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23/11/2017

Novos Valores para a Sociedade

Se pensarmos na nossa vida e na nossa actuação, em breve notaremos que quase todas as nossas aspirações e acções estão ligadas à existência de outros homens. Reparamos que, em toda a nossa maneira de ser, somos semelhantes aos animais que vivem em comum. Comemos os alimentos produzidos por outros homens, usamos vestuário que outros homens fabricaram e habitamos casas que outros construíram. A maior parte das coisas que sabemos e em que acreditamos foi-nos transmitida por outros homens, por meio duma linguagem que outros criaram. A nossa faculdade mental seria muito pobre e muito semelhante à dos animais superiores se não existisse a linguagem, de modo que teremos de concordar que, aquilo que nos distingue em primeiro lugar dos animais, o devemos à nossa vida na comunidade humana. O homem isolado — entregue a si desde o nascimento — manter-se-ia, na sua maneira de pensar e de sentir, primitivo como um animal, dum modo que dificilmente podemos imaginar. O que cada um é e significa, não o é tão-sòmente como ser isolado, mas como membro duma grande comunidade humana, que determina a sua existência material e espiritual desde o nascimento à morte.


Aquilo que um homem leva para a sua comunidade depende, em primeiro lugar, da medida em que o seu sentir, o seu pensar e o seu agir são aplicados à melhoria da existência dos outros homens. Conforme a atitude de cada um neste campo, assim costumamos designá-lo por bom ou por mau. Pareceria, à primeira vista, que as qualidades sociais de cada homem são as únicas a entrar em linha de conta para a apreciação que dele fazemos.
E, no entanto, tal concepção não seria exacta. Facilmente se reconhecerá que todos os bens materiais, espirituais e morais que recebemos da sociedade provêm de isoladas personalidades criadoras, no decurso de inúmeras gerações. Houve um que descobriu o uso do fogo, outro a maneira de cultivar plantas alimentares, outro ainda a máquina a vapor.
Só o indivíduo isolado é capaz de pensar e assim criar novos valores para a sociedade, e até mesmo estabelecer normas morais, segundo as quais se desenrola a vida da comunidade. Sem personalidades criadoras, pensando e julgando individualmente, não se pode imaginar o progresso da sociedade, como também não se pode imaginar o desenvolvimento da personalidade, sem o terreno favorável da comunidade.
Uma sociedade sã depende portanto igualmente da independência dos indivíduos e da sua íntima ligação social.


Albert Einstein, in 'Como Vejo o Mundo'

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