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14/05/2017

Tratado da vida de Cristo 160

Questão 53: Da ressurreição de Cristo

Art. 4 — Se Cristo foi à causa da sua ressurreição.

O quarto discute-se assim. — Parece que Cristo não foi a causa da sua ressurreição.

1. — Pois, quem é ressuscitado por outro não é a causa da sua ressurreição. Ora, Cristo foi ressuscitado por outro, segundo o Evangelho: Ao qual Deus ressuscitou, soltas as dores do inferno. E o Apóstolo: Aquele que ressuscitou dos mortos a Jesus Cristo também dará vida aos vossos corpos mortais, etc. Logo, Cristo não é a causa da sua ressurreição.

2. Demais. — Quem pede uma causa a outro não dizemos que a merece nem que dela é causa. Ora, Cristo com a sua Paixão mereceu a ressurreição; assim, como diz Agostinho, as humilhações da Paixão mereceram a glória da ressurreição. E também ele pediu ao Pai que lhe concedesse a ressurreição, segundo a Escritura: Tu, pois, Senhor, tem compaixão de mim e ressuscita-me. Logo, Cristo não foi a causa da sua ressurreição.

3. Demais. — Como prova Damasceno, quem ressuscita não é a alma, mas o corpo ferido pela morte. Ora, o corpo não pode unir a si a alma, mais nobre que ele. Logo, o que em Cristo ressuscitou não podia ser a causa da sua ressurreição.

Mas, em contrário, o Senhor diz: Ninguém tira de mim a minha alma, mas eu de mim mesmo a ponho e tenho o poder de a reassumir. Ora, ressuscitar não é senão assumir de novo a alma. Logo, parece que Cristo ressuscitou por virtude própria.

Como dissemos, pela morte não ficou separada a divindade nem da alma nem do corpo de Cristo. Ora, tanto a alma de Cristo morto, como o seu corpo podem ser considerados a dupla luz: em razão da divindade e em razão da própria natureza criada. - Segundo, pois, a virtude da divindade que lhe estava unida tanto o corpo reassumiu a alma, que depusera, como a culpa reassumiu o corpo, que demitira. E tal o diz o Apóstolo, de Cristo: Ainda que foi crucificado por enfermidade, vive, todavia, pelo poder de Deus. - Se, porém, considerarmos o corpo e a alma de Cristo morto, quanto à virtude da natureza criada, então não podiam ser reunidos um à outra, mas era mister que fosse Cristo ressuscitado por Deus.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — O mesmo é a virtude divina que a obra do Pai e do Filho. Donde, Cristo ressuscitou tanto pela virtude divina do Pai, como pela sua própria.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Cristo, orando, pediu e mereceu a sua ressurreição, enquanto homem, mas não como Deus.

RESPOSTA À TERCEIRA. — O corpo, pela sua natureza criada, não tem maior poder que a alma de Cristo; mais poderoso é que ela, porém, por virtude divina. Mas a alma, por sua vez, pela divindade que lhe estava unida, tem maior poder que o corpo na sua natureza criada. E assim, segundo a virtude divina, o corpo e a alma se reassumiram mutuamente, mas não segundo a virtude da natureza criada. 

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.



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