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19/04/2016

Publicações Abr 19

Publicações Abr 19

S. Josemaria – Textos

Carta - Javier Echevarría, Santa Missa

AMA - Comentários ao Evangelho Jo 10 22-30, Confissões - Santo Agostinho

Celibato eclesiástico

São Tomás de Aquino – Suma Teológica, Suma Teológica - Tratado da Vida de Cristo - Do género de vida que Cristo levou - Quest 45 Art. 3

Bento XVI - Pensamentos espirituais

CIC – Compêndio

Pecado original

AT – Génesis


Agenda Terça-Feira

Pecado original

Resultado de imagem para a origem do pecadoPor que temos que sofrer as consequências do pecado de Adão e Eva, nossos primeiros pais?

…/2

Com efeito, afirma São Paulo:

“Como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim a morte passou a todo o género humano, porque todos pecaram” [1].

Os nossos primeiros pais pecaram gravemente.
Abusando da sua liberdade, desobedeceram ao mandamento de Deus.

Nisto consistiu o primeiro pecado do homem [2].

Por este pecado perderam o estado de santidade no qual haviam sido criados.

O pecado entra na história, portanto, não procedendo de Deus, mas do mal uso da liberdade do homem.

(cont)

Fonte: presbíteros

(Revisão da versão portuguesa por ama)




[1] Rm 5, 12
[2] cf. Rm 5, 19

Pequena agenda do cristão


TeRÇa-Feira


(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:
Aplicação no trabalho.

Senhor, ajuda-me a fazer o que devo, quando devo, empenhando-me em fazê-lo bem feito para to poder oferecer.

Lembrar-me:
Os que estão sem trabalho.

Senhor, lembra-te de tantos e tantas que procuram trabalho e não o encontram, provê às suas necessidades, dá-lhes esperança e confiança.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?





Antigo testamento / Génesis

Génesis 19

Sodoma e Gomorra destruídas

1 Os dois anjos chegaram a Sodoma ao anoitecer, e Lot estava sentado à porta da cidade. Quando os avistou, levantou-se e foi recebê-los. Prostrou-se com o rosto em terra e disse: "Meus senhores, por favor, acompanhem-me à casa do vosso servo. Lá poderão lavar os pés, passar a noite e, pela manhã, seguir caminho".
"Não, passaremos a noite na praça", responderam.

2 Mas ele insistiu tanto com eles que, finalmente, o acompanharam e entraram em sua casa. Lot mandou preparar-lhes uma refeição e assar pão sem fermento, e eles comeram.

3 Ainda não tinham ido deitar-se, quando todos os homens de toda parte da cidade de Sodoma, dos mais jovens aos mais velhos, cercaram a casa.

4 Cha­maram Lot e disseram-lhe: "Onde estão os homens que vieram a tua casa esta noite? Trá-los para nós aqui fora para que tenhamos relações com eles".

5 Lot saiu da casa, fechou a porta atrás de si e disse-lhes: "Não, meus amigos! Não façam essa perversidade!

6 Olhem, tenho duas filhas que ainda são virgens. Vou trazê-las para que vocês façam com elas o que bem entenderem. Mas não façam nada a estes homens, porque se acham debaixo da protecção do meu teto".

7 "Sai da frente!", gritaram. E disseram: "Este homem chegou aqui como estrangeiro, e agora quer ser o juiz! Far-te-emos pior do que a eles". Então empurraram Lot com violência e avançaram para arrombar a porta.

8 Nesta altura, os dois visitantes agarraram Lot, puxaram-no para dentro e fecharam a porta.

9 Depois feriram de cegueira os homens que estavam à porta da casa, dos mais jovens aos mais velhos, de maneira que não conseguiam encontrar a porta.

10 Os dois homens perguntaram a Lot: "Tens mais alguém na cidade - genros, filhos ou filhas, ou qualquer outro parente? Tira-os daqui, porque estamos para destruir este lugar. As acusações feitas ao Senhor contra este povo são tantas que ele nos enviou para destruir a cidade".

11 Então Lot foi falar com seus genros, os quais iam casar-se com as suas filhas, e disse-lhes: "Saiam imediatamente deste lugar, porque o Senhor está para destruir a cidade!" Mas pensaram que ele estava a brincar.

12 Ao raiar do dia, os anjos insistiam com Lot, dizendo: "Depressa! Leva daqui a tua mulher e as tuas duas filhas, ou também serão mortos quando a cidade for castigada".

13 Tendo ele hesitado, os homens agarraram-no pela mão, como também a mulher e as duas filhas, e tiraram-nos dali à força e deixaram-nos fora da cidade, porque o Senhor teve misericórdia deles.

14 Assim que os tiraram da cidade, um deles disse a Lot: "Foge por amor à vida! Não olhes para trás e não pares em lugar nenhum lugar da planície! Foge para as montanhas, ou serás morto!"

15 Lot, porém, disse-lhes: "Não, meu senhor!

16 O teu servo foi favorecido pela tua benevolência, pois o senhor foi bondoso comigo, poupando-me a vida. Não posso fugir para as montanhas, senão esta calamidade cairá sobre mim, e morrerei.

17 Aqui perto há uma cidade pequena. Está tão próxima que dá para correr até lá. Deixai-me ir para lá! Mesmo sendo tão pequena, lá estarei a salvo".

18 "Está bem", respondeu ele. "Também atenderei esse pedido; não destruirei a cidade da qual falas.

19 Foge depressa, porque nada poderei fazer enquanto não chegares lá". Por isso a cidade foi chamada Zoar.

20 Quando Lot chegou a Zoar, o sol já havia nascido sobre a terra.

21 Então o Senhor, o próprio Senhor, fez chover do céu fogo e enxofre sobre Sodoma e Gomorra.

22 Assim ele destruiu aquelas cidades e toda a planície, com todos os habitantes das cidades e a vegetação.

23 Mas a mulher de Lot olhou para trás e transformou-se numa coluna de sal.

24 Na manhã seguinte, Abraão levantou-se e voltou ao lugar onde tinha estado diante do Senhor.

25 E olhou para Sodoma e Gomorra, para toda a planície, e viu uma densa fumaça subindo da terra, como a fumaça de uma fornalha.

26 Quando Deus arrasou as cidades da planície, lembrou-se de Abraão e tirou Lot do meio da catástrofe que destruiu as cidades onde Lot vivia.

(Revisão da versão portuguesa por ama)







Doutrina – 118

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

Compêndio


PRIMEIRA PARTE: A PROFISSÃO DA FÉ
PRIMEIRA SECÇÃO: «EU CREIO» – «NÓS CREMOS»
CAPÍTULO SEGUNDO: DEUS VEM AO ENCONTRO DO HOMEM

A SAGRADA ESCRITURA

24. Qual a função da Sagrada Escritura na vida da Igreja?

A Sagrada Escritura dá sustento e vigor à vida da Igreja. É para os seus filhos firmeza da fé, alimento e fonte de vida espiritual. É a alma da teologia e da pregação pastoral. Diz o Salmista: ela é «lâmpada para os meus passos, luz no meu caminho» [1]. Por isso, a Igreja exorta à leitura frequente da Sagrada Escritura, uma vez que «a ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo» [2].



[1] Sal 119,105
[2] S. Jerónimo

Tratado da vida de Cristo 95

Questão 45: Da transfiguração de Cristo

Art. 3 — Se foram escolhidas testemunhas convenientes da transfiguração.

O terceiro discute-se assim. — Parece que não foram escolhidas testemunhas convenientes da transfiguração.

1. — Pois, cada um só pode testemunhar o que conhece. Ora, no tempo da transfiguração de Cristo, ninguém, a não ser os anjos, conhecia por experiência o que fosse a glória futura. Logo, testemunhas da transfiguração deviam ter sido antes os anjos que os homens.

2. Demais. — Testemunhas da verdade só podem ser pessoas reais e não fictícias. Ora, na transfiguração Moisés e Elias não estiveram presentes senão ficticiamente. Assim, do Evangelho — Eis que ali estavam Moisés e Elias — diz uma Glosa: Devemos saber que Moisés e Elias não apareceram, nessa ocasião, em corpo e alma, mas com corpos formados numa criatura ocasional. E podemos crer também que isso foi feito por ministério angélico, de modo que os anjos lhes assumissem as pessoas. Logo, não foram testemunhas convenientes.

3. Demais. — A Escritura diz, que todos os profetas dão testemunho de Cristo. Logo, não somente Moisés e Elias deviam ter estado presentes como testemunhas, mas também todos os profetas.

4. Demais. — A glória de Cristo era prometida a todos os seus fiéis, nos quais quis acender, pela sua transfiguração, o desejo dessa glória. Logo, não devia ter assumido só Pedro, Tiago e João como testemunhas da sua transfiguração, mas todos os discípulos.

Mas, em contrário, a autoridade da Escritura Evangélica.

SOLUÇÃO. — Cristo quis transfigurar-se, para mostrar a sua glória aos homens e para despertar-lhes o desejo dela, como dissemos. Ora, os homens são levados por Cristo à glória da eterna beatitude, não só os que existiram antes, como também depois dele. Por isso, quando caminhava para a sua paixão, tanto as gentes que iam adiante, como as que iam atrás, gritavam dizendo — Hossana, como esperando dele a salvação. Por isso era conveniente que, dentre os que o precederam, estivessem como testemunhas Moisés e Elias; e dos que existiram depois, Pedro, Tiago e João, para que por boca de duas ou três testemunhas ficasse confirmada essa palavra.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Isto, pela sua transfiguração, manifestou aos discípulos a glória do seu corpo, que só aos homens respeita. Por isso e convenientemente, foram trazidos como testemunhas dela, não anjos, mas homens.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Essa glosa considera-se como extraída do livro intitulado - Dos milagres da Sagrada Escritura, que não é um livro autêntico, mas falsamente atribuído o Agostinho. Por isso não devemos apoiar-nos nela. Pois, Jerónimo diz expressamente: Devemos notar que aos escribas e aos fariseus, que lhe pediam um sinal do céu, Cristo não lhes quis dar; mas, na sua transfiguração, para aumentar a fé dos discípulos, dá-lhes um sinal do céu, a saber, o descida de Elias, do lugar para onde ascendera; e a ressurreição de Moisés, dos mortos. Mas não o devemos entender como significando que a alma de Moisés retomasse o seu corpo; mas que a sua alma se manifestou, como o fazem os anjos, por um corpo assumido. Mas Elias apareceu com o seu próprio corpo, não vindo do céu empíreo, mas de um lugar elevado, para o qual foi arrebatado num carro de fogo.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Como diz Crisóstomo, Moisés e Elias foram trazidos como testemunhas, por muitas razões. — A primeira é a seguinte: Porque como as turbas consideravam-no como Elias ou Jeremias, ou um dos profetas, fez aparecerem os principais dos profetas, para ao menos assim manifestar a diferença entre os servos e o Senhor. — A segunda razão é, porque Moisés deu a lei e Elias foi o zelador da glória do Senhor. Assim, aparecendo simultaneamente com Cristo, ficava aniquilada a calúnia dos judeus, que acusavam a Cristo de transgressor da lei, e de blasfemo por usurpar para si a glória de Deus. — A terceira razão é: mostrar que tinha poder sobre a vida e a morte, que era o juiz dos mortos e dos vivos, por ter tido ao seu lado Moisés, que já morrera, e Elias, ainda vivo. — A quarta razão é que: como diz o Evangelho falavam da sua saída deste mundo que havia de cumprir em Jerusalém, isto é, da sua paixão e da sua morte. E assim, para fortalecer, nesse ponto, a alma dos discípulos, fá-los apresentarem-se em sua companhia os que se expuseram à morte por Deus; pois, Moisés, com perigo de morte, apresentou-se perante o Faraó e Elias, perante Acab. — A quinta razão é porque queria que os seus discípulos fossem imitadores da mansidão de Moisés e do zelo de Elias. — A sexta razão, acrescentada por Hilário, era mostrar que foi anunciado pela lei de Moisés e pelos profetas, entre os quais era Elias o principal.

RESPOSTA À QUARTA. — Os mistérios sublimes não devem ser revelados a todos imediatamente mas devem oportunamente chegar aos outros homens por meio dos chefes. Por isso, como diz Crisóstomo, Cristo levou consigo os três discípulos mais principais: Pois, Pedro foi executado pelo amor, que teve para com Cristo e também pelo poder que lhe foi cometido; João, pelo privilégio do amor com que, por causa da sua virgindade, era amado de Cristo, e também pela prerrogativa de ter pregado a doutrina Evangélica: e Tiago enfim, pela prerrogativa do martírio. E contudo Cristo não quis que esses mesmos anunciassem, o que viram antes da sua ressurreição. A fim de como explica Jerónimo o facto de tão grande magnitude não ser tido como incrível; nem viesse, depois de tão grande glória, a causar escândalo, entre almas rudes, a cruz, que lhe havia de suceder; ou também a fim de o povo não se lhe opor invencivelmente; e para que, quando estivessem cheios do Espírito Santo, então fossem testemunhas desses factos espirituais.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.



Portadores de Deus em todos os ambientes

Quando tiveres o Senhor no teu peito e saboreares os delírios do seu Amor, promete-lhe que te esforçarás por mudar o rumo da tua vida em tudo o que for necessário, para o levar à multidão que o não conhece, que anda vazia de ideias; que, infelizmente, caminha animalizada. (Forja, 939)

Para que este nosso mundo vá por um caminho cristão – o único que vale a pena –, temos de viver uma amizade leal com os homens, baseada numa prévia amizade leal com Deus. (Forja, 943)

Com frequência, sinto vontade de gritar ao ouvido de tantas e de tantos que, no escritório e no comércio, no jornal e na tribuna, na escola, na oficina e nas minas e no campo, amparados pela vida interior e pela Comunhão dos Santos, têm de ser portadores de Deus em todos os ambientes, segundo o ensinamento do Apóstolo: "glorificai a Deus com a vossa vida e levai-o sempre convosco". (Forja, 945)

Os que temos a verdade de Cristo no coração, temos de meter esta verdade no coração, na cabeça e na vida dos outros. O contrário seria comodismo, táctica falsa.
Pensa de novo: Cristo pediu-te licença, a ti, para se meter na tua alma? Deixou-te a liberdade de o seguir, mas procurou-te Ele, porque quis. (Forja, 946)


Com obras de serviço, podemos preparar a Nosso Senhor um triunfo maior que o da sua entrada em Jerusalém... Porque não se repetirão as cenas de Judas, nem a do Jardim das Oliveiras, nem aquela noite cerrada... Conseguiremos que o mundo arda nas chamas do fogo que veio trazer à terra!... E a luz da verdade – o nosso Jesus – iluminará as inteligências num dia sem fim. (Forja, 947)

Bento XVI – Pensamentos espirituais 87

Coragem!


Tende a coragem de ousar com Deus!
Experimentai!
Não tenhais medo d'Ele!
Tende a coragem de arriscar com a fé!
Tende a coragem de arriscar com a bondade!
Tende a coragem de arriscar com a pureza de coração!
Comprometei-vos com Deus e então vereis como a vossa vida se ilumina, como ganha grandeza, como deixa de ser aborrecida para se encher de um sem-número de surpresas, porque a bondade infinita de Deus nunca se esgota!

Homilia da Missa da Imaculada Conceição, (8.Dez.05)


(in “Bento XVI, Pensamentos Espirituais”, Lucerna 2006)

Jesus Cristo e a Igreja – 111

Celibato eclesiástico: História e fundamentos teológicos
III. Desenvolvimento do tema da continência na Igreja latina

O Celibato no direito canónico clássico.

…/2

Para compreender correctamente as explicações que os canonistas deram dessas leis, devemos considerar que, tal como os seus colegas romanistas, não realizaram as investigações e estudos histórico-jurídicos, o que só ocorreu mais tarde na escola dos cultos, ou seja, na escola jurídica humanística dos séculos XVI em diante. Não devemos, portanto, nos surpreender que os glossadores, ou seja, a escola jurídica clássica, tenha desconhecido – também no domínio da canonística – uma crítica em sentido próprio das fontes e dos textos.

Isso é importante para o nosso assunto, pois ao falar de Graciano, imediatamente encontramos o facto de que na questão do celibato eclesiástico, aceitou como algo realmente ocorrido no Concílio de Nicéia a fábula história de Pafnucio, e a assumiu, acriticamente, junto com o cânon 13 do Concílio Trullano II de 691, a diferença da práxis celibatária da Igreja Ocidental e da Oriental. Embora essa não fosse uma ocasião para ele justificar a razão das diferentes práticas da Igreja Latina, tanto ele como a escola clássica de Direito Canónico, colocam a atenção no motivo da diferente obrigação na questão da continência do clero maior oriental. Voltaremos a falar desse diferente tratamento histórico do celibato na Igreja Oriental.

(revisão da versão portuguesa por ama)

Evangelho, comentário, L. espiritual


Páscoa

Evangelho: Jo 10, 22-30

22 Celebrava-se em Jerusalém a festa da Dedicação. Era Inverno. 23 Jesus andava a passear no templo, no pórtico de Salomão. 24 Rodearam-n'O os judeus e disseram-Lhe: «Até quando nos manterás em suspenso? Se és o Messias, di-no-lo claramente». 25 Jesus respondeu-lhes: «Já vo-lo disse, e vós não Me credes. As obras que faço em nome de Meu Pai, essas dão testemunho de Mim; 26 porém vós não credes, porque não sois das Minhas ovelhas. 27 As Minhas ovelhas ouvem a Minha voz, e Eu conheço-as, e elas seguem-Me. 28 Eu dou-lhes a vida eterna; elas jamais hão-de perecer, e ninguém as arrebatará da Minha mão. 29 Meu Pai, que Mas deu, é maior que todas as coisas; e ninguém pode arrebatá-las da mão de Meu Pai. 30 Eu e o Pai somos um».  

Comentário:

Ut omnes unum sint!

Seria assim a sociedade humana como Deus a desejou desde o primeiro momento.

Infelizmente estamos bem longe dessa unidade.

Diz-se correntemente: ''cada um é como cada qual'', como se fosse algo bom e natural.

Não é!

Demo-nos conta deste facto simples e evidente: todos nós nascemos nus, sem nada; apenas nos marca o sinal de Deus em nós, a Sua imagem que, mais não é que a nossa alma.

E, aqui, sim, somos iguais, cada um com o mesmo valor perante o Criador que nos ama a todos por igual desde o princípio.


(ama, comentário sobre Jo 10, 22-30, 2010.04.07)


Leitura espiritual



SANTO AGOSTINHO – CONFISSÕES

LIVRO DÉCIMO

CAPÍTULO III

O que disse Moisés

Concede-me, Senhor, que eu ouça e compreenda como no princípio criaste o céu e a terra. Moisés assim o escreveu. Escreveu e partiu deste mundo, para onde lhe falaste, para junto de ti, e já não está presente para nós. Se estivesse aqui, detê-lo-ia, e dele indagaria, no teu nome, o sentido de tais palavras, e absorveria com atenção as palavras que brotassem da sua boca. Se me falasse em hebraico, em vão sua voz bateria nos meus ouvidos, e nenhuma ideia chegaria à minha mente; mas se me falasse em latim, eu compreenderia as suas palavras.

Mas, como saberia eu se ele dizia a verdade? E, posto que o soubesse, sabê-lo-ia por seu intermédio? Não, mas seria dentro de mim, no íntimo recesso do pensamento que a Verdade, que nem é hebraica, nem grega, nem latina, nem bárbara, sem auxílio de lábios ou de língua, sem ruído de sílabas, me diria: “Ele fala a verdade”. – e eu, imediatamente, com a certeza da fé, diria àquele teu servo: “Tu dizes a verdade!”.

Mas, como não posso consultar a Moisés, é a ti, ó Verdade, cuja plenitude ele possuía quando enunciou tais palavras, é a ti, meu Deus, que dirijo minha súplica, perdoa os meus pecados.

Concedeste que um tem servo dissesse essas coisas: faz agora com que eu as compreenda.

CAPÍTULO IV

O céu e a terra

Existem pois o céu e a terra, e clamam que foram criados, mediante das suas transformações e mudanças. Mas o que não foi criado na sua forma definitiva, e todavia existe, nada pode conter que antes já não existisse na sua forma potencial, e nisso consiste a mudança e a variação. Proclamam também, os seres, que não foram criados por si mesmos: “Existimos porque fomos criados. Não existíamos antes, de modo que nos pudéssemos criar a nós mesmos.” – E essa voz é a voz da própria evidência. És tu, Senhor, quem os criaste. E porque és belo, eles são belos; porque és bom, eles são bons; porque existes, eles existem. Mas as tuas obras não são belas, não são boas, não existem de modo perfeito como tu, seu Criador. Comparados contigo, os seres nem são bons, nem belos, nem existem. Sabemos isso, e por isso te rendemos graças; mas o nosso saber, comparado com tua ciência, é ignorância.

CAPÍTULO V

A palavra e a criação

De que modo criaste o céu e a terra, e de que instrumento te serviste para levar a cabo tão grandiosa obra? Pois não procedeste como artesão, que forma um corpo de outro, conforme a concepção do seu espírito, que tem o poder de exteriorizar a forma que vê em si mesmo com o olhar do espírito. De onde lhe vem esse poder do espírito, senão de ti, que o criaste? E essa forma, ele impõe-na a uma matéria que preexistia, apta para ser transformada, como a terra, a pedra, a madeira, o outro e tantas outras substâncias.

Mas de onde proviriam essas coisas se não as tivesses criado? Criaste o corpo do artista, a alma que governa os seus membros, a matéria que ele plasma, a inspiração que concebe e vê interiormente o que executará exteriormente. Deste-lhe os órgãos dos sentidos, intérpretes pelos quais materializa as intenções da sua alma; informam o espírito do que fizeram, para que este consulte a verdade, o juiz interior, para saber se a obra é boa. Tudo isso te louva como criador de todas as coisas.

Mas como os fizeste? Como criaste, meu Deus, o céu e a terra? Por certo não criaste o céu e a terra no céu e na terra. Nem tampouco os criaste no ar, nem sob as águas que pertencem ao céu e à terra. Não criaste o universo no universo, porque não havia espaço onde pudesse existir. Não tinhas à mão a matéria com que modelar o céu e a terra. E de onde viria essa matéria que não tinhas ainda feito para dela fazer alguma coisa? Que criatura pode existir que não exija a tua existência? Contudo, falaste e o mundo foi feito. A tua palavra o criou.

CAPÍTULO VI

Como falou Deus?

Mas, como falaste? Porventura do mesmo modo como aquela voz que, saindo da nuvem, disse: Este é meu Filho bem-amado? – Essa voz fez-se ouvir, e passou; teve começo e fim; as suas sílabas ressoaram, depois passaram, em sucessão ordenada até a última, que vem depois de todas as outras – e depois foi o silêncio. Donde se vê claramente que essa voz foi gerada por órgão temporal de uma criatura a serviço da tua vontade eterna. E essas palavras, pronunciadas no tempo, foram comunicadas pelo ouvido material à inteligência, cujo ouvido interior está atento à tua palavra eterna. E a razão comparou essas palavras, proferidas no tempo, com o silêncio do teu Verbo eterno, e disse: “È diferente, muito diferente. Tais palavras estão bem abaixo de mim, nem sequer existem, pois fogem e passam; mas o Verbo de Deus permanece sobre mim eternamente”.

Se foi portanto com estas palavras sonoras e passageiras que ordenaste: Que se façam o céu e a terra! – se foi assim que os criaste, conclui-se que já havia, antes do céu e da terra, uma criatura temporal, cujos movimentos puderam fazer vibrar essa voz no tempo. Ora, não havia corpo algum antes do céu e da terra; ou se algum existia, tu certamente já o tinhas criado não por meio de uma voz passageira, justamente para que pudesse soar essa voz passageira para dizer:
“Façam-se o céu e a terra!” E fosse o que fosse o ser de onde saísse tal voz, não teria existido se não o tivesses criado. Mas para criar esse corpo, necessário à emissão destas palavras, de que palavra te serviste?

CAPÍTULO VII

A palavra coeterna

É assim que nos convidas a compreender o Verbo, que é Deus junto de ti, que também és Deus, Verbo pronunciado eternamente e pelo qual tudo é pronunciado eternamente. O que é dito, não é uma sequência de palavras, ou uma palavra que é seguida por outra, como que a concluir uma frase; mas tudo é dito simultânea e eternamente. De contrário, já haveria tempo e mudança, e não a verdadeira eternidade nem a verdadeira imortalidade.

Isto eu sei-o, meu Deus, e por isso te dou graças. Eu o sei, e eu to confesso, Senhor; e também o sabe todo aquele que não é ingrato à infalível verdade. Sabemos, Senhor, sabemos que não ser mais depois de ter existido, ou passar a ser quando ainda não se existia é o morrer e o nascer. Mas no teu Verbo, por ser verdadeiramente imortal e eterno, nada desaparece nem tem sucessão. Com o teu Verbo que é coeterno, enuncias eternamente e a um só tempo tudo o que dizes. E o que se realiza é o que dizes que se faça. Não é de outro modo, senão pelo Verbo, que crias. Todavia os seres criados pela tua palavra não chegam à existência simultaneamente, desde toda a eternidade.

CAPÍTULO VIII

A verdadeira luz

Imploro-te, Senhor meu Deus, qual o porquê disso tudo? De certo modo eu compreendo-o, mas não sei como exprimi-lo. Poderei dizer que tudo o que tem começo e fim, começa e acaba quando a razão eterna, que não tem começo nem fim, sabe que deve começar ou acabar? Essa inteligência é o teu Verbo, que é o princípio, porque também nos fala. Assim nos falou no Evangelho com voz humana, e a palavra ecoou exteriormente nos ouvidos dos homens, para que cressem nele, e o buscassem no seu íntimo, e o encontrassem na eterna Verdade, onde um bom e único mestre instrui todos os seus discípulos.

Aí, Senhor, ouço tua voz a dizer-me que só nos fala verdadeiramente quem nos ensina, e quem não nos instrui, mesmo que fale, não nos diz nada. Mas quem nos ensina, senão a Verdade imutável? As lições da criatura mutável têm o único valor de nos conduzir à Verdade, que é imutável. Nela, verdadeiramente aprendemos quando, de pé, a ouvimos, alegrando-nos por cauda da voz do Esposo, que nos reconduz àquele de quem viemos. Por isso, ele é o princípio, pois se ele não permanecesse, não teríamos para onde voltar dos nossos erros. Quando voltamos de um erro, temos plena consciência dessa volta; e é para que tomemos consciência dos nossos erros que ele nos instrui, porque ele é o princípio, e a sua palavra é para nós.

CAPÍTULO IX

A voz do Verbo

É nesse princípio, ó Deus, que criaste o céu e a terra; no teu Verbo, no teu Filho, na tua virtude, na tua sabedoria, na tua verdade, falando e agindo de modo admirável. Quem o poderá compreender ou explicar? Que luz é essa que por vezes me ilumina, e que fere o meu coração sem o lesar? Atemorizo-me e inflamo-me: tremo porque, de certo modo, sou tão diferente dela; e inflamo-me, porque também sou semelhante a ela. A Sabedoria é a mesma sabedoria que brilha em mim de vez em quando: rasga as nuvens da minha alma, que novamente me encobrem quando dela me afasto, pelas trevas e pelo peso das minhas memórias. Na indigência, o meu vigor enfraqueceu de tal modo, que nem posso mais suportar o meu bem, até que tu, Senhor que te mostraste compassivo com todas as minhas iniquidades, cures também todas as minhas fraquezas. Redimirás a minha vida da corrupção; hás de me coroar na piedade e na misericórdia, e saciarás com os teus bens os meus desejos, porque a minha juventude será renovada com a da águia.

Pela esperança formos salvos, e aguardamos com paciência o cumprimento das tuas promessas.

Ouça, pois, a Tua voz no seu interior, quem puder, e eu quero clamar, cheio de fé no teu oráculo: “Como são magníficas as tuas obras, Senhor, que tudo criaste na tua Sabedoria! Ela é o princípio e nesse princípio criaste o céu e a terra”.

(Revisão de versão portuguesa por ama)