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12/02/2017

Tratado da vida de Cristo 147

Questão 51: Da sepultura de Cristo

Art. 3 — Se o corpo de Cristo se reduziu a cinza, no sepulcro.

O terceiro discute-se assim. — Parece que o corpo de Cristo se reduziu as cinzas, no sepulcro.

1. — Pois, assim como a morte foi a pena do pecado dos nossos primeiros pais, assim a redução às cinzas. Porquanto foi dito ao primeiro homem - Tu és pó e em pó te tornarás, como refere a Escritura. Ora, Cristo padeceu a morte para nos livrar dela. Logo, também o seu corpo devia reduzir-se a cinzas, a fim de livrar o nosso dessa mesma redução.

2. Demais. — O corpo de Cristo era da mesma natureza que o nosso. Ora o nosso corpo logo depois da morte, começa a desfazer-se e a entrar em putrefacção; porque, desaparecido o calor natural, sobrevém o calor estranho, causa da putrefacção. Logo, parece que o mesmo devia ter-se dado com o corpo de Cristo.

3. Demais. — Como se disse, Cristo quis ser sepultado, para nos dar a esperança de ressurgir, mesmo do sepulcro. Logo, também devia ter sofrido a redução a cinzas, para dar a esperança de ressurgir aos que se acham reduzidos a cinzas, mesmo depois dessa redução.

Mas, em contrário, a Escritura: Não permitirás que o teu santo veja corrupção. O que, Damasceno explica, se refere à corrupção resultante da redução aos elementos.

Não convinha que o corpo de Cristo se putrefizesse ou fosse de qualquer modo reduzido a cinzas. Porque a putrefacção de qualquer corpo provém-lhe da debilidade da natureza, que não pode mais conservar-lhe a unidade. Ora, a morte de Cristo como dissemos, não podia ser resultante da debilidade da natureza, a fim de que não se pensasse que não foi voluntária. Por isso quis morrer não de doença, mas dos padecimentos que lhe foram impostos e aos quais se ofereceu espontaneamente. Donde, a fim de que a sua morte não lhe fosse atribuída à doença, Cristo não permitiu o seu corpo putrefazer-se de nenhum modo, nem de nenhum modo corromper-se; mas, para mostrar o poder divino, quis permanecesse incorrupto. Por isso diz Crisóstomo: Dos homens, os que procederam heroicamente, os próprios feitos lhe ornam a vida; mas suas glórias perecem com a morte, totalmente o contrário se deu com cristo. Pois, antes da cruz tudo lhe era tristeza e enfermidade; depois, porém de crucificado, tudo se lhe torna glorioso — a fim de saberes que não era um puro homem esse crucificado.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Cristo, não estando sujeito ao pecado, também não o estava à morte nem a ser reduzido a cinzas. Voluntàriamente, porém, sofreu a morte pela nossa salvação, pelas razões já apresentadas. Se, porém, o corpo lhe tivesse sido putrefato ou decomposto, isso teria sido antes em detrimento da salvação humana; pois então não acreditaríamos no seu poder divino. Por isso, da sua pessoa diz a Escritura: Que proveito há no meu sangue se desço à corrupção? Como se dissesse: Se o meu corpo se putrefizer, perder-se-á o proveito do sangue derramado.

RESPOSTA À SEGUNDA. — O corpo de Cristo, quanto à condição da natureza passível, foi putrescível, embora não quanto à causa do merecimento da putrefacção, que é o pecado. Mas o poder divino preservou o corpo de Cristo da putrefacção, como o ressuscitou da morte.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Cristo ressurgiu dos mortos pelo seu poder divino, que não é coarctado por nenhum limite. Por onde, o facto de ter ressurgido do sepulcro era um argumento suficiente para estabelecer que os homens haveriam de ressuscitar, por esse poder divino, não só dos sepulcros, mas também de quaisquer cinzas.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.

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