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09/05/2016

VISITA DA IMAGEM PEREGRINA À PARÓQUIA DA MARINHA GRANDE

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Todo o dia choveu!
À noite, quando chegava a hora de receber a Imagem Peregrina de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, o céu aquietou-se, afastou a chuva e as nuvens, e algumas estrelas brilharam no firmamento.
Sabemos todos que é uma imagem, mas a serenidade do momento, transmite-nos uma emoção terna e amorosa, por vezes acompanhada de lágrimas de gratidão, e conseguimos perceber então a presença da Mãe do Céu, derramando amor, e lembrando-nos continuamente: «Fazei tudo o que Ele vos disser!»
A procissão, ao longo da cidade da Marinha Grande, é uma “avenida” de gente, que reza, canta e se une à volta da Mãe de Deus e nossa Mãe, que vem visitar os seus filhos.
Na igreja, repleta de fiéis, canta-se o Akathistos, Hino em honra da Virgem, Mãe de Deus, de uma beleza indescritível, não só a melodia, mas também o texto, com imagens escritas de rara beleza.
A interpretação é primorosa e conduz-nos a meio caminho entre o Céu e a Terra!
O nosso Bispo, D. António Marto, presente desde o primeiro momento, despede-se de nós algo emocionado e sobretudo grato a Deus e à Virgem Maria, por aqueles momentos sublimes, lembrando-nos que a Mãe nos prometeu que o seu Imaculado Coração triunfará!
Depois uma noite inteira de oração.
No tempo que nos foi distribuído, ao Alpha, aos Jovens, aos Escuteiros, é exposto o Santíssimo Sacramento, porque é esse sempre o maior desígnio da Mãe: Mostrar-nos o seu Filho, conduzir-nos ao seu Filho, entregar-nos ao seu Filho, interceder por nós junto do seu Filho!
E que bem Ela o faz, “desaparecendo” na sua humildade imensa, para que Jesus Cristo, o seu Filho eterno, nos abrace no seu infinito amor.
Ia jurar que ontem à noite, na igreja e em Igreja, ouvi Jesus dizer a sua Mãe:
Mãe, vai abraçando e beijando desse lado todos e cada um, enquanto Eu o faço deste lado. Depois trocamos, para que nenhum, hoje e sempre, deixe de se sentir amado, por Mim e por Ti!
E hoje de manhã a surpresa de uma igreja cheia de gente para cantar as Laudes, fervorosamente, seguidas de uma despedida emocionada, que é sempre um “até já”, ou melhor, um “ficar, partindo”!
E no fim de tudo, apenas e só estas palavras vêm ao meu coração: Obrigado meu Deus, obrigado Jesus, obrigado Mãe!

Marinha Grande, 8 de Maio de 2016
Joaquim Mexia Alves
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Antigo testamento / Génesis 47

Génesis 47

Jacob chega ao Egipto

1 José foi dar as notícias ao faraó: "Meu pai e meus irmãos chegaram de Canaã com as suas ovelhas, os seus bois e tudo o que lhes pertence, e estão agora em Gósen".

2 Depois escolheu cinco dos seus irmãos e apresentou os ao faraó.

3 Perguntou-lhes o faraó: "Em que trabalham?"
Eles responderam-lhe: "Os teus servos são pastores, como os nossos antepassados".

4 Disseram-lhe ainda: "Viemos morar aqui por uns tempos, porque a fome é rigorosa em Canaã, e os rebanhos dos teus servos não têm pastagem. Agora, por favor, permite que os teus servos se estabeleçam em Gósen".

5 Então o faraó disse a José: "o teu pai e os teus irmãos vieram ter contigo, e a terra do Egipto está à sua disposição; faz com que o teu pai e os teus irmãos habitem na melhor parte da terra. Deixa-os morar em Gósen. E, se tu vês que alguns deles são competentes, põe-nos como responsáveis pelo meu rebanho".

7 Então José levou o seu pai Jacob ao faraó e apresentou-o a ele. Depois Jacob abençoou o faraó, e este lhe perguntou: "Quantos anos tens?"

9 Jacob respondeu ao faraó: "São cento e trinta os anos da minha peregrinação. Foram poucos e difíceis e não chegam aos anos da peregrinação dos meus antepassados".

10 Então, Jacob abençoou o faraó e retirou-se.

11 José instalou o seu pai e os seus irmãos e deu-lhes propriedade na melhor parte das terras do Egipto, na região de Ramsés, conforme a ordem do faraó.

12 Providenciou também sustento para o seu pai, para os seus irmãos e para toda a sua família, de acordo com o número de filhos de cada um.

José e a fome

13 Não havia mantimento em toda a região, pois a fome era rigorosa; tanto o Egipto como Canaã desfaleciam por causa da fome.

14 José recolheu toda a prata que circulava no Egipto e em Canaã, dada como pagamento pelo trigo que o povo comprava, e levou-a ao palácio do faraó.

15 Quando toda a prata do Egipto e de Canaã se esgotou, todos os egípcios foram suplicar a José­: "Dá-nos comida! Não nos deixes morrer só porque a nossa prata acabou".

16 E José disse-lhes: "Tragam então os vossos rebanhos, e em troca lhes darei trigo, uma vez que a vossa prata acabou".

17 E trouxeram a José os rebanhos, e ele deu-lhes trigo em troca de cavalos, ovelhas, bois e jumentos. Durante aquele ano inteiro ele sustentou-os em troca de todos os seus rebanhos.

18 O ano passou, e no ano seguinte voltaram a José, dizendo: "Não temos como esconder de ti, meu senhor, que uma vez que a nossa prata acabou e os nossos rebanhos te pertencem, nada mais nos resta para oferecer, a não ser os nossos próprios corpos e as nossas terras.

19 Não deixes que morramos e que as nossas terras pereçam diante dos teus olhos! Compra-nos, e compra as nossas terras, em troca de trigo, e nós, com as nossas terras, seremos escravos do faraó. Dá-nos sementes para que sobrevivamos e não morramos de fome, a fim de que a terra não fique desolada".

20 Assim, José comprou todas as terras do Egipto para o faraó. Todos os egípcios tiveram que vender os seus campos, pois a fome os obrigou a isso. A terra tornou-se propriedade do faraó.

21 Quanto ao povo, José reduziu-o à servidão, de uma à outra extremidade do Egipto.

22 Somen­te as terras dos sacerdotes não foram compradas, porque, por lei, esses recebiam sustento regular do faraó, e disso viviam. Por isso não tiveram que vender as suas terras.

23 Então José disse ao povo: "Ouçam! Hoje comprei-vos e as suas terras para o faraó; aqui estão as sementes para que cultivem a terra.

24 Mas darão a quinta parte das vossas colheitas ao faraó. Os outros quatro quintos ficarão para vós como sementes para os campos e como alimento para vós, os vossos filhos e os que vivem nas vossas casas".

25 Eles disseram: "Meu senhor, tu salvaste-nos a vida. Visto que nos favoreceste, seremos escravos do faraó".

26 Assim, quanto à terra, José estabeleceu o seguinte decreto no Egipto, que permanece até hoje: um quinto da produção pertence ao faraó. Somente as terras dos sacerdotes não se tornaram propriedade do faraó.

27 Os israelitas estabeleceram-se no Egipto, na região de Gósen. Lá adquiriram propriedades, foram prolíferos e multiplicaram-se muito.

28 Jacob viveu dezassete anos no Egipto, e os anos da sua vida chegaram a cento e quarenta e sete.

29 Aproximando-se a hora da sua morte, Israel chamou seu filho José e disse-lhe: "Se queres agradar-me, põe a mão debaixo da minha coxa e promete que serás bondoso e fiel comigo: Não me sepultes no Egipto.

30 Quando eu descansar com os meus pais, leva-me daqui do Egipto e sepulta-me junto deles".
José respondeu: "Farei como me pedes".

31 Mas Jacob insistiu: "Jura-me". E José lhe jurou, e Israel curvou-se apoiado no seu bordão.

(Revisão da versão portuguesa por ama)








Maio - Santo Rosário - Terceiro Mistério Doloroso


Jesus é Coroado de Espinhos

Todo eu me angustio, Senhor, com este quadro horrível. Não já tanto pelo sofrimento, mas ainda mais pela troça, pelo escárnio.

Mal sabiam eles que de facto ajoelhavam em frente do Rei, não só dos Judeus, mas de todos os homens.
Mal sabiam eles que Jesus sabia muito bem quem lhe batia, não só naquele momento, mas durante mais dois mil anos, pelo menos, todos quantos Lhe bateram e Lhe enterraram a horrível Coroa na cabeça.

E eu, onde estava, senhor? Escondido atrás de alguma coluna, estarrecido com tal cena, ou era dos que Te atormentavam e troçavam de Ti?
Quantos espinhos da Tua Coroa foram directamente cravados por mim na Tua fronte sublime?

E quantas vezes o fiz?

Ah, Senhor! Muitas decerto, infelizmente.
E Tu perdoas-me ainda!

Queixo-me eu por um pequeno incómodo, uma dorzita, um mal-estar de nada, um desconforto, que está frio, que está calor… e Tu, senhor, ali, sentado num escabelo, naquela tristíssima e pungente figura de um justiçado silencioso, olhando para os Teus algozes, para mim, com os teus doces olhos serenos e cheios de mágoa. E o Teu pensamento, ao mesmo tempo: Pai perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem!
Mas eu sei, Senhor, ah!... eu sei o que faço. Sempre soube, só que fingia e finjo que não sei. Quero convencer-me que não sou um dos teus algozes, que talvez não passe de eu espectador passivo.

A verdade é bem diferente e eu tenho que humildemente reconhecer que, também eu, por diversas vezes, Te cravei espinhos na cabeça, fiz pouco de Ti, e Te magoei profundamente.
Ali, fora portas, Tua Mãe espera por Ti. Não quero que Te veja neste estado. Tem sofrido tanto, há tantas horas!

Assim, Senhor, que com todo o cuidado retire a coroa da Tua cabeça, procure os espinhos um a um, lave as feridas com as minhas lágrimas, Te vista uma roupa decente e… finalmente, ocupe o Teu lugar no escabelo onde estás sentado.
Sei bem que não tenho merecimento para tal, nem sou digno sequer de tal pedido, mas, Senhor, dar-me-ias Tu coragem para fazer isto?
Consentirias Tu, Senhor, que um pecador como eu, ocupasse o Teu lugar neste momento?

Para onde Deus me leva?

E os silêncios de Deus? 7

A grande Edith Stein disse uma bela verdade:

Não sei para onde Deus me leva, mas sei que é Ele me conduz”.

Isto basta.

Não podemos esperar que a mensagem esteja decifrada para começar a caminhar; assim não começaríamos nunca a viagem.



filipe aquino

(Revisão da versão portuguesa por ama)

Doutrina – 138

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

Compêndio


PRIMEIRA PARTE: A PROFISSÃO DA FÉ
SEGUNDA SECÇÃO: A PROFISSÃO DA FÉ CRISTÃ
CAPÍTULO PRIMEIRO CREIO EM DEUS PAI

OS SÍMBOLOS DA FÉ

42. De que maneira Deus revela que é amor?

Deus revela-se a Israel como Aquele que tem um amor mais forte que o pai ou a mãe pelos seus filhos ou o esposo pela sua esposa. Ele, em Si mesmo, «é amor», [1] que se dá completa e gratuitamente, «que tanto amou o mundo que lhe deu o seu próprio Filho unigénito, para que o mundo seja salvo por seu intermédio». [2] Enviando o seu Filho e o Espírito Santo, Deus revela que Ele próprio é eterna permuta de amor.



[1] 1 Jo 4,8.16
[2] Jo 3,16-17

Evangelho, comentário, L. espiritual

Páscoa

Evangelho: Jo 16, 29-33

29 Os Seus discípulos disseram-Lhe: «Eis que agora falas claramente e não usas nenhuma parábola. 30 Agora conhecemos que sabes tudo e que não é necessário que alguém Te interrogue. Por isso cremos que saíste de Deus». 31 Jesus respondeu-lhes: «Credes agora?». 32 «Eis que vem a hora, e já chegou, em que sereis espalhados cada um para seu lado e em que Me deixareis só; mas Eu não estou só, porque o Pai está comigo. 33 Disse-vos estas coisas para que tenhais paz em Mim. Haveis de ter aflições no mundo; mas tende confiança, Eu venci o mundo».

Comentário:

A vinda do Espírito Santo termina o “tempo das parábolas” em que as verdades da Fé eram expostas por Jesus Cristo aos que O ouviam.
Agora tudo se apresenta de forma clara e simples.

O Espírito Santo concede aos que lho solicitam o conhecimento bastante para se irem adentrando nos assuntos que possam dizer respeito à sua Fé de forma a compreenderem melhor e, assim, ir fortalecendo a sua Fé.

(ama, comentário sobre Jo 16, 29-33 2015.05.18)


Leitura espiritual




INTRODUÇÃO AO CRISTIANISMO

INTRODUÇÃO

“CREIO – AMÉM”

CAPÍTULO PRIMEIRO

Fé no Mundo Hodierno

  1. Dúvida e Fé Situação do homem frente ao problema "Deus"

Quem tentar falar hoje sobre o problema da fé cristã diante de homens não familiarizados com a linguagem eclesiástica por vocação ou convenção, depressa sentirá o estranho e surpreendente de semelhante iniciativa. Provavelmente depressa descobrirá que a sua situação encontra uma descrição exacta no conhecido conto de Kierkegaard sobre o palhaço e a aldeia em chamas, conto que Harvey Cox retomou há pouco no seu livro A Cidade do Homem. A história conta como um circo ambulante na Dinamarca se incendiou. O director manda à aldeia vizinha o palhaço, já caracterizado para a representação, em busca de auxílio, tanto mais que havia perigo de as chamas se alastrarem através dos campos secos, alcançando a própria aldeia. O clown corre para aldeia e suplica aos moradores que venham com urgência ajudar a apagar as chamas do circo incendiado. Mas os habitantes tomam os gritos do palhaço por um formidável truque de publicidade para aliciá-los ao espectáculo; aplaudem-no e riem a bandeiras despregadas. O palhaço sente mais vontade de chorar do que de rir. Debalde tenta conjurar os homem e esclarecer de que não se trata de propaganda alguma, nem de fingimento ou truque, mas de coisa muito séria, porquanto o circo realmente está a arder. O seu esforço apenas aumenta a hilaridade até que, por fim, o fogo alcança a aldeia, tornando excessivamente tardia qualquer tentativa de auxílio; circo e aldeia tornam-se presa das chamas.
Cox conta esta história como símile da situação do teólogo hodierno e vê a figura do teólogo no clown incapaz de transmitir aos homens a sua mensagem. Na sua roupagem de palhaço medieval ou de outro remoto passado qualquer, o teólogo não é tomado a sério. Pode dizer o que quiser, continua como que etiquetado e catalogado pelo papel que representa. Qualquer que seja o seu comportamento e o seu esforço de falar seriamente, sabe-se sempre de antemão que ele é um clown. Já se adivinha qual o assunto da sua mensagem e sabe-se que apenas está representando com pouco ou nenhum nexo com a realidade. Por isso pode ser ouvido sossegadamente, sem inquietar  ninguém com o que afirma. Sem dúvida existe algo de angustiante neste quadro, algo da angustiada realidade em que a teologia e formulação teológica de hoje se encontram; algo da pesada im-possibilidade de quebrar chavões rotineiros do pensamento e da expressão e de tornar reconhecível o problema da teologia como assunto sério da vida humana.

Contudo, talvez o nosso exame de consciência deva mesmo ser mais radical. Talvez tenhamos de reconhecer que esse quadro excitante – por muito verdadeiro e digno de consideração que seja – ainda simplifica em excesso as coisas. Pois, dentro dele, tem-se a impressão que o palhaço, ou seja o teólogo, é quem sabe perfeitamente que traz uma mensagem muito clara. Os aldeões, aos quais acorre, isto é, os homens sem fé, seriam, pelo contrário, completamente ignorantes, os que devem ser instruídos sobre o que lhes é desconhecido. E ao palhaço, em si, bastar-lhe-ia mudar de roupagem, retirar a maquilhagem – e tudo estaria em ordem. Mas, por acaso a questão é assim tão simples? Bastar-nos-ia um simples apelo ao aggiornamento, um mero retirar a maquilhagem e uma reformulação em termos de linguagem do mundo ou de um cristianismo arreligioso para recolocar tudo nos eixos? Bastará uma mudança espiritual ou metafórica de vestes para que os homens acorram animados e ajudem a apagar o incêndio que o teólogo afirma estar lavrando com sério perigo para todos? Vejo-me compelido a afirmar que a teologia de facto desmaquilhada e revestida de moderna embalagem profana, tal como hoje surge em muitos lugares, torna muito simplória essa esperança. Sem dúvida cumpre reconhecer: quem tenta explicar a fé no meio de homens mergulhados na vida moderna e imbuídos da moderna mentalidade, de facto pode ter a impressão de ser um palhaço ou alguém surgido de um antigo sarcófago, que penetrou no mundo hodierno, revestido de trajes e pensamentos da antiguidade, incapaz de compreender este mundo e de ser por ele compreendido. Todavia, se quem tentar anunciar a fé exercer bastante autocrítica, em breve notará não se tratar apenas de uma forma, de uma crise do revestimento em que a teologia se apresenta. Na estranha aventura teológica face aos homens de hoje, quem tomar a sério a sua tarefa há-de reconhecer e experimentar não só a dificuldade da interpretação, mas também a insegurança da própria fé, o poder arrasador da descrença dentro da sua própria vontade de crer. Por isso quem tentar honestamente prestar contas da fé cristã a si e a outros, aprenderá, a duras penas, não ser ele em absoluto o mascarado ao qual bastaria depor o disfarce para poder ensinar eficazmente aos outros. Compreenderá que a sua situação não diverge muito da situação dos outros, como talvez inicialmente tivesse pensado. Terá consciência que de ambos os lados estão presentes as mesmas forças, muito embora de maneiras diversas.

Para começar, no crente existe a ameaça da incerteza capaz de revelar dura e subitamente, em momentos de tentação, a fragilidade de tudo o que, em geral, lhe parece tão evidente. Esclareçamo-lo com alguns exemplos. Teresa de Lisieux, a amável santinha, aparentemente tão isenta de complexidades e de problemas, cresceu numa vida de completa segurança religiosa. A sua vida, do começo ao fim, foi tão perfeitamente e minuciosamente marcada pela fé na Igreja, que o mundo invisível se tornara parcela do seu quotidiano; ou antes, o seu próprio quotidiano, parecendo quase tangível e impossível de ser eliminado da sua vida. Para Teresinha, "religião" era, de facto, um dado prévio e natural da sua existência diária; ela manipulava a religião como nós somos capazes de manejar as trivialidades concretas da vida. Mas justamente ela, aparentemente tão resguardada numa segurança sem risco, deixou-nos comovedoras manifestações do que foram as últimas semanas do seu Calvário, manifestações que, mais tarde, as suas irmãs, assustadas, atenuariam no seu legado literário e que só agora vieram à tona nas novas edições autênticas e literais da sua obra. Assim, por exemplo, quando ela afirma: "Acossam-me as reflexões dos piores materialistas." Sente a inteligência torturada por todos os argumentos possíveis contra a fé; o sentimento da fé parece desaparecido; sente-se transportada para dentro da "pele dos pecadores". Isto é, num mundo que parece completamente sólido e sem brechas, torna-se visível a alguém o abismo que espreita a todos – também a ele – sob a crosta firme das convenções que sustentam a fé. Em tal situação não está mais em jogo apenas isto ou aquilo – assunção de Maria ou não; confissão desse ou daquele modo –, tudo coisas que se tornam completamente irrelevantes, porquanto se trata realmente do todo, do conjunto, tudo ou nada. É a única alternativa que parece restar, e em parte alguma surge um pedaço de chão firme ao qual se agarrar nessa queda vertiginosa para o abismo. Somente o báratro hiante e sem fundo do nada é o que se percebe, onde quer que se dirijam os olhares.

Paulo Claudel evoca num quadro grandioso e convincente essa situação do crente, na abertura do seu "Soulier de Satin". Um missionário jesuíta, irmão do herói Rodrigo, o homem mundano, aventureiro errante e incerto entre Deus e o mundo, é representado como náufrago. A sua nau foi afundada por piratas. Ele próprio, amarrado a uma trave do barco afundado, voga nesse pedaço de madeira, pelas águas tormentosas do oceano. O drama principia com o seu derradeiro monólogo: "Senhor, agradeço-te por me teres amarrado assim. Por vezes sucedeu-me achar difíceis os teus mandamentos; senti-me desnorteado, fracassada a vontade diante dos teus mandamentos. Mas hoje não poderia estar mais fortemente atado a ti, do que estou; e muito embora os meus membros se movam um sobre o outro, nenhum deles é capaz de se afastar um pouco de ti. E assim realmente estou preso à cruz; e a cruz, à qual me vejo atado, não está presa a nada mais. Ela voga pelo mar" .

Atado à cruz – e a cruz ligada a nada, vogando sobre o abismo. Dificilmente se poderia descrever mais acurada e exactamente a situação do crente hodierno. Apenas um madeiro oscilante sobre o nada, um madeiro desatado parece sustê-lo e tem-se a impressão de ser possível adivinhar o instante em que tudo irá submergir. Um simples madeiro solitário liga-o a Deus; mas, sem dúvida, liga-o inevitavelmente e, no final de tudo, ele tem a certeza de que esse madeiro é mais forte do que o nada que fervilha debaixo dele, esse nada que, apesar dos pesares, continua sendo a força ameaçadora propriamente dita do seu presente.

O quadro apresenta, além disso, uma dimensão mais vasta que, aliás, me parece a mais importante. Pois esse náufrago jesuíta não está sozinho; nele se encontra como que evocada a sorte do seu irmão; nele está presente o destino do irmão, daquele irmão que se considera descrente, que voltou as costas a Deus, por não considerar tarefa sua a espera, mas "a posse do atingível... como se este pudesse estar em outra parte da que onde tu, ó Deus, estás".

É dispensável acompanharmos a trama da concepção claudeliana: a mestria com que conserva como fio condutor o jogo dos dois destinos aparentemente contraditórios até ao ponto em que a sorte de Rodrigo finalmente se toca com a do irmão, quando o conquistador termina como escravo num navio, devendo dar-se por muito feliz, ao ser levado por uma velha freira que, de contrapeso, leva uma caçarola e alguns trapos. Aliás, deixando de lado o símile, podemos voltar à nossa própria situação e dizer: o crente é capaz de se realizar na sua fé somente sobre o oceano do nada; e o oceano da incerteza foi-lhe destinado como único lugar possível da sua fé. Apesar disso, não se pode considerar o descrente, numa falha evidente de dialética, apenas como um descrente. Assim como até agora reconhecemos que o crente não vive sem problemática, mas sempre ameaçado pela queda no nada, assim é forçoso admitir que também o descrente não representa absolutamente uma existência fechada e coesa em si mesma. Por brutal que seja o seu comportamento de ferrenho positivista que já de há muito deixou para trás as tentativas e os embates supranaturais, vivendo apenas no âmbito do que é directamente certo – jamais o abandonará a secreta insegurança de se o positivismo está realmente com a última palavra. O crente vê-se sufocado pela água salgada da dúvida que o oceano lhe lança, sem cessar, à boca; do mesmo modo existe a dúvida do incrédulo quanto à sua descrença, quanto à totalidade do mundo que ele se resolveu declarar como o todo. Jamais conseguirá plena certeza sobre a globalidade do que viu e declarou como o todo, mas continuará sob a ameaça de que – quem sabe? – a fé venha a representar e a afirmar a realidade. Portanto, como o crente se sabe ameaçado sem cessar pela descrença, obrigado a ver nela a sua perene provação, assim a fé representa a ameaça e a tentação do descrente, dentro do seu universo aparentemente fechado e completo. Numa palavra, não existe escapatória ao dilema da existência humana. Quem deseja fugir à incerteza da fé, há-de experimentar a incerteza da descrença que, por sua vez, jamais conseguirá resolver sem sombra de dúvida a questão de se, por acaso, a fé não se cobre com a verdade. Somente na recusa se revela a irrecusabilidade da fé.

Talvez venha a propósito aduzir neste lugar uma história judaica escrita por Martin Buber; nela aparece com clareza o citado dilema da existência humana. "Um dos sequazes do iluminismo, homem es-tudado, ouvira falar de Berditschewer. Foi à sua procura com o fito de comprar uma discussão, como era do seu feitio, e arrasar as suas teses ultrapassadas da verdade da fé. Ao entrar no quarto do Zaddik viu-o, de livro à mão, indo e vindo, mergulhado em entusiásticas reflexões. Nem pareceu dar pela chegada do visitante. Finalmente deteve-se, olhou para ele superficialmente e disse: "E contudo, talvez seja verdade." O sábio debalde tentou fincar pé, de-fendendo a sua própria dignidade. Não o conseguiu. Sentiu os joelhos chocalharem, tão terrível era o aspecto do Zaddik, tão horrível de se ouvir a sua frase singela. Mas o rabi Levi Jizchak voltou-se completamente para ele e disse lhe, sereno: "Meu filho, os grandes da Torá com os quais disputaste, desperdiçaram palavras; tu riste-te deles, ao afastares-te. Não foram capazes de colocar Deus e o seu reino sobre a mesa, diante de ti; eu também sou incapaz. Mas, meu filho, reflecte: talvez seja verdade." O iluminista concentrou todas as forças para revidar; mas aquele terrível "talvez" a ecoar sem cessar, quebrou-lhe qualquer resistência".

joseph ratzinger, Tübingen, verão de 1967.

(cont)

Revisão da versão portuguesa por ama



Pequena agenda do cristão


SeGUNDa-Feira



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:
Sorrir; ser amável; prestar serviço.

Senhor que eu faça ‘boa cara’, que seja alegre e transmita aos outros, principalmente em minha casa, boa disposição.

Senhor que eu sirva sem reserva de intenção de ser recompensado; servir com naturalidade; prestar pequenos ou grandes serviços a todos mesmo àqueles que nada me são. Servir fazendo o que devo sem olhar à minha pretensa “dignidade” ou “importância” “feridas” em serviço discreto ou desprovido de relevo, dando graças pela oportunidade de ser útil.

Lembrar-me:
Papa, Bispos, Sacerdotes.

Que o Senhor assista e vivifique o Papa, santificando-o na terra e não consinta que seja vencido pelos seus inimigos.

Que os Bispos se mantenham firmes na Fé, apascentando a Igreja na fortaleza do Senhor.

Que os Sacerdotes sejam fiéis à sua vocação e guias seguros do Povo de Deus.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?




Maria, Rainha dos Apóstolos

Que lição tão extraordinária cada um dos ensinamentos do Novo Testamento! Depois de o Mestre lhes dizer, enquanto ascende para a dextra de Deus Pai, "ide e pregai a todas as gentes", os discípulos ficaram em paz. Mas ainda têm dúvidas: não sabem o que hão-de fazer; e reúnem-se com Maria, Rainha dos Apóstolos, para se converterem em zelosos pregoeiros da Verdade que há-de salvar o mundo. (Sulco, 232)

Se olharmos para a nossa vida com humildade, veremos claramente que o Senhor nos concedeu talentos e qualidades, além da graça da fé. Nenhum de nós é um ser repetido. O Nosso Pai criou-nos um a um, repartindo entre os seus filhos diverso número de bens. Pois temos de pôr esses talentos, essas qualidades, ao serviço de todos; temos de utilizar esses dons de Deus como instrumentos para ajudar os homens a descobrirem Cristo.


(…) É missão dos filhos de Deus conseguir que todos os homens entrem – com liberdade – dentro da rede divina, para que se amem. Se somos cristãos, temos de converter-nos nos pescadores de que fala o profeta Jeremias. Jesus Cristo também utilizou repetidamente essa metáfora: "Segui-me e Eu vos farei pescadores de homens", diz a Pedro e a André. (Amigos de Deus, 258–259)

Diálogos apostólicos

Diálogos apostólicos II Parte
6 - [1]

A maturidade espiritual é um “mito”, perguntas?

Respondo-te com brevidade:

Não, não é um “mito” e está perfeitamente ao nosso alcance.

Confunde-se, por vezes, maturidade com o conhecimento total de algo.

Não é assim.
A maturidade é, antes, uma segurança no que se pensa e faz, que vem, naturalmente, de uma sólida formação pessoal, bem estruturada em conhecimentos e, também, experimentados, adquiridos ao longo do tempo.

Significa, também, honestidade intelectual que leva a pessoa a perguntar o que não sabe, a esclarecer o que não compreende.

A pessoa madura não é um “sábio” mas, antes, alguém tranquilo e seguro se si próprio.



[1] Nota: Normalmente, estes “Diálogos apostólicos”, são publicados sob a forma de resumos e excertos de conversas semanais. Hoje, porém, dado o assunto, pareceu-me de interesse publicar quase na íntegra.

Reflectindo - 179

Sou boa pessoa?

…/3

Ser "boa pessoa" não tem tanto a ver com o que fazemos mas  como fazemos.

As nossas acções podem ficar aquém dos nossos desejos mas se aplicamos nelas todas as nossas capacidades e potências movidas por um são critério e determinação em fazer o que devemos, sobretudo se actuamos com justiça - o que significa sempre com respeito e isenção - então podemos estar certos que somos boas pessoas.

Ser boa pessoa é, então, proceder correctamente, ser coerente, fazer o que se diz, respeitar profundamente os outros e a si mesmo, ser disponível e estar atento aos que possam esperar de nós algo que esteja ao nosso alcance como uma palavra, um gesto, manifestação de interesse ou apenas um sorriso, uma saudação.

Uma boa pessoa tem estampado no rosto a afabilidade, a compreensão e a alegria.

Atrai os outros que sentem segurança em aproximar-se, em estabelecer contacto, em confiar.

Penso que o que cada vez mais se sente a falta no mundo, na sociedade, é exactamente a falta de confiança, o receio de se "expor", a dificuldade em comunicar sem reservas ou cautelas.

(cont)


(ama, Reflexões, Algarve, Setembro 2015)