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08/11/2017

Tratado da vida de Cristo 181

Questão 58: De Cristo sentado à direita do Pai

Art. 3 — Se estar sentado à direita do Pai convém a Cristo enquanto homem.

O terceiro discute-se assim. — Parece que estar sentado à direita do Pai não convém a Cristo enquanto homem.

1. — Pois, como diz Damasceno, chamamos direita do Pai à glória e às honras da divindade. Ora, a glória e as honras da divindade não convêm a Cristo enquanto homem. Logo parece que Cristo, enquanto homem, não está sentado à direita do Pai.

2. Demais. — O facto de estar sentado à direita de quem reina parece que exclui a sujeição; porque o sentado à direita de quem reina de certo modo reina com ele. Ora, Cristo enquanto homem, está sujeito ao Pai, segundo o Apóstolo. Logo, parece que Cristo, enquanto homem, não está sentado à direita do Pai.

3. Demais. — O sobre que disse o Apóstolo - Que está à mão direita de Deus, diz a Glosa: isto é, igual ao Pai pela honra em virtude da qual o Pai é Deus; ou, à direita do Pai, isto é, participante dos mais elevados dons de Deus. E àquele outro lugar: Está sentado à direita da majestade nas alturas, comenta: isto é, como tendo a igualdade com o Pai. acima de todos os seres, pelo lugar e pela dignidade. Ora, ser igual a Deus não convém a Cristo enquanto homem, pois nessa qualidade, ele próprio o disse: O Pai é maior do que eu. Logo, parece que estar sentado à direita do Pai não convém a Cristo enquanto homem.

Mas, em contrário, diz Agostinho: Pela direita entendei o poder que tinha Cristo, recebido de Deus, pelo qual virá a julgar, ele que viera para ser julgado.

Como dissemos pela direita do Pai entende-se ou a própria glória de Cristo, ou a sua bem-aventurança eterna, ou o seu poder judiciário e real. Pois a preposição - a - designa de certo modo o acesso à direita, o que implica a conveniência com uma certa distinção, como se disse. O que pode ser de três modos. — Primeiro, sendo a conveniência da natureza e a distinção da pessoa. E assim, Cristo, como Filho de Deus está sentado à direita do Pai porque tem a mesma natureza que ele. Donde, a conveniência e a distinção referidas cabem essencialmente tanto ao Filho como ao Pai. E isso é o Filho ter a igualdade com o Pai. — De outro modo, pela graça da união; e esta implica, ao inverso, a distinção de natureza e a unidade de pessoa. E, por aí, Cristo, enquanto homem, é o Filho de Deus e, por consequência, está sentado à direita do Pai; mas de modo que a expressão enquanto não designe a condição da natureza, mas a unidade do suposto como já expusemos. — Em terceiro sentido, o referido acesso pode ser entendido segundo a graça habitual, mais abundante em Cristo que em todas as demais criaturas por a humana de Cristo natureza, ter em si mesma maior beatitude que a das outras criaturas: e por ter ainda sobre todas o poder real e judiciário.

Assim, pois, a expressão enquanto, designando a condição da natureza, Cristo, enquanto Deus, está sentado à direita do Pai, isto é, tem igualdade com o Pai. Mas, enquanto homem, está sentado à direita do Pai, isto é, participa dos bens paternos mais elevados que os de todas as criaturas, isto é, tem uma beatitude maior e exerce o poder judiciário. Se, porém — enquanto — designa a unidade de suposto, então também, enquanto homem, está sentado à direita do Pai, pela igualdade de honras, isto é, enquanto que na nossa veneração atribuímos as mesmas honras ao Filho de Deus e à natureza assumida como dissemos.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — A humanidade de Cristo, segundo as condições da sua natureza, não tem a glória ou as honras da divindade; tem-nas, porém, em razão da pessoa a que está unida. Por isso Damasceno acrescenta no mesmo lugar: Dela, isto é, da glória da divindade, o Filho de Deus frui, antes de todos os séculos, enquanto Deus; e, com a sua carne glorificada, está sentado à dextra do Pai com quem é consubstancial. Assim, todas as criaturas lhe atribuem a mesma adoração, como Deus e homem.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Cristo, enquanto homem está sujeito ao Pai, designando - enquanto - a condição da natureza. E, assim não lhe cabe estar sentado à direita do Pai, por uma razão de igualdade que, como homem, não lhe assiste. Mas, cabe-lhe estar sentado à direita do Pai, entendendo-se por isso a excelência de beatitude e o seu poder judiciário sobre todas as criaturas.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Fruir da igualdade com o Pai não convém à natureza humana de Cristo em si mesma, senão só à pessoa assumente. Mas, participar dos dons mais elevados de Deus, enquanto excedentes às demais criaturas, isso pode-o a natureza assumida, em si
mesma.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.



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