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29/03/2016

Publicações Mar 29

Publicações Mar 29

São Josemaria – Textos

AMA - Reflexão 2 - Ano Jubilar da Misericórdia

Filhos de Deus (Fancisco Fernández Carvajal e Pedro Betteta López), Vida espiritual

AMA - Comentários ao Evangelho Jo 20 11-14, Confissões - Santo Agostinho

CIC – Compêndio

Celibato eclesiástico, Jesus Cristo e a Igreja

Suma Teológica - Tratado da Vida de Cristo - Do género de vida que Cristo levou - Quest 44 Art. 2, São Tomás de Aquino – Suma Teológica

AT - Salmos – 148


Agenda Terça-Feira

Doutrina - 99

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

Compêndio


PRIMEIRA PARTE: A PROFISSÃO DA FÉ
PRIMEIRA SECÇÃO: «EU CREIO» – «NÓS CREMOS»

CAPÍTULO SEGUNDO: DEUS VEM AO ENCONTRO DO HOMEM

A TRANSMISSÃO DA REVELAÇÃO DIVINA

16. A quem compete interpretar autenticamente o depósito da fé?


A interpretação autêntica do depósito da fé compete exclusivamente ao Magistério vivo da Igreja, isto é, ao Sucessor de Pedro, o Bispo de Roma, e aos Bispos em comunhão com ele. Ao Magistério, que, no serviço da Palavra de Deus, goza do carisma certo da verdade, compete ainda definir os dogmas, que são formulações das verdades contidas na Revelação divina; tal autoridade estende-se também às verdades necessariamente conexas com a Revelação.

O Samaritano



Próximos do próximo

O Samaritano.

Sou um samaritano e o que hoje aconteceu comigo, tem a sua raiz há tempos atrás.

Vivia com a minha família em Sicar.
A minha vida corria bem, os negócios prosperavam, embora tivesse que deslocar-me com frequência a Jericó o que era assaz perigoso dada a frequência dos assaltos e atropelos praticados pelos mal feitores que infestavam o caminho.


Um dia, sem aviso, comecei a notar sinais alarmantes no meu corpo e, depois de observado pelo médico as suspeitas confirmaram-se: estava a ser “atacado” pelo terrível flagelo da lepra.


Como se calcula, toda a minha vida se transformou, não ousava sair de casa e evitava qualquer contacto com outras pessoas sempre à espera que a minha doença fosse conhecida pelas autoridades que me obrigariam a um exílio e imporiam uma segregação social extrema.


Um dia, porém, não pude deixar de assomar a uma janela de minha casa para verificar a que se devia o burburinho e agitação que percorria toda a aldeia.


Uma mulher, no meio do povo que a rodeava cada vez em maior número contava entre lágrimas e risos, numa excitação quase frenética, algo espantoso.


Dizia ela que tendo ido buscar água ao poço de Jacob encontrara um judeu sentado na borda do poço que, sem mais, lhe pediu de beber. [i]


Na sua surpresa argumentara:


«Como, sendo Tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou samaritana?» [ii]


Mas, continuava, a resposta foi ainda mais surpreendente de tal forma que regressara a correr à aldeia a dar conta do sucedido e acrescentava:


«Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz; será este, porventura, o Cristo?».[iii]


Muitos ficaram excitados e correram atrás da mulher em direcção ao poço, outros continuaram discutindo entre si tão insólita novidade.


Eu recolhi-me de novo dentro de casa sem saber o que pensar mas, dentro de mim algo me dizia que este assunto não acabaria ali.


A doença avançava com rapidez e, tal como temia, as autoridades vieram, forçaram-me a sair de casa e ir para uma furna onde mal viviam outros dez homens com o mesmo mal.


Desesperava… as condições de vida eram insuportáveis, ninguém ousava aproximar-se de nós e os escassos alimentos eram atirados do alto da ravina como se fossemos animais perigosos.


Um dia, passado algum tempo, ouviam-se gritos e agitação no caminho que passava perto do local onde nos encontrávamos e, um de nós, arriscou-se a subir ao parapeito a dar-se conta do que acontecia.


Regressou e, ofegante, disse-nos que o tal homem de que a mulher falara vinha pelo caminho seguido por uma multidão de gente que o apertava e assediava com perguntas. [iv]


Tomámos uma decisão e, os dez, subimos ao caminho e gritámos de longe:


«Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!» [v]

Ele viu-nos e disse-nos:

«Ide, mostrai-vos aos sacerdotes» [vi]

Não pensámos mais e pusemo-nos imediatamente a caminho.

Dei-me conta então que o meu corpo coberto de chagas estava limpo, a pele sã e – espantoso! – não havia qualquer sinal de lepra!

Parei de repente e, enquanto os outros continuavam a caminhar, voltei para trás quase gritando incontrolavelmente graças ao Senhor Deus Todo Poderoso que operara em mim tal maravilha.

Rompendo pelo meio dos que o rodeavam e prostrei-me a seus pés continuando a dar graças. [vii]

E foi então que a minha vida se modificou radicalmente porque, o Mestre, disse-me simplesmente:

«Levanta-te, vai; a tua fé te salvou». [viii]

Sempre que tinha uma oportunidade ocorria ao local onde me diziam que Ele estava a pregar, a ensinar, a anunciar que o Reino de Deus estava próximo e que todos – absolutamente todos – os homens devemos amar-nos uns aos outros.


A normalidade tinha regressado à minha vida e retomando os meus negócios recomecei as minhas viagens a Jericó.


E, hoje, o que aconteceu – o que me aconteceu – ao ver um pobre desgraçado estendido no chão, maltratado e ferido por salteadores foi aproximar-me dele e prestar-lhe o auxílio que estava nas minhas mãos prestar-lhe. [ix]


Agora, descansa na estalagem para onde o levei e, eu, já deitado, sinto-me tão bem comigo próprio, tão – porque não admiti-lo - orgulhoso com o meu comportamento que não posso deixar de pensar no Nazareno que me deu tão preciosa lição de vida que resumirei assim:


“Faz aos outros o que desejas que te façam a ti”.



(ama, reflexões no Ano Jubilar da Misericórdia – 2)




[i] Lc 10, 25-27

Nota: Este trecho do Evangelho escrito por São Lucas poderia ser o Evangelho “oficial” do Ano Jubilar da Misericórdia.

De facto, aparte a magistral descrição da parábola proferida por Jesus Cristo, a beleza do texto, a economia das palavras, o ritmo da descrição – características deste Evangelista – põem-nos perante um autêntico quadro ou, melhor, perante um filme que se desenrola aos nossos olhos prendendo-nos a atenção e excitando os nossos sentidos.

São Josemaria recomendou: aconselho-te a que, na tua oração, intervenhas nas passagens do Evangelho, como um personagem mais

É isso mesmo que me proponho fazer.

Sob o Título: “Próximos do próximo (sugerido por um bom amigo) vou tentar personificar alguns dos personagens da parábola e, também, introduzir-me nela como observador directo.


[i] Cfr. Jo 4, 7
[ii] Cfr. Jo 4, 9
[iii] Cfr. Jo 4, 29
[iv] Cfr. Lc 17, 11
[v] Cfr. Lc 17, 13
[vi] Cfr. Lc 17, 14
[vii] Cfr. Lc 17, 15-16
[viii] Cfr. Lc 17, 19

[ix] Cfr. Lc 10, 33-35


Evangelho, comentário, L. espiritual


Páscoa

Evangelho: Jo 20, 11-18

11 Entretanto, Maria estava da parte de fora do sepulcro a chorar. Enquanto chorava, inclinou-se para o sepulcro 12 e viu dois anjos vestidos de branco, sentados no lugar onde fora posto o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés. 13 Eles disseram-lhe: «Mulher, porque choras?». Respondeu-lhes: «Porque levaram o meu Senhor e não sei onde O puseram». 14 Ditas estas palavras, voltou-se para trás e viu Jesus de pé, mas não sabia que era Jesus. 15 Jesus disse-lhe: «Mulher, porque choras? A quem procuras?». Ela, julgando que era o hortelão, disse-Lhe: «Senhor, se tu O levaste, diz-me onde O puseste; eu irei buscá-l'O». 16 Jesus disse-lhe: «Maria!». Ela, voltando-se, disse-Lhe em hebreu: «Rabboni!», 17 Jesus disse-lhe: «Não Me retenhas, porque ainda não subi para Meu Pai; mas vai a Meus irmãos e diz-lhes que subo para Meu Pai e vosso Pai, para Meu Deus e vosso Deus». 18 Foi Maria Madalena anunciar aos discípulos: «Vi o Senhor!», e as coisas que Ele lhe disse.

Comentário:

Quando não sabemos onde está o Senhor invade-nos tal tristeza que não podemos deixar de chorar amargamente a sua perda.

Procurado com os olhos do corpo é muito possível que não Se deixe ver porque o que na verdade deseja é que O procuremos com os olhos da alma e com o coração pleno de confiança e amor.

Então, sim, vê-lo-emos sem disfarces nem véus, expectante, solicito, acolhedor e a alegria e a paz invadirão a nossa alma e as nossas lágrimas de dor passarão a ser lágrimas de alegria

(ama, comentário sobre Jo 20, 11-18, 2014.04.22)


Leitura espiritual



SANTO AGOSTINHO – CONFISSÕES

LIVRO OITAVO

CAPÍTULO IV

A conversão dos grandes

Vamos pois, Senhor, mãos à obra! Desperta-nos, chama-nos, inflama-nos, arrebata-nos; derrama as tuas doçuras, encanta-nos: amemos, corramos!

Não é verdade que muitos voltam a ti, saindo de um abismo de cegueira mais profundo que o de Vitorino, e se aproximam de ti, e são iluminados pela tua luz, junto da qual recebem o poder de se fazerem teus filhos?

Mas se estes são menos conhecidos pelo mundo dos homens, mesmo os que os conhecem se alegram menos; mas quando a alegria é partilhada por muitos, ainda é maior em cada um, porque se aquece e inflama de uns para os outros.

Ademais, os que são conhecidos de muitos, arrastam à salvação muitos outros, e caminham adiante seguidos dos que os imitam. Por isso, grande é a alegria dos que os precederam, por que não se regozijam só consigo.

Mas, longe de mim pensar que no teu tabernáculo são mais aceites os ricos que os pobres, e os nobres mais do que os plebeus, porque escolheste os fracos segundo o mundo para confundir os fortes; o que é vil e desprezível segundo o mundo, a que não é nada, para aniquilar o que é.

Contudo, o menor dos teus apóstolos, por cuja boca pronunciaste essas palavras, quando as suas armas abateram o orgulhoso procônsul Paulo, sujeitando-o ao leve jugo de teu Cristo e fizeram dele um súbdito do grande Rei, quis, parar comemorar tão grande triunfo, mudar seu nome de Saulo pelo de Paulo. De facto, o adversário é mais completamente vencido naquilo em que tinha maior domínio e por meio do que retém maior número de sequazes. Ora, o inimigo domina com mais força os soberbos pela nobreza de seu nome e, graças a estes, número maior pelo prestígio da sua autoridade.

Assim, na medida em que o coração de Vitorino era tido como fortaleza inexpugnável antes ocupada pelo demónio, e a sua língua como dardo poderoso e agudo, que tantas vezes havia dado a morte às almas, tanto mais copiosamente deviam exultar os teus filhos, ao verem que o nosso Rei agrilhoara o forte, e que os seus vasos roubados, eram agora purificados e destinados à tua honra, convertendo-se em instrumentos úteis ao Senhor para toda obra boa.

CAPÍTULO V

As duas vontades

Mal teu servo Simpliciano me contou a conversão de Vitorino, ardi no desejo de imitá-lo; aliás, era esta a finalidade da narração de Simpliciano. Depois acrescentou que nos tempos do imperador Juliano, uma lei proibia aos cristãos ensinar literatura e oratória, e Vitorino, dócil à lei, preferiu abandonar a escola de palradores a abandonar o teu Verbo, que torna eloquentes as línguas dos meninos. Não só me pareceu corajoso como afortunado, por ter encontrado ocasião de se consagrar por ti. Por isso eu suspirava, acorrentado não com os ferros de uma vontade estranha, mas por minha férrea vontade.

O inimigo dominava o meu querer, e dele forjava uma corrente com a qual me mantinha cativo. Da vontade perversa nasce a paixão, e desta satisfeita procede o hábito, e do hábito não contrariado provém a necessidade, e com estes anéis enlaçados entre si – por isso lhes chamei corrente – me mantinha preso em dura servidão. A nova vontade, que despontava em mim, de te servir sem interesse, de me alegrar em ti, ó meu Deus, única alegria verdadeira, ainda não era capaz de vencer a vontade antiga e inveterada. Deste modo as minhas duas vontades, a velha e a nova, a carnal e a espiritual, lutavam entre si e, nessa luta, dilaceravam-me a alma.

Entendi, por experiência própria, o que havia lido: a carne tem desejos contra o espírito, e o espírito contra a carne. Eu vivia ambos ao mesmo tempo, embora mais o que aprovava em mim do que o que em mim desaprovava. Com efeito, nesta última parte de mim eu era passivo e constrangido, mais do que activo e livre.

E, contudo, o hábito que se impunha contra mim vinha de mim mesmo, pois fora voluntariamente que eu chegara onde não queria. E quem poderia protestar legitimamente, se um castigo justo segue o pecador?

Eu já não tinha aquela desculpa, com a qual me persuadia de que, se ainda não desprezava o mundo para te servir, era porque não tinha visão clara da verdade, uma vez que agora já a conhecia de modo indiscutível. Mas, ainda apegado à terra, recusava-me a combater nas tuas fileiras, e temia ver-me livre dos meus laços, quando devia temer estar atado por eles.

Assim, sentia-me docemente oprimido pelo peso do mundo, como num sonho, e os pensamentos com que meditava em ti eram semelhantes aos esforços dos que desejam despertar, mas, vencidos pela sonolência, voltam dormir. Não há ninguém que queira dormir sempre, e segundo dita o bom senso, é melhor estar desperto que dormir. Contudo, às vezes retarda-se o despertar, quando o torpor torna os membros pesados, e, mesmo a contragosto, continua-se a dormir mesmo depois de chegada a hora de despertar. Assim eu estava certo que era melhor entregar-me ao teu amor que ceder à minha paixão. O primeiro agradava-me, dominava-me; o segundo encantava-me, prendia-me.

Já não tinha o que responder quando me dizias: “Desperta, ó tu que dormes, levanta-te de entre os mortos, e Cristo te há-de iluminar”. E quando por todos os meios me mostrava a verdade do que dizias, e de que eu estava convencido, não tinha absolutamente nada para responder, senão umas palavras preguiçosas e sonolentas: Um momento... Depois... Um pouquinho mais...

Mas este pouquinho não tinha fim, e este momento ia-se prolongando.

Em vão me deleitava na tua lei, segundo o homem interior, porque em meus membros outra lei combatia a lei do meu espírito, mantendo-me cativo sob a lei do pecado que estavas nos  meus membros. Com efeito, a lei do pecado é a violência do hábito, pelo qual a alma é arrastada e presa, mesmo contra sua vontade, merecidamente porém, pois se deixa arrastar por vontade própria. Pobre de mim! Quem poderia libertar-me deste corpo de morte senão a tua graça, por Cristo, nosso Senhor?

(Revisão de versão portuguesa por ama)


Pequena agenda do cristão


TeRÇa-Feira


(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:
Aplicação no trabalho.

Senhor, ajuda-me a fazer o que devo, quando devo, empenhando-me em fazê-lo bem feito para to poder oferecer.

Lembrar-me:
Os que estão sem trabalho.

Senhor, lembra-te de tantos e tantas que procuram trabalho e não o encontram, provê às suas necessidades, dá-lhes esperança e confiança.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?





Antigo testamento / Salmos

Salmo 148






1 Aleluia! Louvem o Senhor desde os céus, louvem-no nas alturas!
2 Louvem-no todos os seus anjos, louvem-no todos os seus exércitos celestiais.
3 Louvem-no sol e lua, louvem-no todas as estrelas cintilantes.
4 Louvem-no os mais altos céus e as águas acima do firmamento.
5 Louvem todos eles o nome do Senhor, pois ordenou, e eles foram criados.
6 Ele os estabeleceu em seus lugares para todo o sempre; deu-lhes um decreto que jamais mudará.
7 Louvem o Senhor, os que estão na terra, serpentes marinhas e todas as profundezas, relâmpagos e granizo, neve e neblina, vendavais que cumprem o que ele determina, todas as montanhas e colinas, árvores frutíferas e todos os cedros,  todos os animais selvagens e os rebanhos domésticos, todos os demais seres vivos e as aves, reis da terra e todas as nações, todos os governantes e juízes da terra, moços e moças, velhos e crianças.
8 Louvem todos o nome do Senhor, pois somente o seu nome é exaltado; a sua majestade está acima da terra e dos céus.

9 Ele concedeu poder ao seu povo e recebeu louvor de todos os seus fiéis, dos israelitas, povo a quem ele tanto ama. Aleluia!

O mandamento novo do amor

Jesus Nosso Senhor amou tanto os homens, que encarnou, tomou a nossa natureza e viveu em contacto diário com pobres e ricos, com justos e pecadores, com novos e velhos, com gentios e judeus. Dialogou constantemente com todos: com os que gostavam dele e com os que só procuravam a maneira de retorcer as suas palavras, para o condenar. – Procura comportar-te como Nosso Senhor. (Forja, 558)

Compreende-se muito bem a impaciência, a angústia, os inquietos anseios daqueles que, com uma alma naturalmente cristã, não se resignam perante a injustiça individual e social que o coração humano é capaz de criar. Tantos séculos de convivência dos homens entre si, e ainda tanto ódio, tanta destruição, tanto fanatismo acumulado em olhos que não querem ver e em corações que não querem amar!

Os bens da Terra, repartidos entre muito poucos; os bens da cultura, encerrados em cenáculos... E, lá fora, fome de pão e de sabedoria; vidas humanas – que são santas, porque vêm de Deus – tratadas como simples coisas, como números de uma estatística! Compreendo e compartilho dessa impaciência, levantando os olhos para Cristo, que continua a convidar-nos a pormos em prática o mandamento novo do amor.


É preciso reconhecer Cristo que nos sai ao encontro nos nossos irmãos, os homens. Nenhuma vida humana é uma vida isolada; entrelaça-se com as demais. Nenhuma pessoa é um verso solto; todos fazemos parte de um mesmo poema divino, que Deus escreve com o concurso da nossa liberdade. (Cristo que passa, 111)

Temas para meditar - 606

Vida espiritual


Do mesmo modo que quando se ama uma criatura da terra lhe queremos bem durante todas as horas do dia e não nuns mo­mentos determinados, temos de aprender na vida espiritual a des­cobrir que o amor a Cristo constitui a essência mais íntima do nosso ser e configura a nossa maneira de actuar, em qualquer cir­cunstância.


(F. F. CARVAJAL; PEDRO BETTETA LÓPEZ, Filhos de Deus, DIEL, nr.124)

Tratado da vida de Cristo 89

Questão 44: De cada uma das espécies de milagres.

Art. 2 — Se Cristo fez convenientemente milagres em relação aos corpos celestes.

O segundo discute-se assim. — Parece que Cristo não fez convenientemente milagres em relação aos corpos celestes.

1. — Pois, como diz Dionísio, não é próprio da divina providência destruir, mas conservar. Ora, os corpos celestes são de natureza incorruptível e inalterável, como prova Aristóteles. Logo, Cristo não devia fazer nenhuma mudança na ordem dos corpos celestes.

2. Demais. — Pelo movimento dos corpos celestes é que se demarca o curso dos tempos, segunda a Escritura: Façam-se uns luzeiros no firmamento do céu e sirvam de sinais para mostrar os tempos, os dias e os anos. Assim, pois, mudado o curso dos corpos celestes, muda-se também a distinção e a ordem dos tempos. Ora, não há notícia que essa mudança fosse percebida pelos astrólogos, que contemplavam os astros e contavam os meses, no dizer da Escritura. Logo, parece que Cristo não fez nenhuma mudança relativamente ao curso dos corpos celestes.

3. Demais. — Era mais curial que Cristo fizesse milagres, quando vivia e ensinava, que na sua morte. Ou porque, como diz o Apóstolo. Foi crucificado por enfermidade, mas vive pelo poder de Deus, pelo qual fazia milagres; e quer também por os milagres serem a confirmação da sua doutrina. Ora, o Evangelho não nos diz, que durante a sua vida Cristo fizesse algum milagre relativo aos corpos celestes; ao contrário, aos fariseus que lhe pediam um sinal do céu, recusou dar-lhes, como lemos no Evangelho. Logo, parece que na ocasião da sua morte também não devia fazer nenhum milagre relativamente aos corpos celestes.

Mas, em contrário, o Evangelho: Toda a terra ficou coberta de trevas até a hora nona e escureceu-se também o sol.

Como dissemos os milagres de Cristo deviam ser tais que lhe patenteassem suficientemente a divindade. Ora, não a manifestam evidentemente as transmutações dos corpos inferiores, que também podem ser alterados por outras causas, como pela transmutação do curso dos corpos celestes, o qual só por Deus foi ordenado de maneira imutável. E é o que diz Dionísio: Devemos saber que se alguma mudança pode haver na ordem e no movimento dos céus, só o poderá ser pela causa que fez e muda todas as causas por uma simples palavra. Por isso houve conveniência em Cristo fazer milagres mesmo em relação aos corpos celestes.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Assim como é natural aos corpos inferiores serem movidos pelos corpos celestes, que lhes são superiores na ordem da natureza, assim também é natural a qualquer criatura ser mudada por Deus conforme os decretos da sua vontade. Por isso diz Agostinho, e também se lê na Glosa o dito pelo Apóstolo — Contra a natureza foste enxertado etc. Deus, Criador e Autor de todas as naturezas, nada faz contra a natureza, pois a natureza de cada ser tem nele a sua fonte. Por isso, não se corrompe a natureza dos campos celestes quando Deus lhes altera o curso; corromper-se-ia porém se fosse alterado por alguma outra causa.

RESPOSTA À SEGUNDA. — O milagre feito por Cristo não perverteu a ordem dos tempos. Pois, segundo alguns, essas trevas ou obscurecimento do sol, que se verificaram na paixão de Cristo, tiveram a sua causa na retracção dos raios solares, sem nenhuma mudança causada no movimento dos corpos celestes, pelo qual se medem os tempos. Donde o dizer Jerónimo: O Lampadário maior retraiu os seus raios ou para que não visse o Senhor pendente da cruz, ou para que não lhe gozassem dos raios ou ímpios blasfemadores. — Essa retracção dos raios porém não deve entender-se como significando que o sol tenha o poder de emitir ou retrair raios, pois, ele os emite não por eleição, mas por natureza, como diz Dionísio. Mas se diz que o sol retraiu os raios por não terem eles, por virtude do poder divino, chegado até a terra. Orígenes, porém explica esse facto pela interposição das nuvens. Devemos por consequência entender, diz, que muitas e grandes nuvens tenebrosissímas se acumulavam sobre o céu de Jerusalém, terra da Judeia donde resultaram as trevas profundas desde a sexta até a nona hora. Penso, pois, que assim como o ter-se cindido o véu do templo, o tremor da terra e outros fenómenos que se verificaram durante a paixão, só se deram em Jerusalém, assim também no caso vertente. Podemos, porém, tomando o texto - Toda a terra ficou coberta de trevas num sentido mais lato, aplicá-lo a toda a terra da Judeia pois, em tal sentido a tal se aplica, como quando, conforme lemos na Escritura, disse Abdias a Elias — Viva o Senhor teu Deus, que não há nação nem reino onde meu amo te não tenha mandado buscar — mostrando que o buscara entre as gentes que habitavam perto da Judeia.

Mas, nesta matéria, devemos seguir antes a Dionísio, que, como testemunha ocular, compreendeu que tal facto foi possível pela interposição da lua entre nós e o sol. Assim, diz: Vimos — estava então no Egipto — inopinadamente a lua ocultar o sol. E descobre aí quatro milagres. — O primeiro é que naturalmente o eclipse do sol, por interposição da lua, nunca se dá senão quando esses astros estão em conjunção. Ora, então a lua estava em oposição com o sol, pois era o décimo quinto dia, depois da lua nova, quando se celebrou a Páscoa dos Judeus. Por isso: Pois, não era o tempo oportuno. — O segundo milagre consistiu em a lua ter sido vista simultaneamente com o sol, no meio do céu, cerca da hora sexta; e de tarde apareceu no seu lugar, isto é, no oriente, oposta ao sol. Por isso diz: E de novo a vimos, isto é, a lua, desde a hora nona, quando se afastou do sol e cessaram as trevas, até à tarde, imposta por uma ação sobrenatural na linha dia me trai do sol, isto é, diametralmente oposta do sol. Donde se concluiu que não foi perturbado o curso habitual dos tempos, pois o poder divino fez com que a lua, sobrenaturalmente, se aproximasse do sol no tempo oportuno, e depois, afastando-se do sol, no tempo devido se colocasse de modo no seu lugar próprio. — O terceiro milagre esteve no seguinte. Um eclipse natural sempre com cada parte ocidental do sol para acabar na parte oriental; porque a lua tem o seu movimento próprio, do ocidente para o oriente, mais veloz que o próprio movimento do sol; por isso, vindo do ocidente, alcança o sol e o ultrapassa, tendendo para o oriente. Mas, no caso vertente, a lua já tinha ultrapassado o sol e distava dele a metade do círculo, estando-lhe em oposição. Donde havia necessariamente de voltar para o oriente em direcção ao sol e alcançá-lo primeiro pela parte oriental, dirigindo-se para o ocidente. E é o que diz Dionísio: Também vimos a eclipse, começando da parte oriental, chegar ao termo do sol, porque eclipsou-o todo, e depois retroceder. — O quarto milagre consistiu no seguinte. No eclipse natural o sol começa a reaparecer pela parte que principiou primeiro a obscurecer-se: porque a lua, pondo-se na frente do sol, pelo seu movimento natural o ultrapassa em direcção ao oriente; e assim, a parte ocidental do sol, que ocupou primeiro, é também a que primeiro abandona. Mas, no caso em discussão, a lua, voltando milagrosamente do oriente para o ocidente, não ultrapassou o sol, de modo a ficar mais ao ocidente, que ele. Mas, depois de ter chegado ao termo do sol, voltou para a parte oriental; e assim, a parte do sol, que por ocupou último, foi também a que primeiro abandonou. Donde, o eclipse começou pela parte oriental, mas a claridade começou primeiro a manifestar-se pela parte ocidental. E é o que diz Dionísio: E de novo vimos, não do mesmo lugar, isto é, não da mesma parte do sol, mas ao contrário no sentido do diâmetro, o eclipse começar e acabar. — Crisóstomo acrescenta ainda um quinto milagre dizendo, que as trevas duraram três horas, apesar do eclipse solar se ter consumado num instante; pois, não foi demorado, como o sabem os que o observaram. Pelo que dá a entender que a lua parou diante do sol. A não ser que preferíssemos dizer que o tempo das trevas deve ser contado desde o instante em que o sol começou a obscurecer-se até o momento em que ficou de novo totalmente livre. Mas, diz Orígenes, os filhos deste século objectam contra um tal prodígio, perguntando: — Como é que um facto tão admirável nenhum dos gregos nem dos bárbaros o descreveu? E refere que um certo Flegonte escreveu, nas suas Crónicas, que esse facto se deu no principado de Tibério César; mas não especificou que foi por ocasião de uma lua cheia. E isso podia ter acontecido, porque os astrólogos de todas as terras, que viviam nesse tempo, não se preocupavam em observar nenhum eclipse por não ser então ocasião de nenhum; de modo que atribuíram as trevas que presenciavam, a algum fenómeno atmosférico. Mas no Egipto, onde raramente aparecem nuvens, por causa da serenidade do ar, Dionísio e os seus companheiros foram levados a observar o eclipse referido, causa da obscuridade.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Cristo devia, sobretudo, manifestar a sua divindade por milagres, quando mais se lhe faziam sentir as necessidades da natureza humana. Por isso, na sua natividade apareceu uma nova estrela no céu. Donde o dizer Máximo: Se desprezas o presépio, levanta um pouco os olhos e contempla a nova estrela do céu, anunciando ao mundo a natividade do Senhor. — Mas na paixão a humanidade de Cristo foi sujeita a uma miséria ainda maior. Por isso era necessário que maiores milagres se realizassem no tocante aos principais Luzeiros do mundo. E, como diz Crisóstomo, esse foi o sinal prometido aos que o pediam, quando disse, aludindo à sua cruz e ressurreição: Esta geração perversa e adúltera pede um prodígio e não lhe será dado outro prodígio senão o prodígio do profeta Jonas. Pois, isso era muito mais admirável que o fizesse, quando crucificado, do que quando andava na terra.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.