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22/04/2017

Fátima: Centenário - Poemas

TORRE DE DAVID


Torre imponente, em base de granito,
misto sem par de força e de riqueza,
que sobe, sobe até ao Infinito
e enche de assombro toda a natureza;

palácio enorme – egrégio monólito! -,
sublime, incomparável fortaleza
e reduto dos demónios interdito,
de traça insigne, de imortal grandeza;

tal é Maria! Nesta torre amiga
ditosos são aqueles que ela abriga
dos assaltos dos novos Filisteus.

Persegue o erro e o mal, assiste a Igreja,
defende as almas… Oh, bendita seja
a Torre de David, a Mãe de Deus!

Visconde de Montelo, Paráfrase da Ladainha Lauretana, 1956 [i]



[i] Cónego Manuel Nunes Formigão
1883 - Manuel Nunes Formigão nasce em Tomar, a 1 de Janeiro. 1908 - É ordenado presbítero a 4 de Abril em Roma. 1909 - É laureado em Teologia e Direito Canónico pela Universidade Gregoriana de Roma. 1909 - No Santuário de Lourdes, compromete-se a divulgar a devoção mariana em Portugal. 1917 - Nossa Senhora aceita o seu compromisso e ele entrega-se à causa de Fátima. 1917 / 1919 - Interroga, acompanha e apoia com carinho os Pastorinhos. - Jacinta deixa-lhe uma mensagem de Nossa senhora, ao morrer. 1921 - Escreve o livro: "Os Episódios Maravilhosos de Fátima". 1922 - Integra a comissão do processo canónico de investigação às aparições. 1922 - Colabora e põe de pé o periódico "Voz de Fátima". 1924 - A sua experiência de servita de Nossa Senhora em Lurdes, leva-o a implementar idêntica actividade em Fátima. 1928 - Escreve a obra mais importante: "As Grandes Maravilhas de Fátima". 1928 - Assiste à primeira profissão religiosa da Irmã Lúcia, em Tuy. Ela comunica-lhe a devoção dos primeiros sábados e pede-lhe que a divulgue. 1930 - Escreve "Fátima, o Paraíso na Terra". 1931 - Escreve "A Pérola de Portugal". 1936 - Escreve " Fé e Pátria". 1937 - Funda a revista "Stella". 1940 - Funda o jornal "Mensageiro de Bragança". 1943 - Funda o Almanaque de Nossa Senhora de Fátima. 1954 – Muda-se para Fátima a pedido do bispo de Leiria-Fátima 1956 - Escreve sonetos compilados na "Ladainha Lauretana". 1958 – Morre em Fátima. 06/01/1926 - Funda a congregação das Religiosas Reparadoras de Nossa Senhora das Dores de Fátima. 11/04/1949 – A congregação por ele fundada é reconhecida por direito diocesano. 22/08/1949 – Primeiras profissões canónicas das Religiosas. 16/11/2000 - A Conferência Episcopal Portuguesa concede a anuência por unanimidade, para a introdução da causa de beatificação e canonização deste apóstolo de Fátima. 15/09/2001 - Festa de Nossa Senhora das Dores, padroeira da congregação - É oficialmente aberto o processo de canonização do padre Formigão. 16/04/2005 – É oficialmente encerrado e lacrado o processso de canonização do padre Formigão.
Fátima, 28 Jan 2017 (Ecclesia) – Decorreu hoje a cerimónia de trasladação dos restos mortais do padre Manuel Nunes Formigão, conhecido como 'o apóstolo de Fátima, do cemitério local para um mausoléu construído na Casa de Nossa Senhora das Dores.
A celebração de trasladação deste sacerdote e servo de Deus começou com uma concentração, rua Francisco Marto, 203, com centenas de pessoas, seguida de saída para o cemitério da Freguesia de Fátima.
Na eucaristia inserida neste evento, na Basílica da Santíssima Trindade, do Santuário de Fátima, D. António Marto destacou uma figura que "se rendeu ao mistério e à revelação do amor de Deus, da beleza da sua santidade tal como brilhou aos pastorinhos de Fátima".
O bispo de Leiria-Fátima recordou ainda o padre Manuel Formigão como alguém que "captou de uma maneira admirável para o seu tempo, a dimensão reparadora da vivência da fé tão sublinhada na mensagem de Fátima".

Nota de AMA:
Este livro de Sonetos foi por sua expressa vontade, depois da sua morte, devidamente autografado, entregue a meu Pai. Guardo o exemplar como autêntica relíquia.

Fátima: Centenário - Oração diária


Senhora de Fátima:

Neste ano do Centenário da tua vinda ao nosso País, cheios de confiança vimos pedir-te que continues a olhar com maternal cuidado por todos os portugueses.
No íntimo dos nossos corações instala-se alguma apreensão e incerteza em relação a este nosso País.

Sabes bem que nos referimos às diferenças de opinião que se transformam em desavenças, desunião e afastamento; aos casais desfeitos com todas as graves consequências; à falta de fé e de prática da fé; ao excessivo apego a coisas passageiras deixando de lado o essencial; aos respeitos humanos que se traduzem em indiferença e falta de coragem para arrepiar caminho; às doenças graves que se arrastam e causam tanto sofrimento.
Faz com que todos, sem excepção, nos comportemos como autênticos filhos teus e com a sinceridade, o espírito de compreensão e a humildade necessárias para, com respeito de uns pelos outros, sermos, de facto, unidos na Fé, santos e exemplo para o mundo.

Que nenhum de nós se perca para a salvação eterna.

Como Paulo VI, aqui mesmo em 1967, te repetimos:

Monstra te esse Matrem”, Mostra que és Mãe.

Isto te pedimos, invocando, uma vez mais, ao teu Dulcíssimo Coração, a tua protecção e amparo.


AMA, Fevereiro, 2017

Fátima: Centenário - Oração Jubilar de Consagração


Salve, Mãe do Senhor,
Virgem Maria, Rainha do Rosário de Fátima!
Bendita entre todas as mulheres,
és a imagem da Igreja vestida da luz pascal,
és a honra do nosso povo,
és o triunfo sobre a marca do mal.

Profecia do Amor misericordioso do Pai,
Mestra do Anúncio da Boa-Nova do Filho,
Sinal do Fogo ardente do Espírito Santo,
ensina-nos, neste vale de alegrias e dores,
as verdades eternas que o Pai revela aos pequeninos.

Mostra-nos a força do teu manto protector.
No teu Imaculado Coração,
sê o refúgio dos pecadores
e o caminho que conduz até Deus.

Unido/a aos meus irmãos,
na Fé, na Esperança e no Amor,
a ti me entrego.
Unido/a aos meus irmãos, por ti, a Deus me consagro,
ó Virgem do Rosário de Fátima.

E, enfim, envolvido/a na Luz que das tuas mãos nos vem,
darei glória ao Senhor pelos séculos dos séculos.


Ámen.

Laicidad no es laicismo

Lo que en la Constitución se afirma y se reconoce es un Estado aconfesional que respeta y promueve el derecho inalienable a la libertad religiosa, pero no un Estado confesionalmente laico, que cercena dicho derecho, cuando lo religioso lo reduce al templo, al culto o las sacristías, es decir a la esfera de lo privado y de lo íntimo.

Menudea mucho últimamente, en el discurso político y social, la apelación al apelativo «laico» para referirse a algunas realidades. Con mucha frecuencia se habla de una sociedad laica, de un Estado laico, de la escuela laica. Se hacen grandes y solemnes proclamas y juicios en este sentido. Se constituyen plataformas con este adjetivo referidas a entidades sociales. Muchos son muy celosos en la defensa de este calificativo. Bien entendido este calificativo y justamente aplicado, no soy yo menos celoso de él que lo puedan ser sus defensores a ultranza, ni lo es menos tampoco la Iglesia, que en la entraña de su fe está el reconocimiento de la autonomía del mundo: «Al principio creó Dios el cielo y la tierra». «Dad a Dios lo que es Dios, y al César lo que es del César». «Mi Reino no es de este mundo».

Pero la verdad es que me preocupa el sentido que se da a este adjetivo: en buena parte de los casos con una fuerte carga ideológica, y con no poca confusión. Creo que se está generando una gran confusión que es preciso disipar, porque con ella se está caminando por un terreno resbaladizo en el que, con intención o sin ella, se está poniendo en tela de juicio nada menos que uno de los derechos fundamentales: el de la libertad religiosa, que está en la base de una sociedad democrática, porque no es un derecho más entre los derechos, sino el más fundamental, piedra angular en el edificio de los derechos humanos. Se refiere a lo más íntimo del hombre, su conciencia.

Viene bien recordar a propósito del tema que nos ocupa las palabras del Papa San Juan Pablo II al cuerpo diplomático. Las reproduzco en toda su extensión porque son ciertamente muy clarificadoras: «En los últimos tiempos, somos testigos, en ciertos países de Europa, de una actitud que podría poner en peligro el respeto efectivo de la libertad de religión. Si bien todo el mundo está de acuerdo en respetar el sentimiento religioso de los individuos, no se puede decir lo mismo del hecho religioso, es decir, la dimensión social de las religiones, al olvidar los compromisos asumidos en el marco de lo que entonces se llamaba Conferencia sobre la Cooperación y Seguridad en Europa. Con frecuencia se invoca el principio de laicidad, en sí mismo legítimo, si es comprendido como la distinción entre la comunidad política y las religiones. Pero ¡distinción no quiere decir ignorancia! ¡La laicidad no es laicismo! No es otra cosa que el respeto de todas las creencias por parte del Estado, que asegura el libre ejercicio de las actividades de culto, espirituales, culturales y caritativas y sociales de las comunidades de los creyentes. En una sociedad pluralista, la laicidad es un lugar de comunicación entre las diferentes tradiciones espirituales y la nación. Las relaciones Iglesia-Estado pueden y deben dar lugar al diálogo respetuoso, que transmita experiencias y valores fecundos para el porvenir de una nación. Un sano diálogo entre el Estado y las Iglesias, que no son rivales, sino socios puede sin duda favorecer el desarrollo integral de la persona y de la sociedad».

La dificultad de aceptar el hecho religioso en el espacio público se manifestó, por ejemplo, de modo muy emblemático con ocasión del debate sobre las raíces cristianas de Europa, de hace unos años, o en el olvido de estas raíces al considerar el papel de la Iglesia en España. Entre nosotros se está viendo esta dificultad en el debate continuo respecto a la enseñanza de la religión en la escuela estatal, o a la escuela de iniciativa social católica, o en el modo de juzgar actuaciones de los obispos por parte de personas públicas o de grupos, por ejemplo, cuando los obispos se pronuncian sobre materias morales o que tienen que ver con la presencia de los cristianos en la sociedad y con las realidades temporales, pero que tienen una connotación moral. Es legítimo, ciertamente, juzgar si se hace con verdad y justicia; pero es abusivo, cuando menos, pretender que la Iglesia o los que la integran callen sus creencias o sus enfoques morales propios ante realidades humanas o sociales que piden iluminación y orientación en fidelidad a lo que ella es, o descalificar –sin argumentar incluso– tales creencias y criterios morales sencillamente porque molestan o no se está de acuerdo con ellas, o no son «modernas».

Llama la atención la batería de ataques y descalificaciones últimas en este orden de cosas. Estado laico, sociedad laica, quiere decir Estado, sociedad, aconfesional, que garantiza el derecho a la libertad religiosa a personas e instituciones, precisamente para que quepan las distintas confesiones, religiosas o agnósticas, ateas..., pero no para que se establezca o imponga una nueva confesionalidad, un pensamiento único: el laicista.

La Iglesia católica, en concreto, en sus relaciones con los poderes públicos, o con la sociedad, no pide volver a formas de Estado confesional. Sólo pide respeto a la libertad religiosa y demanda la aconfesionalidad del Estado con todas sus consecuencias y exigencias, sin ningún otro confesionalismo ideológico, y por eso, al mismo tiempo, deplora todo tipo de laicismo ideológico o separación hostil y excluyente entre las instituciones civiles y las confesiones religiosas. Este es uno de los puntos nucleares que están en juego en la definición y construcción de la nueva Europa, también de España. Es bueno volver a la Constitución Española, y tenerla muy presente: lo que en ella se afirma y se reconoce es un Estado aconfesional que respeta y promueve el derecho inalienable a la libertad religiosa, pero no un Estado confesionalmente laico, que cercena dicho derecho, cuando lo religioso lo reduce al templo, al culto o las sacristías, es decir a la esfera de lo privado y de lo íntimo. El laicismo de Estado cercenando este derecho debilitaría la democracia y la convertiría incluso, más tarde o más temprano, en una tiranía.


CARDENAL ANTONIO CAÑIZARES, Artículo publicado en La Razón el 14 de marzo de 2017.

Quer que sejamos muito humanos e muito divinos

Há muitos anos já que vi com clareza meridiana um critério que será sempre válido: o ambiente da sociedade, com o seu afastamento da fé e da moral cristãs, necessita de uma nova forma de viver e de propagar a verdade eterna do Evangelho. No próprio cerne da sociedade, do mundo, os filhos de Deus hão-de brilhar pelas suas virtudes como lanternas na escuridão, "quasi lucernae lucentes in caliginoso loco". (Sulco, 318)


Se aceitarmos a nossa responsabilidade de filhos de Deus, saberemos que Ele quer que sejamos muito humanos. A cabeça pode tocar o céu, mas os pés assentam na terra, com segurança. O preço de se viver cristãmente não é nem deixar de ser homem nem abdicar do esforço por adquirir essas virtudes que alguns têm, mesmo sem conhecerem Cristo. O preço de todo o cristão é o Sangue redentor de Nosso Senhor, que nos quer – insisto – muito humanos e muito divinos, com o empenho diário de O imitar, pois é perfectus Deus, perfectus homo.

Talvez não seja capaz de dizer qual é a principal virtude humana. Depende muito do ponto de vista de que se parta. Além disso, a questão torna-se ociosa, porque não se trata de praticar uma ou várias virtudes. É preciso lutar por adquiri-las e praticá-las todas. Cada uma de per si entrelaça-se com as outras e, assim, o esforço por sermos sinceros, por exemplo, torna-nos justos, alegres, prudentes, serenos.

Precisamos, ao mesmo tempo, de considerar que a decisão e a responsabilidade residem na liberdade pessoal de cada um e, por isso, as virtudes são também radicalmente pessoais, da pessoa. No entanto, nessa batalha de amor ninguém luta sozinho – ninguém é um verso solto, costumo repetir –: de certo modo, ou nos ajudamos ou nos prejudicamos. Todos somos elos de uma mesma cadeia. Pede agora comigo a Deus Nosso Senhor, que essa cadeia, nos prenda ao seu Coração, até chegar o dia de O contemplar face a face, no Céu, para sempre. (Amigos de Deus, 75–76)


Evangelho e comentário

Tempo de Páscoa


Evangelho: Mc 16, 9-15

9 Jesus, tendo ressuscitado de manhã, no primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena, da qual tinha expulsado sete demónios.10 Ela foi noticiá-lo aos que tinham andado com Ele, os quais estavam tristes e chorosos.11 Tendo eles ouvido dizer que Jesus estava vivo e que fora visto por ela, não acreditaram.12 Depois disto, mostrou-Se de outra forma a dois deles, enquanto iam para a aldeia;13 os quais foram anunciar aos outros, que também a estes não deram crédito.14 Finalmente, apareceu aos onze, quando estavam à mesa, e censurou-lhes a sua incredulidade e dureza de coração, por não terem dado crédito aos que O tinham visto ressuscitado.15 E disse-lhes: «Ide por todo o mundo, e pregai o Evangelho a toda a criatura.

Comentário:

Não é possível acreditar na Ressurreição de Cristo sem a luz da Fé.

Quanto mais intensa for essa luz melhor interiorizarmos esse aconte­cimento que constitui a base o fundamento da nossa santa religião.

Peçamos ao Espírito Santo, Senhor que dá a Luz, que a derrame sobre nós.

(ama, comentário sobre Mc 16 9-15 2015.04.11)


Leitura espiritual

A Cidade Deus
A CIDADE DE DEUS


Vol. 2

LIVRO XII

Nele Agostinho trata primeiro dos anjos, averigua depois porque é que a boa vontade de uns e a má vontade de outros foi a causa da bem-aventurança dos bons e da desgraça dos maus, e por fim trata da criação do homem e prova que não foi criado desde sempre, mas no tempo, nem por outro autor senão Deus.


CAPÍTULO I

Natureza única tanto dos anjos bons com o dos maus.

Antes de começar a falar cia criação do homem — assunto no qual se tornará patente a origem das duas cidades em relação ao género dos racionais mortais, com o já se viu, parece-me, no livro anterior acerca dos anjos — reparo que ainda me falta dizer umas coisas acerca dos anjos. Devo explicar, tanto quanto me é possível, que não há inconveniência nem incoerência em falar dum a cidade com um aos anjos e aos homens. Não há quatro cidades (ou seja, duas dos anjos e duas dos homens), mas apenas duas — uma composta de bons e outra de maus, anjos ou homens.

Não é lícito pôr em dúvida que as inclinações, entre si contrárias, dos bons e dos maus anjos, não resultam de naturezas e princípios diversos, pois foi Deus, autor e criador excelente de todas as substâncias, quem as criou a umas e outras, — mas provêm das vontades e apetites. Uns mantêm-se no bem, com um a todos, que para eles é o próprio Deus, e na sua eternidade, na sua verdade, na sua capacidade; os outros, comprazendo-se mais no seu poder pessoal, com o se fosse bem seu próprio, afastaram-se do supremo bem, fonte universal de felicidade e, — preferindo o fausto da sua elevação à eminentíssima glória da eternidade, a astúcia da sua vaidade à plena certeza da verdade, as suas paixões de facção à indivisível caridade — tornaram -se orgulhosos, enganadores e invejosos. A beatitude daqueles tem, pois, por causa a sua união a Deus — e a desgraça destes explica-se pela razão contrária: a separação de Deus. Se, portanto, a quem perguntar porque é que uns são felizes?, se deve responder: porque estão unidos a Deus; e a quem perguntar porque é que outros são infelizes?, se deve responder: porque eles não estão unidos a Deus — segue-se que o único bem fonte de beatitude para a criatura racional e inteligente é Deus. E, embora nem todas as criaturas sejam capazes de alcançar a beatitude (o animal, a madeira, a pedra e outras coisas que tais não obtêm nem atingem este dom), todavia, as que a podem alcançar, não o podem por si próprias, pois foram criadas do nada, mas podem-no por Aquele que as criou. Possuí-lo é a sua felicidade; perdê-lo é a sua desgraça. Mas o que tira a sua felicidade do bem que Ele é e não de outro, não pode ser infeliz porque não pode perder-se.

Dizemos que só há um bem imutável — o Deus verdadeiro e bem-aventurado. Porém, as criaturas que Ele fez, embora sejam boas, pois d’Ele provêm, são, todavia, mutáveis, pois que não foi d’Ele mas do nada que as fez. Embora não sejam o bem supremo, pois que maior bem que eles é Deus, são, todavia, grandes bens esses bens mutáveis que, unindo-se ao bem imutável, podem conseguir a felicidade. Deus é em tal medida o seu bem que, sem Ele, são necessariamente infelizes. Nem por isso as outras criaturas do universo são melhores pelo facto de não poderem ser infelizes, com o também se não devem
considerar as outras partes do nosso corpo melhores do que os olhos pelo facto de se não poderem tom ar cegas. A natureza sensível, mesmo quando sente uma dor, é melhor que uma pedra que nunca a poderá sentir. Também uma natureza racional, mesmo infeliz, é superior a um a natureza privada de razão ou de sensibilidade, sobre a qual, portanto, não cai a desgraça.

Porque assim é, o facto de estar separada de Deus constitui um vício para esta natureza dotada de uma tal superioridade que, embora ela própria seja mutável, a sua felicidade consiste em unir-se ao bem imutável, isto é, a Deus Soberano e, como só sendo feliz é que colmata a sua indigência, só Deus chega para a colmatar. Mas todo o vício é prejudicial à natureza e, portanto, é contrário à natureza. Por isso, é pelo vício, e não pela natureza, que o ser que se une a Deus difere daquele que dele se separa. Mas é ainda esse vício que faz ressaltar a extraordinária grandeza e a tão alta dignidade da própria natureza. Efectivamente, presta-se homenagem à natureza daquele de quem justificadamente se censura o vício — pois o vício só é justo objecto de censura porque desonra uma natureza digna de louvor. Assim:

chamar à cegueira vício dos olhos é mostrar que a vista pertence à natureza dos olhos;

chamar à surdez vício dos ouvidos é mostrar que a audição pertence à natureza dos ouvidos;

da mesma forma, quando se diz que é vício da natureza angélica aquele pelo qual ela se não une a Deus, declara-se abertamente que à sua natureza convém a união a Deus. Aliás, quão grande seja a glória de estar unido a Deus para servir para Ele, ser sábio e feliz por Ele fruir de tamanho bem sem conhecer a morte nem o erro nem o sofrimento, — quem disto poderá pensar ou falar adequadamente? Tanto o vício é prejudicial à natureza que até o dos anjos maus (que consiste na separação de Deus) mostra à saciedade que Deus criou a sua natureza tão boa que o facto de não estar esta com Deus já lhe é prejudicial.


CAPÍTULO II

Parece que nenhuma essência é contrária a Deus pois só se opõe totalmente ao Ser supremo e eterno o que não é.

Devemos afirmar coisas para que ninguém, a propó­sito dos anjos apóstatas, pense que eles poderiam ter recebido uma natureza diversa proveniente de outro princípio — natureza de que Deus não seria o autor. Cada um se verá livre deste erro ímpio tão rápida e facilmente quanto com mais perspicácia puder compreender o que pelo anjo disse Deus quando mandou Moisés aos filhos de Israel:

Eu sou aquele que sou.[i]


Deus, a essência suprema, isto é, aquele que é sumamente e por isso é imutável, deu o ser às coisas que criou do nada, mas não deu o ser sumamente com o ele próprio é: a uns deu mais ser a outros menos ser e assim ordenou as naturezas segundo os graus da sua essência. (Assim como, de facto, o verbo sapere (saber) deu a palavra sapientia (sapiência), assim também do verbo esse (ser) vem a palavra essentia (essência): palavras novas de certo que os antigos autores latinos não usaram, mas em pregadas hoje para que não faltasse à nossa língua o que os gregos chamam ουσίαν que se traduz literalmente por essentia). Assim, pois, a esta natureza, que sumamente é, pela qual tudo quanto existe foi feito, não há natureza contrária a não ser aquela que
não é. Realmente, só o não ser é que é contrário ao que é. E por isso é que a Deus, essência suprema, autor de todas as essências, sejam elas quais forem, nenhum a essência é contrária.


(cont)

(Revisão da versão portuguesa por ama)





[i] Ex. III, 14.

Epístolas de São Paulo – 53

Carta aos Gálatas

Capítulo 4

II. O EVANGELHO FAZ-NOS FILHOS DE DEUS (3,1-4,7)

Em Cristo, somos filhos de Deus

1Mas eu digo-vos: durante todo o tempo em que o herdeiro é criança, em nada difere de um escravo, apesar de ser senhor de tudo. 2Pelo contrário, está sob o domínio de tutores e administradores, até ao dia fixado pelo seu pai. 3Assim também nós, quando éramos crianças, estávamos sob o domínio dos elementos do mundo, a eles sujeitos como escravos. 4Mas, quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob o domínio da Lei, 5para resgatar os que se encontravam sob o domínio da Lei, a fim de recebermos a adopção de filhos. 6E, porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: "Abbá! - Pai!" 7Deste modo, já não és escravo, mas filho; e, se és filho, és também herdeiro, por graça de Deus.

III. O EVANGELHO FAZ-NOS LIVRES (4,8-5,12)

Não voltar à escravidão

8Mas outrora, quando não conhecíeis a Deus, servistes os deuses que, na realidade, o não são. 9Agora, porém, tendo conhecido a Deus, ou melhor, sendo conhecidos por Deus, como é possível que vos convertais outra vez aos elementos fracos e pobres, querendo novamente ser escravos deles?
10Observais os dias e os meses, as estações e os anos! 11Temo, a vosso respeito, que afinal tenha sido em vão o trabalho que suportei por vós.

O Apóstolo na origem da comunidade

12Isto vos peço, irmãos: sede como eu, pois também eu me tornei como vós. Em nada me ofendestes. 13Mas sabeis que foi por causa de uma doença corporal que vos anunciei o Evangelho pela primeira vez. 14Embora o meu corpo fosse para vós uma provação, não reagistes com desprezo nem nojo. Pelo contrário: recebestes-me como um anjo de Deus, como a Cristo Jesus. 15Onde estava, pois, a vossa felicidade? Sim, disto eu sou testemunha a vosso favor: se tivesse sido possível, teríeis arrancado os vossos olhos para mos dar. 16Tornei-me então vosso inimigo, ao dizer-vos a verdade? 17Não é por bem que eles andam a interessar-se por vós. Pelo contrário: o que querem é separar-vos de mim, para que vos interesseis por eles. 18Bom é, sim, que vos interesseis sempre pelo bem, e não apenas quando estou convosco. 19Meus filhos, por quem sinto outra vez dores de parto, até que Cristo se forme entre vós! 20Sim, como desejaria estar agora convosco e mudar o tom da minha voz! É que eu estou perplexo a vosso respeito.

Sara e Agar

21Dizei-me, vós que quereis estar sob o domínio da Lei: afinal não dais ouvidos à Lei? 22Com efeito, está escrito que Abraão teve dois filhos: um da escrava e outro da mulher livre. 23Mas, enquanto o da escrava foi gerado segundo a carne, o da mulher livre foi gerado por causa da promessa. 24Isto está dito em alegoria; pois elas representam duas alianças: uma, a do monte Sinai, foi a que gerou para a escravidão; essa é Agar. 25Ora, Agar é o nome dado, na Arábia, ao monte Sinai, e corresponde à Jerusalém actual, já que se encontra sob a escravidão, juntamente com os seus filhos. 26Mas a Jerusalém do alto é livre; essa é a nossa mãe, 27pois está escrito: Alegra-te, ó estéril, que não dás à luz; rejubila e grita, tu que não sentes as dores de parto; pois são muitos os filhos da abandonada,mais do que os daquela que tem marido! 28E vós, irmãos, à semelhança de Isaac, sois filhos da promessa. 29Só que, como então o que foi gerado segundo a carne perseguia o que o foi segundo o Espírito, assim também agora. 30Mas que diz a Escritura? Expulsa a escrava e o seu filho, porque o filho da escrava não poderá herdar juntamente com o filho da mulher livre. 31Por isso, irmãos, não somos filhos da escrava, mas da mulher livre.

Doutrina – 277

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

Compêndio


PRIMEIRA PARTE: A PROFISSÃO DA FÉ

SEGUNDA SECÇÃO: A PROFISSÃO DA FÉ CRISTÃ

CAPÍTULO PRIMEIRO CREIO EM DEUS PAI

OS SÍMBOLOS DA FÉ

56. Como é que o homem colabora com a Providência divina?

Ao homem, Deus concede e requer, respeitando a sua liberdade, a colaboração através das suas acções, das suas orações e mesmo com os seus sofrimentos, suscitando nele «o querer e o operar segundo os seus benévolos desígnios» [1].







[1] Filp 2,13

Jesus Cristo e a Igreja – 155

Celibato eclesiástico: História e fundamentos teológicos

V. FUNDAMENTOS TEOLÓGICOS DA DISCIPLINA DO CELIBATO

…/112

Fundamento histórico doutrinal


…/8


Deve notar-se que também a legislação do Concílio de Trullo mantém no seu cânon 3 a mesma proibição para sacerdotes, diáconos e subdiáconos, ou seja, que os candidatos a estas ordens não podiam estar casados com uma viúva ou com uma mulher que havia sido casada.
Só se queria – diziam os padres trullanos – atenuar a gravidade da Igreja Romana nesse ponto, concedendo àqueles que tinham pecado contra a dita proibição a possibilidade de arrependimento e penitência.  Se antes de uma data posterior ao Sínodo tivessem renunciado a esse (segundo) casamento, poderiam permanecer no exercício do ministério.


(cont)


(revisão da versão portuguesa por ama)

Pequena agenda do cristão

SÁBADO



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)



Propósito:
Honrar a Santíssima Virgem.

A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da Sua serva, de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas, santo é o Seu nome. O Seu Amor se estende de geração em geração sobre os que O temem. Manifestou o poder do Seu braço, derrubou os poderosos do seu trono e exaltou os humildes, aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel Seu servo, lembrado da Sua misericórdia, como tinha prometido a Abraão e à sua descendência para sempre.

Lembrar-me:

Santíssima Virgem Mãe de Deus e minha Mãe.

Minha querida Mãe: Hoje queria oferecer-te um presente que te fosse agradável e que, de algum modo, significasse o amor e o carinho que sinto pela tua excelsa pessoa.
Não encontro, pobre de mim, nada mais que isto: O desejo profundo e sincero de me entregar nas tuas mãos de Mãe para que me leves a Teu Divino Filho Jesus. Sim, protegido pelo teu manto protector, guiado pela tua mão providencial, não me desviarei no caminho da salvação.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?