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20/06/2017

Leitura espiritual

A CIDADE DE DEUS 

Vol. 2

LIVRO XV

CAPÍTULO XIX

Simbolismo do arrebatamento de Henoc.

Esta descendência cujo pai é Set, também tem o nome de dedicação na sétima geração desde Adão, incluindo este. Henoc, que significa dedicação, é, de facto, o sétimo descendente. Foi ele que foi arrebatado porque aprouve a Deus e com um número notável na ordem das gerações, isto é, o sétimo depois de Adão, número que foi santificado pelo sábado. Mas se se partir de Set, pai das gerações distintas das de Caim, ele é o sexto: foi no sexto dia que o homem foi feito e que Deus consumou todos os seus trabalhos. Mas o arrebatamento de Henoc prefigurou um retardar da nossa dedicação. Foi já cumprida, na verdade, em Cristo, nossa cabeça, que ressuscitou para não voltar a morrer e que também foi Ele mesmo arrebatado. Resta, porém, um a outra dedicação — a da casa toda de que Cristo é o fundamento — a qual se vai protelando até ao fim, quando tiver lugar a ressurreição de todos os que já não morrerão mais. Mas quer se diga «casa de Deus», quer se diga «templo de Deus» ou «Cidade de Deus», é tudo o mesmo e não contradiz as regras da língua latina. Realmente, Vergílio chama «Casa de Assáraco» a uma cidade de grande poderio para dar a entender que os Romanos descendem de Assáraco pelos Troianos, — e aos mesmos «Casa de Eneias» porque, depois da sua vinda para Itália, com Eneias com o chefe, os Troianos fundaram Roma. De facto, o poeta imitou as Sagradas Escrituras que chamaram «Casa de Jacob» ao povo já tão aumentado dos Hebreus.


CAPÍTULO XX

A série de gerações que, desde Adão até Caim, pára na oitava é que, desde o mesmo pai Adão até Noé, perfaz dez.

Alguém dirá: Se quem escreveu esta história pretendia, na enumeração das gerações desde Adão, através de seu filho Set, chegar por elas até Noé, em cujo tempo houve o Dilúvio, para em seguida retomar a ordem dos nascimentos até chegar a Abraão, pelo qual o evangelista Mateus começa a genealogia de Cristo, rei eterno da Cidade de Deus — qual era a sua intenção ao voltar às gerações de Caim e até onde pretendia ele levá-las? Pois responder-se-á: Até ao Dilúvio pelo qual foi devorada aquela raça toda da cidade terrestre, que se reconstitui com os filhos de Noé. Não pode desaparecer esta cidade terrestre e esta sociedade dos homens que vivem com o ao homem apraz até ao fim deste século de que fala o Senhor:


Os filhos deste século procriam e são procriados [i]


Mas a regeneração conduz a Cidade de Deus, que peregrina neste século até ao outro século, cujos filhos não geram nem são gerados. Cá é, pois, comum a uma e outra cidade gerar e ser gerada, embora a Cidade de Deus conte mesmo neste mundo com milhares e milhares de cidadãos que se abstêm de gerar — e a outra cidade também os tem, por uma espécie de imitação, embora estejam no erro. E a ela que, na verdade, pertencem aqueles que, desviando-se da fé da Cidade Celeste, fundaram diversas heresias: vivem com o apraz ao homem e não como apraz a Deus. E também os Gimnosofistas dos Indus que, diz-se, filosofam nus nas solidões da índia, são seus cidadãos e se abstêm de gerar. Mas isso não é bom se não se pratica em conformidade com a fé no Bem Supremo que é Deus. Todavia, não se sabe de ninguém que o tenha praticado antes do Dilúvio. O próprio Henoc, o sétimo descendente de Adão, de quem se conta que não morreu, mas que foi arrebatado, gerou antes filhos e filhas, entre eles Matusalém, através do qual prosseguiu a ordem das mencionadas gerações.


(cont)

(Revisão da versão portuguesa por ama)




[i] Lc., XX, 34.

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