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29/04/2017

Fátima: Centenário - Poemas

VIRGEM PRUDENTÍSSIMA


Mil louvores na terra e nas alturas
cantem à Mãe de Deus e nossa Mãe
as mais belas e santas criaturas,
pois só quis o que amava o Eterno Bem.

Tragou, prudente, o cálix de amarguras,
qual não soube jamais fazer ninguém,
e, ao prelibar edénicas venturas,
sublimada em prudência foi também.

No Egipto, em Nazaré, sobre o Calvário…
viram-na sempre abrir ao sol da Graça
a mente excelsa em que a razão domina.

Neste mundo sem norte, incerto e vário,
esta Virgem tão sábia assoma e passa,
só, sem exemplo, qual visão divina.

Visconde de Montelo, Paráfrase da Ladainha Lauretana, 1956 [i]



[i] Cónego Manuel Nunes Formigão
1883 - Manuel Nunes Formigão nasce em Tomar, a 1 de Janeiro. 1908 - É ordenado presbítero a 4 de Abril em Roma. 1909 - É laureado em Teologia e Direito Canónico pela Universidade Gregoriana de Roma. 1909 - No Santuário de Lourdes, compromete-se a divulgar a devoção mariana em Portugal. 1917 - Nossa Senhora aceita o seu compromisso e ele entrega-se à causa de Fátima. 1917 / 1919 - Interroga, acompanha e apoia com carinho os Pastorinhos. - Jacinta deixa-lhe uma mensagem de Nossa senhora, ao morrer. 1921 - Escreve o livro: "Os Episódios Maravilhosos de Fátima". 1922 - Integra a comissão do processo canónico de investigação às aparições. 1922 - Colabora e põe de pé o periódico "Voz de Fátima". 1924 - A sua experiência de servita de Nossa Senhora em Lurdes, leva-o a implementar idêntica actividade em Fátima. 1928 - Escreve a obra mais importante: "As Grandes Maravilhas de Fátima". 1928 - Assiste à primeira profissão religiosa da Irmã Lúcia, em Tuy. Ela comunica-lhe a devoção dos primeiros sábados e pede-lhe que a divulgue. 1930 - Escreve "Fátima, o Paraíso na Terra". 1931 - Escreve "A Pérola de Portugal". 1936 - Escreve " Fé e Pátria". 1937 - Funda a revista "Stella". 1940 - Funda o jornal "Mensageiro de Bragança". 1943 - Funda o Almanaque de Nossa Senhora de Fátima. 1954 – Muda-se para Fátima a pedido do bispo de Leiria-Fátima 1956 - Escreve sonetos compilados na "Ladainha Lauretana". 1958 – Morre em Fátima. 06/01/1926 - Funda a congregação das Religiosas Reparadoras de Nossa Senhora das Dores de Fátima. 11/04/1949 – A congregação por ele fundada é reconhecida por direito diocesano. 22/08/1949 – Primeiras profissões canónicas das Religiosas. 16/11/2000 - A Conferência Episcopal Portuguesa concede a anuência por unanimidade, para a introdução da causa de beatificação e canonização deste apóstolo de Fátima. 15/09/2001 - Festa de Nossa Senhora das Dores, padroeira da congregação - É oficialmente aberto o processo de canonização do padre Formigão. 16/04/2005 – É oficialmente encerrado e lacrado o processso de canonização do padre Formigão.
Fátima, 28 Jan 2017 (Ecclesia) – Decorreu hoje a cerimónia de trasladação dos restos mortais do padre Manuel Nunes Formigão, conhecido como 'o apóstolo de Fátima, do cemitério local para um mausoléu construído na Casa de Nossa Senhora das Dores.
A celebração de trasladação deste sacerdote e servo de Deus começou com uma concentração, rua Francisco Marto, 203, com centenas de pessoas, seguida de saída para o cemitério da Freguesia de Fátima.
Na eucaristia inserida neste evento, na Basílica da Santíssima Trindade, do Santuário de Fátima, D. António Marto destacou uma figura que "se rendeu ao mistério e à revelação do amor de Deus, da beleza da sua santidade tal como brilhou aos pastorinhos de Fátima".
O bispo de Leiria-Fátima recordou ainda o padre Manuel Formigão como alguém que "captou de uma maneira admirável para o seu tempo, a dimensão reparadora da vivência da fé tão sublinhada na mensagem de Fátima".

Nota de AMA:
Este livro de Sonetos foi por sua expressa vontade, depois da sua morte, devidamente autografado, entregue a meu Pai. Guardo o exemplar como autêntica relíquia.

Fátima: Centenário - Oração diária


Senhora de Fátima:

Neste ano do Centenário da tua vinda ao nosso País, cheios de confiança vimos pedir-te que continues a olhar com maternal cuidado por todos os portugueses.
No íntimo dos nossos corações instala-se alguma apreensão e incerteza em relação a este nosso País.

Sabes bem que nos referimos às diferenças de opinião que se transformam em desavenças, desunião e afastamento; aos casais desfeitos com todas as graves consequências; à falta de fé e de prática da fé; ao excessivo apego a coisas passageiras deixando de lado o essencial; aos respeitos humanos que se traduzem em indiferença e falta de coragem para arrepiar caminho; às doenças graves que se arrastam e causam tanto sofrimento.
Faz com que todos, sem excepção, nos comportemos como autênticos filhos teus e com a sinceridade, o espírito de compreensão e a humildade necessárias para, com respeito de uns pelos outros, sermos, de facto, unidos na Fé, santos e exemplo para o mundo.

Que nenhum de nós se perca para a salvação eterna.

Como Paulo VI, aqui mesmo em 1967, te repetimos:

Monstra te esse Matrem”, Mostra que és Mãe.

Isto te pedimos, invocando, uma vez mais, ao teu Dulcíssimo Coração, a tua protecção e amparo.


AMA, Fevereiro, 2017

O meu amigo Diogo Brito

O chamamento ao sacerdócio é verdadeiramente irresistível

1. Com uma vida profissional já estabelecida o que o levou a decidir ser padre?

Fiz com muita satisfação o meu curso de Direito e tive a possibilidade de exercer durante quase 10 anos a advocacia entre colegas e "chefes" de grande craveira, de quem aprendi muito e entre os quais fiz muitas amizades. O espírito do Opus Dei ajudou-me, ao longo de todo esse tempo (em que também promovi e participei, com não menos gosto e satisfação, em muitas atividades de voluntariado e de formação cristã, humana e cultural, com colegas de faculdade ou trabalho ou jovens de diversas idades), a procurar orientar o meu trabalho para a glória de Deus e o serviço da sociedade.

O ESPÍRITO DO OPUS DEI AJUDOU-ME (...) A PROCURAR ORIENTAR O MEU TRABALHO PARA A GLÓRIA DE DEUS E O SERVIÇO DA SOCIEDADE.

Sempre encarei, por isso, o meu trabalho de advogado como uma parte importante da minha resposta ao dom da fé cristã e ao grande dom da vocação de Numerário do Opus Dei (ambos esses dons devo-os também, em grande medida, ao exemplo e carinho dos meus Pais) No entanto, o chamamento a aceder agora ao sacerdócio, o qual tem uma beleza e grandeza incomparáveis (o sacerdote é, de uma forma muito especial, instrumento de Cristo para a salvação dos homens!), é verdadeiramente "irresistível" e como que torna fácil deixar para trás qualquer carreira profissional, por mais prometedora que seja.

O CHAMAMENTO AO SACERDÓCIO (...) É VERDADEIRAMENTE "IRRESISTÍVEL" E COMO QUE TORNA FÁCIL DEIXAR PARA TRÁS QUALQUER CARREIRA PROFISSIONAL, POR MAIS PROMETEDORA QUE SEJA.

Gostava ainda de referir que, desde muito novo, tive também a enorme "sorte" de conhecer e ser ajudado por vários sacerdotes que foram anteriormente engenheiros, advogados, professores, médicos, e que a certa altura da sua vida, ante um chamamento semelhante ao meu, "trocaram" a sua profissão pelo sacerdócio. Agradeço-lhes o seu exemplo, que me serve particularmente de apoio para esta minha decisão.

2. Para si quais são as prioridades que um padre deve ter?

Aprendi do fundador do Opus Dei que um padre deve, antes de mais, cuidar da sua própria vida espiritual: dedicar diariamente um tempo generoso a Deus, por meio da oração, dos sacramentos - a começar pela celebração devota da Santa Missa, mas sem esquecer a receção frequente, por ele mesmo, da Penitência -, do cuidado da sua própria formação cristã.

DESDE MUITO NOVO, TIVE TAMBÉM A ENORME "SORTE" DE SER AJUDADO POR VÁRIOS SACERDOTES QUE FORAM ENGENHEIROS, ADVOGADOS, PROFESSORES, MÉDICOS.

Um padre deve, também, estar unido de modo particular às intenções e indicações do seu Bispo e do Santo Padre, para assim actuar em todo o momento em comunhão e unidade com a Igreja e poder levar as pessoas a Cristo (e não a ele próprio).

Quem abraça o sacerdócio, deve estar disponível para o seu ministério as 24 horas do dia. É também importante que esteja a par do que acontece na sociedade, dos problemas e dos desafios de cada momento e de cada região, mas deverá sobretudo estar capacitado e disponível para acolher a todos, dialogar com todos. Penso que esta conhecida frase de João Paulo II diz tudo: "são necessários arautos do Evangelho peritos em humanidade, que conheçam a fundo o coração do homem de hoje, participem das suas alegrias e esperanças, angústias e tristezas, e ao mesmo tempo sejam contemplativos, enamorados de Deus".

Parece-me particularmente importante, também, que o sacerdote tenha consciência do protagonismo que cabe aos leigos na evangelização do mundo: a sua prioridade deveria ser, na minha convicção, a de ajudar os leigos a intensificar a sua vida cristã, para que a possam viver e testemunhar na família, entre os amigos e colegas de trabalho, nas mais diversas realidades da vida social.

APRENDI DO FUNDADOR DO OPUS DEI QUE UM PADRE DEVE, ANTES DE MAIS, CUIDAR DA SUA PRÓPRIA VIDA ESPIRITUAL

Salientaria, por último, o impulso do Papa Francisco para que a Igreja não fique fechada em si mesma, mas vá ao encontro de todos, onde quer que estejam, também no que ele tem designado de periferias (sociais, intelectuais ou religiosas: pessoas que não frequentam a Igreja, não pensam como cristãos, não acreditam em Deus).


3. Aos que pensam em entregar a sua vida a Deus o que lhes pode dizer?

Marcaram-me especialmente as palavras que ouvi ao Papa Bento XVI na inesquecível Jornada Mundial da Juventude de 2005, em Colónia: "Se pensamos e vivemos em virtude da comunhão com Cristo, então abrem-se os nossos olhos. Então deixaremos de nos adaptar a ir vivendo preocupados unicamente com nós próprios, mas veremos onde e como somos necessários. Vivendo e agindo assim bem depressa nos daremos conta de que é muito mais belo ser úteis e estar à disposição do próximo do que preocupar-se unicamente das comodidades que nos são oferecidas".

Estas palavras traduziam bem a minha experiência pessoal ao longo de 10 anos de entrega a Deus no Opus Dei e continuaram a inspirar-me desde então. Teria gosto em repeti-las, por isso, a quem pensa em entregar-se a Deus.

Recordar-lhes-ia ainda o momento inesquecível que vivi junto do Papa João Paulo II doente mas cheio de energia, num encontro com jovens em Madrid em 2003, em que nos disse o seguinte, com especial força: "o compromisso da nova evangelização (...) é uma tarefa de todos. (...) Eis a razão pela qual desejo dizer a cada um de vós, jovens: se sentis a chamada de Deus que vos diz: "Segue-me!" (Mc 2, 14; Lc 5, 27), não a sufoqueis. Sede generosos, respondei como Maria oferecendo a Deus o sim alegre das vossas pessoas e da vossa vida". E acrescentou, com bom humor mas enorme profundidade, o seguinte: "eu fui ordenado quando tinha 26 anos. Desde então passaram 56.Então, quantos anos tem o Papa? Quase 83! Um jovem de 83 anos. Quando olho para trás e recordo estes anos da minha vida, posso garantir-vos que vale a pena dedicar-se à causa de Cristo e, por amor d'Ele, consagrar-se ao serviço do homem. Vale a pena dar a vida pelo Evangelho e pelos irmãos!".

4. O que pode um padre fazer por aqueles que não acreditam em Deus?

A própria "existência" de alguém que, de forma pública, notória e permanente dedica o seu tempo, saúde, energias e posses a Deus e aos outros, renunciando a outras coisas boas e legítimas da vida (formar uma família, seguir uma carreira civil, gozar de prestígio social ou bem-estar económico, etc.) pode já ser, em si mesma, um grande motivo de reflexão para aqueles que, por razões muito diferentes, não experimentaram ainda a alegria do encontro com Deus.

O PADRE DEVE, ANTES DE MAIS E PRINCIPALMENTE, REZAR DIARIAMENTE (...) POR TODOS OS QUE NÃO CONHECEM, ESQUECERAM OU ABANDONARAM DEUS.

Além disso, o padre deve, antes de mais e principalmente, rezar diariamente - eu procuro fazê-lo - por todos os que não conhecem, esqueceram ou abandonaram Deus: só a graça de Deus actua no interior das almas; sem ela, toda a ação do sacerdote - ou de qualquer outro fiel cristão - seria apenas demonstração de preocupação, amizade ou "propaganda", incapaz de produzir no não crente uma genuína descoberta de Deus.

Diria, por último, que o padre há-de mostrar sempre uma grande capacidade de compreensão e tolerância, de acolhimento e diálogo, também com os não crentes; fazer um esforço por conhecer os seus problemas e dúvidas, ideias e atitudes para, a partir daí, e confiando na bondade de fundo e no desejo de verdade que estão presentes em todas as pessoas, bem como na real ajuda da graça (para ele próprio e para os não crentes), fazer propostas ou dar conselhos que tornem Cristo mais próximo dessas pessoas.

Deus tem uma vocação para todos e cada um. Todas as vocações na Igreja - laical, sacerdotal ou à vida consagrada - são igualmente belas e dignas.
Diogo Brito com um grupo de universitários do Porto
Diogo Brito com um grupo de universitários do Porto

5. Que mensagem tem para as pessoas que estão a ler esta entrevista?

Para além do que já fui tentando expressar antes, gostaria de acrescentar apenas que Deus tem uma vocação para todos e cada um. Todas as vocações na Igreja - laical (no matrimónio ou no celibato), sacerdotal ou à vida consagrada - são igualmente belas e dignas. Vale a pena ter a ousadia de se colocar à disposição de Deus, para O servir da forma que Ele pensou para cada um: aí está, penso, o caminho para a felicidade.

Evangelho e comentário

Tempo de Páscoa

Santa Catarina de Sena – Doutora da Igreja

Evangelho: Mt 11, 25-30

25 Então Jesus, falando novamente, disse: «Eu Te louvo ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e aos pru­den­tes, e as revelaste aos pequeninos. 26 Assim é, ó Pai, porque assim foi do Teu agrado. 27 «Todas as coisas Me foram entregues por Meu Pai; e ninguém conhece o Filho senão o Pai; nem ninguém conhece o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar .28 O «Vinde a Mim todos os que estais fatigados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. 29 Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para as vossas almas .30 Por­que o Meu jugo é suave, e o Meu fardo leve».

Comentário:

Acaso já pensámos que de facto somos esses "pequeninos" que o Senhor refere no Evangelho aos quais revela e mostra as verdades da fé, dando a conhecer o Pai?

E, chegando a esta conclusão, não é natural e lógico que nos enchamos de alegria e demos frequentes graças por tão grandes benefícios?

Aliás, a nossa vida inteira deveria ser uma constante acção de graças por tudo – absolutamente – tudo quanto temos e recebemos nos vem das mãos de Deus.

(ama, comentário sobre Mt 11, 25-30, Lisboa, 2015.11.02)


Leitura espiritual

A Cidade Deus
A CIDADE DE DEUS 


Vol. 2

LIVRO XII

CAPÍTULO XVI

…/2

Mas se isto eu responder, alguém me dirá: Como é então que os anjos não são coeternos ao Criador, se, como Ele, sempre existiram? Com o é que se podem mesmo chamar criados, se se consideram com o tendo existido sempre? Que responder a isto? Será que se deve dizer: Existiram sempre porque existiram desde todos os tempos, tendo sido feitos com o tempo ou tendo os tempos sido feitos com eles — e, contudo, foram criados? Porque não se pode negar que os próprios tempos foram criados e, todavia, ninguém duvida de que o tempo existiu desde todo o tempo. Efectivamente, se em todo o tempo não houve tempo, havia então tempo em que tempo nenhum havia. Quem seria tão tolo para dizer uma coisa destas? Realmente, podemos dizer com correcção: «houve tempo em que Roma não existia»; houve tempo em que não existia Jerusalém»; «houve tempo em que não existia Abraão»; «houve tempo em que não havia homens»; e por aí fora. Enfim, se não foi com o princípio do tempo, mas após um certo tempo que o Mundo foi feito, poder-se-á dizer: «havia um tempo em que o Mundo não existia». Mas dizer «havia um tempo quando nenhum tempo havia» é tão
absurdo como dizer «havia um homem quando nenhum homem havia» ou então «este Mundo existia quando este Mundo não existia». Se se trata de dois homens distintos poderemos dizer: «este existia quando esse outro não existia». Da mesma maneira poderemos dizer: «este tempo existia quando esse outro não existia»; mas será a mais rem atada tolice dizer: «havia um tempo quando nenhum tempo havia».

Se, portanto, falamos de um tempo criado, posto que tenha existido sempre porque existiu desde todo o tempo, — nem por isso podemos concluir que, se os anjos sempre existiram, não foram criados. Porque se eles existiram sempre é porque existiram desde todo o tempo; e se existiram desde todo o tempo, é porque sem eles não poderia haver tempo algum. Onde, na verdade, não houver criatura alguma, cujos movimentos sucessivos determinam o tempo, não poderá haver aí tempo. Assim, por mais que tenham existido, nem por isso são eternos como o Criador. Este sempre existiu num a imutável eternidade ao passo que eles foram feitos. Mas se se diz que eles existiram sempre é porque existiram «desde os tempos» — eles sem os quais nenhum tempo é possível; mas o tempo, porque flui em razão da sua mutabilidade, não pode ser coeterno à imutável eternidade. Por isso, embora a imortalidade dos anjos não flua no tempo e não seja passada como se já não existisse, nem futura como se ainda não existisse, — o seu movimento, pelo qual se origina o tempo, vai, todavia, passando do futuro para o passado. E é por isso que os anjos não podem ser coeternos ao Criador de quem se não pode afirmar que n’Ele há movimento com o se tivesse algum a coisa que foi mas que já não é, ou alguma coisa que será mas que ainda não é.

E por isso que, se Deus foi sempre Senhor, teve sempre alguma criatura submetida ao seu domínio. Esta criatura não foi por Ele gerada — foi por Ele feita a partir do nada. Ela não lhe é, portanto, coeterna. Porque Ele existia antes dela, embora nenhum tempo tenha existido sem ela, precedendo-a, não por uma duração fugitiva, mas por uma permanente eternidade. Mas se eu der esta resposta aos que perguntam: «como é possível que Deus seja sempre criador, sempre Senhor, se não houve sempre uma criatura que lhe esteve sempre submetida»; ou então: «como é possível que um ser tenha sido criado e não seja coeterno ao seu criador se sempre existiu», — receio dar a impressão mais de afirmar o que não sei do que de ensinar o que sei. Por isso, volto de novo ao que o nosso Criador quis que soubéssemos. Aquelas coisas que Ele permitiu que os mais sábios conhecessem nesta vida ou que reservou aos perfeitos para seu conhecimento na outra vida — confesso que estão acima das minhas forças. Julguei, contudo, que devia tratar delas sem lhes dar uma solução segura, para mostrar aos que as lêem que se devem abster de problemas perigosos, que, longe de se julgarem aptos para tudo aprender, compreendam antes a necessidade de se submeterem às prescrições salutares do Apóstolo quando diz:

Em virtude da graça que recebi, digo, pois, a todos os que estão entre vós que não procurem saber mais do que convém saber, mas saibam com moderação conforme a medida da fé que Deus deu em partilha a cada um.[i]

Se, na verdade, a uma criança se der alimento proporcionada às suas forças, faz-se com que se torne capaz de tom ar mais à medida em que for crescendo; mas se exceder a sua capacidade, ela perecerá antes de crescer.


CAPÍTULO XVII

Como compreender a promessa de vida eterna feita por Deus aos homens antes dos tempos eternos.

Que séculos decorreram antes de o género humano ter sido criado — confesso que o ignoro. Contudo, não tenho a menor dúvida de que nada de criado é coeterno ao Criador. O Apóstolo fala mesmo de tempos eternos, não dos que hão-de vir mas, o que é mais de admirar, dos passados. Diz assim:

Na esperança de uma vida eterna, que Deus, que não mente, tinha prometido antes dos tempos eternos; mas ao chegar o momento manifestou a sua palavra.[ii]

Ei-lo, pois, afirmando no passado tempos eternos que, todavia, não são coeternos a Deus. Efectivamente, Deus existia antes dos tempos eternos e, além disso, prometeu a vida eterna dada a conhecer a seu tempo quando foi conveniente. E que era essa promessa senão o seu Verbo? Este é, na verdade, a vida eterna. E com o prometeu Ele isso, tratando-se de uma promessa aos homens que ainda não existiam antes dos tempos eternos, senão porque na sua eternidade e no seu Verbo, com ele coeterno, já estava predestinado e fixado o que a seu tempo havia de acontecer?


CAPÍTULO XVIII

O que uma fé sadia ensina acerca da imutável decisão e vontade de Deus, contra os raciocínios dos que pretendem submeter as obras de Deus a retornos eternamente repetidos através dos mesmos ciclos eternos de séculos.

Também não tenho a menor dúvida de que, antes de o primeiro homem ter sido criado, jamais houve homem algum, nem este primeiro homem voltou não sei quantas vezes nem sei em que ciclos, nem existiu outro qualquer com uma natureza semelhante.

Acerca deste ponto a minha fé não foi abalada pelos argumentos dos filósofos. Destes argumentos o que é considerado com o mais subtil é este: nenhum a ciência pode abarcar o infinito. Por conseguinte, dizem eles, todas as razões que Deus tem em si mesmo, para a criação dos seres finitos, são finitas. Aliás, não se pode admitir que a sua bondade tenha estado vez alguma ociosa. A sua actividade não pode começar no tempo, após um a eterna abstenção, com o se se arrependesse do seu repouso anterior sem princípio e que, em consequência disso, se decidisse a entregar-se à obra. E, pois, necessário, prosseguem eles,
que os mesmos seres voltem sempre e fluam, voltando sempre os mesmos, quer o Mundo se mantenha na sua mutabilidade, — sem, todavia, nunca ter deixado de ser, mas criado sem princípio temporal — , quer desapareça e renasça incessantemente por revoluções repetidas e destinadas a repetirem -se sem fim. Porque atribuir à obra de Deus um começo, equivale a crer que Deus de certo modo condenou a sua primitiva ociosidade eterna como inerte e preguiçosa e a si mesmo mui desagradável e que, por tal razão, mudou. Ao contrário, se se lhe atribui a criação sem fim das obras temporais, mas um a após outras, até chegar o dia da criação do homem que Ele nunca antes tinha feito — parecerá que agiu, não sob o efeito da ciência, incapaz, segundo eles, de abarcar o infinito, mas de improviso, como lhe vinha à mente, sob o impulso dum a inconstância fortuita. Mas, insistem eles, se se admitem estes ciclos que fazem repetir as mesmas coisas temporais, — quer num Mundo que permanece mutável, quer através de um incessante retorno cíclico de um Mundo que nasce e morre —, deixa-se de atribuir a Deus o ócio, principalmente duma duração tão prolongada que nem começo tem, e a temerária improvisação nas suas obras. Se não se dão retornos, não haverá em Deus ciência ou presciência capaz de abarcar todas as mudanças do Mundo na sua infinita variedade.

Se a nossa razão não pudesse refutá-las, deveria zombar a nossa fé destas objecções com que os ímpios procuram desviar do recto caminho a nossa piedosa simplicidade para rodopiarmos com eles nos seus ciclos. Mas são de sobejo, graças ao patrocínio do Senhor nosso Deus, as razões manifestadas para se quebrarem esses ciclos giratórios que a imaginação inventou. E no que mais erraram eles ao preferirem girar nos falsos ciclos a com prometerem -se no verdadeiro e recto caminho, foi nisto: medem pela sua inteligência humana, mutável e limitada, a inteligência divina absolutamente imutável, capaz de abarcar a infinidade e de enumerar os inúmeros seres sem mudar de pensamento. Acontece o que diz o Apóstolo:

Realmente, ao compararem-se a si próprios, a si próprios se não compreendem.[iii]

Para eles, de facto, todo o novo projecto que lhes vem à cabeça constitui um novo desígnio que executam (porque o seu espírito é mutável). Assim, não é a Deus (pois não o podem pensar) mas é a eles próprios que põem em lugar d’Ele nos seus pensamentos; e não é Deus, mas eles pró­prios, que eles comparam não a Deus, mas a si. A nós, não nos é lícito crer que seja afectado duma forma quando repousa e de outra forma quando opera. Nem sequer se pode dizer que Ele seja afectado como se surgisse na sua natureza algo de novo. Efectivamente, o que é afectado é passivo, e tudo o que é passivo é mutável. Nem se pense, pois, ao falar-se na inacção de Deus em preguiça, em inércia ou indolência — nem, ao falar-se da sua actividade, se pense em trabalho, esforço ou diligência. Deus sabe actuar repousando — e repousar actuando. A sua obra nova pode aplicar um plano que não é novo, mas eterno. Não é arrependendo-se dum a abstenção anterior que Ele começou a fazer o que nunca tinha feito. Se Ele primeiro se absteve e depois actuou (não sei como poderá um homem compreendê-lo), estas palavras primeiro e depois aplicam-se indubitavelmente aos seres que antes não existiam e existiram depois; mas n’Ele nenhum a vontade subsequente modificou ou suprimiu um a vontade precedente, mas com um a e mesma eterna e imutável vontade fez que na criação não existissem os seres que ainda não tinham existência e, depois, que existissem os que começaram a tê-la. Mostravam talvez assim, de uma maneira admirável, aos que são capazes de o compreender, que nenhuma necessidade tinha desses seres, mas criava-os por uma bondade gratuita pois que, enquanto permaneceu sem eles durante toda uma eternidade, nem por isso tinha sido menos feliz.


(cont)

(Revisão da versão portuguesa por ama)





[i] Rom., XII, 3.
[ii] Tito, I, 2-3.
[iii] II Corint., X, 12.

Amemos a direcção espiritual!

Abriste sinceramente o teu coração ao teu Director, falando na presença de Deus... E foi maravilhoso verificar como tu sozinho ias encontrando resposta adequada às tuas próprias tentativas de evasão. Amemos a direcção espiritual! (Sulco, 152)

Conhecem muito bem as obrigações do vosso caminho de cristãos, que os hão-de levar sem parar e com calma à santidade; também estão precavidos contra as dificuldades, praticamente contra todas, porque já se vislumbram desde o princípio do caminho. Agora insisto em que se deixem ajudar e guiar por um director de almas, a quem confiem todos os entusiasmos santos, os problemas diários que afectarem a vida interior, as derrotas que sofrerem e as vitórias.

Nessa direcção espiritual mostrem-se sempre muito sinceros: não deixem nada por dizer, abram completamente a alma, sem medo e sem vergonha. Olhem que, se não, esse caminho tão plano e tão fácil de andar complica-se e o que ao princípio não era nada acaba por se converter num nó que sufoca.


(...) Lembram-se da história do cigano que se foi confessar? Não passa de uma história, de uma historieta, porque da confissão nunca se fala e, além disso, estimo muito os ciganos. Coitadinho! Estava realmente arrependido: Senhor Padre, acuso-me de ter roubado uma arreata... – pouca coisa, não é? – e atrás vinha uma burra...; e depois outra arreata...; e outra burra... e assim até vinte. Meus filhos, o mesmo acontece no nosso comportamento: quando cedemos na arreata, depois vem o resto, a seguir vem uma série de más inclinações, de misérias que aviltam e envergonham; e acontece o mesmo na convivência: começa-se com uma pequena falta de delicadeza e acaba-se a viver de costas uns para os outros, no meio da indiferença mais gelada. (Amigos de Deus, 15)

Epístolas de São Paulo – 60

Carta aos Efésios

I. A IGREJA E O EVANGELHO (1-3,3-21)

Capítulo 5

1Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos bem amados, 2e procedei com amor, como também Cristo nos amou e se entregou a Deus por nós como oferta e sacrifício de agradável odor.

Como filhos da luz

3Mas de prostituição e qualquer espécie de impureza ou ganância nem sequer se fale entre vós, como é próprio de santos; 4nem haja palavras obscenas, insensatas ou grosseiras; são coisas que não convêm; haja, sim, acção de graças. 5Porque, disto deveis ter a certeza: nenhum fornicador, impuro ou ganancioso - o que equivale a idólatra - tem herança no Reino de Cristo e de Deus. 6Ninguém vos engane com palavras ocas; pois são estas coisas que provocam a ira de Deus contra os rebeldes. 7Não sejais, pois, cúmplices deles. 8É que outrora éreis trevas, mas agora sois luz, no Senhor. Procedei como filhos da luz - 9pois o fruto da luz está em toda a espécie de bondade, justiça e verdade - 10procurando discernir o que é agradável ao Senhor. 11E não tomeis parte nas obras infrutíferas das trevas; pelo contrário, denunciai-as. 12Porque o que por eles é feito às escondidas, até dizê-lo é vergonhoso. 13Mas tudo isso, se denunciado, é posto às claras pela luz; 14pois tudo o que é posto às claras é luz. Por isso se diz:
«Desperta, tu que dormes, levanta-te de entre os mortos,e Cristo brilhará sobre ti».
15Portanto, vede bem como procedeis: não como insensatos, mas como sensatos, 16aproveitando o tempo, pois os dias são maus. 17Por isso mesmo, não vos torneis néscios, mas tratai de compreender qual é a vontade do Senhor. 18E não vos embriagueis com vinho, que leva à vida desregrada, mas deixai-vos encher do Espírito; 19entre vós, cantai salmos, hinos e cânticos espirituais; cantai e louvai o Senhor com todo o vosso coração; 20sem cessar, dai graças por tudo a Deus Pai, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Cristo e a Igreja: modelo de amor conjugal


21Submetei-vos uns aos outros, no respeito que tendes a Cristo: 22as mulheres, aos seus maridos como ao Senhor, 23porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da Igreja - Ele, o salvador do Corpo. 24Ora, como a Igreja se submete a Cristo, assim as mulheres, aos maridos, em tudo. 25Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, 26para a santificar, purificando-a, no banho da água, pela palavra. 27Ele quis apresentá-la esplêndida, como Igreja sem mancha nem ruga, nem coisa alguma semelhante, mas santa e imaculada. 28Assim devem também os maridos amar as suas mulheres, como o seu próprio corpo. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. 29De facto, ninguém jamais odiou o seu próprio corpo; pelo contrário, alimenta-o e cuida dele, como Cristo faz à Igreja; 30porque nós somos membros do seu Corpo. 31Por isso, o homem deixará o pai e a mãe, unir-se-á à sua mulher e serão os dois uma só carne. 32Grande é este mistério; mas eu interpreto-o em relação a Cristo e à Igreja. 33De qualquer modo, também vós: cada um ame a sua mulher como a si mesmo; e a mulher respeite o seu marido.

Jesus Cristo e a Igreja – 156

Celibato eclesiástico: História e fundamentos teológicos

V. FUNDAMENTOS TEOLÓGICOS DA DISCIPLINA DO CELIBATO

…/113

Fundamento histórico doutrinal


…/9

A falta de lógica nesta disposição do cânon 3, em comparação com o cânon 13 que permite aos sacerdotes e diáconos o uso do matrimónio contraído antes da Ordenação, só pode ser explicado pelo facto de que aquela proibição apostólica estava também profundamente enraizada na tradição oriental, mas sem que se perceba já o seu sentido original. 
Daí surge outra prova tácita do autêntico significado original, como garantia da total continência após a Ordenação, tal como permaneceu vivo no Ocidente, sempre aceito com fiel observância por parte de Roma.


(cont)


(revisão da versão portuguesa por ama)

Hoy el reto del amor es mostrar un gesto de cariño

APUESTAS POR EL AMOR?

Seguro que estarás pensando "¿Quiénes son?"... Somos cinco chicas de Valencia, y es la tercera vez que hacemos las Jornadas Monásticas (excepto Claudia, que ha sido su primera vez). Cada vez que hemos venido, Cristo nos ha tocado el corazón de una manera diferente, pero sin duda ésta ha superado nuestras expectativas.

Hemos notado que, los días previos al viaje, cada una tuvimos nuestros impedimentos. El "Patas" se había empeñado en intentar que no fuéramos, igual que tentó a Cristo en el desierto, y después hemos entendido que era porque Él quería tener un encuentro fuerte con nosotras.

Al ser la tercera vez, creíamos que teníamos el control de las Jornadas; es decir, ya pensábamos en qué albergue nos quedaríamos, la distribución de las camas, la comida, los horarios, etc. Pero, nada más llegar, el Señor, con su infinito amor, nos sorprendió: cambió todos nuestros planes. Cuando Cristo elige para ti un proyecto diferente al que tú pensabas que era el mejor, sientes miedo. Pero, poco a poco, el Señor te muestra que estabas equivocado. Esto nos ha hecho entender que Él está enamorado de cada uno de nosotros. Él ha preparado un lugar en el que vas a ser infinitamente feliz si acoges su voluntad. Sabrás cuál es cuando te bote el corazón.

Entonces, ¿te fías? ¿Qué camino eliges, el del bien o el del mal? Es decir, ¿vivir desde el amor o permanecer en el pecado? Si apuestas por Él y quieres vivir desde el amor, rétale para obtener respuestas y poder verle a lo largo del día.

Vivir desde el amor no siempre es fácil, pero Él sabe que somos débiles, y ahí, en la debilidad, es donde nos hacemos fuertes en Cristo.

Hoy el reto del amor es mostrar un gesto de cariño (un abrazo, una llamada, un "vamos a tomar un café ") a alguna persona a la que sueles rechazar o ignorar. Igual que Cristo cuida cada detalle, te animamos a que traspases tus barreras y acojas su voluntad cuidando tú también a los demás.

Queremos agradecer a la Comunidad de las Dominicas de Lerma cómo nos han acogido y tratado como madres. ¡Sois ángeles para nosotras! Os queremos.


VIVE DE CRISTO

Doutrina – 284

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

Compêndio


PRIMEIRA PARTE: A PROFISSÃO DA FÉ

SEGUNDA SECÇÃO: A PROFISSÃO DA FÉ CRISTÃ

CAPÍTULO PRIMEIRO CREIO EM DEUS PAI

OS SÍMBOLOS DA FÉ

63. Qual é o lugar do homem na criação?


O homem é o vértice da criação visível, pois é criado à imagem e semelhança de Deus.