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04/12/2016

Tratado da vida de Cristo 137

Questão 49: Dos efeitos da paixão de Cristo

Art. 5 — Se Cristo com a sua Paixão nos abriu as portas do céu.

O quinto discute-se assim. — Parece que Cristo com a sua Paixão não nos abriu as portas do céu.

1. — Pois, diz a Escritura: Para o que semeia justiça há fiel recompensa. Ora, a recompensa da justiça é a entrada do reino celeste. Logo, parece que os Santos Patriarcas, que praticaram obras de justiça, teriam obtido pela fé a entrada no reino celeste, mesmo sem a Paixão de Cristo. Logo, a Paixão de Cristo não foi a causa de abertura das portas do reino celeste.

2. Demais. — Antes da Paixão de Cristo Elias foi arrebatado ao céu, como se lê na Escritura. Ora, o efeito não é anterior à causa. Logo, parece que a abertura das portas do céu não foi efeito da Paixão de Cristo.

3. Demais. — Como se lê no Evangelho no baptismo de Cristo abriram-se os céus. Ora, o baptismo foi anterior à Paixão. Logo, a abertura do céu não foi efeito da Paixão de Cristo.

4. Demais. — A Escritura diz: Aquele que lhes há de abrir o caminho irá adiante deles.  Ora, parece que abrir o caminho do céu não é outra coisa senão abrir-lhe as portas. Logo, parece que as portas do céu nos foram abertas, não pela Paixão, mas pela ascensão de Cristo.

Mas, em contrário, diz o Apóstolo: Temos confiança de entrar no santuário, isto é, celeste, pelo sangue de Cristo.

Portas fechadas são um obstáculo a impedirem-nos a entrada. Ora, os homens estavam impedidos de entrar no reino celeste por causa do pecado; pois, como diz a Escritura, haverá um caminho que se chamará o caminho santo e não passará por ele o impuro. Ora, há duas espécies de pecado que impedem a entrada no reino celeste. — Um é comum a toda a natureza humana, e esse é o pecado dos nossos primeiros pais, o qual fechou ao homem a entrada do reino celeste. Por isso, como lemos na Escritura, depois do pecado do primeiro homem, pôs Deus um querubim com uma espada de fogo e versátil para guardar o caminho da árvore da vida. — Outro é o pecado especial de cada pessoa, cometido por acto próprio de cada um.

Ora, pela Paixão de Cristo fomos libertados, não só do pecado comum de toda a natureza humana, tanto quanto à culpa como quanto ao reato da pena, porque Cristo pagou o preço por nós, mas também dos pecados próprios de cada um de nós, que comungamos com a sua Paixão pela fé, pela caridade e pelos sacramentos da fé. E assim pela Paixão de Cristo se nos abriram as portas do reino celeste. E tal é o que diz o Apóstolo: Estando Cristo já presente, pontífice dos bens vindouros, pelo seu próprio sangue entrou uma só vez no santuário, havendo achado uma redenção eterna. O mesmo significa a Escritura onde diz que o homicida ali ficará, isto é, na cidade em que se tinha refugiado, até à morte do sumo-sacerdote, que foi sagrado com o óleo santo; e morto este poderia voltar aquele para a sua casa.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Os santos Patriarcas, tendo praticado obras justas, mereceram a entrada no reino do céu pela fé na Paixão de Cristo, segundo o Apóstolo: Os Santos pela fé conquistaram reinos, obraram acções de justiça; pela qual também cada um se purificava do pecado, o quanto condizia com a purificação da própria pessoa. Mas a fé ou a justiça de cada um não bastava a remover o impedimento proveniente do reato de toda a natureza humana. Mas esse impedimento foi removido pelo preço do sangue de Cristo. Donde, antes da Paixão de Cristo, ninguém podia entrar no reino celeste, isto é, alcançando a bem-aventurança eterna, consistente no gozo pleno de Deus.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Elias foi arrebatado ao céu aéreo não ao céu empíreo, que é o lugar dos santos. O mesmo se deu com Enoch; mas foi arrebatado ao paraíso terrestre, onde cremos que vive junto com Elias até o advento do Anticristo.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Como dissemos os céus abriram-se por ocasião do baptismo de Cristo, não em benefício do próprio Cristo, a quem sempre o céu estava patente; mas para significar que o céu se abre aos baptizados, pelo baptismo de Cristo, que tira a sua eficácia da sua Paixão.

RESPOSTA À QUARTA. — Cristo pela sua Paixão mereceu-nos a entrada no reino celeste e removeu o obstáculo que no-la impedia. Mas, pela sua ascensão, como que nos introduzia na posse do reino celeste. Por isso a Escritura diz que aquele que lhes há de abrir o caminho irá adiante deles.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


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