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28/05/2016

Santo Rosário - Mistérios da Luz

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MISTÉRIOS DA LUZ ([i])

Quinto Mistério


Instituição da Eucaristia

Talvez o maior milagre de Amor que podemos constatar e usufruir.

Que outra coisa senão o Amor incomensurável de Cristo Nosso Senhor pelos Seus irmãos os homens poderia estar na origem da Santíssima Eucaristia?

Ficar, verdadeiramente ficar em Corpo, Sangue, Alma e Divindade para sempre, para sempre!

Estamos em plena Ceia, a última que Jesus celebra com os Seus discí­pulos mais próximos.

Uma sequência de gestos do Senhor plenos de significado e profunda­mente marcantes.

Há no ambiente algo inusitado que todos adivinham sério, importante, grave.

Começa por lavar os pés aos doze o primeiro ensinamento - como di­ríamos hoje - para "memória futura": servir!

Depois o episódio em que Judas é o protagonista: a traição!

Jesus tem o coração cada vez mais" apertado " mas, mesmo assim, não revela a terrível verdade.

Segue-se o longo discurso que é como que uma declaração testamen­tária: o amor!

Finalmente esse mesmo Amor como que "cede" ante a perplexidade triste dos onze e Jesus institui a Sagrada Eucaristia dando-lhes o poder de renovar - para sempre - esse extraordinário testemunho.

E, nós, cristãos de hoje, passados mais de dois mil anos, podemos participar nessa Ceia, receber o Santíssimo Corpo Alma e Divindade do nosso Salvador.

Passados a noite e o dia da Paixão, quando o corpo de Jesus repousa finalmente no sepulcro, o que terão contado a Nossa Senhora?

Como ela terá compreendido a verdadeira "dimensão" da Eucaristia e, seguramente, como com doçura e paciência de Mãe, a terá explicado aos pobres e inconsoláveis discípulos!

Ela é o refúgio seguro - o único que têm - e sabem que podem confiar absolutamente nos seus conselhos e orientações.

A Mãe do Redentor, como que é o traço que une o Filho morto na Cruz aos homens seus irmãos que, nos derradeiros momentos da Sua vida terrena, lhe entregou como filhos.

(ama, Malta, Abril de 2016



[i] São João Paulo II acrescentou estes “Mistérios” a que chamou da Luz – ou Luminosos– ao Rosário de Nossa Senhora.

Não sei, evidentemente, a razão que terá levado o Santo Pontífice a fazê-lo e alguém poderá questionar o que têm a ver com o Rosário Mariano.

Têm tudo a ver porque a vida de Nossa Senhora está tão intimamente unida à do Seu Filho, nosso Salvador, que me parece muito lógico e adequado.

Os Cinco Mistérios levam-nos a considerar, principalmente, a instituição dos sacramentos que Jesus nos quis deixar como preciosos e imprescindíveis meios para obter a Salvação Eterna que nos ganhou na Cruz.

Cinco passos para vencer a depressão 4

Quarto passo


Procure ser útil: uma pessoa, mesmo com depressão, pode prestar um serviço aos outros ou a si mesmo.

Esta experiência de ajudar a diminuir a dor do outro, ou de ajudá-lo a ser feliz, é algo que cura, porque, entre outras coisas, induz a pessoa a deixar de olhar o tempo todo para si mesma, para os próprios problemas, caindo na auto-compaixão.

(saulo medina ferrer, psicólogo)


(Revisão da versão portuguesa por ama)

Antigo testamento / Êxodo 17

Êxodo 17

Água da rocha

1 Toda a comunidade de Israel partiu do deserto de Sim, andando de um lugar para outro, conforme a ordem do Senhor. Acamparam em Refidim, mas lá não havia água para beber.

2 Por essa razão queixaram-se a Moisés e exigiram: "Dá-nos água para beber".
Ele respondeu: "Por que se queixam a mim? Por que põem o Senhor à prova?"

3 Mas o povo estava sedento e reclamou a Moisés: "Por que nos tiraste do Egipto? Foi para matar de sede a nós, aos nossos filhos e aos nossos rebanhos?"

4 Então Moisés clamou ao Senhor: "Que farei com este povo? Estão a ponto de apedrejar-me!"

5 Respondeu-lhe o Senhor: "Passa à frente do povo. Leva contigo algumas das autoridades de Israel, tem na mão a vara com a qual feriste o Nilo e segue para frente.

6 Eu estarei à tua espera no alto da rocha do monte Horebe. Bate na rocha, e dela sairá água para o povo beber". Assim fez Moisés, à vista das autoridades de Israel.

7 E chamou aquele lugar Massá e Meribá, porque ali os israelitas reclamaram e puseram o Senhor à prova, dizendo: "O Senhor está entre nós, ou não?"

A derrota dos amelequitas

8 Sucedeu que os amalequitas vieram atacar os israelitas em Refidim.

9 Então Moisés disse a Josué: "Escolhe alguns dos nossos homens e luta contra os amalequitas. Amanhã tomarei posição no alto da colina, com a vara de Deus nas minhas mãos".

10 Josué foi então lutar contra os amalequitas, conforme Moisés tinha ordenado. Moisés, Arão e Hur, porém, subiram ao alto da colina.

11 Enquanto Moisés mantinha as mãos erguidas, os israelitas venciam; quando, porém, as abaixava, os amalequitas venciam.

12 Quando as mãos de Moisés já estavam cansadas, eles pegaram numa pedra e colocaram-na debaixo dele, para que nela se assentasse. Arão e Hur mantiveram erguidas as mãos de Moisés, um de cada lado, de modo que as mãos permaneceram firmes até o pôr-do-sol.

13 E Josué derrotou o exército amalequita ao fio da espada.

14 Depois o Senhor disse a Moisés: "Escreve isto num rolo, como memorial, e declara a Josué que farei que os amalequitas sejam esquecidos para sempre debaixo do céu".

15 Moisés construiu um altar e chamou-lhe "o Senhor é a minha bandeira".

16 E jurou: "Pelo trono do Senhor! O Senhor fará guerra contra os amalequitas de geração em geração".

(Revisão da versão portuguesa por ama)

Antigo testamento / Génesis

Génesis 37

O sonho de José

1 Jacob habitou na terra de Canaã, onde seu pai tinha vivido como estrangeiro.

2 Esta é a história da família de Jacob: Quando José tinha dezassete anos, pastoreava os rebanhos com os seus irmãos. Ajudava os filhos de Bila e os filhos de Zilpa, mulheres do seu pai; e contava ao pai a má fama deles.

3 Ora, Israel gostava mais de José do que de qualquer outro filho, porque tinha nascido na sua velhice; por isso mandou fazer para ele uma túnica longa.

4 Quando os seus irmãos viram que o pai gostava mais dele do que de qualquer outro filho, odiaram-no e não conseguiam falar com ele amigavelmente.

5 Certa vez, José teve um sonho e, quando o contou a seus irmãos, eles passaram a odiá-lo ainda mais.

6 "Ouçam o sonho que tive", disse-lhes.

7 "Estávamos amarrando os feixes de trigo no campo, quando o meu feixe se levantou e ficou em pé, e os vossos feixes ajuntaram-se ao redor do meu e curvaram-se diante dele."

8 Os seus irmãos disseram-lhe: "Então tu vais reinar sobre nós? Quer dizer que tu vais governar-nos?" E odiaram-no ainda mais, por causa do sonho e do que tinha dito.

9 Depois teve outro sonho e contou-o aos seus irmãos: "Tive outro sonho, e desta vez o sol, a lua e onze estrelas curvavam-se diante de mim".

10 Quando o contou ao pai e aos irmãos, o pai repreendeu-o e disse-lhe: "Que sonho foi esse que tiveste? Será que eu, a tua mãe, e os teus irmãos viremos a curvar-nos até o chão diante de ti?"

11 Assim os seus irmãos tiveram ciúmes dele; o pai, no entanto, reflectia naquilo.

José é vendido pelos irmãos

12 Os irmãos de José tinham ido cuidar dos rebanhos do pai, perto de Siquém, e Israel disse a José: "Como sabes, os teus irmãos estão apascentando os rebanhos perto de Siquém. Quero que vás até lá".
"Sim, senhor", respondeu ele.

13 Disse-lhe o pai: "Vai ver se está tudo bem com os teus irmãos e com os rebanhos, e traz-me notícias". Jacob enviou-o quando estava no vale de He­brom.
Mas José perdeu-se quando se aproximava de Siquém; um homem encontrou-o vagueando pelos campos e perguntou-lhe: "Que é que estás procurando?"

14 Ele respondeu: "Procuro os meus irmãos. Podes dizer-me onde eles estão apascentando os rebanhos?"

15 Respondeu o homem: "Eles já partiram daqui. Eu ouvi-os dizer: 'Vamos para Dotã' ".
Assim José foi em busca dos seus irmãos e encontrou-os perto de Dotã.

16 Mas eles viram-no de longe e, antes que chegasse, planejaram matá-lo.

17 "Lá vem aquele sonhador!", diziam uns aos outros.

18 "É agora! Vamos matá-lo e atirá-lo num destes poços, e diremos que um animal selvagem o devorou. Veremos então o que será dos seus sonhos."

19 Quando Rúben ouviu isso, tentou livrá-lo das mãos deles, dizendo: "Não lhe tiremos a vida!"

20 E acrescentou: "Não derramem sangue. Atirem-no naquele poço no deserto, mas não toquem nele". Rúben propôs isso com a intenção de livrá-lo e levá-lo de volta ao pai.

21 Chegando José, os seus irmãos arrancaram-lhe a túnica longa, agarraram-no e atiraram-no no poço, que estava vazio e sem água.

22 Ao se sentarem para comer, viram ao longe uma caravana de ismaelitas que vinha de Gileade. Os seus camelos estavam carregados de especiarias, bálsamo e mirra, que levavam para o Egipto.

23 Judá disse então aos seus irmãos: "Que ganharemos se matarmos o nosso irmão e escondermos o seu sangue?

24 Vamos vendê-lo aos ismaelitas. Não tocaremos nele, afinal é nosso irmão, é do nosso próprio sangue". E os seus irmãos concordaram.

25 Quando os mercadores ismaelitas de Midiã se aproximaram, os seus irmãos tiraram José do poço e venderam-no por vinte peças de prata aos ismaelitas, que o levaram para o Egipto.

26 Quando Rúben voltou ao poço e viu que José não estava lá, rasgou as suas vestes e, voltando-se para os seus irmãos, disse: "O jovem não está lá! Para onde irei agora?"

27 Então eles mataram um bode, mergulha­ram no sangue a túnica de José e mandaram-na ao pai com este recado: "Achamos isto. Vê se é a túnica do teu filho".

28 Ele reconheceu-a e disse: "É a túnica do meu filho! Um animal selvagem o devorou! José foi despedaçado!"

29 Então Jacob rasgou as suas vestes, vestiu-se de pano de saco e chorou muitos dias pelo seu filho.

30 Todos os seus filhos e filhas vieram consolá-lo, mas ele recusou ser consolado, dizendo: "Não! Chorando descerei à sepultura para junto do meu filho". E continuou a chorar por ele.

31 Nesse meio-tempo, no Egipto, os midianitas venderam José a Potifar, oficial do faraó e capitão da guarda.

(Revisão da versão portuguesa por ama)








Maio - Confiança



Tantas coisas que se entrechocam no meu espírito como que num vendaval que não consigo controlar.
E, sem querer, deixo-me ir, assim, meio tonto, nas asas desse vento impetuoso que me impele não sei para onde.
Quero deter-me e pensar, de facto, no que posso fazer, melhor, no que devo fazer.

Chego à conclusão que não me resta outra coisa que abandonar-me, serena e confiadamente, nos braços dulcíssimos da minha Mãe do Céu.

Ela me levará para onde devo estar, Ela me dirá o que devo fazer.


ama, 1999

Evangelho, comentário, L. espiritual


Tempo Comum

Evangelho: Lc 7, 1-10

1 Tendo terminado este discurso ao povo, entrou em Cafarnaum. 2 Ora um centurião tinha doente, quase a morrer, um servo que lhe era muito querido. 3 Tendo ouvido falar de Jesus, enviou-Lhe alguns anciãos dos judeus a pedir-Lhe que viesse curar o seu servo. 4 Eles, tendo ido ter com Jesus, pediam-Lhe instantemente, dizendo: «Ele merece que lhe faças esta graça, 5 porque é amigo da nossa nação e até nos edificou a sinagoga». 6 Jesus foi com eles. Quando estava já perto da casa, o centurião mandou uns amigos a dizer-Lhe: «Senhor, não Te incomodes, porque eu não sou digno de que entres debaixo do meu teto. 7 Por essa razão nem eu me achei digno de ir ter contigo; mas diz uma só palavra, e o meu servo será curado. 8 Porque também eu, simples subalterno, tenho soldados às minhas ordens, e digo a um: Vai! e ele vai; e a outro: Vem! e ele vem; e ao meu servo: Faz isto! e ele faz». 9 Jesus, ao ouvir isto, ficou admirado e, voltando-Se para a multidão que O seguia, disse: «Em verdade vos digo que não encontrei tanta fé em Israel». 10 Voltando para casa os que tinham sido enviados, encontraram o servo curado.

Comentário:

Tão extraordinária ocorrência tinha de ficar gravada para todo o sempre:

“Não sou digno… mas, se disseres uma só palavra…”!

É o que repetimos, sempre, quando nos preparamos para receber o Senhor.

Com que disposição o dizemos?

Mecanicamente… ou sentindo, de facto, cada palavra que pronunciamos?

(ama, comentário sobre Lc 7, 1-10, V. Moura 2013.09.16)


Leitura espiritual



INTRODUÇÃO AO CRISTIANISMO

CAPÍTULO QUARTO

"Creio em Deus" – Hoje
…/4

Parece-me que o carácter ecuménico do texto se esclarece de um lado inesperado. Certamente, sabemos todos que a "oração sacerdotal" de Jesus [1], da qual falávamos, representa a carta magna de todo o esforço em prol da unidade da Igreja. Mas, não será que, muitas vezes, nos conservamos muito na superfície do seu conteúdo? A nossa consideração demonstra que a unidade cristã denota, primeiramente, unidade com Cristo, possível onde cessa a acentuação do próprio "eu", substituída pela existência simplesmente descomprometida "de" e "para". A uma vida assim com Cristo, mergulhada completamente na disponibilidade daquele que não queria considerar nada como seu segue-se a completa união – "para que sejam um, como nós o somos". Toda a falta de união, toda a separação baseia-se numa carência oculta do autêntico espírito cristão, num apego ao que é próprio, com o que se provoca a ruína da unidade.

Creio não ser sem importância notar como a doutrina trinitária invade a existência, como a afirmação – relação é igual a pura unidade – se torna transparente quando aplicada a nós. É da essência, da natureza da personalidade trinitária ser pura relação, e, portanto, unidade a mais completa e absoluta. Não há contradição nisto, o que aliás se pode perceber. E agora pode compreender-se, melhor do que antes, não ser o "átomo" a menor partícula indivisível, possuidora da mais elevada unidade, mas que a pura unidade real pode efectivar-se primeiro no espírito, incluindo a relatividade do amor. Portanto, a defesa da unidade de Deus não é menos radical no Cristianismo do que em qualquer outra religião monoteísta; aliás, no Cristianismo essa unidade alcança a sua grandeza completa. Ora, a essência da vida cristã é integrada pela aceitação e pela vivência da existência como relação, penetrando desta maneira naquela unidade que é o fundamento sustentador da realidade. Com o que deveria estar demonstrado como uma doutrina trinitária bem compreendida pode tornar-se o ponto central da Teologia e do pensamento cristão em geral, de onde as demais linhas irradiam.

Tornemos novamente ao Evangelho de João que fornece os subsídios decisivos. Pode afirmar-se que a linha insinuada representa a dominante propriamente dita da sua Teologia. Ela revela-se, ao lado da ideia do "Filho", sobretudo em dois outros conceitos cristológicos que vamos indicar pelo menos rapidamente para completar o assunto. Trata-se do conceito de "missão" e do epíteto de Jesus como "Palavra" ("Verbo, Logos") de Deus. Mais uma vez a teologia da missão cobre-se com a teologia do ser como relação e a relação como modo de unidade. É conhecida a afirmação rabínica: "O enviado de um homem é como ele mesmo". Jesus surge em João como o enviado do Pai, e nele se cumpre tudo que os outros mensageiros conseguiram apenas assintoticamente: Jesus empenha-se de facto em ser o enviado; ele é o único mensageiro que representa o outro, sem pôr de permeio nada dos seus próprios interesses. E assim, como autêntico enviado, ele é um com quem o envia. De novo, o conceito de missão conota o ser como ser "de" e ser "para"; e o ser é novamente compreendido como simples estar-aberto sem restrição. E outra vez segue-se a aplicação à vida cristã: "Como o Pai me enviou, assim eu vos envio" [2]. Subordinada essa existência à categoria de missão, também ela passa a denotar ser "de" e "para", como relacionamento e, por isto, como unidade. Finalmente, ainda uma observação em torno da ideia de Logos. Caracterizando o Senhor como Logos, João colhe um termo vastamente espalhado na mentalidade grega e judaica, aceitando com ele uma série de conotações ligadas ao mesmo, e que são transferidas para Cristo. Contudo, talvez a novidade que João imprimiu ao termo esteja, não por último, na circunstância de, para ele, "Logos" não significar meramente a ideia de uma eterna racionalidade do ser, como era compreendido na mentalidade grega. O conceito Logos aplicado a Jesus de Nazaré recebe uma nova dimensão. Não denota mais apenas a perpenetração, o embebimento de todo o ser com um sentido, mas denota determinado homem: este, aqui presente, é Logos (Verbo, Palavra). O conceito Logos, sentido, "razão" para o grego (ratio), transforma-se realmente em "Palavra" (Verbum). Este, aqui presente, é Verbo; portanto ele é "fala" e assim, a pura relação do que fala para com aqueles aos quais fala. Portanto, a teologia do Logos, como teologia do Verbo, torna a ser abertura do ser no rumo da ideia de relação. E torna a valer: Verbo essencialmente é "de um outro" e "para um outro", é existência, é completamente caminho e abertura.

Terminemos com um texto de Agostinho, que coloca o assunto em plena luz, de modo grandioso. Encontra-se no comentário ao Evangelho de S. João, no texto: "Mea doctrina non est mea – minha doutrina não é minha doutrina, mas do Pai que me enviou" [3]. Aproveitando o paradoxo desta afirmação, Agostinho esclareceu o paradoxo da ideia cristã de Deus e da vida cristã. Ele pergunta-se, primeiro, se não é pura contradição, violência contra as regras elementares da lógica dizer algo como: o meu não é meu. Mas, assim vai penetrando em que consiste afinal a "doutrina" de Jesus que, simultaneamente, é e não é dele? Jesus é "palavra", portanto é claro que a sua doutrina é ele mesmo. Tornando a ler a frase, sob este ponto de vista, eis o que Jesus declara: eu não sou apenas eu; eu não sou meu mas o meu "eu" é de um outro. Com o que, ultrapassando a cristologia, chegamos a nós mesmos: Quid tam tuum quam tu, quid tam non tuum quam tu – o que é tão teu como tu mesmo; o que é tão pouco teu como tu mesmo?" O mais nosso – que realmente pertence a nós somente – o próprio "eu" é, ao mesmo tempo, o menos nosso, porque justamente o nosso "eu" não o temos de nós nem para nós. O "eu" é o que mais tenho e, simultaneamente, o que menos me pertence. Portanto, torna a romper-se o conceito de simples substância (= do que subsiste em si), patenteando-se como um ser racional compreende que não se pertence dentro da sua identidade; que somente chega a si afastando-se de si, regressando, como relacionamento, para a sua verdadeira origem.

Mediante tais ponderações não se arranca o véu de mistério à doutrina trinitária. Contudo, é claro que, por meio delas, se abre nova compreensão da realidade, do que é o homem, do que é Deus. No ponto da teoria, aparentemente mais extremada, revela-se algo de muito práctico. Falando-se de Deus, descobre-se quem é o homem. O mais paradoxal é simultaneamente o mais claro e o mais prático.

SEGUNDA PARTE

JESUS CRISTO

CAPÍTULO PRIMEIRO

"Creio em Jesus Cristo seu Filho Unigénito, Nosso Senhor".

I. O problema da Fé em Jesus Cristo hoje

A segunda parte principal do Credo coloca-nos propriamente diante do elemento cristão fundamental – já abordado, de leve, nas considerações introdutórias: a crença de que o homem Jesus, um indivíduo executado na Palestina pelo ano 30, é o "Cristo" (ungido, escolhido) de Deus, e mais: é o próprio Filho de Deus, centro e opção de toda a história humana. Parece ousadia e tolice declarar centro decisivo da história inteira uma figura isolada, destinada a diluir-se mais e mais nas névoas do passado. A fé no "Logos", na razão ou racionalidade do ser, corresponde perfeitamente a uma tendência da razão humana; ora, neste segundo artigo do Credo realiza-se a quase monstruosa união de Logos e Sarx, de razão ou sentido e figura individual da história. O sentido que sustenta todo o ser, tornou-se carne, isto é, penetrou na história, tornando-se alguém nela; ele não é mais apenas quem envolve e carrega a história, mas um ponto dentro dela. De acordo com isto, o sentido de todo o ser não mais poderia ser encontrado, de agora em diante, na intuição do espírito a elevar-se acima do individual e limitado, até alcançar o geral; não mais existiria simplesmente no mundo das ideias a ultrapassar o particular, refletindo-se aí apenas fragmentada; deveria ser encontrado imerso no tempo, no rosto de um homem. Acorre à memória a comovente passagem com que Dante encerra a Divina Comédia quando, ao contemplar o mistério de Deus, no meio daquela "omnipotência de amor, que conduz, silente e harmoniosa, o sol no seu círculo e todas as estrelas", descobre com bem-aventurada admiração a sua semelhança, uma face humana. Mais tarde teremos de considerar a mudança do aspecto de ser para sentido que daí resulta. Por ora constatamos que, ao lado da união de Deus da fé e Deus dos filósofos reconhecida, no primeiro artigo, como condição fundamental e forma estrutural da fé cristã, surge agora uma segunda união, não menos decisiva, a saber, de Logos e Sarx, de Verbo e Carne, de fé e história. O homem histórico Jesus é o Filho de Deus, e o Filho de Deus é o homem Jesus. Deus acontece para o homem mediante o homem, e até mais concretamente: mediante aquele homem no qual se revela o aspecto definitivo da existência humana e o qual é ao mesmo tempo o próprio Deus.

Talvez já agora se delineiem os traços que mostram revelar-se no paradoxo de Verbo e Carne algo cheio de sentido e em sintonia com o Logos. Contudo, o primeiro impacto desta realidade causa escândalo ao pensamento humano: Não nos tornamos com isto vítimas de um tremendo positivismo? Será razoável agarrar-nos à palhinha de um único acontecimento histórico? Poderemos ousar fundamentar a nossa existência inteira, e até a história toda, sobre o que não passa de pobre palha de um acontecimento qualquer a boiar no grande oceano da história? Já constitui gesto temerário o simples facto de imaginar algo assim, que parecia inaceitável ao pensamento asiático, e torna-se mais difícil, ou pelo menos mais dificultado de outra forma, com as premissas do pensamento moderno, a saber, pela maneira como agora se transmitem os dados históricos, o método histórico-crítico. Este método revela que na esfera do encontro com a história se apresenta um problema semelhante ao que deparou a pesquisa do ser e do seu fundamento no método físico e na forma científico-natural do exame da natureza. Em considerações correspondentes já vimos que a Física renuncia à descoberta do ser, concentrando-se sobre o "positivo", sobre o que se pode provar; e se vê condenada a pagar, com a renúncia à verdade; a vantagem impressionante em exactidão, conseguida deste modo, renúncia que pode chegar ao ponto de fazer desaparecer o ser e a mesma verdade atrás das grades do positivo, tornando-se sempre mais impossível a Ontologia e também a Filosofia, devendo retrair-se à Fenomenologia, isto é, à pesquisa das aparências.

Parecida é a ameaça no campo da pesquisa histórica. A adequação ao método da Física é levada o mais longe possível, embora encontre os seus limites internos no facto de a História não poder elevar-se à comprovação – centro da ciência moderna – não poder obter a iteração, sobre a qual se baseia a certeza, singular das comprovações científicas. Ao historiador não é dado repetir a história passada, irrepetível, devendo contentar-se com a comprovação da probabilidade das provas sobre as quais funda as suas opiniões. A consequência dessa posição metodológica – à semelhança das ciências naturais – é que, também na História, o campo visual alcança exclusivamente o lado fenomenológico, externo, do evento. Mas este lado fenomenal, isto é, exterior, verificável em provas, é duplamente problemático, mais ainda do que o positivismo da Física. É problemático, primeiro, por depender do acaso dos documentos, ou seja, das manifestações ocasionais, enquanto a Física, em qualquer hipótese, pode ter presente o indispensável lado exterior das realidades materiais. E mais duvidoso ainda se torna porque a manifestação humana em documentos é menos adequada do que as manifestações espontâneas da natureza: os documentos reflectem apenas insuficientemente as profundezas humanas, chegando mesmo a encobri-las; sua interpretação envolve, compromete o homem e seu feitio pessoal de pensar, com energia muito maior do que a leitura dos fenómenos físicos. De acordo com isto, deve reconhecer-se que a imitação do método científico-natural, na esfera da História, aumenta indubitavelmente a certeza das conclusões, mas não se pode, também, negar que traz consigo uma opressiva perda de verdade, que vai além daquelas perdas ocorridas na Física. Como na Física o ser é postergado ao fenómeno, assim, na História, passa a valer como histórico exclusivamente o que é transmitido e oferecido por métodos históricos. Não raras vezes esquecemos que a total verdade histórica se esquiva ao cotejo dos dados, não menos do que a verdade do ser se furta à experimentação. E teremos de dizer que a história, no sentido mais exacto do termo, não só se revela, mas também se oculta. Concluir-se-á assim, por si, que a História pode ver o homem Jesus, sem dúvida, mas dificilmente será capaz de encontrar o seu carácter de Cristo, que, como verdade histórica não enquadra na comprovação do que é meramente certo.

(cont)

joseph ratzinger, Tübingen, verão de 1967.

(Revisão da versão portuguesa por ama)





[1] Jo 17
[2] 13,20; 17,18; 20,21
[3] 7,16

Doutrina – 157

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

Compêndio


PRIMEIRA PARTE: A PROFISSÃO DA FÉ
SEGUNDA SECÇÃO: A PROFISSÃO DA FÉ CRISTÃ
CAPÍTULO PRIMEIRO CREIO EM DEUS PAI

OS SÍMBOLOS DA FÉ

61. Como é que os anjos estão presentes na vida da Igreja?

A Igreja une-se aos anjos para adorar a Deus, invoca a sua assistência e celebra liturgicamente a memória de alguns.

«Cada fiel tem ao seu lado um anjo como protector e pastor, para o conduzir à vida» [1].



[1] São Basílio Magno