homem;
Jesus Cristo é verdadeiro Deus;
Jesus Cristo é uma só Pessoa.
Trata-se de uma espécie de triângulo dogmático, em que a humanidade e a divindade representam os dois lados e em que a unidade da pessoa representa o vértice.
O que é também verdade historicamente.
Primeiro, na luta contra a heresia gnóstica foi assegurada a humanidade de Cristo.
Mais tarde, no séc. IV, na luta contra o arianismo, foi assegurada a Sua divindade.
Finalmente, no séc. V, foi assegurada a unidade da Sua pessoa.


(cont)
rainiero cantalamessa, Pregador da Casa Pontifícia.





[i] Jo 1,42
[ii] Cfr. Jo 1,46

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