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26/01/2018

Leitura espiritual

CAPÍTULO IV

«ELE É O VERDADEIRO DEUS E A VIDA ETERNA»            

Divindade de Cristo e anúncio da eternidade

3. Passar do dogma para a vida

5. Nostalgia da eternidade!

…/2

A presença da eternidade na Igreja e em cada um de nós, à maneira de primícias, tem um nome próprio: chama-se Espírito Santo.
O Espírito Santo é definido como «o penhor da nossa esperança» [i], e foi-nos dado a fim de que, tendo nós recebido as primícias, desejemos ardentemente a plenitude.
«Cristo – escreve Stº Agostinho – deu-nos o sinal do Espírito Santo com o qual Ele, que não nos poderia enganar, nos quis tornar seguros do cumprimento da Sua promessa, promessa que Ele certamente manteria sem esse mesmo sinal.
E que prometeu Ele?
Prometeu a vida eterna, da qual é sinal o Espírito eu Ele nos deu.
Avida eterna é possuída por aqueles que já chegaram à Sua morada; o Seu sinal é o lenitivo para aqueles que se encontram ainda em viajem.
É mais exacto dizer sinal do que penhor; os dois termos parecem semelhantes, mas existe entre eles uma diferença de significado: tanto com o penhor como com o sinal dá-se uma garantia de que se dá aquilo que se prometeu; mas, enquanto que o penhor volta a ser restituído quando se acaba de cumprir aquilo para o que havia sido recebido, o sinal, pelo contrário, não volta a ser restituído, mas sim acrescentado com o restante que é devido» [ii].
É pelo Espírito Santo que nós gememos interiormente, na esperança de entrarmos na glória dos filhos de Deus [iii].
Ele, que é «um Espírito eterno» [iv] é capaz de atear em nós a verdadeira nostalgia da eternidade e fazer novamente da palavra “eternidade” uma palavra viva e palpitante que suscite alegria e não temor.

O Espírito atrai para as alturas.
Ele é a Ruah Jahvé, o sopro de Deus.
Recentemente, foi inventado um método para trazer à superfície os barcos ou os objectos que jazem no fundo dos mares.
Consiste em insuflá-los mediante câmaras de ar especiais, de modo a puxá-los do fundo tornando-os mais leves que a água,
Nós, homens de hoje, somos como esses objectos caídos no fundo do mar.
Estamos “afundados” na temporalidade e na mundanidade.
Estamos “secularizados”.
O Espírito Santo foi derramado na Igreja com uma finalidade semelhante: para nos arrancar do fundo e para nos levantar até fazer-nos contemplar o céu e exclamar, cheios de gloriosa esperança:
“eternidade, eternidade!”


CAPÍTULO V

O SUBLIME CONHECIMENTO DE CRISTO
A finalidade destas reflexões sobre a Pessoa de Jesus Cristo – como já se disse no começo – é preparar o terreno para uma nova vaga de evangelização, agora que estamos a completara o segundo milénio da vinda de Cristo à Terra.
Mas qual é a finalidade principal de toda a evangelização e de toda a catequese?
Será, porventura, a de ensinar aos homens um certo número de verdades eternas, ou de transmitir à geração vindoura os valores cristãos?
Não; a finalidade principal da evangelização é levar  Seus “discípulos” homens a encontrarem-se pessoalmente com Jesus Cristo, único salvador, fazendo-os Seus “discípulos”.
O grande mandato de Cristo aos Apóstolos é este:

«Ide e ensinai todas as gentes» [v].

1.       O encontro pessoal com Cristo.

S. João, no início do seu evangelho, diz-nos como alguém se torna discípulo de Cristo, contando-nos a sua experiência e como ele próprio se tornou discípulo de Jesus.
Vale a pena reler este trecho, que é um dos primeiros e mais tocantes exemplares daquilo que hoje chamamos “dar testemunho” pessoal.
«No outro dia João estava lá novamente com dois dos seus discípulos, e, vendo Jesus que ia passando, disse: ‘Eis o Cordeiro de Deus!’
Ouvindo estas palavras, os dois discípulos seguiram Jesus.
Jesus voltando-Se e, vendo que O seguiam, disse-lhes: ‘Que procurais?’ Eles responderam-Lhe: ‘Rabi (que quer dizer Mestre) onde moras?’ Respondeu-lhes Jesus: ‘Vinde ver’.
Eles seguiram-no e viram onde morava; e ficaram com Ele aquele dia; eram então quase quatro horas da tarde» [vi].

Não há nada de abstracto e de escolástico neste modo de se tornar discípulo de Jesus.
É um encontro de pessoas; trata-se de estabelecer um conhecimento, uma amizade e uma familiaridade, destinadas a durar toda a vida, ou antes, toda a eternidade.
Jesus, olha para trás e, apercebendo-se de que é seguido para e pergunta:
«Que procurais?
Respondem-Lhe:
«Rabi, Mestre, onde é que moras?»
E, assim, quase sem se aperceberem, proclamam-no seu Mestre e decidiram que seriam Seus discípulos.
Jesus não lhes dá livros para estudar, ou preceitos para decorar, mas diz, simplesmente:
«Vinde ver».
Convida-os a fazer-Lhe companhia.
Eles seguiram-No e ficaram com Ele.


(cont)
rainiero cantalamessa, Pregador da Casa Pontifícia.





[i] Cfr. Ef. 1,14; 2Cro 5,5
[ii] Stº Agostinho, Sermo 378,1
[iii] Cfr. Rm 8,20-23
[iv] Hb 9,14
[v] Mt 28,19
[vi] Jo 1,35-39

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