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02/04/2017

Tratado da vida de Cristo 154

Questão 52: Da descida de Cristo aos infernos

Art. 6 — Se Cristo livrou alguns condenados do inferno.

O sexto discute-se assim. — Parece que Cristo livrou alguns condenados do inferno.

1. — Pois, diz a Escritura: Serão atados todos juntos num feixe para serem lançados no lago e ficarão ali encerrados no cárcere e depois de muitos dias serão visitados. E esse lugar refere-se aos condenados que adoraram a milícia do céu. Logo, parece que também Cristo visitou na sua descida dos infernos os condenados. O que, portanto, lhes dizia respeito à libertação.

2. Demais. — Ao lugar da Escritura: Tu também pelo sangue do teu testamento fizeste sair os teus presos do lago em que não há água — diz a Glosa: Tu livraste os que estavam retidos presos nos cárceres, onde não os refrigerava em nada aquela misericórdia pedida pelo rico do Evangelho. Ora, só os condenados são os encerrados em cárceres, sem misericórdia. Logo, Cristo libertou alguns condenados do inferno.

3. Demais. — O poder de Cristo não foi menor no inferno que neste mundo; pois, em ambos os lugares ele agiu pelo poder da sua divindade. Ora, neste mundo libertou muitos, de todos os estados. Logo, também livrou alguns dos condenados do inferno.

Mas, em contrário, a Escritura: Ò morte, eu serei a tua morte; ó inferno, eu serei a tua mordedura! E comenta a Glosa: Tirando do inferno os eleitos, mas lá deixando os réprobos. Ora, só os réprobos estão no inferno dos condenados. Logo, pela descida de Cristo aos infernos não foi livrado nenhum dos condenados.

Como dissemos Cristo, descendo aos infernos, obrou em virtude da sua Paixão. Donde, a sua descida aos infernos só produziu o fruto da libertação aos que estavam unidos à Paixão de Cristo pela fé informada pela caridade, que tira os pecados. Quanto aos condenados ao inferno, ou de todo não tinham fé na Paixão de Cristo, como os infiéis; ou se a tinham, não tinham nenhuma conformidade com a caridade de Cristo padecente. Por isso também não foram purificados dos seus pecados. Donde, a descida de Cristo aos infernos não lhes causou a libertação do reato da pena infernal.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Pela sua descida aos infernos Cristo de certo modo visitou todos os que estavam em qualquer parte deles. Mas alguns, para consolação e libertação; e alguns outros, os condenados, para vergonha e confusão. Por isso, no mesmo lugar se acrescenta: E a lua se envergonhará e se confundirá o sol, etc. — Mas a passagem pode ainda referir-se à visita que hão-de receber os condenados no dia de juízo, não para serem livrados, mas para serem mais confirmados na sua condenação, segundo a Escritura: Virei com a minha visita sobre os homens que estão encravados nas suas fezes.

RESPOSTA À SEGUNDA. — O dito da Glosa — nenhuma misericórdia os refrigerava, entende-se do refrigério da perfeita libertação. Porque os santos Patriarcas não podiam ser livrados dos cárceres do inferno, antes do advento de Cristo.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Não foi por falta de poder que Cristo não livrou alguns de cada um dos estados do inferno, como livrou a muitos dos vários estados da terra; mas por causa das condições diversas destes e daqueles. Pois, os homens, enquanto vivem podem converter-se à fé e à caridade; porque nesta vida não estão confirmados nem no bem nem no mal, como o estarão depois de saírem dela.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.



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