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17/07/2017

Fátima: Centenário - Vida de Maria - 28




Centenário das aparições da Santíssima 

Virgem em Fátima


Anunciação


A voz dos santos

«Muitíssimo dano, amadíssimos, nos causaram um homem e uma mulher; mas graças a Deus, igualmente por um homem e uma mulher tudo foi restaurado. E com grandíssimo aumento de graças. Porque o dom não foi como tinha sido o delito, mas a grandeza do benefício excede o dano».
«Assim, o prudentíssimo e clementíssimo Artífice não quebrou o que estava rachado, antes o refez mais utilmente por todos os modos, formando um novo Adão a partir do velho e trocando Eva por Maria».
«Certamente, podia bastar Cristo, pois toda a nossa suficiência nos vem d’Ele; mas não era bom para nós que o homem estivesse sozinho [i]. Muito mais conveniente era que ambos os sexos participassem na nossa reparação, já que ambos contribuíram para a nossa corrupção. Jesus Cristo Homem, é fiel e poderoso Mediador entre Deus e os homens, mas os homens veneram n’Ele a majestade divina. N’Ele a humanidade pareceria absorvida na divindade, não por a natureza humana já não ser tal, mas por estar divinizada. D’Ele se canta a misericórdia, mas igualmente a justiça, porque embora, pelo que sofreu, tenha aprendido a compaixão e a misericórdia [ii], tem simultaneamente o poder de juiz. Enfim, a exigência do nosso Deus é como um fogo ardente, de modo que o pecador não temeria chegar-se a Ele, com medo de morrer diante da sua presença, como se derrete a cera?»
«Assim, pois, a mulher bendita entre todas as mulheres não está a mais. Vê-se claramente o papel que desempenha na obra da nossa reconciliação, porque precisávamos de um mediador próximo deste Mediador e ninguém pode desempenhar este ofício melhor que Maria. Eva tinha sido uma mediadora demasiado cruel, por quem a serpente antiga infundiu no homem o veneno mortífero. Mas fiel é Maria, que ofereceu aos homens e às mulheres o antídoto salvador. Eva foi instrumento da tentação, Maria do perdão; aquela induziu a pecar, esta trouxe a redenção. Que receio teria a fragilidade humana de se chegar a Maria? N’Ela nada é austero, nada é terrível; tudo é suave, oferecendo a todos leite e lã».
«Estuda com cuidado toda a história evangélica e se encontras em Maria algo de dureza, de repreensão desabrida, ou algum sinal de indignação, ainda que leve, poderias desconfiar e ter receio de te chegares a Ela. Mas se, pelo contrário, como acontece de facto, descobres que tudo o que a Ela pertence está cheio de piedade e de misericórdia, de mansidão e de graça, agradece-o ao Senhor que, com a sua benigníssima misericórdia, providenciou para ti uma mediadora tão maravilhosa, pois nada pode haver na Virgem que inspire temor. Ela fez-se toda para todos; tornou-se devedora de sábios e de ignorantes, com imensíssimo amor. A todos abre o regaço da misericórdia, para que todos recebam da sua plenitude: o cativo redenção, o enfermo cura, o aflito consolo, o pecador perdão, o justo graça, o anjo alegria; enfim, toda a Trindade recebe glória; e a própria Pessoa do Filho recebe d’Ela a substância da carne humana, a fim de que não haja quem se esconda da sua ternura».

São Bernardo (século XII), Sermão no Domingo da oitava anterior à Assunção, 1-2.




[i] cfr. Gn 2, 18
[ii] cfr. Hb 5, 8

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